Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Místico Diálogo da Alma Com Deus, que Morre Depois de Batizada, em Perfeita Inocência.


Diálogo do homem nascido ao mundo,

que, depois de batizado, morre

nos primeiros anos de perfeita

inocência. Como é levada sua

alma pelos Anjos ao Céu, casa

de sua eternidade, e colocada

na presença de Deus,

submergida em

abismos de glória.


Depois de correr o tempo de nove meses, pouco mais ou menos, se dispõe a natureza para lançar ao mundo o homem concebido no ventre materno; e nestes termos fala a alma ao corpo, e lhe diz com expressão eficaz.


Pois que a divina Providência, irmão corpo, tanto nos favoreceu neste escuro cárcere do ventre materno e nos livrou de inumeráveis perigos, que a tantos aconteceram, de sorte que, sem verem a luz do dia, a luz da graça e a luz da razão, foram deste lugar para o Limbo, devemos render ao Altíssimo as graças com profunda submissão e humilde rendimento. A hora de sairmos à luz do dia é chegada, porque a natureza está disposta: preparemo-nos para entrar no mundo, teatro de misérias, e a primeira entrada será com ais, soluços e lágrimas. Permita a Majestade divina, que não periguemos neste aperto; porque tanto esta saída do ventre materno para o mundo, como a saída do mundo para a eternidade, são muito perigosas, e muitos nestas passagens perecem para sempre. Oh, que ventura será a nossa, se sairmos ao mundo com vida; e se logo recebermos pelo Batismo a divina graça! Nestes dois sucessos está o princípio da nossa felicidade; porque sem ver a luz do dia, e sem ter a luz da graça pelo tal Sacramento, não entra a alma a ser filha da Igreja, nem adquire o direito de gozar da luz da eterna glória.


Anima o corpo à alma para saírem ao mundo, e a conforta, segurando-lhe os socorros da divina Providência em todos os transes da vida.


Filha de Deus e senhora minha, em extremo amada: Vós fostes, entre outras muitas almas, a que tivestes a ventura de informar este corpo, que é oriundo de pais católicos, que têm bons costumes e que são firmes na santa fé da Igreja. Estes, sem dúvida, farão todo o possível para que não periguemos no nascimento, para que sejamos logo batizados e que sejamos educados na Lei divina e nos documentos da Santa Igreja Romana. Saiamos em boa hora ao mundo e tenhamos por certo, que o Senhor, que nos criou e tem livrado de tantos perigos, nos há de amparar com a sua Providência e nos dará uma boa dita. Se fôssemos, como muitos são, filhos de gentios, apóstatas, maometanos, hebreus ou hereges, que não recebem o santo Batismo, com perigo de se condenarem ou de irem para o Limbo, maior devia ser o nosso temor; porém, com tão boa assistência, que tivemos até agora da Providência divina, e que esperamos ter pela sua infinita bondade, não temos que recear a saída ao mundo. Saiamos já, senhora minha, e lancemo-nos nos braços da divina Providência, que ela nos encaminhará pelos atalhos que levam em direção à eterna glória.



Nascido o homem ao mundo e tendo já recebido o Sacramento do Batismo, dão a alma e o corpo graças a Deus por tão grande benefício.


Senhora de infinita bondade: Humilhados no centro do nosso nada, nos prostramos diante de vossa Majestade soberana e Vos rendemos as graças, não só por nos criardes à vossa semelhança, senão também por permitirdes que saíssemos à luz do mundo sem desgraça; e por entrarmos, pela porta do Batismo, no grêmio da vossa Igreja. Todas as criaturas do Céu e da terra Vos louvem por estes lances da vossa misericórdia; e nós, quanto nos for possível, sempre Vos engrandeceremos com obediência e humildade. Disponde de nós o que fordes servido; porque, rendidos na vossa santíssima vontade, estamos prontos a executar todos os decretos da vossa divina Providência. Nos termos, em que por ora nos achamos no mundo, não podemos fazer mais do que padecer com resignação as misérias da vida, que ocorrem na inocente idade; porque não podemos falar, nem entender, nem andar, nem fazer coisa alguma, que seja do vosso agrado: só as lágrimas e as penas são as que Vos podemos oferecer, unidas aos infinitos merecimentos de vosso Santíssimo Filho, por quem esperamos a salvação, e o bem da vossa vista.


