Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 29 de maio de 2023

SANTA MARIA MADALENA DE PAZZI, VIRGEM E MÍSTICA CARMELITA.


Santa Maria Madalena, da ilustre casa de Pazzi, no ducado da Toscana, tão recomendável por sua vida religiosa, como por sua santidade, era filha de Camilo de Geri de Pazzi e de Maria Lourenço de Bondelmont. Nasceu em Florença no dia 2 de Abril do ano de 1566, e foi seu nome de Batismo Catarina. Deus preveniu-a desde o berço com as Suas mais doces bênçãos; nunca houve menina que fosse menos criança. Isenta das fraquezas ordinárias das crianças, os seus divertimentos consistiam na oração; querendo distraí-la, nada havia mais próprio do que ler-lhe a vida dos Santos, ou levá-la à igreja. A sua devoção era a admiração de seus pais.

Tinha um gênio tão dócil, acompanhado de uma seriedade e de uma doçura tão insinuante, que se fazia amar e admirar de todos os que a conheciam. Dir-se-ia que tinha nascido com um amor ardente para com Jesus Cristo e uma ternura extrema para com a Santíssima Virgem, tanto a sua devoção era sensível para com ambos. Deus favoreceu-a com o dom da oração, ainda antes de ter a idade para aprender a ler. Passava horas inteiras nesse exercício, e quando lhe perguntavam o que fazia em seu oratório, respondia: “Peço ao Bom Deus que me ensine o que me é necessário que eu saiba para Lhe agradar”. Tinha apenas sete a oito anos, quando o Padre Rossi, jesuíta, começou a ouvi-la em Confissão. Foi sem dúvida nesse comércio espiritual, que tinha com Deus, que aprendeu essas pequenas indústrias de se mortificar, com as quais iludia a atenção de sua aia. A sobriedade encaminhou-a desde logo à abstinência; foi necessário observá-la para lhe interromper os jejuns; toda a solicitude do seu Diretor e de sua mãe não conseguia mais do que moderar-lhe as austeridades. Mas nada fazia sofrer tanto esta anta donzela, como não se ver ainda em idade de ser admitida à mesa da Comunhão; tinha uma santa inveja a todos aqueles, a quem uma idade mais adiantada concedia esse privilégio. O seu desejo, a sua virtude, a sua razão determinaram o Confessor a permitir-lhe a Comunhão na idade de dez anos. Depois desta graça não acreditava que pudesse haver felicidade maior do que a sua. Não sabendo como mostrar-se reconhecida, resolveu consagrar a Deus a sua virgindade; fez voto de assim cumprir, e desde então não se considerou senão como esposa Sua.

Esta nova qualidade despertou-lhe um novo desejo dos sofrimentos. Para se tornar agradável ao seu Divino Esposo, começou desde a idade de doze anos a deitar-se sobre a terra dura e a macerar o corpo com toda a sorte de austeridades.

A vista de Jesus Cristo sobre a Cruz inspirava-lhe cada dia alguma nova mortificação. Além do cilício que trazia continuamente, fez uma coroa de espinhos muito penetrantes que apertou sobre a cabeça, e passou uma noite inteira neste doloroso tormento. Nunca o amor de Deus pareceu mais engenhoso, do que nas indústrias que empregou esta donzela para mortificar os seus sentidos; em toda a parte encontrava matéria de sacrifício. Por este tempo o grão-duque da Toscana deu o governo da cidade de Cortona a seu pai Camilo. A nossa santa obteve de sua família, por conselho do Padre Blanca, Reitor dos Padres jesuítas, a permissão de entrar como pensionista, no Mosteiro das religiosas de São João, em Florença.

Este retiro lhe aumentou o fervor; e a vantagem de poder adorar a Jesus Cristo a toda a hora no Santíssimo Sacramento, fazia-lhe dizer que o Convento era o paraíso terrestre. Teria passado noites inteiras no coro, se não se empregasse alguma severidade para de lá a arrancar. As suas delícias eram fazer sempre a corte a Jesus Cristo; querendo encontrá-la, era sabido que se achava na igreja. Era forçoso, no entanto, deixar uma tão doce habitação, por ocasião do regresso de seus pais a Florença; esta despedida custou bastante lágrimas às religiosas e à donzela; a dor foi recíproca; mas nada a afligiu tanto como a resolução de a casarem.

