Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 26 de junho de 2016

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E A CONVERSÃO DA PRINCESA ASTRID DA BÉLGICA.

Rainha Astrid da Bélgica


Entre os peregrinos portugueses e estrangeiros que em certo dia 13 enchiam o recinto sagrado da Cova da Iria, notava-se um venerável Sacerdote belga, Cônego da Sé de Malines, distinto e aprumado, e dotado de piedade profunda.

Era o Sr. Cônego Dessain que, acompanhado de dois sobrinhos seminaristas, um dos quais, aluna da Universidade de Lovaina, viera a Fátima em peregrinação.

Como chegara até ele a notícia de Fátima?

Lera há pouco, numa revista, a notícia dos fatos miraculosos aqui realizados e resolvera vir de viagem até ao Santuário que de dia para dia se tornava mais célebre, até no estrangeiro.

Mas a razão íntima da sua viagem só agora acaba de ser descoberta e, por ser muito interessante, queremos desde já dá-la aos nossos leitores.

Era uma graça de Nossa Senhora de Fátima…

A princesa Astrid fora educada na religião luterana e luterana casara com o príncipe Leopoldo, herdeiro do trono da Bélgica.

Mas, algum tempo depois de chegar a Bruxelas, foi ela em pessoa que, espontaneamente pediu que alguém a instruísse na Religião Católica.

A escolha recaiu no Sr. Cônego Dessain.

As verdades católicas iam abrindo caminho na alma da princesa e pouco faltaria já para abraçar a fé católica.

A notícia transpusera as portas do Paço Real e corria de boca em boca, enchendo de alegria os bons católicos belgas, que viam nessa próxima e tão sincera conversão a certeza de continuar a brilhar no trono do Rei dos Belgas a virtude cristã, que tão querida tornava aos seus olhos a figura do rei Alberto e de seu filho e futuro rei, o príncipe Leopoldo.

Mas, de repente tudo se transtorna.

O Sr. Cônego deixa de ser convidado a ir ao Paço Real.

Caiu-lhe o coração aos pés, a ele e ao Senhor Cardeal Mercier, muito interessado nesta conversão.

Que se passara?

Ia continuar para sempre protestante a futura Rainha?

Ficariam desfeitas as esperanças do povo católico belga?

Oh! Não podia ser. Acabara de ler as notícias de Fátima.

Recorre a Nossa Senhora, pedindo-lhe a conversão da princesa.

Horas depois, promete vir em peregrinação ao Santuário de Fátima, se a princesa se convertesse.

Como por encanto nesse mesmo dia, novo recado da parte da princesa a convidá-lo para continuar a instruí-la.

Passado algum tempo, todas as dúvidas se haviam dissipado, a instrução religiosa podia considerar-se mais que suficiente.

A princesa procura o Sr. Arcebispo de Malines, em cujas mãos faz a retratação da heresia luterana e profissão de fé Católica. Tais são as declarações recentemente feitas em público pelo próprio Sr. Cônego.

Nossa Senhora de Fátima havia trazido à fé a alma formosa e reta da que, já Rainha, um horrível desastre roubou ao amor e carinho do Rei, de seus filhos e de um povo inteiro. (DA VOZ DE FÁTIMA).


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Fonte: “Mensageiro do Santo Rosário”, Revista Mensal do Convento dos Dominicanos, Anno XXXVIII – Número IX; Uberaba/MG, Janeiro de 1936.


 

sábado, 25 de junho de 2016

Assim Era o Pensamento e a Conduta da Igreja em 1953, Quanto ao Número de Vezes que os Fiéis Poderiam Comungar por Dia.


“… Os Sacerdotes não poderão, no mesmo dia, celebrar de manhã e à tarde, a menos que tenham a faculdade de binar ou trinar, conforme o cânon 806. Da mesma forma, os fiéis não poderão, no mesmo dia, receber a Santa Comunhão pela manhã e à tarde, conforme o que está prescrito no cânon 8571:

Can. 8572. Nemini liceat sanctissimem Eucharistiam recipere, qui eam eadem die iam receperit, nisi in casibus de quibus in can: 858, §l.

Can. 858. §l. Qui a media nocte ieiunium naturale non servaverit, nequit ad sanctissimam Eucharistiam admitti, nisi mortis urgeat periculum, aut necessitas impediendi irreverentiam in sacramentum.


Os fiéis, embora não pertençam ao número daqueles para os quais as Missas vespertinas foram instituídas, terão toda a liberdade de receber a Comunhão durante a Missa, ou então, imediatamente antes ou depois, observadas as prescrições relativas ao jejum eucarístico conforme as normas acima estabelecidas”.3


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1Benedicto XV, “Codex Iuris Canonici” – 1917.
2Este cânon proíbe que se comungue mais de uma vez ao dia, a não ser em perigo de morte, como Viático.
3S.S. Pio XII, Constituição Apostólica “Christus Dominus” e Instrução – Sobre o Jejum Eucarístico e as Missas Vespertinas”, de 6 de Janeiro de 1953. Cfr. Coleção de Documentos Pontifícios, “Documento 89”; III Edição, Editora Vozes Ltda., Petrópolis/RJ., 1956.

sábado, 11 de junho de 2016

Cardeal Caffarra: Irmã Lúcia escreveu que chegaria o tempo de uma “luta final”. E que o terreno desta luta seria o matrimônio e a família.


Roma – Itália (Terça-feira, 07-06-2016, Gaudium Press) O Cardeal Carlo Caffarra, Arcebispo emérito de Bolonha e fundador do Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, falou com Marco Ferraresi de ‘La Nuova Bussola Quotidiana’ sobre diversos temas, entre eles os de sua especialidade. Entre outras revelações, o purpurado italiano falou sobre a carta que a Irmã Lúcia, vidente de Fátima, lhe enviou em resposta a uma sua na qual pedia orações pelo Instituto que estava se consolidando. A seguir reproduzimos alguns trechos da entrevista:


Eminência, o que é a família?

É a sociedade que tem origem no matrimônio, pacto indissolúvel entre um homem e uma mulher, que tem a finalidade de unir aos cônjuges e transmitir a vida humana.


De uma união civil, segundo a lei Cirinnà, nasce uma família? [Ndr. A lei Cirinnà, promulgada recentemente na Itália, reconhece uniões de fato sem distinção de sexo]


Não. O presidente da República Sergio Mattarella, ao assinar esta lei, apoiou a redefinição de matrimônio. Mas uma medida normativa não muda a realidade das coisas. Temos que dizer claramente: os prefeitos (sobretudo, naturalmente, os católicos) devem fazer objeção de consciência. Ao celebrar uma união civil seriam, de fato, corresponsáveis de um ato ilícito grave no plano moral.


Por que há esta crise de identidade da família no Ocidente?

Me pergunto aos poucos, mas não tenho uma resposta exaustiva. No entanto, uma causa é um processo de “desbiologização” segundo o qual já não se considera que o corpo tem uma linguagem - e, por conseguinte, um significado - objetivo. Este significado está, portanto, determinado pela liberdade da pessoa. Na consciência ocidental se fraturou o vínculo entre bios e logos.


Em uma perspectiva de Fé, não há também causas sobrenaturais?

Em 1981 estava fundado, pela vontade de João Paulo II, o Instituto para Estudos sobre o Matrimônio e a Família. A fundação estava prevista para o dia 13 de maio, data da primeira aparição da Virgem de Fátima. O Papa, esse dia, foi vítima do atentado do qual saiu milagrosamente vivo pela graça - segundo palavras do próprio Pontífice - da Virgem. Uns anos depois de fundar o Instituto escrevi à Irmã Lúcia, a vidente de Fátima, para pedir-lhe que rezasse pela obra e acrescentando que não esperava uma resposta por sua parte. Mas a resposta chegou.


O que lhe respondeu?

Irmã Lúcia escreveu - e quero sublinhar que estamos falando de princípios dos anos 80 - que chegaria o tempo de uma “luta final” entre o Senhor e Satanás. E que o terreno desta luta seria o matrimônio e a família. Acrescenta que todos os que estariam envolvidos combatendo a favor do matrimônio e da família seriam perseguidos, mas que não deviam ter medo porque a Virgem já havia esmagado a cabeça da serpente infernal.


Palavras proféticas: é o que está sucedendo?

Vivemos uma situação inédita. Nunca havia acontecido que se redefinisse o matrimônio. É Satanás, que desafia a Deus, como dizendo: “Estais vendo? Tu propões tua criação. Mas eu te demonstro que constituo uma criação alternativa. E verás que os homens dirão: estamos melhor assim”. Todo o arco da criação se sustenta, segundo a Escritura, em dois pilares: o matrimônio e o trabalho humano. Este segundo pilar não é agora nosso tema, ainda que está sendo submetido a uma “crise definidora”; no que concerne o matrimônio, em troca, este tem sido institucionalmente destruído.