Aos dois ou três anos, pouco mais ou manos, que o menino ou a menina existe no mundo, o chama Deus para Si por meio de uma doença; e nos últimos termos da vida fala a alma ao corpo e o alenta para a passagem da eternidade, com a esperança da vista de Deus, pelos infinitos merecimentos de Cristo Jesus.


Corpo, meu caríssimo irmão, a quem, por especial ordem de Deus, informei com alentos de vida, demos um ao outro os parabéns; pois, entre inumeráveis criaturas, fomos favorecidos do Senhor com especiais benefícios de sua poderosa mão. Quantos almas informaram corpos, que não chegaram a ver a luz do dia e, com a ida para o Limbo, ficaram privadas de entrar na glória! Quantos filhos dos homens nasceram ao mundo e, falecendo sem Batismo, experimentaram o mesmo infortúnio! E nós tão afortunados, que nascemos ao mundo com bom sucesso! Que fomos lavados da mácula do Pecado Original com a água do Batismo! Que estamos no grêmio da Igreja por este Sacramento e, agora, segundo mostra a indicação da doença, estamos de passagem para a vida eterna; tendo boa esperança de nos salvar pelos infinitos merecimentos de Cristo! Oh, que ditosos foram o instante, em que Deus nos criou, e a hora em que nos lançou ao mundo, para sentirmos ao mundo, sem o conhecermos, e para passar por ele, sem ofendermos a divina Majestade! Foste, meu irmão corpo, concebido em pecado no ventre da mãe, que te gerou, e em pecado nasceste a este mundo: porém, oh, dita a tua e a minha; pois passamos deste século à eternidade, no estado da inocência! Fiquem a perder de vista todas as felicidades terrenas, que esta na verdade é a felicidade maior, que na vida mortal pode ter o homem. Bem sei que agora há desigualdade entre a minha e a tua fortuna; porque, logo que me afastar de ti, vou ver a Deus, e tu irás para a terra; porque és nascido da terra, e eu fui imediatamente criada por Deus espírito nobilíssimo. Porém, consola-te, que na Ressurreição Geral virei informar-te, e então aparecerá aos olhos de todo o mundo qual é a tua formosura e dita. Alenta-te nesta esperança para tolerares, com bom ânimo, as angústias da morte: entrega-me já a Deus; pois sem demora quero ir para o meu Criador.



Expira a alma; e logo, que se afasta do corpo, a recebe o Anjo da Guarda em seus braços, para a conduzir à glória; e neste venturoso caso fala a alma ao Anjo, agradecendo-lhe os benefícios que dele recebera.


Santo Anjo, Luzeiro da glória, Príncipe do Céu, Mensageiro do Altíssimo e Protetor meu: Em meio de muitas consolações superiores, me vejo colocada em vossos braços, para ser conduzida à presença do meu Criador. Com que vos pagarei os benefícios, que me tendes feito, desde que Deus vos destinou por minha guarda, e para livrardes a mim e ao corpo, que informei com vida no ventre da mãe, que o gerou? Sem dúvida, se vós não fosseis, teria naufragado no mar de inumeráveis misérias, a que está exposto o homem, nascido de mulher. Já livre de tantos perigos, me vejo salva em vossos braços; e, pois, que com tanto desvelo me guardastes de infortúnios, vos peço me leveis à presença de meu Deus, e por mim lhe dai graças, e lhe pedi que mereça gozar de sua divina face, por séculos sem fim.


Ao agradecimento da alma, corresponde o Santo Anjo com grandes expressões de contentamento e alegria.


