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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Rasgos de Justa Severidade de Santa Filomena.


Para acabar de esboçar o rápido quadro que temos traçado da ação prodigiosa de nossa Taumaturga, acrescentamos aqui alguns fatos que mostram quanto Deus é zeloso da glória de seus Santos, e de que modo castiga, muitas vezes, os que os negam e pretendem ridicularizar as obras maravilhosas de que se serve o Céu para patentear o crédito e valimento de Seus escolhidos.

Com data de 1º de Julho de 1833, assim descreve o sr. D. Luiz de Borri, Arcediago da igreja de Ascoli, o fato passado no dia 3 de Maio desse ano:

Uma senhora enviou-me uma relíquia de Santa Filomena, rogando-me encarecidamente que me empenhasse em propagar sua devoção. Isso não me era difícil; mas, em vez de aceder a tão piedoso desejo, guardei a relíquia no meu escritório, e até cheguei a recusá-la ao sr. Bispo Zelli, que mostrou desejo de tê-la para uma solene festa que ia celebrar em honra da Santa.

Muito se falou da minha recusa, e até se chegou a temer algum castigo por parte da Santa.

Pouco me importei com isso; mas não tardei a ver cumprida a previsão e de um modo de que não me esquecerei jamais. Um certo dia, estava lendo em meu aposento, quando, subitamente, minha vista escureceu-se, fazendo-me passar de pleno dia à mais espessa treva. A minha impressão foi a de que recebia o castigo que me haviam anunciado, e meu primeiro impulso foi ir buscar a relíquia. Tremendo, andando às apalpadelas, acho por fim o relicário, e com ele vou ao oratório, onde faço à Santa a mais fervorosa súplica que me podia inspirar minha aflição. No entanto, passava-se o tempo e a minha cegueira continuava. Temendo que fosse mal sem cura, saí fora, em busca de algum consolo. Mas onde encontrá-lo? Mergulhado na mais profunda amargura, volto ao oratório, e, banhado em lágrimas, peço perdão à Santa. No mesmo instante nasce a confiança em minha alma; tomo o relicário para benzer-me, e – oh, dita incomparável! - dissipam-se as trevas, distingo objetos, vejo a relíquia, que aperto aos lábios. Corro então ao palácio, conto ao sr. Bispo tudo quanto acabava de se passar. Ele, sem dizer palavra, olha fixamente para mim e, comovido, manda lavrar uma ata com todas as circunstâncias do prodigioso acontecimento. Tive, assim, a dita de ver que por minha causa se afervorou e propagou em Ascoli a devoção à Santa. O sr. Bispo ordenou-me que fizesse um Tríduo em ação de graças, no qual um eminente orador fez o Panegírico da Santa e referiu o que se tinha passado comigo.

Perto de Mugnano vivia uma família distinta. A senhora recolhera em casa uma pobre enferma, a quem por si mesma prestava todos os serviços. Quando, pouco tempo depois, morreu essa virtuosa senhora, a doente começou a queixar-se amargamente tanto da Providência como de Santa Filomena, chegando até, numa ocasião em que se achou diante da imagem da Santa, a exaltar-se tanto que se pôs a injuriar aquela que, a seu ver, devia ter impedido a morte de sua benfeitora. Este ato escandalizou grandemente aos que o assistiam. Veio a noite e ainda não se tinha acalmado seu rancor; mas, apenas se deita, ouve que a chamam e lhe perguntam: “Conheces-me? Sou a Virgem a quem ousaste ultrajar”.

Era Santa Filomena, cuja voz, atitude e olhar aterraram de tal modo a mulher, que esta caiu desmaiada.

O castigo produziu seu efeito, pois na manhã seguinte mandou a infeliz celebrar uma Missa em desagravo à Santa e daí por diante foi mais humilde e respeitosa para com Ela.

Em Monte Marano, um casal que não tinha filhos prometeu à Santa que, se lhes desse, pôr-lhes-iam seu nome no Batismo e os levariam a Mugnano para render-lhe graças. Foi ouvido o desejo e cumprida a primeira condição. O marido instava pelo cumprimento da segunda, mas a mulher fazia-se de desentendida. Assim decorreram dois anos e a menina crescia no gozo de perfeita saúde, cada vez mais formosa. Souberam que em Castello Velho se preparava uma festa em honra de Santa Filomena e a mulher disse que desejava ir lá para cumprir sua promessa. Em vão disse-lhe o marido que era a Mugnano e não a Castelvetere que deveriam levar a criança; a mulher insistiu e foram, pensando pagar sua dívida; o Céu julgou de outro modo porque, na volta, a menina adoeceu e logo depois morreu. Embora tarde, reconheceram afinal sua falta, pedindo perdão a Deus.

