Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 24 de julho de 2022

De Como se Deve Andar na Presença de Deus, em Verdade e Humildade.


1.1 Jesus Cristo. Filho, anda em verdade na minha presença e busca-Me sempre na simplicidade de teu coração.

Quem anda em verdade na minha presença será protegido contra as ciladas do Inimigo, e a verdade o livrará das seduções e calúnias dos maus.

Se a verdade te livrar, serás verdadeiramente livre2 e pouco se te dará das vãs palavras dos homens.

2. Alma Fiel. Senhor, bem verdade é o que dizeis; peço-Vos que assim aconteça comigo.

Ensine-me a vossa verdade, defenda-me e conserve-me até o fim no caminho da salvação; livre-me dos maus desejos e de toda afeição desregrada; e andarei na vossa presença com grande liberdade de coração.

3. Jesus cristo. Eu te ensinarei, diz a Verdade, o que é justo e agradável aos meus olhos.

Relembra teus pecados com tristeza e profundo pesar, e não te tenhas em alguma conta por causa do bem que fazes.

Na verdade és pecador, sujeito a muitas paixões que te rodeiam.

De ti sempre tendes para o nada; bem depressa resvalas e és vencido; uma insignificância te perturba e desanima.

Nada tens de que te possas gloriar, muito, porém, de que te devas humilhar, porque és muito mais fraco do que podes conceber.

4. Nada do que fazes te pareça grande.

Só o que é eterno é grande, preciso e admirável, elevado e digno de estima, louvor e desejo.

Preza, acima de todas as coisas, a verdade eterna, e por tua extrema baixeza não tenhas senão desprezo.

Nenhuma coisa temas, reproves e fujas tanto como os teus vícios e pecados que mais te devem desgostar que todas as perdas deste mundo.

Alguns não andam com sinceridade na minha presença, mas levados de certa curiosidade e arrogância pretendem descobrir os meus segredos e penetrar as profundezas de Deus, descuidando-se de si e da própria salvação.

Desses Eu me afasto, por causa de sua curiosidade e soberba caem muitas vezes em grandes tentações e pecados.

5. Teme os juízos de Deus e treme ante a cólera do Onipotente.

Não discutas as obras do Altíssimo, mas examina as tuas iniquidades, o mal que tantas vezes cometeste, o bem que tantas vezes negligenciaste.

Alguns fazem consistir toda a sua devoção nos livros, outros nas imagens, outros ainda em sinais e figuras exteriores.

Alguns Me trazem nos lábios, mas pouco no coração.

Outros, porém, há que, esclarecidos e purificados interiormente, aspiram sempre pelos bens eternos; custa-lhes ouvir falar das coisas da terra; só a contragosto se sujeitam às necessidades da natureza.

Estes ouvem quanto lhes diz o Espírito que lhes ensina a desprezar os bens da terra e a amar os eternos, a esquecer o mundo e a desejar dia e noite o Céu.


1ª Reflexão3

Como causa total e absoluta de todos os seres, Deus abrange na compreensão de Si o mesmo conhecimento perfeitíssimo de tudo quanto tem existido, existe ou pode existir. Como seria possível que o Autor dos nossos olhos não visse, que o Criador da nossa inteligência não compreendesse? Deus possui em grau infinito todas as perfeições finitas que dispensou ao homem. Os pensamentos mais íntimos, as conversações mais secretas, as ações mais ocultas, o passado e o futuro, o real e o possível, tudo está presente e patente aos olhos de Deus. Que quer então dizer: andar na presença de Deus? Haverá, porventura, algum ser que possa escapar-se da presença de Deus? Quando o criminoso busca a solidão e espera as trevas da noite para praticar uma infâmia, será menos visto de Deus, do que se escolhesse a luz do dia e o lugar mais público de uma grande cidade? Não, não. É uma grande verdade que nada há de oculto para Deus; e o que aqui sobretudo importa é fazer penetrar bem no nosso espírito essa verdade, para tirar dela o maior fruto possível. “Se queres pecar, diz Santo Agostinho, procura um lugar onde ninguém te veja e comete lá o pecado que quiseres”. Aprouvesse a Deus, que todos os homens trouxessem sempre esta reflexão profundamente gravada na memória! Crês que Deus te vê sempre e em toda a parte?

Crês que esse Senhor Supremo de todas as coisas pode castigar os reus crimes no mesmo instante e lugar em que os cometes?

Compara a tua fé com as tuas obras e verás a contradição em que vives; crês uma coisa e praticas outra; conheces a verdade e segues o apetite; respeitas a presença dos homens e desprezas a presença de Deus! Queres andar na presença de Deus? Habitua-te a trazê-lO no teu pensamento e a servi-lO com um coração puro. Ao dócil Abraão dizia o Senhor: “anda na minha presença e sê perfeito”.4 A presença de Deus é caminho para chegar à perfeição.