Espírito nobilíssimo, imagem de meu Deus, a quem adoro no Céu empíreo, e de quem sou pronto executor nos decretos de sua santíssima vontade: Eu te dou os parabéns da tua dita; pois entre tantos milhões de almas que, até a tua e ainda maior idade, descem ao Limbo, por não serem lavadas da mácula da culpa original com a água do Batismo, tens a dita de subires comigo a essas alturas do Céu e gozar da vista de Deus por toda a eternidade. Infinitas graças deves dar ao Senhor, que te criou, que te redimiu e que te salvou de tantos perigos. Eu fui o executor de muitos dos seus decretos, passados em teu favor, e todos executei com admirável prontidão, como quem desejava dar conta de uma alma, que vale mais do que o mundo e do que os Céus; e que lhe fora entregue, com recomendações muito particulares. Não me perdoei ao desvelo um ápice, nunca te larguei de vista, sempre te foi contínua minha assistência, e jamais te neguei o meu amparo. Livrei-te muitas vezes de padeceres perigo, tanto no ventre materno, como fora dele, por causa de invasões do Inimigo infernal e de indústrias de criaturas que, por causa de interesse ou de crédito, te queriam perder com tirarem ao corpo a vida. A tudo atalhei com sumo cuidado, até que chegasse a ser expiada no lavacro do Batismo: e como pelas disposições naturais e pelas influências dos astros, conheci que, se chegasses à idade de adulto, padeceria perigo tua salvação, muito orei na presença do Altíssimo, para que no estado da inocência te afastasse do corpo, e viesses gozar da sua visão beatífica. Está concluído este grande negócio; e volto ao Céu triunfante: anda, alma, comigo, que te quero apresentar ante o trono da Divindade do Senhor.



Parte o Anjo, conduzindo a alma: chegam ambos em um instante às portas do Céu; saem-lhes ao encontro muitos Anjos e lhe dão os parabéns da sua vinda e da sua ventura.


Alma santa, esposa do Cordeiro imaculado, que sobes do deserto do mundo, para as delícias do Céu, toda banhada em delícias, ornada com a gala da graça batismal, e tintos teus vestidos com o preciosíssimo Sangue do mesmo imaculado Cordeiro: Que vens, mais escolhida que o sol, mais formosa que a lua e mais brilhante que a estrela d’alva. Para bem seja a tua chegada às eternas portas da glória. Nós, em esquadrões bem formados, ornados com especiais galas de glória, aqui te estamos esperando, por ordem do Altíssimo, para te darmos os parabéns de seres, entre milhares, escolhida para esposa do Cordeiro divino, e para O acompanhares, para qualquer parte que vá, apascentando-se em delícias. É especial esta tua dita; pois saíste de entre as misérias do mundo, sem seres maculada com pecado: e por esta causa, demais de seres escolhida esposa do Senhor, gozas dos foros de Anjo. Tudo deves agradecer aos infinitos merecimentos de Cristo, nosso Rei e teu Redentor; pois com o preço de seu Sangue te resgatou da escravidão do pecado, e te convida para a alta dignidade de esposa sua. Vem, esposa de Cristo: recebe a coroa que o Senhor te preparou para sempre.1


Neste encontro corresponde a alma aos Anjos, com submissas demonstrações de agradecimento: rendendo a Deus as graças, por benefícios tão assinalados.


Santos Anjos, Príncipes do reino da eterna glória e fiéis Ministros do Altíssimo: Agradeço-vos, quanto posso, os parabéns que me dais da minha incomparável felicidade. Tudo devo à infinita bondade de meu Deus; porque, além de me criar à sua semelhança, me tirou de entre as misérias do mundo, em estado de inocência, para que não me expusesse, por causa de alguma culpa mortal, ao perigo de experimentar a condenação eterna. Aqui venho conduzida por este santo Anjo, que fielmente me guardou dos infortúnios e trabalhou muito, para que eu conseguisse esta felicidade. Na vossa presença estou: conduzi-me, senhores, à presença do Altíssimo, a quem amo e adoro do íntimo do meu nada; e vos rogo que por mim lhe deis as graças e por toda a eternidade lhe tributeis continuados louvores.



Em bem formados esquadrões, cantando uns caros louvores divinos, conduzem os Anjos a alma à presença do Altíssimo: manifesta-lhe o Senhor a sua Divindade em presença dos cortesãos do Céu e dos Bem-aventurados. Aqui, submergida a alma em um abismo de glória, prostrada até o centro do seu nada, adora a tremenda Majestade de Deus e, como pode, lhe dá as graças.


Senhor, de tremenda e infinita Majestade: Esta alma, que criastes à vossa imagem, aqui está aterrada no conhecimento do seu nada, adorando o vosso perfeitíssimo ser e reverenciando vosso divino acatamento. Todas as gerações Vos louvem por infinitos séculos; pois usastes comigo do mar imenso de vossas misericórdias. Pouco tempo há que era nada; e donde mereci que me tirásseis do abismo do não ser para o ser? E das misérias do mundo, para as felicidades da glória? A vossa infinita bondade tudo obrou, por altos fins da vossa honra. Confundo-me em meio de tantos benefícios; e rogo a todos os que assistem na vossa Real Presença, Vos louvem por toda a eternidade; e eu, submergida no vosso ser divino, Vos louvarei para sempre.


