Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

AS SETE ÚLTIMAS PALAVRAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, NO ALTO DA CRUZ. 2ª PALAVRA.


SEGUNDA PALAVRA1


Hodie mecum eris in paradiso”.2

Hoje estarás comigo no Paraíso”.


A súplica, que Jesus acabava de dirigir ao Pai Eterno, implorando o perdão dos seus inimigos, não podia deixar de ser atendida, Deus não havia de ficar surdo ao apelo de seu Filho, que morria em cumprimento da vontade soberana.

Dois ladrões foram crucificados com Jesus e um deles, tocado pela graça, implorou a misericórdia divina e sua prece foi acolhida favoravelmente.

Escutemos a narrativa evangélica, segundo São Lucas:

E um daqueles ladrões, que estavam pendurados, blasfemava-O, dizendo: Se Tu és o Cristo, salva-te a Ti e a nós também.

Mas o outro, respondendo, o repreendia, dizendo: Não temes a Deus, nem tu, que estás sob o mesmo suplício?

E nós na verdade o estamos com justiça, porque recebemos o que mereceram as nossas obras; mas este, nenhum mal fez.

E dizia a Jesus: Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares em Teu reino.

E Jesus lhe respondeu: Em verdade Te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”.

Estas breves palavras, estas poucas frases bastaram à misericórdia divina para transformar um pecador em um justo, um criminoso em um Bem-aventurado.

Diz o grande Doutor da Igreja, São Bernardo, que nada há mais soberbo, do que este passo do Evangelho. O Bom Ladrão implora o socorro de um crucificado prestes a expirar e está seguro de o obter.

Para vergonha dos Apóstolos, que O abandonaram, dos Sacerdotes, que O condenaram, do povo, que O insulta, depois de ter sido testemunha de seus milagres, enquanto todos blasfemam, ele só, o ladrão da direita, publica a inocência e a glória de Jesus; enquanto que todos O acusam e O desprezam, só o Bom Ladrão O defende e O adora.

Esse episódio, verdadeiramente estonteante, pela rapidez com que as coisas se passaram, é um dos mais consoladores e reconfortantes de quantos se desenrolaram no Calvário!…

Procuremos sondar, um pouco ao menos, o que se passou na alma do Bom Ladrão.

Esse homem, entregue pela sociedade à justiça e por esta mandado ao suplício da cruz, em poucos momentos consegue alcançar o perdão de suas culpas, satisfazer à justiça divina e elevar-se às cumeadas da santidade.

Três atos praticou o Bom Ladrão, pelos quais conseguiu a reconciliação divina.

Em primeiro lugar, ele confessa as suas culpas, reconhece seus crimes passados, e não se envergonha de reconhecer e proclamar os próprios pecados. E o faz com humildade profunda e arrependimento sincero, pois declara que recebe o que mereceram suas obras e está pronto a dar a própria vida para expiar os seus erros.

Não pode haver arrependimento mais sincero e humildade mais profunda, do que encontramos nesse ladrão penitente.

Em segundo lugar, tem ele a coragem de defender a inocência de Jesus e proclamar-lhe a santidade, quando todas as vozes se erguem contra o Profeta de Nazaré.

Vai muito mais além…

Torna-se apóstolo de Jesus e apresenta característicos de verdadeiro zelo pela glória de Deus.

E que zelo… Zelo caritativo, que tenta arrancar seu companheiro ao erro; – zelo corajoso, que não receia falar abertamente em defesa de Jesus, quando todos O escarnecem e afrontam; – Zelo esclarecido, que apresenta como fonte e origem de todos os pecados a falta de temor de Deus: “Também tu não temes a Deus? – Zelo insistente, que argumenta contra o companheiro e retruca as blasfêmias… “nós sofremos justamente, mas este”...3

Com muita razão Santo Agostinho podia dizer, que o Bom Ladrão apresentou o exemplo de uma fé viva e tão profunda, que outra a ela semelhante não se tinha encontrado ainda em Israel.

É certo que Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Isaías e todos os Patriarcas e Profetas tinham acreditado em Deus, mas é também certo que todos eles haviam visto e admirado as manifestações divinas…

A todos, na fé, excedeu o Bom Ladrão, porque proclamou a Realeza e a Divindade de Jesus, quando Ele estava despido, pregado em uma Cruz, oprimido de toda sorte de dores, insultado pelos principais da Sinagoga, blasfemado pela populaça, prestes a exalar o último suspiro, em circunstâncias bem pouco dignas da Realeza e da Divindade.

O! Conversão estranha, diz São João Crisóstomo. Vê um crucificado… e confessa um Rei de glória!”

Eis o motivo pelo qual São Leão, referindo-se ao Ladrão, da direita dizia: Este homem, que morre na cruz, é o primeiro profeta, o primeiro evangelista, o primeiro mártir, o primeiro confessor de Jesus Cristo. E foi tão grande a sua fé, que mereceu esta admirável promessa: “Em verdade Te digo, que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.

A resposta de Jesus ao ladrão arrependido não podia ser mais pronta nem mais generosa.

Foi a resposta da Misericórdia infinita de Deus.

