Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

COMO DEVO APROXIMAR-ME DA SAGRADA EUCARISTIA.


Com quanta reverência

se deve receber Cristo,

Senhor nosso.


Vinde a Mim todos os que trabalhais e estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei”.1

O pão que Eu vos darei é minha Carne, que hei de dar para a vida do mundo”.2

Tomai e comei; este é meu Corpo, que por vós será entregue; fazei isto em lembrança minha”.3

Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, fica em Mim e Eu nele”.4

As palavras que vos disse são espírito e vida”.5


1. Alma Fiel.6 Vossas são estas palavras, Jesus, Verdade eterna! Ainda que não proferidas na mesma ocasião, nem escritas no mesmo lugar.

E porque são vossas e verdadeiras devo recebê-las todas com gratidão e fé.

Vossas são e por Vós, foram pronunciadas; minhas são também, porque para a minha salvação as dissestes.

De vossos lábios recebo-as com alegria para que mais profundamente se gravem no meu coração.

Animam-me palavras de tanta bondade, tão cheias de doçura e amor; aterrorizam-me, porém, os pecados próprios, e de tão altos Mistérios me retrai a consciência impura.

Atrai-me a doçura de vossas palavras, mas retém-me a multidão de meus delitos.

2. Ordenais que a Vós me chegue confiadamente, se quero ter parte conVosco; e que me alimente com o pão da imortalidade, se desejo a vida e a glória eterna.

Vinde a Mim, dizeis, todos os que trabalhais e estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei”.7

Oh! Doces e amorosas palavras aos ouvidos do pecador! Vós, Senhor meu Deus, convidais o pobre e mendigo à Comunhão do vosso Santíssimo Corpo.

Mas quem sou eu, Senhor, para ousar chegar-me a Vós!

Não vos podem conter os Céus dos céus”8 e Vós dizeis “vinde a Mim todos!”

3. Que quer dizer tão misericordiosa condescendência e por que me convidais com tanto amor?

Como ousarei me aproximar de Vós, eu que não sinto em mim nenhum bem que possa me dar alguma confiança?

Como vos introduzirei em minha casa, eu que tantas vezes pequei diante da vossa Face adorável?

Adoram-Vos com reverência os Anjos e Arcanjos; tremem diante Vós os Santos e os Justos e dizeis: “Vinde a Mim, todos?”

Se Vós, Senhor, não o dissésseis, quem acreditaria? E quem teria audácia de se aproximar, se Vós o não ordenásseis.

4. Noé, varão justo, trabalhou cem anos na construção da Arca em que havia de se salvar com poucas pessoas; e como poderei eu, numa hora, preparar-me para receber com reverência o Criador do mundo?

Moisés, vosso grande servo e particular amigo, fez uma Arca de madeira incorruptível e revestiu-a de ouro puríssimo para nela depositar as Tábuas da Lei; e eu, criatura corrompida, atrever-me-ei a receber-Vos com tanta facilidade, a Vós, Autor da Lei e Dispensador da vida!

Salomão, o mais sábio dos reis de Israel, levou sete anos para levantar um Templo magnífico à glória do vosso Nome; durante oito dias celebrou a festa de sua dedicação; ofereceu mil hóstias pacíficas; e ao som das trombetas e entre aclamações de alegria colocou solenemente a Arca da Aliança no lugar que lhe havia sido preparado.

E, infeliz de mim! Como irei eu, o mais miserável dos homens, introduzir-Vos em minha casa, quando mal chego a empregar devotamente meia hora? E aprouvesse a Deus, que ao menos uma vez houvesse empregado dignamente quinze minutos!

5. Oh, meu Deus! Quanto fizeram para agradar-Vos estes vossos servos! E eu, ó tristeza! Quão pouco é o que faço! Quão curto é o tempo que consagro a preparar-me para a Comunhão!

Raras vezes bem recolhido; raríssimas, livre de toda a distração.

Certamente, na vossa salutar e divina Presença, nenhum pensamento profano deveria ocorrer-me ao espírito, nenhuma criatura ocupá-lo; porque não vou hospedar a um Anjo, mas ao Senhor dos Anjos.

6. E, no entanto, que distância imensa entre a Arca da Aliança com as suas relíquias, e o vosso puríssimo Corpo com suas inefáveis virtudes; entre aqueles sacrifícios da Lei Antiga que prefiguravam os futuros e a verdadeira Hóstia de vosso Corpo, complemento de todos os sacrifícios antigos!

7. Por que razão, pois, não me abraso mais em vossa adorável Presença?

Porque não me preparo com maior cuidado para participar de vossos Santos Mistérios quando, antigamente, aqueles Santos Patriarcas e Profetas, reis e príncipes, com todo o povo, deram tantas provas de zelo e devoção pelo culto divino?

8. Diante da Arca de Deus, dançou, cheio de entusiasmo, o piedosíssimo rei Davi, em memória dos benefícios outrora recebidos pelos seus pais; mandou fabricar diversos instrumentos de música; compôs Salmos e ordenou que se cantassem com alegria; inspirado pela graça do Espírito Santo, ele próprio os cantava ao som da harpa; ensinou os filhos de Israel a louvar a Deus de todo coração e a unir todos os dias as suas vozes para bendizê-lO e glorificá-lO.

Se outrora a presença da Arca do Testamento inspirava tanta devoção e despertava a lembrança de louvar a Deus, que respeito e que fervor não deve inspirar a mim e a todo o povo cristão a Presença de Jesus no Sacramento e a recepção do seu Corpo adorável?