Com um dulcíssimo abraço de amor, recebe Deus a alma: e unindo-a a Si por toda a eternidade, lhe diz com inefável doçura:


Filha minha, a quem criei à minha imagem, e a quem pela minha infinita bondade trouxe do mundo para a Bem-aventurança a gozar por toda a eternidade do meu perfeitíssimo ser? Estás submergida em um profundo mar de bens e jamais te afastarás dos meus braços. Na companhia dos Anjos e Bem-aventurados, gozarás em suma glória da minha bondade infinita. Tens por habitação os imensos espaços do Céu, que estão cheios de minha glória: e podes saber que as suas menores delícias excedem a todas as maiores delícias ponderáveis. Ainda que por falta de merecimentos próprios, pois viestes à glória pelos merecimentos de meu Unigênito Filho, és do número dos Bem-aventurados que têm menos graus de visão intuitiva da minha Divindade, contudo, a tua glória é tão grande, que cabe na esfera da ponderação humana. Serás por toda a eternidade, em minha presença, um luzeiro de tanta claridade, que se, com o mínimo grau de glória que tens, aparecesses no mundo, o sol se eclipsaria, a lua perderia a sua formosura, as estrelas esconderiam seus resplendores e os mortais não sustentariam, em tua presença, a potência visível, com a eficácia de tanta luz. Sendo tu do número dos mínimos da minha corte celestial, és estimadíssima na minha presença, e todos os grandes dela te honrarão como filha minha. Receberás grandiosos favores da Imperatriz da glória, Maria Imaculada, e de meu Unigênito Filho, Cristo Redentor dos homens. Na minha companhia, e com todos os Bem-aventurados, estarás sempre unida Comigo por amor, com sumo gozo, como o sol no cristal, o peixe na água, e as luzes com outras luzes. Dou-te, enfim, a minha bênção, asseguro-te o meu amor, franqueio-te a minha graça e te faço para sempre herdeira da minha glória.



Respeitando tão grandiosos favores, que Deus faz à alma, toda a corte celestial se mostra agradecida ao Senhor e lhe dá as graças com incomparável júbilo.


Senhor, que sois o emprego do nosso amor, o centro da nossa alegria, toda a nossa saúde e glória: Todos nós, os habitantes deste reino bem-aventurado, unidos em caridade perfeita e prostrados diante da vossa tremenda Majestade, Vos damos as graças pelas assinaladas mercês, com que honrastes a esta alma. Filha vossa é, e nós a estimaremos como tal; e temos grande prazer de que viva para sempre na vossa companhia, gozando da imensa glória de vossa essência. Bendita é da vossa santíssima boca, abençoada da vossa poderosa mão; e esta dita lhe será firme por todas as idades. Dela para vós haverá sempre dignos louvores, e de Vós para ela bênçãos continuadas.


A mesma corte celestial volta para a alma, e lhe dá os parabéns de estar já em sua companhia.


Alma bendita, com quem o Senhor tanto tem usado da sua bondade imensa: Parabéns, vos seja, serdes nomeada no Céu filha do Altíssimo e estardes gozando da visão beatífica em nossa companhia, por toda a eternidade. Cheios de contentamento damos também uns aos outros os parabéns: e não cessaremos de louvar ao nosso amantíssimo Deus, que vos assinalou no número dos Bem-aventurados e escreveu vosso nome no livro da vida. Vivamos, pois, todos, unidos em perfeita caridade e em suma alegria, com o nosso amantíssimo Deus, que vive e reina com imensa glória e infinita Majestade, por infinitos séculos dos séculos. Amém.



Fonte: Fr. Antônio do Sacramento, da Sagrada Religião dos Observantes da Província de Portugal, “Ventura do Homem Predestinado e Desgraça do Homem Precito”, Diálogo II, pp. 30-41, 1ª Edição Brasileira, Ed. Vozes, 1938.


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1.  Tiag. 1, 12.


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