Tinha apenas 15 anos; a sua virtude, mais ainda do que a sua fortuna, nascimento ou beleza, tornava-a muito pretendida. Mas todas as solicitações se malograram; declarou a seus pais que tinha feito voto de entrar em religião e de não ter jamais outro esposo além de Jesus Cristo. Seus pais eram muito virtuosos e a sua vocação muito patente, para que pusessem obstáculos à sua resolução.

Deixaram-lhe o Convento à sua escolha; preferiu as Carmelitas a todas as outras Comunidades, porque comungavam todos os dias. Entrou em virtude desta resolução no Convento de Santa Maria dos Anjos no ano de 1582, tendo cerca de dezesseis anos e meio de idade. Depois de alguns dias de prova, quando se julgava em vésperas de vestir o Santo Hábito, viu-se novamente chamada por seus pais. Foram três meses de rudes combates que teve de sustentar; mas nada pode abalar a sua resolução; tornou outra vez para o Convento, onde, não querendo reter nada daquilo que tinha tido no século, esqueceu até seus pais, e deixou o nome de Catarina pelo de Madalena; e não querendo também nem ver, nem ser vista por pessoa alguma de fora, fez do claustro o seu túmulo, onde se considerou como sepultada.

O sacrifício de sua própria vontade, acompanhou este desapego. Por muito louvável que fosse o hábito que tinha no mundo de praticar grandes austeridades, e de passar muitas horas em oração, não deliberou um momento, quando foi necessário se sujeitar à vida comum das Noviças; submeteu todas as suas devoções particulares à Regra, e concebeu aversão a toda singularidade. Nenhuma noviça começou a vida religiosa com mais fervor; nenhuma fez em menos tempo mais progressos.

A sua devoção, a sua união íntima com Deus, a sua pontualidade e mortificação tornaram-na perfeita religiosa em menos de seis meses. Madalena, ainda noviça, era apresentada como um modelo de perfeição, que cada uma devia esforçar-se por imitar. Suspirava todos os dias pelo momento em que havia de consumar o seu sacrifício; mas foi necessário dilatá-lo, por causa de uma enfermidade que a pôs às portas da morte. A sua profissão teve, enfim, lugar a 17 de Maio, dia da Festa da Santíssima Trindade, com tal devoção e abrasada de um tão ardente amor para com Deus, que durante muitas horas esteve arrebatada em êxtase. Eram os prelúdios dessas graças extraordinárias e desses frequentes raptos, com que Deus a favoreceu. Durante os primeiros dois anos depois da Profissão, poucos dias se passaram que não estivesse durante quatro ou seis horas em êxtase; viam-na algumas vezes imóvel, os olhos elevados ao Céu ou pregados em um crucifixo, com o rosto todo abrasado no fogo do Divino Amor, tão tranquilo, tão risonho, que bem mostrava as delícias que lhe inundavam a alma. Ouvia-se-lhe dizer muitas vezes: “Ó amor! Ó amor! Será possível que sejais conhecido, ó meu Divino Amor, e que não sejais amado?” As lágrimas que abundantemente derramava durante os seus amorosos raptos diziam quanto sua alma estava abrasada desse fogo divino, que o Salvador veio trazer à terra. Algumas vezes durante estes transportes de amor corria toda a Casa e as alamedas do jardim, com o rosto todo abrasado, dizendo com a Esposa dos Cantares: “Eu procuro o meu Bem-amado, não vistes Aquele que minha alma estremece? Não terei descanso enquanto não encontrar Aquele que é o Amado de minha alma… Eu vivo, exclamava outras vezes, eu vivo, mas não sou eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim”. Nunca se viram efeitos mais sensíveis do Divino Amor, do que os desta ditosa criatura. Houve necessidade muitas vezes de lhe introduzir as mãos na água gelada para temperar estes divinos ardores.