A Igreja pode responder a este desafio?

Tem que responder, por razões que chamaria estruturais. A Igreja se interessa pelo matrimônio porque o Senhor o elevou a sacramento. Cristo mesmo une aos esposos. Cuidado, não é uma metáfora: segundo as palavras de São Paulo, no matrimônio o vínculo entre os esposos se enxerta no vínculo esponsal entre Cristo e a Igreja, e vice-versa. A indissolubilidade não é antes de tudo uma questão moral (“os esposos não devem separar-se”), mas ontológica: o sacramento obra uma transformação nos cônjuges. De modo que, como diz a Escritura, já não são dois, mas um. Isto está expressado claramente na ‘Amoris Laetitia’ (parágrafos 71-75). O sacramento, ainda, infunde nos esposos a caridade conjugal. E disto falam claramente os capítulos IV e V da Exortação. Além disso, o sacramento constitui aos esposos em um Estado de vida pública na Igreja e na sociedade. Como qualquer Estado de vida na Igreja, também o estado conjugal tem uma missão: o dom da vida, que continua na educação dos filhos. Aqui o capítulo VII da ‘Amoris Laetitia’ preenche, na minha opinião, uma lacuna que havia no debate dos Bispos durante o Sínodo.


Na prática, o que deveria fazer a Igreja?

Somente uma coisa: comunicar o Evangelho do matrimônio. Tenho dito “comunicar” porque não se trata somente de um acontecimento linguístico. A comunicação do Evangelho significa sanar ao homem e a mulher de sua incapacidade de amar-se, e introduzir-lhes no grande Mistério de Cristo e da Igreja. Esta comunicação tem lugar através do Anúncio e da catequese. E através dos sacramentos. Têm tido pessoas que depois de uma catequese sobre o sacramento do matrimônio se aproximaram para dizer-me: “Por que ninguém me falou destas maravilhosas realidades?”. Os jovens devem ser, principalmente, o centro de nossa preocupação. A questão educativa nesta matéria é “a” questão decisiva. O Papa fala disso extensamente nos parágrafos 205-211. (GPE/EPC)






sábado, 4 de junho de 2016

No Espírito de Elias.





Fr. Tiago de São José





INTRODUÇÃO

“Eis que vos enviarei o Profeta Elias, antes que venha o dia grande e horrível do Senhor. Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos pais, para não suceder que eu venha e que fira a Terra com anátema” (Mal. 4, 5-6).

Revolução de 1835, Barcelona, Espanha. Um jovem de vinte e três anos saía debaixo das ruínas de seu convento que estava sendo incendiado. Ele desejava ali mesmo consumar seu martírio, mas Deus lhe preparava uma outra forma de testemunho... “destruído meu convento, incendiado meu claustro, minha Amada tomou asas de águia; voou, se elevou sobre o mundo e tudo que há no século e foi repousar no deserto e em lugares solitários. Eu A segui...”

Assim, Frei Francisco de Jesus Maria José, iniciava sua aventura espiritual. Nascido em Aytona, Espanha, em 29 de Dezembro de 1811, entregou o espírito em Tarragona, em 20 de Março, aos 61 anos.

Foi beatificado por João Paulo II em 24 de Abril de 1988. Sua Festa Litúrgica é celebrada no dia 7 de Novembro.

Em tempos de grandes conturbações políticas e religiosas, ele foi uma testemunha privilegiada da articulação do mistério da iniquidade (II Tes. 2, 7).

Neste livrinho, reunimos alguns textos selecionados dos seus escritos, com a finalidade de divulgar para as pessoas interessadas, o carisma deste sacerdote que fundou o nosso instituto religioso. Que a graça de Deus nos ajude a entender o desígnio da sua Providência para o nosso Carmelo nestes tempos de prova…

Amemos a Igreja Santa como amamos a Jesus Cristo Nosso Senhor!

“Se me amas, cuida de mim; meus interesses sejam teus interesses, minha glória seja tua glória.” (R. Frag. IV, 2).

Coloquemo-nos na presença de Deus... “Vive o Senhor em cuja presença estou!” (I Reis 17, 1).



I

VOCAÇÃO

“Levantando-se, partiu e seguiu Elias” (I Reis 19, 21).

No Evangelho, encontramos as três dimensões da vocação masculina, representadas nas pessoas de Pedro, Tiago e João. É por isso que o Senhor sempre levava estes três consigo, pois eles representam o conjunto completo dos seus discípulos. Em Pedro, vemos o Sacerdote, a figura de autoridade na Igreja. Em Tiago, o profeta ou mártir, que sustenta a espada da fé. Em João, o monge, ou eremita, contemplativo solitário, que repousa no peito de Jesus. No Carmelo, é possível viver perfeitamente essa tríplice vocação, pois Elias era Sacerdote, Profeta e Eremita. O Carmelita Descalço, Francisco Palau, como um ícone moderno de Elias, teve também essa tríplice vocação. Assim, viveu para a Igreja, como Sacerdote; pela Igreja, como Profeta e na Igreja, como Eremita. De tal forma a amava que costumava dizer: “se vivo é para ti que vivo, ó Igreja Santa!” Como Santa Teresinha, ele descobriu que sua vocação era o Amor, e encontrou no amor da Igreja o cumprimento dos dois mandamentos: amar a Deus e ao próximo.

“Minha vida tem três períodos:

No primeiro procedia sem guia, sem rumo. Meu coração devorado pela paixão do amor, desprendido de todo objeto carnal e terreno, buscava fora das criaturas o objeto de seu amor; mas ai! Não conhecia minha Amada e não A conhecendo, quê delírios, quê ilusões, quê extravios, quê loucuras! “Amava, e para dar um testemunho de amor À que sabia que existia, porém, que não conhecia, resolvi morrer por Ela” (R 8, 17).

“Até a idade de sete anos eu não conhecia que coisa era amar: o amor era um fogo entre cinzas. Porém, logo se incendiou e até os 21 anos amei com paixão e sem conhecimento de minha Amada. Aos 21 anos de idade, ao desprender-se o coração dos objetos estranhos ao verdadeiro amor, ao deixar as coisas que não merecem os afetos do coração, me encontrei em uma situação horrível: impulsionado pelo amor buscava minha coisa amada em Deus: mas, ai! Eu não A conhecia, e Ela não se revelava. Não obstante a paixão do amor não estava em mim ociosa, senão, que crescia, de ano em ano, até devorar o coração. Desde os 21 anos de minha idade até os 33, coisa estranha, eu amava com tal paixão, que busquei mil ocasiões para acreditar que dava e oferecia minha vida e meu sangue em testemunho de minha lealdade; e a Amada me salvou a vida mil vezes exposta aos perigos de uma guerra tal qual a sustentava a Espanha, minha pátria, contra si mesma. ”Eu te amo – dizia eu à minha Amada – aceita meu sangue em prova da verdade de meu amor”. Estou vivo porque minha Amada não aceitou o sacrifício. Coisa estranha: eu não A conhecia e A buscava, porém entre véus A olhava gloriosa no empíreo; e crendo que só ali podia vê-la, desejava que acabasse logo minha vida sacrificada e consagrada ao seu amor” (R 10, 14).

1. O Sacerdote.

“Senhor Deus de Abraão, de Isaac e de Israel,
mostra hoje que tu és o Deus de Israel e que eu sou teu servo” (I Reis 18, 36).

É difícil encontrar um Sacerdote que compreendeu tão profundamente a grandeza do seu ministério como o Beato Palau. Cada Missa era para ele uma ocasião de se unir à Igreja como o esposo se une à sua esposa. “Cada dia me darei tão de novo a ti no Altar como se fosse o primeiro dia de nossa união” (R 9, 14).

Por muitos anos em várias ocasiões em sua vida, estava sozinho e exilado, mas celebrava a Missa todos os dias, com plena consciência do poder do Santo Sacrifício. Nessa passagem podemos ver como a mística desses momentos era intensa: “Aproxima-te de mim, me disse, e me aproximei ao pé de seu Trono. E apareceu à minha frente um Altar onde havia as vestimentas sacerdotais; e dois dos primeiros Príncipes que a rodeavam me disseram, pondo-se à direita e à esquerda: “Veste-te, ó Sacerdote do Altíssimo”. E ajudado pelos dois Príncipes me vesti com vestiduras brancas e puras como o candor da luz. Revestido com as insígnias sacerdotais, a um sinal dado pela Rainha, subi os degraus do Altar; e a Jovem Guerreira me entregou o cálice e a hóstia, e me disse: “Tu és meu ministro e representante sobre o Altar; cumpre teu ministério”. O Trono da Rainha estava sobre o Altar. E vi outro Trono e sentada nele a Suprema Autoridade, figurada em um venerável Ancião, e os Príncipes rodeavam os dois Tronos. E veio sobre mim o Espírito do Senhor, espírito de oração e de súplicas” (R 12, 6).