9. Correm muitos a diversos lugares para visitar as relíquias dos Santos, admiram-se ao ouvir a narração de seus feitos, contemplam os magníficos templos erigidos em sua honra e beijam seus ossos sagrados envolvidos em ouro e seda.

E eis que Vós, meu Deus, estais aqui presente, diante de mim, no altar, Vós o Santo dos Santos, o Criador dos homens e Senhor dos Anjos.

Muitas vezes é a curiosidade e o desejo de ver coisas novas, que levam os homens a empreender semelhantes romarias e por isso, tiram muito pouco fruto de emenda dos costumes, principalmente quando se fazem estas excursões com leviandade e sem verdadeira contrição.

Aqui, porém, no Sacramento do Altar, Vós estais presente todo inteiro, meu Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; todas as vezes que Vos recebemos digna e devotamente, colhemos em abundância os frutos de salvação eterna.

A estes Mistérios não nos atrai a leviandade, nem a curiosidade ou a sensualidade; mas a fé robusta, a esperança devota e a caridade sincera.

10. Ó meu Deus, invisível Criador do mundo, como sois admirável no que fazeis por nós! Com que bondade e ternura tratais os vossos eleitos, dando-Vos a Vós mesmo no Sacramento!

Eis o que transcende a nossa inteligência, eis o que, de modo especial, cativa os corações piedosos e os inflama de amor.

Porque os verdadeiros fiéis, que toda a vida trabalham por se corrigir, recebem muitas vezes neste Augusto Sacramento a grande graça da devoção e do zelo pela virtude.

11. Ó, graça admirável e oculta do Sacramento! Só vos conhecem os servos fiéis de Jesus Cristo; não vos podem experimentar os infiéis e escravos do pecado!

Este Sacramento confere graça espiritual; restitui à alma a força perdida e a beleza desfigurada pelo pecado.

Tal é, por vezes, o poder desta graça e a plenitude da devoção por ela inspirada, que não só a alma senão ainda o corpo débil sente aumentar-lhe o vigor.

12. É, entretanto, muito para deplorar e sentir amargamente a tibieza e a negligência que enfraquecem em nós o desejo de receber a Jesus, única esperança dos eleitos e seu único mérito.

Ele é que nos santifica e nos resgata; Ele, a consolação dos viajantes e o gozo eterno dos Santos.

Quanto não é, pois, de lastimar o descaso de muitos para com este salutar Mistério, alegria dos Céus e salvação do mundo!

Ó cegueira e dureza do coração humano, que não aprecia dom tão inefável, e chega até, pelo uso diário que dele faz, a cair na indiferença!

13. Se este Santíssimo Sacramento se celebrasse em um só lugar e fosse consagrado por um só Sacerdote no mundo inteiro, com quanto fervor não acorreriam os homens a esse lugar para ver esse Sacerdote celebrar os divinos Mistérios?

Agora, porém, são muitos os Sacerdotes e em muitos lugares se oferece Cristo para que tanto mais resplandeça a graça e o amor de Deus aos homens, quanto mais espalhada é pelo mundo a Sagrada Comunhão.

Graças a Vós, bom Jesus e Pastor Eterno, que, da nossa pobreza e no nosso exílio, Vos dignastes alimentar-nos com vosso precioso Corpo e Sangue e convidar-nos, por palavras saídas de vossos lábios, a participar destes Mistérios, dizendo: “Vinde a Mim todos os que trabalhais e estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei”.9



1ª Reflexão10


A reverência, é um sentimento de veneração e respeito interior, manifestado em atos exteriores. A reverência pressupõe humildade; quem não é humilde não é reverente. Aquele que presta verdadeira reverência está compenetrado, a um mesmo tempo, do seu próprio nada e da grandeza da pessoa a quem tributa as suas homenagens. Quanto maior é a dignidade dessa pessoa, tanto mais abatido ele se sente, no íntimo do seu coração. Reconhece que a sua reverência deve abaixar-se na medida em que a dignidade alheia se lhe avantaja. Uma dignidade infinita demandaria uma reverência também infinita; mas, o homem não é capaz de tanto e ninguém é obrigado a mais do que pode. Aonde não chega a capacidade, pode chegar a boa vontade. Com que reverência, pois, se deve receber o Sacramento da Comunhão, em que se encerra o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro, real e substancialmente como está no Céu?

Ó, já que não nos é possível a reverência de que Ele é digno, ao menos, empreguemos aquela de que nós somos capazes. Foi confessando-se indigno de receber a Jesus Cristo, que o centurião do Evangelho conseguiu a rápida cura do seu servo: “Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada, mas dizei somente uma palavra e o meu servo será curado”.11 Primeiro faz uma confissão sincera da sua indignidade, depois deixa transparecer as virtudes de que está animado: a fé, a esperança e a caridade. Por isso, Jesus, tomado de admiração, disse para os que O seguiam: na verdade vos afirmo, que não encontrei em Israel tanta fé.12 Quanto necessitam de meditar o exemplo do centurião muitos cristãos dos nossos dias! Que dirá Jesus Cristo no dia das contas a tantos sacrílegos, que que se atrevem a ultrajá-lO no Sacramento da Eucaristia! Que os incrédulos entrem nos templos de Deus, para cometerem infâmias, é um crime que tem suas atenuantes; mas, que um fiel ouse entrar no Santuário para perpetrar um ultraje nefando, e a sangue frio, de caso pensado, na Pessoa adorável do próprio Deus – isso é o mais abominável de todos os crimes. Outrora, Oza incorreu na ira de Deus e foi publicamente fulminado com uma morte repentina, só porque tocou na Arca Santa (por querer ampará-la, quando ela ameaçava cair ao ser transportada)!



