Estas heresias dos tempos Apostólicos reveladas e combatidas nas “Epístolas de São João, São Paulo e São Pedro, dão conta de diversos erros e heresias. Deixando de parte o erro do particularismo judaico, resolvido no Concílio de Jerusalém, o caráter típico dos primeiros erros e heresias foi uma certa liberdade exagerada, que acabava por derivar em excessos da carne. Os Nicolaítas são o tipo característico destas aberrações”.1 Vejamos:
“Escreve2 ao Anjo da Igreja de Éfeso: Isto diz Aquele que tem as sete estrelas na sua direita, e anda no meio dos sete candelabros de ouro: ...Isto, porém, tens (de bom), que aborreces (odeias) as ações dos Nicolaítas, que Eu também aborreço (odeio)” (Sed hoc habes, quia odisti facta Nicolaitarum, quae et ego odi)3.4
A primeira heresia, atribuída a Nicolau, um dos sete primeiros Diáconos, estava muito estendida, pois a veremos logo repetida em Pérgamo e Tiatira.
“Assim tens tu também sequazes da doutrina dos Nicolaítas. Faze igualmente penitência…”.5
“Porém, tenho alguma coisa contra ti, porque permites a Jezabel6, que se diz profetisa, ensinar e seduzir os meus servos, para fornicarem e comerem das coisas sacrificadas aos ídolos…”.7
A primeira heresia, pelo que sabemos dela, se parece à última heresia; quero dizer, à dos nossos tempos, e se pode dizer que, transcorre transversalmente toda a história da Igreja e, é como o fundo de todas as heresias históricas. Era uma espécie de gnosticismo dogmático e laxismo moral, um sincretismo, como dizem hoje os teohistoriógrafos. Era uma falsificação dos dogmas cristãos, adaptando-os aos mitos pagãos, sem tocar sua forma externa, por um lado; e concordantemente, uma promiscuidade com os costumes relaxados dos gentios; nominalmente, na luxúria e na idolatria, como lhes critica mais abaixo o Apóstolo. Comiam das carnes sacrificadas aos deuses, nos banquetes e rituais que celebravam os diversos grêmios, o qual era uma espécie de ato religioso idolátrico, ou seja, de comunhão; e se entregavam facilmente à fornicação, que entre os pagãos não era falta maior nem vício algum; inclusive, segundo parece, depois e como apêndice dos ditos banquetes religiosos.
De Nicolau narra Alberto Magno, que pôs a sua mulher à disposição de todos e, o imitaram os seus sequazes, e se fez rito…8
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1 Bernardino Llorca, Manual de História Eclesiástica, Vol. I, Período I, Cap. IV, pp. 67-69. Edições ASA. Porto/Portugal. 1960.
2 BÍBLIA SAGRADA, traduzida da Vulgata e anotada pelo Pe. Matos Soares. Edições Paulinas. 13ª edição. 1961.
3 BIBLIA SACRA Juxta Vulgatam Clementinam, Typis Societatis S. Joannis Evang. Desclée et Socii Edit. Ponti. ROMAE – TORNACI – PARISIIS. 1927.
4 Apoc. 2, 6.
5 Apoc. 2, 15-16.
6 Pseudo-profetisa da seita dos Nicolaítas.
7 Apoc. 2, 20.
8 Padre Leonardo Castellani, S.J., O Apocalipse de São João, Primeira Visão, pp. 74-85. Coleção O Fim dos Tempos. Editora Instituto Santo Atanásio. Curitiba/PR. 2021.