2. O Profeta.

“Que fazes aqui, Elias?” (I Reis 19, 9).

O Profeta é sempre incompreendido e perseguido. Seu anúncio incomoda e abala as estruturas. Assim aconteceu na vida de Elias e o Carmelo nunca pode perder sua dimensão profética. Pe. Palau tinha consciência disso. Ele também vivia ardendo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos... “Estava examinando, esta manhã, qual era o objeto de todas as minhas relações com Deus na oração e na solidão. A voz doce de minha Amada se fez sentir ao nascer da aurora deste dia e me disse: “tua ação individual se concentra na missão da Ordem religiosa a que pertence.” “A tua ação como filho dos Profetas está confundida com a situação que eu tenho sobre a terra”. Como se dissesse: se eu, Igreja, sou tão perseguida, você deverá ser também... “Estando outra vez perseguido de morte por causa da Religião, me encontrava entre os assassinos, e sem um milagre eu não podia escapar de suas mãos carnívoras e manchadas com o sangue dos ministros do Altar. Eu estava em um bosque, escondido dentro de uma cova; e sabendo que eu estava ali, entraram, eu creio que eram três, ficando os demais fora. Naquela ocasião era para mim a morte minha ventura e minha glória, porque os desejos que tinha de ver a minha Senhora, cara a cara, e sem véus me atormentava de um modo intolerável. Ao entrar na cova os assassinos, por ordem de seu chefe que estava fora, eu me retirei a um canto que estava algo obscuro; ajoelhei-me, preparando-me e esperando minha última hora tão desejada; tinha em minhas mãos o Lignum Crucis e estava com o hábito religioso. Entretanto fiquei invisível aos seus olhos!” Não lhe faltaram lutas, fugas, combates e perseguições... “Quando fiz minha profissão religiosa a revolução já tinha em sua mão a tocha incendiada para abrasar todos os estabelecimentos religiosos e o temível punhal para matar os indivíduos refugiados neles. Não ignorava eu o perigo acelerador a que me expunha, nem as regras de previsão para subtrair-me a ele; me comprometi, todavia, com votos solenes a um estado, cujas regras acreditava poder praticar até a morte, independente de todo humano acontecimento...” Seu carisma profético lhe permitia ouvir a voz da Igreja! Ouviu-se a voz do Pai, e disse: “Esta é minha filha muito amada; nela tenho minhas complacências, escutai-a” (R 12, 1). Em busca de sua Amada, nas vigílias noturnas na solidão, ouviu: “Diz-me, Filho dos profetas que buscas à noite nestes bosques? - Te busco minha pomba... – Que queres de mim? - Peço que me reveles os destinos da Providência sobre ti, sobre a Ordem Religiosa a que pertenço... - Vem ao monte sozinho e ali te revelarei os segredos do meu coração...” (R 21, 1).

3. O Eremita.

“Retira-te daqui e vai para o Oriente
e esconde-te junto à torrente” (I Reis 17, 3).

A autêntica vocação carmelitana caracteriza-se por um grande amor à solidão. Frei Francisco não só vivia isto, mas defendia a vida eremítica com todo o vigor: “Este gênero de vida, não é acaso uma língua a mais eloquente que anuncia os mistérios de nossa Santa Religião de um modo prático? Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu um assinalado exemplo dela; antes de começar sua vida Apostólica quis ser solitário, e, durante o tempo de sua pregação, frequentemente se retirava pelas noites às montanhas. Seu Precursor viveu desde sua infância nos desertos e os Profetas haviam dado antes este exemplo nas montanhas do Líbano, do Horeb e do Carmelo. E os Santos do Novo Testamento do mesmo modo seguiram a Cristo nos desertos” (Elogio da Vida Solitária). “Para viver no Carmelo só necessitava de uma coisa que é a vocação; muito persuadido estava dele, como todavia, também estou, de que para viver como anacoreta, solitário ou eremita, não necessitava de edifícios que logo iam desmoronar-se; nem me eram indispensáveis as montanhas da Espanha, pois acreditava haver em toda a extensão da terra bastantes grutas e cavernas para fixar nelas minha morada. De nenhum modo temia que as revoltas políticas da sociedade me pudessem ser obstáculo para o cumprimento de meus votos, nem por outra parte podia duvidar, tampouco, de que o estado religioso deixaria de ser reconhecido pela Igreja Universal e, portanto, por todos os seus membros. Com estas considerações, em nenhum momento vacilei em contrair obrigações, que estava bem persuadido de que poderia cumprir fielmente até a morte; se por um instante houvesse eu duvidado sobre um ponto tão essencial para abraçar meu estado, oh, não! Certamente não seria agora eu religioso, pois teria seguido outro gênero de vida; e até quando meus superiores me anunciaram que devia ordenar-me, mas me parece que jamais aceitaria o Sacerdócio, se me houvessem assegurado que em caso de ver-me obrigado a sair do convento, deveria viver como Sacerdote secular, pois, a meu parecer, nunca senti essa vocação, e se consenti em ser sacerdote foi sob a firme persuasão de que esta dignidade de modo algum me distanciaria de minha profissão religiosa.” Havia nele um constante apelo à oração: “Em cumprimento de minha palavra, subi até o cimo do monte para orar, e não encontrei A que buscava no lugar do encontro (a Igreja); chamei-A e não me respondia. Subi a outro pequeno monte, mais elevado, coberto de bosque, e A encontrei solitária e em profunda meditação. E uma voz forte procedente do mesmo monte me disse: ”Oração, oração”. E me pus em silêncio e em oração (R 9, 8).

E também descreve seu amor à Cela:

A Cela é meu Céu,
O Céu é minha Cela.
Da Cela ao Céu,
Do Céu à Cela (R 4, 5).



II

FUNDAÇÃO DO CARMELO EREMÍTICO

Certa vez, na gruta do Vedrá, ouviu da Igreja: “Sobre três cláusulas vou fixar tua missão: 1º) A revelação de minhas glórias ao mundo; 2º) A restauração da Ordem do Grande Profeta Elias; 3º) A missão deste Grande Profeta na terra” (R 9, 47).

Foi dessa experiência mística que nasceu o Carmelo Eremítico. Ele devia “Restaurar a Ordem do Grande Profeta Elias!” De fato, no princípio da Ordem, todos os Carmelitas eram Eremitas, ou seja, habitantes da solidão. Na segunda metade do século XIII, com a migração para a Europa, houve a mudança de carisma e se tornaram frades mendicantes de vida mais ativa, vivendo em conventos, nas cidades. Esta mudança ocasionou alguns protestos dentro da Ordem, como o do Prior Geral, Nicolau, o Francês, que escreveu o famoso Ignea Sagitta. Na Reforma Descalça houve uma maior valorização da vida contemplativa e eremítica, principalmente através dos Santos Desertos Carmelitanos, que foram instituídos pouco depois da morte de Santa Teresa. Entretanto, normalmente só podiam permanecer nestes desertos por um ano, e depois voltavam para as atividades normais. Entretanto, Frei Francisco, como filho de Santa Teresa, também recebia esta missão fundacional, visando a restauração da Ordem no seu carisma original. Sem entender bem esse desígnio, Pe. Palau quis ainda questionar: “Quanto ao segundo, me importaria conhecer o destino desta sociedade de homens, que refugiando-se sob as armas do Carmelo, fujam do mundo e se salvem nos desertos. São teus filhos, tu cuidarás melhor que eu...” Porém a Igreja lhe ordenava: “Desdobra as armas do Monte Santo do Carmelo, para que se acolham à sua proteção os que são escolhidos para filhos do Grande Profeta Elias, e dirige-os nos desertos, preparando-os ali para receber o duplo espírito deste Grande Profeta. Entende-te sobre eles com teu Pai Santo Elias; e diz-lhe que estão sob teu cuidado e direção, que lhe reconheçam por seu Geral e que o Superior Geral tenha o título de secretário do Geral; que peçam-lhes de Deus o espírito forte do Profeta” (R 8, 29).

Nestas palavras reconhecemos o estatuto da nossa fundação. Nosso Carmelo deveria ser, portanto, essa restauração da Ordem no seu carisma primitivo de índole Eremítica e Eliana.

Nesse sentido, o Beato Palau começou a organizar a vida dos Carmelitas Eremitas de Mallorca, após o seu regresso da França, em 1851. Escreveu as Constituições em torno de 1863. Entretanto, após sua morte, em 1872, não permaneceram por muito tempo. Sabemos que o último deles faleceu em 1936. As Irmãs Carmelitas Missionárias, também fundadas por ele, conseguiram subsistir até os dias de hoje e estão presentes em muitas partes do mundo. Em Atibaia, iniciamos a experiência do nosso Eremitério, em 2002, vivendo a regra primitiva do Carmelo. Em 2009, tivemos acesso aos textos do Pe. Palau e às Constituições que ele escreveu. Percebemos os desígnios da Providência para recomeçarmos o mesmo instituto dos Irmãos Carmelitas Eremitas.