2ª Reflexão13


Todo o culto da Antiga Aliança, não era mais que uma ligeira sombra dos Mistérios do Homem-Deus. Davi celebra com pompa o regresso da Arca a Jerusalém: mas a Arca estava vazia, não encerrava o Salvador do gênero humano. Salomão edifica um templo magnífico; faz, na presença de um povo penetrado de respeito, sua dedicação solene; milhares de vítimas são imoladas, mas, que são estas vítimas? Vis animais cujo sangue não pode aplacar a soberana justiça. O mundo continuava na esperança da salvação anunciada, quando eis que ao momento predito se cumprem “as promessas percebidas e saudadas de longe pelos Patriarcas, durante sua peregrinação na terra. O desejado das Nações, o Dominador do mundo, o Anjo da Aliança, Aquele cujo nome é Javé, vem ao seu templo, e o verdadeiro Sacrifício de propiciação substitui para sempre os sacrifícios figurativos”.14

No fundo do Tabernáculo, debaixo do véu do Santuário repousa a Hóstia sempre viva, o “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”. O mesmo ‘que está sentado à direita do Pai”, está ali presente, e sua voz nos chama: “Tomai e comei, isto é meu Corpo: bebei, isto é o meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado pela remissão dos pecados. Vinde pois: Eu sou o pão da vida; o que vier a Mim nunca mais terá fome, e o que crê em Mim nunca mais terá sede. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia”.15

Senhor, creio e adoro: minha alma, ansiosa de desejo, lança-se para Vós, e logo um grande temor a embarga: porque, quem sou eu para ousar aproximar-me de meu Deus? Quando considero minhas fraquezas, minha baixeza e profunda miséria, não tenho senão um sentimento, senão uma palavra: “Afastai-Vos de mim, porque sou homem pecador. Contudo, ó Jesus, aos pecadores viestes chamar e não os justos”.16

Por isso, batendo nos peitos e implorando vossa misericórdia, “levantar-me-ei e irei”: irei com fé viva, com ardente desejo, ao “Filho, ao Verbo, resplendor da glória de Deus, e figura de sua substância”, ao Salvador divino, que nos purifica de nossos pecados, “que se incorpora à sua criatura, para a elevar até a Si”; irei, e direi: “Senhor, não sou digno que entrei em minha morada, mas dizei somente uma palavra, e minha alma será salva”.17


Comunhão de São José de Calazans

3ª Reflexão18


Quem recebe a Sagrada Comunhão, recebe a Jesus Cristo vivo.

Seu Corpo, pois, sua Alma e sua Divindade, estão neste divino Sacramento. E, como seja a mesma a sua Divindade, que a do Pai e do Espírito Santo, que são um só e mesmo Deus com Ele, no Sacramento da Santa Eucaristia, recebemos o Corpo do Filho de Deus, e portanto, seu Sangue e sua Alma, com a Santíssima Trindade.

Ainda assim, foi instituído este divino Sacramento, principalmente para dar-nos o Corpo e Sangue de nosso Salvador, com sua vida vivificadora, assim como cobrem as roupas principalmente o corpo do homem; mas sendo a alma unida ao corpo, cobrem as roupas a alma, e seu entendimento, memória e vontade.

Andai mui simplesmente com este dogma, saudai com frequência o Coração do divino Salvador que, para manifestar-nos seu amor, dignou cobrir-Se com as aparências do pão, conservando-se assim familiarmente em nós, mui próximo e chegado ao nosso coração.

Contemplemos em espírito os Santos Anjos, que rodeiam o Santíssimo Sacramento e O adoram; nesta oitava derramam mais profusas as santas inspirações sobre os que se aproximam com humildade, reverência e amor.19


_______________________

1.  Mat. XI, 28.

2.  Joan. VI, 52.

3.  Mat. XXVI, 26.

4.  Joan. VI, 57.

5.  Joan. VI, 54.

6.  Imitação de Cristo, nova tradução portuguesa pelo Pe. Leonel Franca, S. J., Livro IV, Cap. I, pp. 209-214. 4ª Edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

7.  Mat. XI, 28.

8.  III Reg. VIII, 27.

9.  Mat. XI, 28.

10.  Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro IV, Cap. I, pp. 320-321. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseça, Porto, 1925.

11.  Mat. VIII, 8.

12.  Mat. VIII, 10.

13.  Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro IV, Cap. I, pp. 407-409. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

14.  Heb. XI, 3; Ag. II, 8; Mal. III, 1; Jo. XXIII, 6; Mal. III, 1.3.

15.  Jo. I, 29; Is. IX, 1; Heb. I, 3; Mat. XXVI, 27-28; Jo. V, 35.55.

16.  Luc. V, 8; Mat. IX, 13.

17.  Luc. XV, 18; Heb. I, 3; Mat. VIII, 8.

18.  Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro IV, Cap. I, pp. 332-333. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

19.  São Francisco de Sales, 131 c. Lettre spirit. XII, 222.


domingo, 27 de novembro de 2022

Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.