Um cavalheiro bem colocado sofria de um cancro no rosto, que lhe tinha roído até o nariz. Prometeu a Santa Filomena que, se o curasse, dar-lhe-ia uma de suas propriedades. Operou-se o milagre, pois, ao cabo de alguns dias em que esteve se tratando com o azeite de uma das lamparinas que ardem constantemente diante do altar da Santa, o cancro desapareceu completamente.

Era de esperar que o cavalheiro cumprisse sua promessa, mas não procedeu desta forma; e, apesar das muitas vezes que lhe lembraram a dívida, contentou-se em dizer que se trataria disso em seu testamento.

O castigo veio depressa; o cancro voltou, e desta vez todos os remédios e promessas foram inúteis, e o infeliz foi vitimado pela terrível enfermidade.

Igual coisa aconteceu a uma senhora que, acometida de hidropisia, estava à morte.

Algumas amigas, compadecidas, perguntaram-lhe se já tinha recorrido a Santa Filomena e se tratado com o azeite de sua lâmpada; mas, como dissesse que não, aconselharam-lhe que o fizesse, que sararia. Fez, com efeito, esse tratamento e prometeu à Santa um colar de pérolas para a sua festa. E por milagre sarou logo; mas, como acontece muitas vezes, com a saúde veio o esquecimento e por mais que várias pessoas lhe lembrassem a promessa e a obrigação em que estava de cumpri-la, ela respondia que não o faria, porque tinha sofrido perda nos seus bens, o que atribuía à Santa; não reconhecendo que isso era apenas um aviso da Santa. Persistindo, porém, na sua teimosia, reapareceu-lhe o mal com tal insolência, que em poucos dias passou à eternidade.

De não menor rigor usou a Santa contra dois cavalheiros, que demandavam com dois pobres lavradores, e, embora estivessem estes cobertos de razão e defendessem causa justíssima, souberam empregar os dois irmãos, nobres de sangue, mas não de coração, tais artifícios e tanto se valeram de sua posição, que ganharam a causa. Aflitos, os dois pobres lavradores, e quase sem recursos para os grandes gastos da demanda, recorreram à sua Padroeira, para que vingasse sua causa, do que tiveram ciência os dois cavalheiros, que responderam rindo-se e mofando da Santa.

O castigo não se fez esperar, pois, apenas tinham tomado o carro, à porta do tribunal, que um desastre lhes arrancou a vida.

Eu vi – disse D. Francisco de Lucia – esses dois pobres lavradores, que, profundamente impressionados com o fim trágicos dos dois nobres, e completamente esquecidos da injustiça que lhes fora feita, vieram ao santuário rogar por suas almas”.

A mesma sorte teve um indivíduo que se servia de sua fortuna e opulência, para vexar e oprimir seus vizinhos. Sua impiedade era tão manifesta, que até se ria e mofava dos milagres de Santa Filomena. Todos esperavam que o Céu, cansado, por fim, de tanta iniquidade, defendesse sua causa.

Foi o que aconteceu, pois, sem saber por que nem como, espalhou-se pelo povoado o boato de que o mau homem, e pior cristão, não viria à festa de Santa Filomena esse ano. Com efeito, dois meses antes da festa, morreu o sujeito com todos as características de um verdadeiro castigo, o que deu foros de predição ao boato meses antes espalhado.

Fechemos esta série de castigos com este último, que prova mais uma vez, que Deus não deixa impune a perversidade.

Dois irmãos de péssimos costumes tinham-se retirado para uma chácara que possuíam, para se entregarem com mais liberdade às suas desordens. Entre suas vítimas, achou-se uma pobre moça que, ultrajada por eles, suplicou a Santa Filomena que lhe defendesse a honra. Sua oração foi ouvida, pois na mesma noite o culpado ouviu a Santa dizer-lhe imperiosamente, em sonho, que fosse logo reparar o ultraje, sob pena de severo castigo. Três vezes repetiu-se o aviso, e se bem que o outro irmão, com remoques e gracejos, procurasse dissuadir o culpado e desvanecer-lhe o susto e medo, não pode, contudo, apagar-lhe da memória o rosto irado da Santa, que vira em sonhos.