Parece que Nosso Senhor se comprazia em instruir Ele próprio essa alma pura em suas íntimas comunicações. Tendo voltado um dia a si de um longo êxtase, o Confessor e a Superiora ordenaram-lhe que lhe dissesse o que Deus lhe tinha feito conhecer durante esse rapto e as instruções que lhe tinha dado; obedeceu. “ O meu divino Mestre, disse, ordenou-me que conservasse com cuidado e uma vigilância extrema a pureza do coração e a simplicidade; deu-me uma tão alta ideia do preço e do mérito da virgindade, que eu não poderia exprimi-lo por palavras; ordenou-me que fizesse cada ação em particular, como se houvesse de ser a última da minha vida; que ignorasse tudo o que fazem os outros, e que me ocupasse somente dos meus deveres; que tivesse uma igualdade de humor inalterável e uma grande doçura para com toda a classe de pessoas, e que nunca dissesse uma palavra que soubesse a lisonja ou a vaidade; que desejasse apaixonadamente praticar a caridade e prestar serviços as minhas irmãs e que me olhasse como a serva de todas; que estimasse muito as mais ínfimas Regras; que estivesse persuadida de que todas são de importância e de que a mais eminente virtude depende da fidelidade que se tem em observá-las com pontualidade; que não falasse das graças que me faz e do que se passa em meu interior, senão com as pessoas que estão encarregadas da minha conduta; que não tivesse outra vontade senão a do meu Divino Mestre; e que nunca perdesse de vista a Paixão de Jesus Cristo; enfim, que tivesse uma fome insaciável da Divina Eucaristia; que dela me aproximasse com um novo gosto; e que em cada dia fizesse nas vinte e quatro horas trinta e três visitas ao Santíssimo Sacramento, a menos que a obediência não me o estorve”.

Foi dizer um dia à sua Superiora, que o Senhor queria que não se nutrisse senão de pão e água. Não aprovando a Superiora esta singularidade, ordenou-lhe que seguisse a vida comum; obedeceu sem réplica, mas foi-lhe impossível reter um só momento qualquer outra nutrição, e desde então não teve outra em todo o resto de seus dias. Obteve licença para andar com os pés descalços e, por muito rigoroso que fosse o inverno, nunca afrouxou nada desta mortificação. Por fraco e delicado que fosse o seu corpo, e abatido por enfermidades contínuas, deitou-se sempre sobre a terra dura sem nunca largar um áspero cilício e uma cadeia que trazia sobre a sua inocente carne.

Mas não foram estas mortificações o que teve de mais árduo a sofrer. Deus quis purificar a sua grande alma no fogo da tribulação e aumentar desta sorte o seu mérito. Entregue por espaço de cinco anos às mais violentas tentações e às mais rudes provas, viu-se como que sujeita a todo o furor dos Demônios; pareceu esquecer todos os favores de que Deus a tinha cumulado; debateu-se em securas extremas; um desgosto violento por todos os exercícios de piedade, uma insubordinação geral de todas as paixões, e algumas até muito humilhantes; desgosto involuntário da sua vocação; pensamentos terríveis, imaginações fatigantes, tentações de blasfêmia e de desesperação, muitas dores agudas por todo o corpo, espectros horríveis que não lhe deixavam descanso nem de dia nem de noite. A graça sustentava-a, mas não era sensível em um tão triste estado. Madalena em nada se desmentiu; todo o seu refúgio junto de Deus era a sua confiança na proteção da Santíssima Virgem. Viam-na algumas vezes nestes excessos de desespero e de desolação correr aos oratórios que havia no Convento, e derramando lágrimas abraçar estreitamente alguma estátua da Virgem. Mas o que assinala a magnanimidade desta alma, é que nestes trabalhos ouviam-na exclamar: “Quão doce me parece a morte, para pôr fim aos meus sofrimentos; não, meu Deus, não me façais ainda morrer; mas dai-me ainda mais que sofrer: Non mori, sed pati”.

Quanto maiores eram os seus sofrimentos, maior era a sua fidelidade nos exercícios de piedade. Tinha pedido os mais baixos e os mais vis empregos da casa, e todos desempenhava; velava noite e dia à cabeceira dos doentes, e prestava-lhes os ofícios mais humilhantes; o seu maior prazer era obedecer mesmo às irmãs conversas em seus ofícios. Honrava tanto todas as suas irmãs, que se prostrava muitas vezes para beijar a terra, por onde tinham passado. Não é possível levar mais longe a caridade, a mortificação e a humildade, do que o fazia esta santa.