A MEDALHA MILAGROSA


Deus em todos os tempos se tem servido de objetos sensíveis para instrumentos de Suas maravilhas. Na Antiga Lei, à vista da serpente de bronze no deserto restituía a saúde aos Hebreus. Mais tarde, que de milagres se efetuaram na Igreja pelo Madeiro Sagrado da Cruz! No nosso tempo, o Senhor apraz-se em multiplicar os milagres por meio da Medalha da Santíssima Virgem, revelada em 1830, e cujo culto, desde então, se espalhou em toda a Igreja. Pode dizer-se que esta medalha se encontra hoje no coração de todos os cristãos – no peito do Padre e no do soldado, no da criança e no do velho; trá-la com amor a religiosa consagrada a Deus; muitas vezes o homem do mundo recebeu-a de uma mão respeitada e amada, e, mesmo afastado das práticas religiosas, guarda-a ainda como um testemunho da sua fé e como um penhor de felicidade. As graças sem número obtidas por esta medalha da Santíssima Virgem, curas e conversões, valeram-lhe o nome de Medalha Milagrosa, e a Igreja consagrou esta denominação no título do Ofício litúrgico que estabeleceu no dia-aniversário da Manifestação celeste deste símbolo maravilhoso, a 27 do mês de Novembro.

Eis a história desta aparição:

Como outrora o Senhor revelou o Santo Escapulário a um piedoso religioso do Carmelo, São Simão Stock; como a devoção do Rosário foi revelada a São Domingos, assim, no nosso século, foi manifestada a uma Irmã da Caridade de São Vicente de Paula, a Medalha Milagrosa. Era em 1830. No noviciado das Irmãs de São Vicente de Paula, sito na rua do Bac, nº 140, em Paris, encontrava-se uma jovem piedosa, Catarina Labouré. Modesta, quase até à timidez, era de uma grande piedade e ao mesmo tempo de um espírito sábio e judicioso, como de ordinário se é quando se foi educado numa das laboriosas e cristãs famílias da província.

A piedosa noviça vivia humilde e sem que nada a distinguisse no seu retiro, salvo a sua regularidade, a sua docilidade e íntima união com Deus. Tomava o seu repouso, como as companheiras, num vasto dormitório, quando uma noite ouviu uma voz penetrante e doce que a chamava e lhe dizia: “Levanta-te”.

Foi como um eco das misteriosas narrativas escritas nos Atos dos Apóstolos, quando o Anjo apareceu a São Pedro nas trevas da sua prisão, tocando-o no lado e dizendo-lhe: “Toma os teus vestidos, cinge os teus rins, e segue-me”; e, diante do Anjo que guiava o Apóstolo, dizem os Atos, sem que os guardas dessem por tal, as portas do cárcere por si mesmas se abriram. São Pedro e o seu Anjo passaram. O Apóstolo, livre, encontrou-se no meio dos fiéis que, estupefatos a princípio, começaram a louvar ao Senhor. Ora, durante a noite de que falamos, por três vezes o Anjo chamou a noviça pelo seu nome. Eram 11 horas e meia. Nesta ocasião, acordando completamente, entreabriu a cortina do lado de onde vinha a voz. Deparou-se-lhe então um menino de uma beleza celeste, arrebatadora. Podia ter de quatro a cinco anos. Estava todo de branco. Da sua cabeleira aloirada assim como de toda a sua pessoa emergiam raios luminosos que projetavam claridade intensa sobre tudo o que estava à volta. Dirigindo-se a Catarina, disse-lhe: “Vem, vem à Capela. A Santíssima Virgem espera-te”. Mas, pensava consigo a Irmã Catarina, vão ouvir-me, serei descoberta… – “Não temas, tornou a criança celeste, respondendo ao seu pensamento, são onze e meia, tudo dorme, eu te acompanharei”. A estas palavras, não podendo resistir ao amável convite que lhe foi feito, Catarina vestiu-se às pressas e seguiu o anjinho que lhe deu a mão direita, “despedindo, diz ela, raios de luz e claridade celeste por onde passava”. Por toda a parte as luzes estavam acesas, com grande admiração e espanto da jovem. Redobrou a sua surpresa vendo que a porta se abriu com um simples toque do menino, e encontrando o interior da Capela todo iluminado, “o que, acrescenta, lhe recordava a Missa da meia-noite”. Conduziu-a o menino até à balaustrada da comunhão. Ali se ajoelhou a Irmã, enquanto que o guia celeste entrava no Santuário onde se pôs de pé, ao lado esquerdo. Em breve lhe disse o menino: “Eis, aí vem a Santíssima Virgem”. Uma Senhora de deslumbrante beleza apareceu. Vinha de vestido branco com véu azul. A Irmã Catarina lutou interiormente um instante contra a dúvida, depois cessou toda a hesitação, e, não seguindo mais que o movimento de seu coração, precipitou-se aos pés da Virgem. “Neste momento, diz ela, senti a mais doce emoção da minha vida, e seria impossível exprimi-la. Explicou-me a Santíssima Virgem como devia eu conduzir-me nas dificuldades, e, mostrando-me com a mão esquerda o pé do altar, disse-me que me viesse postar ali e que expandisse o meu coração, acrescentando que lá receberia todas as consolações de que necessitasse. Depois disse-me ainda: Minha filha, quero encarregar-te de uma missão. Nela sofrerás muitas penas, mas irás superá-las com o pensamento de que é para a glória do bom Deus. Serás contraditada, mas não temas, terás a teu favor a graça do alto. Diz tudo o que em ti se passa com simplicidade e confiança. Dá conta de tudo ao que está encarregado da tua alma”.

Não poderei dizer, continua a Irmã, quanto tempo estive junto da Virgem. O que eu sei é que, depois de me falar durante muito tempo, Ela se foi, desaparecendo como uma sombra que vai disfarçando”.

Levantando-se então, Catarina distinguiu o menino no mesmo lugar em que o tinha deixado quando se aproximou da Virgem. Disse-lhe então ele: “Ela partiu!” e, pondo-se de novo à sua esquerda, reconduziu-a da mesma maneira que a tinha trazido, espalhando claridade celeste à volta de si.

