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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Carta de São Boaventura às Clarissas



Foi escrita no Monte Alverne, em 1259, na mesma ocasião em que São Boaventura redigiu o “Itinerarium mentis in Deum”. A alusão a Frei Leão, faz pensar que o então novo Geral da Ordem tenha recebido não só um testemunho sobre o valor de Clara e suas Irmãs na formação do espírito da fraternidade franciscana, mas também a sugestão de escrever a carta.

O Santo Doutor não chegou a conhecer pessoalmente Santa Clara, mas se interessou por sua obra, a que fez referência, depois, na Legenda Maior. Além disso, teve bom contato com as Clarissas e escreveu para elas o seu tratado “De perfectione vitae”. O texto a seguir foi traduzido da “Opera Omnia”, VIII, p. 473-474. Ed. Quaracchi.


1. Às queridas filhas em Cristo, à abadessa das Senhoras Pobres de Assis do mosteiro de Santa Clara e a todas as suas irmãs: Frei Boaventura, ministro geral e servidor da Ordem dos Frades Menores, saúda e deseja que sigam o Cordeiro onde Ele for, na companhia das felicíssimas virgens preparadas.

2. Informado há pouco, filhas queridas no Senhor, pelo nosso caríssimo Frei Leão, companheiro do Santo Pai em outros tempos, sobre o vosso esforço para seguir o pobre Cristo crucificado com toda a pureza, alegrei-me enormemente no Senhor. Por esta carta, quero exortar e animar vossa devoção para que sigais com solicitude os vestígios de virtude de vossa mãe santíssima, instruída pelo Espírito Santo através de São Francisco pobrezinho.1 E “nada mais queirais ter debaixo do Céu” a não ser o que vossa mãe vos ensinou, isto é, Cristo, e Ele mesmo crucificado, e a exemplo da mãe, filhas diletas, corrais atrás do perfume de Seu Sangue, abraçando virilmente o espelho de pobreza, o exemplo de humildade, o escudo de paciência. Abrasadas no fogo do amor divino, dai todo o vosso coração por Aquele que por nós deu na Cruz o Seu ao Pai, para que, vestidas com a luz do exemplo de vossa mãe e suavemente inflamadas pelos ardores eternos, trescalando o perfume de todas as virtudes, sejais o bom odor de Cristo, Filho da Virgem e Esposo das virgens prudentes, tanto para os que se salvam como para os que se perdem.

3. Vigiai de tal maneira, com afetos incessantes, fervorosas no espírito da devoção, que, quando se ouvir o clamor e chegar o Esposo, possais ir fielmente ao Seu encontro com as lâmpadas cheias do óleo do amor e da alegria, prontas para entrar com Ele nas bodas da felicidade eterna, com exclusão das virgens loucas. Lá, Cristo vai acomodar Suas esposas com os Anjos e os Eleitos e passará para servir-lhes o Pão da Vida, a Carne do Cordeiro imolado, o Peixe assado na Cruz, cozido no fogo do amor em que Vos amou fervorosamente.2 Dar-Vos-á a beber o vinho mesclado de Sua humanidade e divindade, de que bebem os amigos e se inebriam os mais queridos com admirável sobriedade. Desfrutarão de vez em quando da transbordante doçura reservada aos que O temem, enxergando sempre Aquele que é o mais formoso não só entre os filhos dos homens, mas também entre os milhares de Anjos, Aquele a quem os Anjos desejam contemplar, porque é o candor da luz eterna e o espelho sem mancha da Majestade de Deus, esplendor da glória do Paraíso.

4. Filhas caríssimas, uni-vos para sempre a Ele que é o nosso Bem perpétuo e, quando vos for oportuno, recomendai à Sua inefável clemência a mim, que sou pecador, rezando assiduamente para que possa dirigir misericordiosamente os meus passos para a glória e a honra de Seu nome admirável, para salvação do rebanho pobrezinho que a mim foi confiado.


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Fonte: “Fontes Clarianas”, 4ª Parte, Documentos Antigos – Carta de S. Boaventura às Senhoras Pobres (a.d. 1259), pp. 219-220. Traduções, Introduções, Notas e Índices por Frei José Carlos Corrêa Pedroso, O.F.M.Cap., 3ª Edição, Centro Franciscano de Espiritualidade, Piracicaba/SP, 1994.


1.  É notável que São Boaventura, que não teve conhecimento direto de Francisco e Clara, e que ainda não estava trabalhando em sua Legenda Maior, em que haveria de representar as principais fontes histórias até então conhecidas, proponha essa mesma visão que encontramos em Celano e no próprio Testamento de Clara: Francisco foi o mediador da vocação e da espiritualidade de Clara.

2.  Essa imagem do peixe faz lembrar também a simbologia do peixe assado da lenda do Rei Pescador, tão importante no ciclo do Santo Graal. Pode ter um alto valor de penetração na interioridade da alma, além de recordar o papel salvador de Jesus Crucificado.


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