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O! Mistério das eleições divinas! O! Profundeza das potências da nossa vontade! Os dois ouviram a santa e abençoada palavra. Um se cala, opresso, aturdido por aquele golpe de misericórdia; o outro, entregue todo à sua dor, ao seu violento desejo de viver, à raiva de ter sido crucificado mais cedo, por causa daquele Jesus, e do outro, apanhando no ar todas as blasfêmias que veem lá de baixo, pega de uma e exclama: – Se és verdadeiramente o Cristo, principia por Te salvares a Ti e a nós depois...4

Bem diversos eram os sentimentos que se aninhavam no peito do Bom Ladrão. Compenetrado da própria miséria, conhecedor das suas culpas, não se animava a pedir grandes coisas… contentava-se em pensar que lhe seria suficiente Jesus lembrar-se dele, depois que chegasse ao seu reino. Uma lembrança, uma recordação de Cristo, era o prêmio único a que aspirava aquela alma já resgatada pelo Sangue da Vítima do Gólgota.

É verdadeiramente espantoso que dois homens, em igualdade de circunstâncias, testemunhas dos mesmos fatos, tenham tido tão diverso destino.

Um, ao vomitar a última blasfêmia, entregou seu espírito ao Inimigo, para ser torturado eternamente… Outro, em derradeira prece, na extrema agonia, deu sua alma a Deus e entrou na posse da Bem-aventurança.

A obra de nossa salvação e a santificação de nossa alma devemo-la operar, agindo em correspondência com a graça divina.

Deus, que nos criou sem nós, não nos quer salvar sem nosso concurso.

São altos e impenetráveis os juízos de Deus.

O Eterno confere a todos os homens um auxílio e uma assistência especial, em ordem aos negócios da salvação eterna.

Esse auxílio e essa assistência são a graça santificante. É um dom gratuito e sobrenatural, que Deus nos concede, em virtude dos merecimentos de Nosso Jesus Cristo, para que possamos alcançar a salvação eterna de nossa alma.

É dom gratuito, quer dizer, uma dádiva espontânea de Deus, sem que tenhamos a ela nenhum direito. É sobrenatural e, nisso, se distingue dos dons e das mercês que recebemos de Deus, na ordem temporal. É ainda uma resultante e consequência dos merecimentos infinitos de Jesus Cristo, que padeceu e morreu para nos alcançar o Céu. Por último, diz respeito à salvação da alma e não às coisas da vida terrena.

Esses são os caracteres principais e as notas distintivas da graça divina, que nos é concedida sempre, durante o tempo que passamos neste mundo, em marcha para a eternidade.

O homem é livre em aceitar ou repelir os impulsos e as sugestões da graça. Nessa terrível liberdade está a nossa felicidade e a nossa desgraça… Se o homem corresponde à graça divina, salva a própria alma e abre a si próprio as portas do Céu; se resiste, cava com suas próprias mãos o abismo insondável, em que se vai perder eternamente.

Aqui está a explicação da diversidade do destino dos dois companheiros de Jesus, no Calvário. Um entregou-se, por completo, à ação da graça divina e deixou-se guiar pelas mãos da Providência; terminou santificando-se. É um justo do Novo Testamento.

O outro, desgraçadamente, não quis seguir os influxos celestiais da graça; resistiu aos impulsos da consciência e concentrou todas as suas esperanças nos poucos dias desta vida miserável e limitada; perdeu-se para o mundo e, o que é pior, para a eternidade. É um réprobo nos Infernos.

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Duas, apenas, são as entradas do Paraíso abertas aos mortais: inocência e penitência.

O Céu está sempre franqueado às almas puras e inocentes, conservaram intacta a veste da graça batismal.

Quem pecou, quem ofendeu a Deus, depois do Batismo, só poderá conseguir o perdão e reconquistar a perdida amizade do Senhor por meio da penitência, por meio do sacrifício e da expiação…

De penitência, sacrifício e expiação o Bom Ladrão, o da direita, é perfeito modelo.

De obstinação e de impenitência, o mau ladrão, o da esquerda, é tremendo exemplo que nos adverte quão terrível é resistir à graça.

Não permitamos que o nosso coração fique surdo e endurecido, quando a voz de Deus se nos fizer ouvir.

Nolite abdurare corda vestra”.5

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O! Meu Deus! Sempre é certo que o homem é senhor de seu próprio coração! Se o não quer abrir, quando de algum modo lhe bateis à porta, sejam quais forem as vossas instâncias e por mais abundantes que sejam as lágrimas que sobre ele derramais, se o não quer abrir, é preciso, Ah! – é preciso então retirardes-Vos e abandoná-lo à sua funesta sorte… Mas, apenas, por meio da Fé e do arrependimento, nos é permitido a entrada nesse coração, fazei-lhe ouvir estas palavras de infinita doçura:

Tu será comigo no Paraíso”.6

Assim seja.


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1.  “Espírito e Vida” – As Sete Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. J. Cabral, II Palavra, pp. 39-46, da Coleção Cristo Redentor. Empresa Editora A.B.C. Ltda, Rio de Janeiro, 1938.

2.  Luc. XXIII, 39-43.

3.  Monteiro – Reflexões Evangélicas – Pág. 551.

4.  Perroy – La Montée du Calvaire – Pág. 286.

5.  Psalm. 94, 7-9.

6.  Weber – De Gethsemane ao Golgotha – Pág. 169-170.


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