Creio, continua a narrativa, que este menino era o meu Anjo da Guarda, porque eu lhe tinha rogado com instância para que me obtivesse o favor de ver a Virgem… Voltando ao meu leito, ouvi dar duas horas e não tornei a adormecer”.

O que acaba de ser contado não era senão uma parte da missão de Catarina, ou antes uma preparação para a que lhe ia ser dada como penhor da ternura da Imaculada para com todos os homens.

Eis o que aconteceu na aparição de 27 de Novembro de 1830. A narração é feita por M. Aladel, diretor da piedosa noviça, ao promotor da Diocese de Paris, e que encontramos inserida no Processo verbal de investigação com data de 16 de Fevereiro de 1836.

Na ocasião em que as religiosas estavam em oração, na Capela, cinco e meia da tarde, a Virgem Maria manifestou-se à jovem Catarina como que num quadro oval. Estava de pé sobre o globo do mundo, de vestido branco e manto azul, parecendo ter diamantes nas duas mãos donde caíam feixes de raios luminosos sobre a terra, mas com mais abundância num determinado ponto. Pareceu-lhe ouvir uma voz que dizia: Estes raios são o símbolo das graças que Maria obtém para os homens, e o ponto para o qual elas caem mais abundante e profusamente é a França; e lia em volta do quadro, escritas em caracteres de ouro, estas palavras: Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.

Esta prece, colocada em semi-círculo, começava à altura da mão direita e, passando por cima da cabeça de Maria, terminava à altura da mão esquerda. Voltando-se o quadro, viu no reverso a letra M encimada por uma cruz, tendo uma barra na base, e, por baixo do monograma de Maria, os Corações de Jesus e Maria, o primeiro rodeado de uma coroa de espinhos e o outro transpassado por uma lança. Depois creu ouvir estas palavras: “É preciso mandar cunhar uma medalha por este modelo. As pessoas que a trouxerem indulgenciada e rezarem com piedade esta oração, gozarão de uma proteção especial da Mãe de Deus”. E neste instante cessou a visão.

A piedosa Irmã da Caridade, Catarina Labouré, morreu em Paris, em odor de santidade, a 31 de Dezembro de 1876.

Logo que foi cunhada a medalha, começou a espalhar-se, sobretudo entre as Irmãs da Caridade que, tendo conhecimento da sua origem, a traziam com grande confiança. Em breve a deram a algumas pessoas doentes, as quais em breve também se ressentiram dos seus felizes efeitos. Diversas curas e conversões se operaram, tanto em Paris como nas Dioceses vizinhas, de uma maneira tão súbita como inesperada. Então, de toda a parte pediam “a Medalha milagrosa, a Medalha que cura”. Viu-se que piedosas mães de família a davam a seus filhos e que era extraordinária a felicidade com que era acolhida e conservada por aqueles corações inocentes. Em breve se viu em várias regiões, Paróquias inteiras dirigirem-se a seu Pastor a procurá-las, e sabemos que em Paris um oficial superior comprou sessenta para outros oficiais que a tinham pedido. Padres cheios de espírito de Deus escreviam que ela reanimava o fervor nas cidades como nas aldeias e que, de todos os que traziam esta Medalha, não havia ninguém que não lhe sentisse os efeitos salutares.

Mons. de Quélen, Arcebispo de Paris, declarou que várias vezes oferecera esta Medalha a doentes de todas as classes junto dos quais a sua grande caridade o conduzia, e que jamais a tinha dado sem que daí adviessem ótimos resultados.

Dentro em pouco os proclamou num mandato de 15 de Dezembro de 1836, por ocasião da consagração da igreja paroquial de Nossa Senhora do Loreto, em Paris. “É, escrevia, um fato que nos orgulhamos de constatar e que desejamos que chegue ao conhecimento de todo o mundo católico. Na nossa Diocese esta devoção já lançou raízes muito profundas. Os favores assinalados, as graças de curas, de conversão e de salvação parecem multiplicar-se à medida que se implora entre nós a terna piedade de Maria concebida sem pecado. Exortamos os fiéis a usarem a Medalha cunhada há alguns anos em honra da Santíssima Virgem, e a repetir muitas vezes esta oração gravada por cima da imagem: Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Não foi somente em França que se admirou a propagação da Medalha. Em breve se espalhou, e com profusão, na Suíça, Piemonte, Itália, Espanha, Bélgica, Inglaterra, América, no Levante e até na China. Em Nápoles, logo que foi conhecida, o Cabido metropolitano mandou pedir algumas a um estabelecimento de Missionários de São Vicente de Paula desta cidade. O rei mandou cunhá-las de prata para toda a família real e para a corte, e durante a cólera mandou distribuir cerca de um milhão delas. A Virgem da Medalha Milagrosa é venerada ali em quase todas as casas e a sua imagem encontra-se em várias igrejas. Em Roma, alguns Gerais de Ordens Religiosas apressaram-se a espalhar a santa Medalha e o Soberano Pontífice colocou-a ao pé do seu Crucifixo.

Como Moisés, quando o Senhor lhe dava uma missão junto do seu povo, hesitou dizendo: “Eles não me acreditarão”, a piedosa vidente, Catarina Labouré, tinha dito à Santíssima Virgem: “Mas, minha Mãe, eles não darão crédito às minhas palavras! Respondeu Maria: “Obedece sempre”. E o Céu, efetivamente, assim como tinha confirmado com milagres, realizados por meio da varinha milagrosa, a missão de Moisés, assim também ia confirmar com prodígios incontestáveis a visão da humilde filha de São Vicente de Paula. Citaremos um fato que foi examinado e juridicamente declarado miraculoso pela Igreja: o da conversão, em Roma, de M. Afonso Ratisbona, em 1842.