III

A VISÃO DA MULHER

Durante muitos anos, Pe. Palau recolheu suas experiências místicas num escrito seu, chamado Minhas Relações com a Igreja. Aí se encontram revelações muito profundas, sobre o mistério da Igreja e acontecimentos futuros. A própria Igreja Santa personificada na imagem da Mulher, lhe transmitia estas mensagens representada por:

1. Figuras da Igreja no Antigo Testamento.

“Foi, pois, a mulher e fez como Elias tinha dito” (I Reis 17, 15).

Como a viúva de Sarepta, ou outras mulheres importantes do Antigo Testamento: “Rebeca, Sara, Ester, Judite, Débora, Raquel e as demais mulheres, que na Bíblia representam a Igreja, te visitaram, pois através delas, Deus te dava uma luz cada vez mais clara da representação de tua esposa, a Igreja” (R 1, 15).

2. Nossa Senhora, a Imaculada: Ícone perfeito da Igreja.

“Apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol” (Ap. 12).

A Teologia identifica a profunda relação entre Maria e o mistério da Igreja. Sendo Maria a mais perfeita figura para representar a Igreja, é através dela que o Beato Francisco Palau inicia sua relação de amor até atingir o matrimônio espiritual: “Entre outras figuras, a de uma Mulher nos descreve as relações entre Cristo e os Santos, no Matrimônio Espiritual entre Cristo e sua Igreja” (R 11, 14). “Olhei para esta imagem e vi então, em Maria, minha amada: vi a Igreja Santa. Como és bela dizia meu coração arrebatado de amor! Como és pura, oh Virgem Amada, como és amável! És perfeita e tão formosa, oh minha esposa! Em ti vejo toda a hierarquia dos coros celestes unidas às almas glorificadas e os justos na terra, unidos a Cristo sua cabeça formando o corpo da minha Amada” (R 4, 3). “E agora me apresento a ti com minha figura e meu nome próprio que é Maria. E te dou este sinal: serás agora livre de todas as tuas misérias” (R 2, 9). “Disse-me a Virgem: Toma este presente, recebe estes Rosários como testemunho e sinal do amor de tua Esposa contigo. A Igreja, esta virgem infinitamente amável, amando-te em correspondência a teu amor se dá toda a ti, toda se entrega a ti, és toda tua, é tua Amada e tu, Amante, é tua herança, é carne de tua carne, osso de teus ossos: os dois são um. No Augustíssimo Sacramento do Altar, ali todos os dias representada em sua Cabeça invisível, Jesus, meu Filho, ali Ela se unirá contigo de novo. Dando-te sua Cabeça sacramentalmente, se te dá toda Ela, por amor, mística e moralmente; e unindo-te ali sacramentalmente com a Cabeça, te unirás moralmente com todo o seu corpo. Ali, comendo a Carne de Cristo, sua Cabeça, te farás com ela carne de suas carnes, ossos de teus ossos; ali te unirás com Ela e Ela contigo em Matrimônio Espiritual, e gozarás dela e Ela contigo com aquele gozo espiritual que o mundo e a carne não conhecem. Tua Amada, tua Esposa, tua Filha, está e estará no Templo do Deus Vivo, dia e noite, junto a Cristo Sacramentado, reclinada sobre o Altar. Cuida dela, enxuga suas lágrimas, consola-a em suas aflições, alivia seus pesares; o que tu farás por Ela na Terra, Ela te devolverá e fará por ti no Céu. Dito isso, ouviu-se uma música celeste, e os coros respondiam: ”Amém. Aleluia” (R 1, 31).

A este amor, ele procurava corresponder cada vez ardentemente: “Virgem fecunda, abre teus braços e recebe este miserável viajante, este peregrino que vive sobre a Terra. Não mais figuras, nem véus! Veja-te eu face a face! (R 2, 15)

Após muitos anos de noite escura, entrou na união transformante descrita por S. João da Cruz: “Ó noite que me guiaste, ó noite mais amável que a alvorada! Ó noite que juntaste amado com amada! Amada no amado transformada!” A diferença contudo, é que o Beato Pala u se une a Deus através de sua Amada! (Igreja) “Onde está Cristo está sua Igreja e onde vai um vai o outro, porque não se pode conceber um corpo separado de sua cabeça, nem uma cabeça separada de seu corpo” (R 3, 1 2). “Eu sou Deus e os próximos, o objeto de amor designado pela lei da graça. Acharás a mim solitária nos claustros, desertos, ermidas e pastora em meio aos povos, peregrina nos caminhos e em todas as partes onde se faz a caridade” (R 20, 9.11).

3. A Igreja Militante.

“O dragão irou-se contra a Mulher e foi fazer guerra aos outros seus filhos” (Ap. 12, 17).

Entretanto, a Igreja se apresentava geralmente como uma jovem guerreira, indicando o combate espiritual dos nossos tempos... “Quem és tu ó belíssima e valente guerreira? - Eu sou Judite, sou tua amada. Fora de mim e sem o meu poder, fora da Igreja e sem minha autoridade pouco vales” (R 10, 19). “Tu és a Igreja Romana? Eu sou. Ouve e atende as lágrimas e lamentos desta tua Filha. Quero que saibas meu futuro. O dragão infernal, vencido na Cruz por meu Esposo Jesus, foi lançado de todas as partes pela mão de meus Apóstolos e encerrado nos calabouços do inferno ”por mil anos” (Ap 20, 1-3). Ao pé da Cruz, no Gólgota, meu Pai me deu uma autoridade e um poder onipotente sobre todos os demônios, e em virtude deste poder foram ligados pelas mãos de meus Apóstolos todos os príncipes do império infernal; e era tanta e tão geral em meus primeiros filhos esta fé, que o menor deles se acreditava capaz para desalojá-lo dos ídolos e expulsá-lo dos corpos humanos. Vinda a paz depois de quatro séculos de guerra e de sangue, esta fé em minha autoridade me valeu por um tempo, maiores vitórias e triunfos. Com o passar dos séculos, fui diminuída, até ao ponto em que a vês agora. E solto o dragão infernal outra vez, atacou com seus príncipes meus povos; e pelo cisma grego, pelo protestantismo e ultimamente pela revolução atual, invadiu o mundo inteiro. E arrogante em suas conquistas entrou nos corpos de minhas virgens, e cheio de soberba, gloriando-se em suas vitórias, está me provocando, dia e noite, e me reduziu à situação em que me vês. Antes que tu me conhecesses te tomei pela mão, e tirando-te dentre a multidão te conduzi à solidão deste monte, e aqui hei descoberto e revelado minha glória. Meu Pai Celestial te deu para comigo amor de pai, e me disse: “Este é teu pai”, e a ti: “Aí tens minha Filha e tua Filha”, e desde então, devorado pelo amor de pai para comigo, buscas ocasiões para servir-me e fazer crer no teu amor paternal. Sou também tua Esposa, porque Jesus, meu Esposo, me disse: “Este é teu Esposo”, e a ti: “Esta é minha Esposa e tua Esposa”. Sou tua Rainha e Senhora, e tu, meu ministro, sou tua Mãe; e sob todos estes títulos eu me dei a conhecer, e tive e tenho relacionamento contigo. Pois bem, crês que eu tenho todo poder sobre os demônios?

– Sim, eu o creio” (R 17, 4).






IV

1º JULGAMENTO

“Abandonaram a vossa aliança” (I Reis 19, 10).

Francisco Palau percorreu um longo caminho em sua experiência mística, subindo o Monte (I Reis 19, 8) sustentado com a força da Eucaristia. No cume do monte, ele pôde ver a dimensão da batalha espiritual que estamos vivenciando nestes nossos tempos de apostasia e tribulação (Mt. 24). “Revelar-te-ei o segredo. O príncipe das trevas, correndo por seu curso estes últimos séculos, se apoderou de todos os tronos, cetros e coroas dos grandes da Terra; sendo visível neles, por eles ataca e desafia minha autoridade e poder; visível nos corpos humanos que possui, provoca minha autoridade e com grande arrogância diz que não tem inimigo que lhe quebre a cabeça. Tenho rezado a meu Pai que tem escutado propício minhas súplicas. A hora é chegada: enviará dois Príncipes ou Apóstolos, e estes, cheios de fé em mim e no mistério da redenção e revestido de toda minha autoridade, encadearão o príncipe tenebroso que tem corrompido todos os reis da Terra; arrancarão dos falsos pastores a pele de ovelha e mostrarão a todo o mundo sua hipocrisia; cairão no abismo todos os demônios, e com eles todos os poderes fundados em sua malícia.

- Quando será isto?

- Logo.

- Haverá sinais desta grande catástrofe?

- Sim, haverá, e ninguém acreditará neles.

- Quais são?