A calma sucedeu à tempestade, e a serenidade a este tempo nebuloso; Jesus Cristo apareceu-lhe e as consolações interiores que acompanhavam a Sua presença sensível fizeram-lhe em breve esquecer tudo quanto tinha sofrido. Daqui por diante não houve mais do que transportes, do que excessos do Amor Divino: “Amar a Deus e aborrecermo-nos a nós mesmos”, eis, dizia ela, em que consiste a perfeição”. Por muito grande que fosse o desejo de sofrer grandes coisas por Deus, o Senhor ordenou-lhe evitar para o futuro toda e qualquer singularidade; fê-lo, mas deu tal relevo ao mérito das ações ordinárias, que crescia sempre em perfeição. Ouviam-na muitas vezes exclamar em suas orações e durante os seus êxtases: “Quem nos separará do amor de Jesus Cristo? Será a tribulação, a tentação ou as angústias? Eu olho tudo como lixo a fim de ganhar a Jesus cristo. O Senhor instrui-me com Seus conselhos, vigia por minha conservação, que temerei eu?” Um dia viram-na durante um desses raptos correr ao altar da Santíssima Virgem; e ali, com o rosto todo inflamado no fogo do Divino Amor que abrasava o seu coração, pronunciou esta oração: “Puríssima Virgem, Mãe de Deus, eu ofereço-me e consagro-me toda a Vós, para sempre e sem reserva; sereis doravante a minha querida Mãe; em Vós coloco junto de Deus toda a minha confiança, dignai-Vos olhar-me como a última de vossas filhas. Jesus e Maria, eis todo o meu tesouro e toda a minha consolação”.

Nunca houve religiosa que tivesse uma ideia mais levantada e mais justa da felicidade do estado religioso; beijava muitas vezes ao dia os muros do claustro e dizia que, se bem compreendessem a doçura, a felicidade e todas as vantagens deste estado, o século ficaria bem depressa deserto. O zelo da salvação das almas devorava-a; todos os dias orava e se penitenciava pela conversão dos pecadores; o tempo de carnaval era para ela a estação das lágrimas; eram dias de martírio.

Embora muito jovem ainda e sempre doente, foi encarregada dos principais ofícios da Casa; foi durante muito tempo diretora das religiosas, entradas ainda de pouco, e das Noviças, e, enfim, escolhida por toda a Comunidade para sua Superiora.

Não é possível admirar assaz a sua vigilância, exatidão, doçura e caridade em cumprir todas as obrigações destes diversos empregos; e mostrou bem que a regularidade e o fervor reinam sem demora em uma Casa Religiosa, quando aqueles que a governam instruem ainda melhor por seus exemplos, do que por suas palavras. Tudo caminha quando os superiores são santos.

Deus favoreceu a nossa santa com os maiores dons sobrenaturais: foi dotada com a prerrogativa dos milagres e da profecia; e no momento em que São Luís de Gonzaga, da Companhia de Jesus, expirou em Roma, Santa Madalena viu durante um êxtase o sublime grau de glória, a que fora elevado no Céu.

As suas dores e enfermidades aumentavam todos os dias, e não se pode compreender como um corpo tão fraco e tão delicado podia resistir a tantos males. A sua última enfermidade aumentou-lhes a violência, sofria dores excessivas por todo o corpo sem poder receber o menor alívio: “Eu espero, dizia, que, a exemplo do meu Divino Salvador, expirarei sobre a Cruz. Não tendes razão, dizia às irmãs que a vinham consolar, em querer que eu desça dela”. Só a Divina Eucaristia tinha poder de suspender por alguns momentos as suas vivas dores, as quais nunca puderam alterar a sua doçura, tranquilidade e paciência.

Enfim, esta vítima ditosa, consumida mais pelos ardores do fogo divino do que por seus sofrimentos, entregou o seu espírito ao seu Criador e foi gozar da alta recompensa que lhe estava preparada. Foi a 26 de Maio de 1607, tendo a idade de quarenta e um anos, 25 dos quais passados no Mosteiro.

Deus deu depois de sua morte sinais da glória de que gozava no Céu, não só pelos milagres brilhantes que se fizeram em seu túmulo, e que ainda continuam, mas ainda pela incorruptibilidade deste Santo Corpo, que se tornou objeto da veneração pública, sobretudo depois que o Papa Urbano III a Beatificou no ano de 1626, e que o Papa Alexandre VII a pôs solenemente no Catálogo do Santos, no ano de 1669, com as cerimônias ordinárias.


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Fonte: Pe. Croiset, S.J., “Ano Cristão”, Vol. V, pp. 403-409, 29 de Maio; Tradução do Francês pelo Pe. Matos Soares, Porto, 1923.


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