Afonso Ratisbona era judeu. Percorria o mundo para se distrair e instruir. Em Roma tomou conhecimento com M. De Bussiére, católico de crença. Numa discussão religiosa, com uma insistência quase temerária, este conseguiu que ele aceitasse uma medalha milagrosa e que fizesse uma oração à Santíssima Virgem, mas o jovem judeu de nenhuma maneira sentiu atrativos pela religião que tão oposta era à que seus pais e antepassados professaram e que ele, apesar de tudo, continua ainda a professar.

Alguns dias depois, na quinta-feira, a 20 de Janeiro de 1842, pela uma hora depois do meio-dia, M. de Bussiére ia a entrar na igreja de Santo André dele Fratte, para se ocupar de alguns preparativos concernentes aos funerais de M. de la Ferronnays, que no dia seguinte deviam ter lugar, quando encontrou M. Ratisbona. Tendo penetrado ambos no templo, M. de Bussiére pediu ao seu companheiro o favor de esperar um instantinho, enquanto ia regular alguns pormenores com um dos monges, no interior do Convento. Ao voltar, após uns doze minutos, procurou M. Ratisbona, e qual foi a sua admiração ao vê-lo no lado esquerdo da igreja, na Capela do Arcanjo São Miguel, prostrado, e numa atitude profundamente recolhida!… M. Ratisbona voltou-se, enfim, para responder a M. de Bussiére. Contempla-o e, o seu rosto banhado de lágrimas e as suas mãos postas manifestam em parte o milagre que acaba de realizar-se.

Leva-me, exclama, para onde quiseres…”. E, não podendo dizer mais, tirou a medalha que há quatro dias trazia sobre o coração sem lhe apreciar o poder, beijou-a, regou-a com lágrimas e deixou escapar através dos soluços estas palavras: “Como Deus é bom! Ah, como são para lamentar os desgraçados que não creem!” Acrescentou ainda: “Estava há um instante na igreja, quando de repente me senti assaltado por uma perturbação inexprimível. Levantei os olhos. Todo o edifício tinha desaparecido à minha vista. Uma só Capela tinha, por assim dizer, concentrado toda a luz, e, no meio deste esplendor, apareceu de pé, sobre o altar, brilhante, cheia de Majestade e doçura, a Santíssima Virgem, tal como está na minha medalha. Uma força irresistível me arrastou para Ela. A Virgem fez sinal para me ajoelhar e pareceu que me disse: Está bem! Ela não me falou, mas eu compreendi tudo”. No dia seguinte já tudo se sabia em Roma. Alguns dias depois o neófito recebia o Santo Batismo, e o Soberano Pontífice recebeu-o em audiência. O Eminente Cardeal Patrizzi que examinou juridicamente este fato por ordem do Pontífice declarou-o “verdadeiro e insigne milagre”. Ainda hoje existe na Capela da Igreja de Santo André, onde o milagre se deu, um quadro comemorativo reproduzindo a Virgem da Medalha Milagrosa. Todos os anos, num Tríduo solene, se lhe celebra oficialmente a memória.

Os que acreditarem em mim, diz Nosso Senhor, realizarão maravilhas: expulsarão Demônios, imporão as mãos aos doentes e estes serão curados”.1 Aprouve ao Senhor que as maravilhas ligadas ao nome de Jesus fossem realizadas também pela virtude da santa Medalha de Sua divina Mãe. Estes milagres são inumeráveis, tão agradável é a Deus a confiança dos fiéis em Sua Mãe Imaculada, a Rainha toda poderosa dos Céus.

Sabe-se qual é a força do Demônio, sobretudo nos países ainda infiéis e particularmente na China. Um Missionário escrevia de Macau, a 23 de Agosto de 1841, estas linhas que recordam a cena do possesso descrita no Evangelho, quando este infeliz corria nos campos de Jerusalém, espalhando à volta de si o terror. “Uma viúva chinesa que não tinha senão um filho, criado como ela no paganismo, viu-o cair de repente sob o império do Demônio. Estava de tal maneira possesso, que todos fugiam diante dele, soltando o desgraçado gritos lancinantes através dos campos. Aquele que ousasse detê-lo, caía imediatamente por terra. A pobre mãe estava desesperada e morria de pesar, mas a divina Providência dignou-se lançar um olhar de bondade sobre esta infeliz família. Um dia que este mancebo estava mais atormentado, fugia para todos os lados como um vagabundo, não sabendo para onde ia.

Todos queriam correr atrás dele para o deter, mas ele repelia brutalmente todos os que lhe lançavam a mãos. O Deus de toda a bondade permitia que encontrasse um cristão, o qual animado de uma fé viva, e vendo o Demônio maltratar tão tiranicamente este infeliz, disse aos que corriam após ele que se retirassem, porque ele, sozinho, sem ajuda de ninguém, o acalmaria e o entregaria à Mãe.