- Te darei os seguintes: Especialmente nestes três últimos séculos, os demônios, visíveis nos corpos humanos, provocam e desafiam minha autoridade que reside em meus Sacerdotes, e ante vós se mantém firme, em pé, e cheio de arrogância. Os demônios, visíveis nos corpos humanos, resistindo e não cedendo ante a autoridade sacerdotal, são cometas no firmamento do mundo intelectual, e significam...

- Que significam?

- A incredulidade dos povos, e as nações, antes cristãs e agora pagãs, caem na ruína e destruição. Os demônios cairão, e com eles cairá a incredulidade dos incrédulos.

- Esse sinal é distante... Há outro de imediato?

- Sim. Quando vires que os demônios são expulsos dos corpos humanos, então acontecerá o que te hei revelado. Os demais sinais, a ninguém os manifeste, porque são um segredo” (R 18, 10). “E houve uma grande batalha. Meu espírito foi elevado ao Trono de Deus; e o consistório celeste se reuniu ante Deus, e foram julgadas em justiça e equidade todas as nações. Apresentou-se diante de Deus sua Igreja Santa, e Judite pediu a cabeça de Holofernes, isto é, que Satã fosse outra vez encadeado e encerrado ao abismo. O dragão infernal foi lançado da presença de Deus. E sabendo que tem pouco tempo, prepara para o dia da batalha quantos elementos tem sobre a terra e no inferno, contra a Igreja Santa (R 22, 10).

- Juiz: Fiat. Abram-se os livros, e principie-se o Juízo. Compareça aqui aquele que dia e noite está acusando diante de mim a esta nação (Ap. 12, 10). Satanás: Aqui estou, Senhor.

- Juiz: Unde venis? ”De onde vens”? (Jó 1, 7; 2, 2).

- Satanás: Dei voltas em toda a terra, e a visitei inteira. Todos os povos se submeteram a mim (L 30).

1. A Primeira Besta.

“E vi levantar-se do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres
e sobre seus chifres dez diademas” (Ap. 13, 1).

“Esta besta são todos os reis e poderes da Terra que seduzidos pelos demônios sacudiram o jugo da Igreja e se separaram dela, e coligados com os demônios formam um só corpo e se unem na guerra contra a Igreja e seu Pontificado. Pela razão de que estes formam um só corpo com o dragão, se este cai, há de cair também essa besta; por isso não te assuste ao ver a resistência que fazem os demônios na batalha que tu tens contra eles. O dragão e esta besta cairão no mesmo dia; continua batalhando” (R 13, 13).

2. O Anjo.

“Vi descer do céu um Anjo que tinha a chave do abismo
e uma grande cadeia na mão” (Ap. 20, 1).

“Esse Anjo representa Cristo e seus Apóstolos. O dragão foi vencido no Céu com o Sangue do Cordeiro e foi encerrado no inferno por Cristo e seus Apóstolos. Foram encerradas aquelas cabeças de serpente coroadas e com chifres, que eram os que com suas doutrinas seduziam os reis e poderosos do mundo. Estes receberam a fé dos Apóstolos e renderam suas coroas e cetros aos pés da Igreja constituindo-se seus guardiães e defensores. Pelas causas, que já sabem e que não podem revelar, depois de mil anos da vinda de Cristo voltou o dragão outra vez a sair de seu cárcere, começando outra vez uma batalha horrenda; pouco a pouco seduziu e conquistou, ora com forças de armas, ora com a corrupção de suas doutrinas, o coração dos reis e poderosos da Terra. E seu poder tendo chegado ao apogeu, agora, será vencido outra vez pelo Sangue do Cordeiro na oração e lançado da presença de Deus. É chegada a hora de ser outra vez aprisionado! Levanta cárceres sobre a terra, encerra-lhe ali, e lança-lhe no abismo. Isto é o que te manda Deus: ”Expulsai os demônios!” (R 13, 15.17).

3. Remédio: Penitência.

“Veio um vento impetuoso e forte que quebrava os rochedos” (I Reis 19, 11).

“Uma horrível tempestade de ventos batia com tal força o monte, que parecia fundir-lhe os fundamentos; mas o monte estava quieto e inalterável. Em meio do furacão se amontoaram ao meu espírito, em multidão, tantas ideias adversas e desfavoráveis, que me deixavam sob uma tremenda opressão. Já no dia anterior ao anoitecer, se haviam preparado ao meu redor quantos elementos dispõem o espírito do erro para afligir, renovando nele penas que há mais de vinte anos me atormentavam; e uma força e auxílio extraordinário veio a mim procedente do Céu. Ouviram-se no monte essas vozes: ”Batalha. Arma-te, porém, não temas; vencerás”. Eu me levantei em pé e esperava o inimigo; eu mirava um espírito mau que há muitos anos me atormentava, e alentado pela virtude do Céu, reuni todas minhas forças para o combate” (R 9, 21).

Percebemos claramente, nos dias de hoje, com se cumpriram estas profecias. As doutrinas do inferno conseguiram seduzir todos os povos da terra. O orgulho e o pecado se difundem cada vez mais, com a busca desenfreada do prazer, a prostituição e uso de anticoncepcionais e toda a idolatria do sexo. Como lemos no Apocalipse: “Todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição e os reis da terra se corromperam com ela e os mercadores da terra se fizeram ricos com o excesso de suas delícias” (Ap. 17). Em contrapartida, Deus dispõe o sofrimento de seus escolhidos... “Desde então, uma só coisa aliviava minhas penas, e era a esperança de morrer vítima entre as chamas vorazes da revolução da época, sendo-me menos horrível o fogo material, o punhal do verdugo, e a espada do homem mau, que o fogo interno do amor que devorava meu coração. Ofereci-me, ainda que sem te conhecer, como vítima propiciatória em tempo de ira e vingança; e tu me salvaste a vida mil vezes, porque me tinhas preparado outro martírio mil vezes mais cruel (R 22, 15).

A penitência é mais uma vez apresentada como remédio contra o pecado…

“Para um povo que tem pecado, e que por seus pecados se vê açoitado pela Mão de Deus, é bem fácil designar-lhe remédio. Como quando a causa é quitada se quitam os efeitos que dela nascem, quitado o pecado pela penitência fica salva a nação dos açoites da Divina Justiça, que não a descarrega o Senhor senão para que se converta. No capítulo 30, v. 1 a 3 do Deuteronômio, em que se leem estas memoráveis palavras: ”O Senhor, teu Deus, reconduzirá teus cativos; se com padecerá de ti e te congregará outra vez” (L 3, pág. 98).



V

2º JULGAMENTO

“Destruíram vossos altares” (I Reis 19, 10).

A apostasia generalizada que se instalou nos nossos tempos teve seu grande impulso no século XIX. No livro “Luta da Alma com Deus”, o Beato Palau apresenta esta situação. O lamento pela sua Pátria expressa bem o quadro tenebroso que se instalou na Igreja em toda parte do mundo: “Oh! Espanha! Ó doce Pátria minha! Tão rica e poderosa no tempo quando teus governantes, sendo católicos de verdade, eram os primeiros a prostrar-se diante das terras de teu Deus e não permitiam que teu ditoso solo fosse profanado pelas pegadas de nenhum imundo nem incircunciso; quando teus filhos sem diferença de idades, de condições, nem sexo, vinham todos a dobrar seus joelhos ante o Deus Sacramentado, a ouvir com docilidade a palavra de vida, a receber os Sacramentos da saúde, e a oferecer o sacrifício de louvor ao Senhor Deus, que os cumulava de seus bens. E agora, quantos de teus Santuários vemos desertos, profanados e roubados? Quantos se têm convertido em estábulos para os cavalos, em teatros mundanos, em quartéis para soldados, e em habitações de mulheres públicas e abandonadas? Quantos têm sido pasto das chamas e tumba de seus santos moradores? E quantos outros têm arrasado o martelo destruidor? E os que ainda estão abertos para não chocar demasiado com a proverbial piedade espanhola, em que estado de miséria e abandono se encontram! Quão expostos de contínuo às irreverências e mofas dos profanos que se tem multiplicado sem fim! Vemos desaparecer de teus caminhos e de tuas ruas os inumeráveis monumentos que davam crédito à tua piedade; e em seu lugar se têm erguido o símbolo da liberdade ímpia, da liberdade de pecar, da liberdade de viver entregado sem freio à desordem de suas paixões e longe de Deus. Oh Espanha! O ímpio prossegue cortando ramos da Árvore Sacrossanta da Religião Católica! Seus golpes são contínuos. Seu empenho é destruí-lo de todo e arrancá-lo pela raiz. E se o Deus das misericórdias – que a fez plantar em teu solo, que o regou com o sangue de tantos mártires e com os suores de tantos Pontífices e Sacerdotes, e que lhe deu um aumento tão prodigioso – não detém a mão do ímpio, chegará a lograr este seu intento. Porque vê que já se dirigem alguns golpes à raiz; é proposto formalmente o cisma, e se persegue o Clero que ousa levantar a voz e manifestar-se adepto ao centro da unidade católica, que é o Papa (L 7).