2ª Reflexão5

Eu sou o Deus Onipotente: anda em minha presença e sê perfeito”.6 Assim falava o Senhor ao Pai dos Crentes, e este Preceito se dirige ainda com mais força aos Cristãos, que contemplaram, no Filho do Homem, o Modelo de toda perfeição. Por isso, lhes disse Ele: “Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.7

Admirável Preceito que, elevando nossa incompreensível baixeza, nos ensina o que é o homem remido, o que é o Cristão ao olhos de Deus. Mas sendo nós criaturas fracas, curvadas debaixo do peso da carne, como nos aproximaremos dessa perfeição soberana para a qual devemos continuamente tender? Ouvi a Jesus cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.8

Ele é o Caminho seguro que nos leva a Deus, fora do qual só há extravio e perdição; Ele é a Verdade Eterna e visível, que falou conosco, fora da qual só há engano e mentira; Ele é a Vida, que nos livrou da morte do pecado, nos anima com Sua graça e nos prepara a vida eterna, fora da qual só há trevas e sempiterno horror! Por consequência, tudo em Jesus e tudo por Jesus.

Unidos nossos pensamentos aos Seus, nossas afeições e obras às Suas, divinizam-se: e como a perfeição do Filho é a mesma perfeição do Pai, por nossa união com o Filho, que começa no mundo e se consumará no Céu, nos tornamos perfeitos como o Pai é perfeito. Assim se cumpre a oração de Jesus Cristo: “Pai Santo, conservai todos aqueles que me destes, para que eles sejam unidos como Nós fazemos Um! Santificai-os na verdade; eu mesmo me santifico por eles, para que eles sejam santificados na verdade”.9

Não esqueçamos, porém, que esta grande união que nos eleva até participar dos merecimentos infinitos do Redentor, não se efetua senão em proporção do sacrifício que fazemos de nós mesmos. Nossa humildade é dela a medida: quanto mais renunciarmos a nós mesmos, quanto mais nos desapegarmos dos bens terrenos, quanto mais nos abatermos diante de Deus, tanto mais nos uniremos a Jesus Cristo.

Não há completa união com Jesus Cristo, aonde vive ainda o amor-próprio corrompido. É preciso morrer a si mesmo, a seus desejos, a seus afetos, à sua vontade, à sua razão cega, para ser “um com o Filho, como Ele é um com seu Pai, para ser santificado na verdade”. Ditosa morte que nos põe de posse da verdadeira vida, do mesmo Deus e de Sua santidade, de Sua verdade eterna!10



3ª Reflexão11

Viver em verdade, e não em mentira, é fazer uma vida totalmente conforme a lei pura e simples, segundo as operações da graça e não segundo as operações da natureza; porque nossa imaginação, nossos sentidos, nosso sentimento, nosso gosto, nossas consolações, nossos discursos podem ser enganados e errar; e viver segundo tais coisas, é viver em mentira, ou ao menos em um perpétuo risco de mentira; mas viver segundo a fé pura e simples, é viver em verdade. Assim como está escrito acerca do maligno espírito, que ele não permaneceu na verdade,12 porque tendo tido a fé, no começo de sua criação, afastou-se dela, querendo discorrer sem a fé, sobre sua própria excelência; quis por si mesmo entender tudo, não segundo a fé pura e simples, mas segundo as condições naturais que o levaram ao amor desmedido e desordenado de si mesmo: esta é a mentira em que vivem todos quantos não aderem com simplicidade e sinceridade de fé à Palavra de Nosso Senhor, mas querem viver segundo a prudência humana, que não é outra coisa senão um formigueiro de mentiras e de vãos discursos. 13



Oração14

Meu Deus e Salvador, quando parece que estais mais longe, então Vos achais perto, e mais presente, cheio de graças e de verdades. Viestes ao mundo vestido de nossa humanidade, para estar com os homens, conversar com eles, ensinar-lhes as verdades da salvação, mostrar-lhes o caminho dos Céu, e abrasá-los de vosso divino amor. Bem vos entendo, meu Deus: amor Vos traz, e amo quereis; em fogo ardeis, e nele quereis que se abrasem nossos corações. Dou-Vos, Senhor da minha alma, todo meu coração, todo meu espírito, todo meu amor. Amo-Vos, e desejo todo abrasar-me em vosso amor. Se tivesse o amor de todas as criaturas, com todo Vos amaria, e se tivesse infinito amor, infinitamente Vos amaria. Mas, amo-Vos quanto posso, e pois Vós, infinito Bem, todo sois meu, convosco todo Vos amo. Ó se sempre Vos amasse! Ó se sempre me abrasásseis! Ó se sempre Vos possuísse! Ó se nada me afastasse de Vós! Iluminai-Me, Verdade incriada; sustentai-Me, Fortaleza soberana; avivai-Me, Vida Eterna; guiai-Me, Sabedoria infinita. A misericórdia e amor que Vos humanou, Vos faça haver piedade desta vossa humanidade em mim tão perdida, mísera e corrupta. Dai-lhe a vossa graça no tempo, e o prêmio de vosso amor na eternidade. Assim seja.


___________________

1.  Imitação de Cristo, nova tradução portuguesa pelo Pe. Leonel Franca, S.J., Livro III, Cap. IV, pp. 94-96. 4ª Edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

2.   João. 8, 32.

3 Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro III, Cap. IV, pp. 138-139. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

4 Gên. 17, 1.

5.  Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro III, Cap. IV, pp. 160-161. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

6 Gên. 17, 1.

7 Mateus. 5, 48.

8 João. 14, 6.

9 João. 17, 11.17.19.

10 II Cor. 1, 3.

11.  Imitação de Cristo, Versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. IV, p. 142-143. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

12 João. 8, 44.

13 São Francisco de Sales, 189ª Carta Espir. IX.

14 Presbítero J. I. Roquette, ob. cit., pp. 161-162.


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