Esta linguagem pareceu admirar todos os pagãos, entretanto deixaram-no ir, embora houvesse, segundo diziam, um grande perigo. Este bom cristão trazia a Medalha de Maria e, desde que se aproximou do possesso, mostrou-lha, ordenando ao Demônio que se retirasse e deixasse em repouso o infeliz rapaz, o que aconteceu imediatamente. O mancebo, vendo o cristão segurar a Medalha, lançou-se por terra, humildemente prostrado diante da imagem milagrosa, sem saber o que era. Os pagãos, que de longe examinavam o que se passava, ficaram muito admirados. Entretanto, o cristão mandou-o levantar-se e segui-lo, e, tendo sempre na mão a Medalha, levou-o a sua mãe. Mal chegou junto dela, o filho consolou-a, dizendo: Não chore mais; eu estou perfeitamente livre. O Demônio deixou-me, logo que viu esta Medalha. Esta pobre mãe não podia conter a sua alegria ao ouvir o filho falar assim. Nem sabia se era sonho ou realidade. O cristão certificou-a e contou-lhe tudo o que se passou, acrescentando que seu filho não tornaria a ser possesso se ela quisesse renunciar aos ídolos e fazer-se cristã. A feliz mulher prometeu-o sinceramente e ambos começaram a descer os seus falsos deuses do altar. Então o cristão retirou-se cumulado de agradecimentos da mãe e do filho pelo serviço inapreciável que acabava de lhes prestar por meio da santa Medalha”.

É-nos impossível narrar as conversões obtidas pela Medalha Milagrosa. A língua do homem não poderia contá-las nem descrevê-las.

Quando os Missionários arribam a uma costa desconhecida para aí semear a fé, é ainda no concurso celeste da Medalha Milagrosa que eles apoiam as suas esperanças. “Até à consumação dos séculos, diz um deles, o Missionário terá Maria por companheira, e quando é atirado para uma ilha ou continente cuja língua ainda não conhece, é Maria que ele encarrega de principiar a tarefa. Ele prende nos silvados dos caminhos medalhas da Imaculada, e o vento do mar ou do deserto, impregnando-se com o perfume que elas exalam, espalha-o ao longe, e as almas sentem-se atraídas por estas emanações do Paraíso”.

Por um decreto do Pontífice Leão XIII, com data de 23 de Julho de 1894, foi estabelecida uma festa particular com ofício próprio em honra da Medalha Milagrosa como já existiam em honra do Santo Escapulário e do Rosário.


________________________

Fonte: Pe. Croiset, Ano Cristão”, Vol. XI, dia 27 de Novembro, pp. 289-294. Traduzido do Francês e adaptado às últimas reformas litúrgicas pelo Pe. Matos Soares, professor do Seminário do Porto. Tip. “Porto Medico”, Ltda. Porto. 1923.

1.  Marc. XVI, 17-18.


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

AS PORTAS DO CÉU.


Non privabit bonis eos qui ambulant in innocentia: Domine virtutum, beatus homo qui sperat in te – não há de privar dos seus bens os que caminham na inocência. Feliz o homem que espera em Vós, ó Senhor dos Exércitos!”1


Há somente duas portas para entrar na mansão da eterna ventura: a da inocência e a da penitência, ambas abertas pela misericórdia divina. Quem se dirige, a passo firme para a porta da inocência, pelo caminho de uma vida imaculada, oferece aos homens e até aos Anjos, um espetáculo sublime.

Para proclamar as virtudes do Santo Jó diante de Satanás, disse o próprio Deus, que ninguém havia na terra como ele, que era um homem simples e reto, temente a Deus, estranho ao mal, e ainda conservava a inocência. Vivendo no meio da gentilidade e sendo também gentio, Jó conservou-se inocente e velou atento pela inocência de seus filhos, num tempo em que a terra, imersa nas trevas da ignorância e povoada de idólatras, estava muito longe de possuir no sagrado Tabernáculo a fonte das misericórdias.

Por isso, o Pai Onisciente e misericordioso, que lê no coração de todos os seus filhos, não confiou de línguas humanas os elogios do Seu servo; quis Ele próprio proclamá-los, diante do Inimigo irreconciliável de todos os Justos. E em que período da sua vida granjeou Jó tais louvores? No tempo da prosperidade, quando era rico e estimado, quando via em volta de si uma descendência numerosa e abençoada.

Até que ponto pois não subiriam os seus merecimentos depois que saiu triunfante da terrível provação, que fez dele o herói da paciência? Nem sempre é de flores o caminho da inocência; também nele pode haver espinhos, tão afiados e pungentes como no caminho da penitência.

Mas, se um pagão, em circunstâncias tais, pode enriquecer-se de tantos merecimentos e legar aos vindouros tão alto exemplo, que desculpa ousarão apresentar no Tribunal divino, milhares e milhares de cristãos dos nossos tempos, que não conhecem a inocência nem abraçam a penitência? A inocência! Demorou já no belo clima da nossa Pátria, outrora rica de bênçãos; mas, quem hoje a procurar, apenas encontrará, as mais das vezes, vestígios da sua passagem.

Falará dela com saudade algum octogenário venerando, dizendo lacrimoso: “estão mudados os tempos e os sentimentos; não me educou meu pai, conforme eu vejo educar os meus netos; em tempos idos, eram os pais os melhores protetores da inocência dos seus filhos; hoje, são os pais quem mais favorece e aplaude a malícia precoce dos seus meninos”.

Por isso, a Maçonaria, de mãos dadas com o novo regime, pode impor-nos uma lei de ensino ateu, sem um protesto enérgico da parte dos chefes de família! Deste modo, um povo que, na sua maioria, ainda se diz católico, está pagando com o seu dinheiro e muito cara, uma instrução que lhe rouba a inocência aos filhos e lhos impele para a impiedade. Ó, se os católicos de outrora, que não o eram só de nome, aqui voltassem, como ficariam envergonhados da covardia dos seus descendentes!