1. A Segunda Besta.

“Vi levantar-se da terra uma besta.
Tinha dois chifres como um cordeiro,
mas falava como um dragão” (Ap. 13, 11).

Esta segunda besta saiu do mar, isto é, do mundo; donde se formaram as heresias, cismas, falsas religiões, com o auxílio das más paixões do mundo: ali nasceu, ali cresceu, ali se fortaleceu, ali chegou, como vês, a dominar todos os reinos, povos e nações (Ap. 13, 1-10)” (R 13, 13). “Esta segunda besta são todos os reis que dizem ser católicos e não o são, senão que reunidos em conjunto com os povos que eles governam, falam como os demônios contra Cristo e sua Igreja e formam liga com todos os demais na guerra contra Deus. A esses poderes representados em seus chifres se une toda a massa de cristãos, que o são só na aparência, porém na realidade não tem nem a fé nem a caridade verdadeira; e estes são os que, mesclados entre os justos, lhes fazem uma guerra entranhada que é a mais cruel, pois que vestidos como cordeiro entram até o santuário de Deus, lhe enchendo de abominações; e é esse o corpo desta besta que combate na parte de dentro, enquanto que a primeira, combate por fora. Esta besta é a que se servindo de toda a arte da magia, associada, assim como a primeira, com o dragão, faz curas prodigiosas nos corpos humanos; a que se esconde por agora entre o magnetismo (Nova Era) e o espiritismo e com sinais renderá aos pés da primeira Besta todos os povos da terra, sem que nem um só escape de sua corrupção” (R 13, 14).

2. A Apostasia dos Sacerdotes.

“Eu, porém, tenho lhe dado tempo para que se converta,
mas não quer se converter de suas imundícies” (Ap. 2, 21).

“Escuta. Todos os Sacerdotes no dia da Ordenação são entregues a Mim por meu Pai Celestial. O Sacerdote, seja qual for seu grau ou dignidade, é, desde o dia da Ordenação, meu esposo, e estes desposórios se celebram na devida forma ante o público. Pode um marido ou esposo, não obstante os laços do matrimônio, ser esposo infiel, adúltero, impuro, e por isso mesmo indigno de sua esposa. Pode um Sacerdote, não obstante os laços sagrados do Sacerdócio com O que está ligado a Mim, ser infiel, adúltero e mau esposo. Pois bem, eu sou virgem, sempre o fui e sempre o serei, e o que se une comigo em matrimônio espiritual é tanto mais puro quanto mais Eu lhe abraço, é tanto mais casto quanto com mais força me ama, e ninguém é digno de Mim senão o que vem ao Sacerdócio com intenções puras. Queres saber a causa de minha dor?” (R 18, 5). “Choro a morte dos infelizes que com intenções impuras pretenderam minha mão de Esposa, e foram entregues por sua impureza ao furor de Asmodeo” (R 18, 1).

3. Remédio: Oração.

“Depois do vento, houve um terremoto” (I Reis 19, 11).
“A oração unida ao sacrifício é a arma invencível da Igreja Santa” (R 4, 32). A oração pode parecer uma verdadeira “luta com Deus”, como aconteceu com Jacó (Gên. 32,28): “À meia-noite um relâmpago penetra por minha cova; e ao rebentar a eletricidade tremeram as bases do monte; os trovões se sucedem uns a outros, o raio fere as rochas e abate troncos enormes. E Deus, sentado sobre as nuvens, com Voz de trovão me chama e me diz: “Filho dos Grandes Profetas, sai de tua caverna e vê se te atreves a lutar comigo”. Levantei-me cheio de terror, horror e espanto. E, ao sair, uma voz amiga me disse em silêncio: “Caminha, não temas”. E eu, revestido de força, me apresentei ante o Deus de majestade que veio sobre as nuvens. O Trono de Deus despendia uma chuva de raios” (R 17, 8).

“Apresentando-se diante do Supremo Juiz: - Quem é você?

- Senhor, em minha fronte está gravado o nome de todas as nações da Terra, sou teu representante, e revestido das insígnias sagradas, venho apresentar as súplicas para que nos defenda das criminalidades de Satanás.

- Sobe e cumpre as funções de teu ministério. Subi os degraus do altar e repeti minha demanda:

- Senhor, seja o diabo encerrado no inferno e salva de sua tirania a sociedade humana existente na terra, sua prisão será a vida e a liberdade das nações.

- Em que fundas a justiça da tua petição?

- Senhor em vossa palavra, vós dissestes esta lei: “tudo quanto pedirdes em oração, crede e vos será concedido.”

- Crês?

- Sim” (Citações do livro Luta da alma com Deus).



VI

3º JULGAMENTO

“Mataram vossos profetas ao fio da espada” (I Reis 19, 10).

Intercessor: “Escuta minha súplica, ó Senhor, Deus Grande e Terrível, que guardais Vossa Aliança e Vossa Misericórdia aos que amam e guardam Vossos Mandamentos! Temos pecado, temos cometido iniquidade, temos agido impiamente, e nos temos afastado e decaído de Vossos Mandamentos e Juízos” (L 54).

A articulação do mistério da iniquidade nestes últimos três séculos no sentido de destruir a Igreja: “A Revolução está servindo ao diabo para completar na terra a anarquia, dissipou nas nações toda a ordem. Falta dar um passo, um último passo é estabelecer sobre estas mesmas ruínas sociais um império, um só império universal sob o lema: um rei! Uma só religião! Um só Deus! Preparadas as coisas, tanto na ordem política, como religiosa, como moral, espiritual e moral, verão com estupor todos os povos e nações da terra o poder nas mãos de um só homem. Deus se servirá deste filho iníquo e perverso para tentar a fidelidade dos escolhidos e castigar os crimes. Satanás e os reis que atualmente tem sobre a terra, sobre os tronos, não podem se constituir com ordem porque sua obra e sua missão é destruir e dissolver. Depois de concluir sua abominável missão de implantar tudo o que não agrada a Deus e não convém à sua Igreja, cairá em um só dia pela ação imediata de Deus. Cairá para não se levantar mais e sobre suas ruínas, construirá seu império Jesus Cristo, Rei verdadeiro e legítimo” (R 13, 36).

1. O Dragão.

“Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho
com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete coroas” (Ap. 12, 3).

“O Dragão e estas duas bestas são uma só coisa no espírito do mal. Aqui tens o poder do inferno: o poder que está fora do Templo, e um poder dentro mesmo do Santuário, reunidos sob uma só bandeira contra Deus e sua Igreja. Por isso não é muito que resistam tanto a estas duas bestas, porque as três cairão no abismo no mesmo dia e a uma mesma hora” (R 13, 15).

“Este Dragão representa todo o poder dos demônios reunidos em grupo na guerra contra a Igreja. Essas cabeças coroadas são aqueles demônios que atacam, tentam e combatem aos reis e príncipes da terra, e quando os vence com algum dos sete vícios capitais, figurados nas sete cabeças, voltam seu poder, figurados nos chifres, contra a Mulher. Não te admires que os demônios, que possuem os possessos, confiados ao teu cargo, resistam tanto. Já verás o mistério: todos juntos formam um corpo de guerra, e se caem uma dessas cabeças coroadas ou duas, se caem muitos demônios e subsiste o corpo, pouco adiantamos: terão que cair todos, terá que cair o dragão com suas sete cabeças, e nesta batalha se há de aplicar muita oração, fé e sacrifícios. Caindo os demônios, hão de cair os reis que têm levantado seus tronos sobre sua malícia no mundo, e que promoverão uma revolução tal, que jamais houve nem haverá outra igual” (R 13, 11).

“Apresentou-se um Altar ante um trono sobre o qual estava sentada a Majestade de Deus. E aproximando-se de mim um dos sete Príncipes me disse: Veste, ó Sacerdote de Deus, veste teu uniforme”. E trouxeram os Anjos as vestimentas Sacerdotais, e me vesti como preparado para celebrar o Sacrifício. Olhando para a terra vi uma besta muito feia: era um dragão com sete cabeças, e nas cabeças tinha sete coroas, como as dos reis, e dez chifres; era loiro, e atrás dele, lhe seguia uma terceira parte de anjos, aqueles que foram jogados do Céu. E o dragão enviou seus anjos sobre a terra; e ele, levantando-se no alto, foi admitido à Presença e ao Trono de Deus, e se pôs em frente à Mulher. Era esta Mulher Virgem, e também Mãe fecundíssima, e pensava proteger seus filhos ao nascerem. Levantou-se Miguel Arcanjo e com ele os sete príncipes que guardavam a Rainha, e deu-se uma batalha: o dragão, a antiga serpente, por outro nome Satanás ou diabo, batalhava contra a Mulher, e A sustentavam os Príncipes advogando em seu favor” (R 13, 8).