Eu a vi, a vi! – repetia ele com voz surda – e me disse que esta era a última vez que me avisava do tremendo castigo que me espera.

Nessa mesma tarde os dois moços, esquecidos já das impressões da véspera, montam a cavalo e percorrem os prados, em busca de novos passatempos. Subitamente, veem vir a eles três cavaleiros majestosamente vestidos e montados em soberbos cavalos.

A eles – dizem – São Bandidos!

Os desconhecidos desembainham então suas espadas e um deles, com golpe certeiro, racha pelo meio o culpado, que caiu dando um grito de raiva e desespero. O outro, foge a rédea solta. Acode gente e por mais que procurem, só acham o cadáver do desgraçado moço.

Justiça de Deus!”, diziam todos, que sabiam do crime. “Foi aqui que se consumou o crime, e aqui o malvado sofreu o castigo. Pois aqui está ainda a cruz de madeira que a menina trazia ao pescoço!…”.



Reflexões

Para confirmar e robustecer as considerações expostas nas reflexões precedentes, basta acrescentar que muitos se têm santificado no meio dos palácios, das cortes e até no meio dos perigos e dificuldades da profissão das armas; em meio da licença dos acampamentos e dos horrores da guerra; muitos, no meio dos esplendores do trono, praticaram as mais heroicas virtudes, sem fazer exceção da humildade profunda e da mais rigorosa austeridade. E se é assim, por que não poderemos nós outros fazermos o mesmo?

Tal foi o invencível argumento que converteu Santo Agostinho, argumento cheio de consolo para as almas retas, que buscam sinceramente a Deus; mas aflitivo e desconsolador para as almas covardes, e muito mais ainda para as que procuram se desculpar de seus pecados por causa de seu estado ou condição, ou – quem sabe! – ao próprio Deus, que as fez nascer em tal meio.

Este é o erro e a ilusão de muitos, que julgam poder melhor servir a Deus se se achassem em outro estado ou condição, e que, mais livres dos negócios deste mundo, poderiam cuidar mais dos do Céu. Mas, a bem considerarmos essa condição ou estado, de que se fazem um quimérico ideal, não procurando alcançar o fim a que Deus as destinou, não podem, de modo algum, obter os méritos que se arrogam, e por santos que sejam, outros foram os desígnios de Deus; e o estado ou condição em que se acham, embora mais exposto, é o que aprouve à Divina Providência dar-lhes. Foi, pois, para este que Deus lhes preparou Suas graças; é também neste unicamente que devem esperar servir melhor a Deus e trabalhar com mais frutos na própria salvação, tornando-se melhores cristãos, mais desprendidos e mais perfeitos. Assim pensaram os Santos, e é por isso que os encontramos em todas as classes e estados: reis e magistrados, religiosos e seculares, Bispos e Padres, casados e livres, ricos e pobres, senhores e escravos.

Não vai nisto, porém, a condenação a certas mudanças que Deus, na Sua misericórdia, frequentemente opera em favor de Seus escolhidos, mas, sim, para desvanecer as dúvidas e inconstâncias de muitos que, guiando-se pela opinião própria, parecem não desejar melhor situação senão para desvencilhar-se do meio em que seguramente alcançariam sua salvação, e que, desfrutando uma aparente condição de bem-estar, aspiram ser o que não são e não se esforçam para permanecerem cristãmente no seu estado.

Estas reflexões destinam-se ainda àqueles cujas boas intenções não vão além de vagos projetos de uma vida regular, quando alcançarem um estado em que, ou não podem estar, ou não estarão nunca, e por isso, se descuidam de cumprirem os deveres inerentes ao estado em que os colocou Deus e no qual devem permanecer.


Guiai meus passos no caminho que traçastes,

pois, só nele encontrarei felicidade”.

(Salm. 118, 35)


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Fonte: “Vida de Santa Filomena – Virgem e Mártir”, Cognominada a Taumaturga do Século XIX, por D. Francisco de Paula e Silva, Bispo do Maranhão, Cap. IX, pp. 104-115. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 1925.


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