Meu Deus, meu Deus, que fizestes as nações curáveis e lhes facilitais os meios de reconciliação, dignai-Vos escutar propício as súplicas dos que esperam em Vós e intercedem por seus irmãos extraviados. Amém.


______________________

Fonte: Mons. Marinho, “Diante do Santíssimo Sacramento – para Adoradores Eclesiásticos e Leigos”, Meditação XXXVI, pp. 130-134. Typographia Fonseca, Porto, 1923.

1.  Ps. 83, 17.


sábado, 19 de novembro de 2022

ORAÇÕES A NOSSA SENHORA, MÃE DA DIVINA PROVIDÊNCIA.


ORAÇÃO

a Nossa Senhora,

Mãe da Divina Providência.1


IMPRIMATUR:

In Curia Archiep., Mediolani, die 17 Junii 1910.

Can. Joannes Rossi, Vic. Gen.


Ó Maria,2 Virgem Imaculada, Mãe da Divina Providência, sustentai a minha alma com a plenitude da vossa graça, governai a minha vida e dirigi-me nas veredas das virtudes até o cumprimento perfeito da Divina Vontade. Alcançai-me o perdão de minhas culpas; sede o meu refúgio, a minha proteção, defesa e guia na peregrinação deste mundo; consolai-me na minha aflição, sustentai-me no perigo, sede-me seguro asilo nas tormentas da adversidade. Alcançai-me, ó Maria, a renovação interna do coração, para que se torne morada santa do vosso Divino Filho, Jesus; afastai de mim, sempre fraco e mísero, todo o pecado, toda a negligência, languidez, pusilanimidade e respeito humano; tirai inteiramente do meu coração o orgulho, a vanglória, o amor-próprio e todas as afeições terrenas que forem obstáculo à eficácia da vossa proteção. Ó dulcíssima Mãe da Providência, lançai um olhar materno sobre mim e se, por fraqueza ou por malícia atraí sobre mim as ameaças do Eterno Juiz ou contristei o Coração Sagrado do meu amável Jesus, cobri-me com o manto da vossa proteção e serei salvo. Vós sois a Mãe da prudência, a Virgem do perdão; Vós sois a minha esperança sobre esta terra; fazei que possa saudar-Vos no Céu como Mãe da glória. Assim seja.


Mãe da Divina Providência, rogai por nós. Ave Maria…

Mãe da Divina Providência, rogai por nós. Ave Maria…

Mãe da Divina Providência, rogai por nós. Ave Maria…



LEMBRAI-VOS

a Nossa Senhora,

Mãe da Divina Providência.


IMPRIMATUR:

Tornaci, 31 Julii 1939.

J. Lecouvet, Vic. Gen.


Lembrai-Vos, ó boa e piedosa Virgem Maria, que nos fostes dada para ser nosso amparo e providência. Cheios de confiança em vossa bondade, chamamo-Vos em nosso auxílio, vinde assistir-nos. Confiamo-Vos nossas tribulações e necessidades, vinde aliviá-las; nossos projetos e trabalhos, vinde abençoá-los. Vós, que podeis tudo obter, Ó Nossa Senhora da Providência, socorrei-nos, protegei a Santa Igreja, a Pátria, todos os que em Vós confiam, aqueles mesmos que não sabem mais Vos implorar. Abri-nos o vosso Coração, este Coração tão bondoso, confidente de tantas dores; e, porque Vós sois Mãe, ó Nossa Senhora da Providência, dignai-Vos ouvir nossas preces e atendê-las. Amém.

Ave Maria...



LADAINHA

de Nossa Senhora,

Mãe da Divina Providência.3


Estas Ladainhas foram compostas em 1871

por uma Religiosa do Convento de Roule, em Paris,

e aprovadas pelo Cardeal Arcebispo Guibert.


Eterno Pai, que sois nosso Pai, tende compaixão de nós.

Jesus, Salvador das almas, tende compaixão de nós.

Espírito Santo Consolador, tende compaixão de nós.

Santíssima Trindade, Providência divina, tende compaixão de nós.


Nossa Senhora da Providência, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Mãe da graça e da misericórdia, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Mãe incomparavelmente amável, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Mãe admirável, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Estrela do mar, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Torre de Davi, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Consoladora dos aflitos, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Saúde dos enfermos, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Salvação dos pecadores, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, Porta do Céu, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, nosso Refúgio, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, nossa Força, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, nossa Esperança, rogai por nós.

Nossa Senhora da Providência, nossa Mãe, rogai por nós.


Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.


V. Rogai por nós, ó doce Mãe da Providência.

R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.


Oremos: Nós Vos suplicamos, Senhor, pela intercessão da Bem-aventurada e sempre Virgem Maria, que defendais de todo o mal esta família que se prostra diante de Vós e, pela vossa misericórdia, livrai-a dos seus inimigos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

Oremos: Ó Deus, cuja Providência não se engana na ordem de seus desígnios, suplicamo-Vos, por intercessão da Bem-aventurada e sempre Virgem Maria, Mãe de vosso Filho, que afasteis de nós tudo o que nos for nocivo, concedendo-nos ao mesmo tempo tudo quanto nos possa ser proveitoso. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


_____________________

1.  Oração indulgenciada. Leão XIII, 27 de Fevereiro de 1886.

2.  Manual da Arquiconfraria de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência – Estatutos e Orações, pp. 49-50. Ereta na Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência, dos Padres Barnabitas, Catete, Rio de Janeiro/RJ, 1957.

3.  Manual da Arquiconfraria de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência, ob. cit. pp. 57-59.


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