2. O Zelo pela Vinha do Senhor.

“Eu me consumo de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos” (I Reis 19, 10).

“Apenas peguei no sono, me despertou cheio de espanto e de terror a visão de mil espectros, a qual mais horrível. Vi essa mesma jovem em apuros os mais críticos. Entre as trevas mais espessas de uma noite terrível, ela estava só, seu aspecto muito triste, vestida de luto, coberta com um véu negro, e orava ao pé de uma enorme árvore. Não pude distinguir senão seu vulto, e não obstante, eu a conhecia e entendia que estava amargurada... Estava em pé, abraçada com uma cruz mais alta que ela, como quem se prepara para uma catástrofe. Logo vi, não muito longe, uns quantos guerreiros, que se dispunham para a batalha e eram seus soldados; se agregaram a mim muitos amigos e gente de guerra. E ao levantar-me para oferecer à minha Senhora meus débeis e fracos, porém, leais serviços, saiu da espessura daquele bosque uma manada de bestas as mais cruéis e selvagens: leões e tigres, ursos, lobos, basiliscos, serpentes, e sem interrupção, entre nós e ela. Minha pena foi então muito terrível. Travou-se uma horrenda batalha e nela morreram muitos. Eu conjurava aquelas feras em Nome de Jesus, porque entendia que eram demônios; a presença de minha Senhora me dava força, vigor, alento e vida. E esvaziado o campo, eu ia voando até onde Ela estava. Deu um grito de horror: ”Meu Pai! Meu Pai!” E desapareceu. Esta vez era muito jovem, apenas tinha uns doze anos. A vi muito no obscuro, coberta com seu véu” (R. Frag. VII, 2.3).

“Ao subir em cima da montanha, esta apareceu cheia da Glória de Deus. Ouviu-se a Voz do Pai, que disse: “Esta é tua Filha e minha Filha muito Amada”. Então, pondo-me a Estola, pedi ao Pai dizendo: “Pai, Eterno Deus, até quando vossa Filha a Igreja Romana gemerá sob a pena que lhe causa esse homem mau que intentou dominar tudo, que entrando em vosso Santuário, insulta tua Filha, a aflige fazendo-a crer-se só e abandonada? Arrancai, Pai Celestial, arrancai quanto antes a esse filho do diabo do meio de vossa Casa e salvai a vossa Filha de suas seduções; abreviai estes dias amargos de perdição e de ruína e dai glória ao vosso Santo Nome”. E a resposta que deu o Céu foi: “Caminha em meu Nome e no de tua Filha e minha Filha, lança batalha por esse ser humano perdido, e arrancai esse demônio de meu Templo; Eu estarei contigo” (R 8, 40).

3. Remédio: Exorcismos.

“Depois do tremor, veio um fogo” (I Reis 19,12).

- “Maldito, estas são minhas filhas! Vai-te, entrega-as.

- Não, são minhas: eu as colhi nos bailes, galanteios e vaidades; o mundo as possuía e entregou-as a mim; são minhas!

- Se foram tuas, agora já não o são. Eu apresentei sobre o Altar o preço da redenção à Eterna Justiça de Deus, e Ele o aceitou; e de justiça, de direito, deves entregá-las” (R 10, 25.27).

O poder do exorcismo está na fé, na oração e na integridade de vida do Sacerdote: “A fé do exorcista há de ser apurada, sem que lhe falte nem um cabelo de quanto requer as leis da justiça de Deus.

À fé se há de unir a oração. E à oração e à fé, tal retidão de obras, que nada haja do diabo no exorcista por onde possa prender-se” (R 10, 29.20).

O lamento da Igreja pela falta de exorcistas: “A causa é um secreto e um grande mistério; te revelarei, porém, fecha o livro e guarda até seu dia o segredo. Eu não posso encadeá-los e encerrá-los no abismo senão por vosso ministério. Cresceu pouco a pouco a incredulidade sobre o objeto do exorcismo, até chegar a crer que os demônios não exercem influência sobre os destinos da sociedade, que os possessos, ou são raros, ou não existem. E esta incredulidade que ataca de cheio o mistério da redenção, tem por resultado estar ociosas estas funções, e os demônios, livres, completarão sua obra na pessoa do Anticristo. Então, já me tem preparado a Providência homens cheios de fé, que, fazendo uso do poder que Jesus Cristo lhes deu sobre os demônios, os colocarão em retirada em todas as partes onde estiverem”. Entretanto escutemos a afronta do demônio:

- “Senhor, - interpelou Belzebu – sobre a terra não tenho mais inimigos que me combatam: reduzi à nulidade e à inatividade, o poder exorcista dado a vossos Sacerdotes. Diga-me quem são e onde me combatem! Tenho vencido, tem triunfado a incredulidade, caminho seguro, porque tenho conseguido não só estabelecer em todo o mundo meu sacerdócio (a magia), sem contradição alguma, senão que com estes e por estes me faço visível nos corpos humanos, sem que nas pessoas que possuo encontre um sacerdote apenas que me ataque. Ou não creem em mim, ou dizem que são raras as pessoas que possuo; e se algum crê e o intenta, não pode nem deve entrar em batalha comigo, porque este o reservou para si, o Bispo. Como resultado desta reserva, todos os Sacerdotes se retiraram deste ministério. E por outra parte, atendida a incredulidade nos Sacerdotes, eu, valendo-me dos médicos, deixei resolvido, como por princípio de medicina, que tais pessoas são loucas, fantasiosas, sem juízo, e têm enfermidades nervosas incuráveis. Daí se explica a fundação de tantos manicômios que tenho, cheio de corpos humanos que possuo. Estando o poder exorcista quase sem ação em todo o mundo, sendo que foi dado ao Sacerdote a missão de encadear-me e lançar-me no inferno, eu, pouco a pouco, fui ficando livre; e usando da liberdade que conquistei nas batalhas, com o curso dos anos, me apoderei de todos os tronos, cetros e coroas, e as consegui agregar a mim na batalha contra vossa Igreja. Minha são as nações, e minhas são estas jovens que estão possuídas pelos príncipes de meu império” (R 12, 13).

“Para encadeá-los e lançá-los ao inferno e salvar o mundo de sua escravidão, Deus deu, sobre todos eles, poder aos exorcistas. A fé neste poder e a ação é a que há de aplicar a redenção, porque os demônios são o espírito do mundo; e morto este pela expulsão dos demônios, já não pode resistir à pregação do Evangelho. Os demônios, visíveis nos corpos humanos, apresentam visivelmente batalha ao poder eclesiástico; se vencem, o mundo é seu; se nesta batalha são derrotados, esta vitória é a salvação do mundo” (R 17, 14.15).

Chegou a hora decisiva em que o combate espiritual deverá ser acirrado entre a Mulher (Igreja) e o Dragão (poderes do inferno). Falamos da verdadeira Igreja Militante, fiel ao Papa e à Tradição e à doutrina católica autêntica. “Estará exposta aos combates mais terríveis, pois há de se sustentar a cátedra da verdade, não só a fé católica, impugnada por todos os flancos da filosofia moderna, mas também as demais virtudes cristãs e os princípios da sã moral em que se apoiam contra este vulcão devastador de doutrinas ateias e materialistas que vomita o mundo corrompido” (Escola da Virtude, pp. 393).



VII

O TRIUNFO DO CORDEIRO

“Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro” (Ap. 12, 11).

“Nesta horrenda batalha eu estava tremendo e muito afligido, e a Jovem Virgem Mãe, me fez sinal para subir ao Altar preparado ante o Trono de Deus, e os sete Príncipes me assistiram. E posto sobre o Altar, a Mulher do Cordeiro me entregou um Cálice que encerrava todo o Sangue de Jesus e uma Hóstia, e me disse: “Cumpre o teu ministério”. Então, baixou sobre mim o Espírito do Senhor, espírito de súplica e de oração, e disse revestido da autoridade que me dava o ministério que exercia. Dito isto um dos primeiros Príncipes que assistiam ao Altar tomaram o Cálice e a Hóstia; apareceu ao lado Direito do Pai, sentado em um Trono, o Filho de Deus; outro Anjo, tomando um turíbulo de ouro, apresentou as súplicas de todos os justos da Terra ante os Tronos. E ouviu-se a Voz do Pai que, dirigida a todos os assistentes, disse: “Esta é (aludindo à Mulher), minha filha muito Amada e a Esposa de meu Filho. Todas as nações do mundo são sua herança: estão compradas e redimidas do poder do dragão e de seus reis com o Sangue do Cordeiro. Tirem o dragão e seus anjos de minha presença” (R 13, 9.10).

1. O poder da Santa Missa

“Destas pedras erigiu um altar ao Senhor” (I Reis 18, 32).

“O sacrifício do Altar, que é o do Gólgota, uma vez consumado e celebrado com fé, é a redenção do mundo contra a potestade diabólica e dos príncipes do mundo” (R 12, 3).

Celebrando, ao levantar o Cálice: “Pai Celestial, aí tens o cálice do Novo e Eterno Testamento que derramou Vosso Filho para a remissão dos pecados, para merecermos a glória e todos os auxílios que necessitamos para consegui-la. Nela se funda o direito que temos ao Vosso Reino e a possuir neste mundo a Religião, que tem em depósito as chaves para abrir-nos sua entrada. Se o povo por seus pecados perdeu seus direitos, volte a recobrá-los agora por esta Oblação do Sangue de Jesus, que em seu Nome e no da Igreja Vos apresento” (L 75).

Juiz: Tens razão, porém agora quero examinar tua fé. Suposta a bondade de meu Filho em querer subir o patíbulo da Cruz para salvar a seu povo, por justiça devo salvá-lo se a virtude deste sacrifício se aplica devidamente. Para que tu o tenhas aplicado devidamente e não possa minha justiça recusar tua petição é necessário que tua fé esteja no ponto. Neste tribunal a fé é a que vence. Quem não crê firmemente, quem vacila, por isso mesmo já é julgado indigno de receber o que pretende. Crês tu que este Sacrifício que se acaba de celebrar tem suficiente virtude para aplacar minha indignação? Crês que um de seus efeitos é ele ser propiciatório?

Intercessor: Assim me manda crer nossa Mãe Igreja, e assim o quero crer.

Juiz: Crês e estás plenamente persuadido que com este sacrifício e com demais que me ofereces fica satisfeita minha indignação e meu Braço desarmado para com a Espanha, e confias que sem dúvida alguma levantarei o castigo que a oprime?

Intercessor: Assim o creio e o quero crer, assim confio que o fareis. Porém, Senhor, eu tenho oferecido este sacrifício, em nome de minha Mãe, a Igreja; não olheis os meus pecados nem a minha pouca fé, senão à fé com que todos os dias Vos oferece em todo o mundo a Igreja Universal. Eu o creio do modo que ela o crê, e com sua fé creio que estais já satisfeito e espero que cessará logo o castigo.

Juiz: Faça-se segundo tua fé” (L 77).

Intercessor: Pois bem, meu Jesus, Redentor do mundo, Cordeiro enviado pelo Pai, para tirar os pecados do mundo (Jo. 1,29), vês-me aqui rendido a Vossos Pés. Este é o momento em que me haveis de ajudar, como o tens feito. Em Vossas Mãos está a salvação de Nossa Mãe a Igreja, e só Vós nos podeis salvar do poder do príncipe das trevas. Quereis Jesus meu, oferecer-Vos ao Pai em Vítima de propiciação para aplacar sua justa ira, em pagamento pela dívida de penas infinitas que temos contraído com sua Justiça, e em preço da Redenção, para sermos resgatados da escravidão em que estamos sob o poder de Satanás. Quereis oferecer Vossos Méritos para desvanecer nossos deméritos?” (L 58).

“Deus recebe propício o sacrifício do Altar, Deus aceita a hóstia que se oferece sobre o Gólgota pela redenção do mundo. Consumado o sacrifício, as nações todas, sem que fique faltando um canto sobre a Terra, estão redimidas do poder dos demônios e de seus reis; e a Redenção sendo um fato consumado sobre a terra, nem um dia a mais, nem um instante a mais, podem estar sob a escravidão. Eu peço, e peço em justiça a Deus, que sem retardar mais nenhum dia, sejam todos os demônios encerrados no abismo” (R 17, 17).

Acabada a Missa prossegue em defesa de sua causa dando satisfação ao Juiz pelos pecados de sua nação: “Juiz Retíssimo, os Anjos, os Santos e a Rainha de todos Maria, com todos os que assistem a este tribunal, os Céus, as estrelas, os elementos, todos os habitantes da terra e até os mesmos demônios me são testemunho de que agora mesmo acaba de morrer vosso Filho Jesus para salvar o povo espanhol do poder do príncipe das trevas, a quem por seus pecados lhes abandonastes. São-me testemunho de que Jesus já está morto; é a Vítima de vossa indignação depois de haver sido o alvo de vossas setas, e já está sacrificado no Altar Santo com a intenção e a fim de aplacar a ira que tão justamente havíeis concebido contra minha infeliz Pátria e dar-Vos uma inteira satisfação por seus pecados” (L 73).

Intercessor: “Retíssimo Juiz, vossa Justiça inflexível descarrega sobre nós tantos castigos que nos acabam de consumir. Porém, Senhor, Vosso Unigênito Filho e Salvador nosso Jesus se encarrega de satisfazer-Vos por nossas dívidas e Vos apresenta créditos, não só iguais, senão de um preço superabundante e infinitamente maior!” (L 79). “Sim. Eu creio que, consumado sobre o Altar o Santo Sacrifício, a redenção de todas as nações contra a escravidão dos demônios e reis ímpios que as possuem é um ato realizado; creio que de justiça é devida a todas as nações a redenção” (R 18, 10).

2. A Missão do Carmelo Eremítico

“Reservei para mim sete mil homens” (I Reis 19, 18).

Identificamos claramente, pelos escritos de nosso fundador, a nossa vocação de lutarmos pela Santa Igreja nestes tempos difíceis: “Apenas saltei da ferrovia em direção a Cervelló aonde ia de missão, senti ao meu lado a minha Amada, que no caminho me comunicou muitas coisas relativas à Ordem de Nossa Senhora do Carmo para os últimos tempos. Pela tarde, ao despertar do descanso: ”Vem – me disse – e sobe a meu Castelo‟. E segui, e, ao subir, saiu dentre as ruínas do Castelo uma voz, e disse:

- Jura-me amor, lealdade e fidelidade?

– Sim!

Quando será isso? Que homens serão?

- Serão homens de tua Ordem que combaterão, e na frente o Profeta Elias; e isto será tão logo como o desejas!

Nossa Senhora nos pede a Penitência

“És a Virgem Carmelitana?

- Sim, sou a Virgem que preside e reside no Carmelo e demais montes santificados com a penitência dos Profetas e de meus Santos.

- És a Mãe de todos os anacoretas, solitários, eremitas e de todos aqueles que fazem penitência nos desertos?

- Sim, sou a Virgem Carmelitana, sou uma Virgem que está com os penitentes nos desertos. E em sinal que estais todos sob os meus cuidados, tremeram os demônios sob a invocação do meu nome. Eu tenho meu trono no Monte e minhas armas se dirigem a salvar do fogo eterno todos aqueles que se põem sob o meu estandarte.

- Sob o estandarte do Carmo?

- Sim, minhas armas ameaçam o império de Satanás.

- Que se renda Satanás ante teu trono, ó Rainha invicta!

- “Eu sou a Mãe de Deus, Maria sempre virgem, que sob o título do Carmelo ordeno a destruição do império de Satanás” (R 9, 47).

Somos o exército de Maria, nesta batalha decisiva contra os poderes infernais! (cf. Gên. 3, 15).

3. Vitória final da Santa Igreja

“Ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa” (I Reis 19,12).

Intercessor: Juiz Santo, Justo e Terrível, aquela nuvem de pecados que impedia que penetrasse até vosso Trono o incenso da oração de vosso povo (Lm 3, 44), já está dissipada. Toda a dívida que os pecados dos homens tinham contraído com vossa Justiça já esta satisfeita e já não existe o obstáculo que punha Satanás para que minha petição não fosse atendida neste tribunal. Com o odor frangantíssimo do Holocausto que no Corpo e Sangue de Jesus Cristo Vos tenho apresentado ficou desarmada vossa Justiça. De agora em diante já não Vos quero chamar Juiz, e, sim, Nosso Pai, Vos direi, que estais nos Céus. Já, enfim, Satanás ficou desarmado e vencido com o Sacrifício da Cruz! (L 83).

Juiz: Satanás, que respondes a isto? Quão grande é tua confusão! Tens perdida tua causa e Eu vou destruir teu reino de impiedade” (L 10).

“Assim aguardamos novos céus e nova terra segundo sua promessa” (II Pedro 3, 13). A vitória da Santa Igreja contra o império do mal.

Bendigamos a Deus pela vida e a mensagem do Bem-aventurado Padre Francisco Palau. Ele foi um instrumento providencial para a Igreja e para o Carmelo nestes nossos tempos. No Espírito de Elias, subamos com Ele o Monte Carmelo e rezemos sem cessar... Que venha o Reino de Deus! Que triunfe o Imaculado Coração de Maria! Que vença a Santa Igreja Católica!

“E me conduziu a um monte grande e alto e me mostrou a cidade santa, Jerusalém que descia do céu, de junto de Deus, toda resplandecente da luz de Deus” (Ap. 21, 10.11).




Eu os fiz entrar na terra do Carmelo,

para que possam saborear

a abundância dos seus frutos!”

(Jer. 2, 7).


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