Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 24 de agosto de 2021

DOS ADMIRÁVEIS EFEITOS DO AMOR DIVINO.


1. Alma Fiel. Bendito sejais, Pai do Céu, Pai do meu Senhor Jesus Cristo, por Vos haverdes dignado lembrar-Vos de mim, pobre criatura.

Pai das misericórdias e Deus de toda consolação,1 graças Vos dou porque, apesar de minha indignidade, me confortais algumas vezes com as vossas consolações.

Sede para todo sempre bendito e glorificado com o vosso Filho Unigênito e o Espírito Santo Consolador, por todos os séculos dos séculos.

Meu Deus e Senhor, Santo Amigo de minha alma, quando descerdes ao meu coração, de alegria exultarão as minhas entranhas.

Sois a minha glória e o júbilo de minha alma. Esperança minha e meu refúgio no dia da tribulação.

2. Mas porque ainda é fraco o meu amor e imperfeita a minha virtude, preciso ser por Vós fortalecido e consolado; visitai-me, pois, Senhor, mais vezes e ensinai-me a vossa santa doutrina.

Livrai-me das paixões más, e curai meu coração de todas as afeições desregradas, para que sarado e purificado interiormente me torne apto para amar, forte para sofrer, firme para perseverar.

3. Grande coisa é o amor! Bem verdadeiramente inestimável. Só ele torna leve o que é pesado e suporta com igualdade de alma todas as desigualdades da vida. Leva a sua carga sem lhe sentir o peso e torna doce e saboroso tudo o que é amargo.

O amor generoso de Jesus impele a grandes cometimentos e excita-nos sempre ao mais perfeito.

O amor aspira a elevar-se e não se detém em coisas baixas.

O amor deseja ser livre e desembaraçado de toda afeição mundana para que o seu olhar penetre até Deus sem obstáculos e não seja retardado por nenhum bem nem abatido por nenhum mal da terra.

Nada mais doce que o amor, nada mais forte, nada mais sublime, nada mais amplo, nada mais delicioso, nada mais perfeito nem melhor no Céu e na terra; porque o amor vem de Deus e só em Deus, acima de todas as criaturas, pode descansar.

4. Quem ama corre, voa, vive alegre, é livre e nada o embaraça.

Dá tudo para possuir tudo e tudo possui em todas as coisas, porque sobre todas descansa no Único Sumo Bem, do qual dimanam e procedem todos os bens.

Não considera os dons, mas Aquele que os dá e O prefere a todos os bens.

O amor muitas vezes não conhece medida; a toda medida excede o seu ardor.

Nada lhe pesa, nada lhe custa; quer mais do que pode, não alega impossibilidades, porque julga que tudo lhe é possível e permitido.

Por isso tudo pode, realiza e leva a termo muitas coisas que esmorecem e prostram a quem não ama.

5. O amor está sempre vigilante e ainda no sono não dorme.

Nenhuma fadiga o cansa, nenhuma angústia o oprime, nenhum terror o amedronta; como chama viva e labareda ardente irrompe para o alto e passa livre.

Quem ama compreende o brado do amor. Bem alto clama aos ouvidos de Deus o afeto da alma abrasada que diz: “Meu Deus! Meu amor! Sois todo meu, e eu, todo vosso”.

6. Dilatai-me no amor para que eu aprenda a saborear no fundo do coração como é doce amar, e a derreter-me e nadar no vosso amor.

Empolgue-me o amor e eleve-me acima de mim mesmo nos transportes de seu enlevo.

Entoe o cântico do amor; siga-Vos nas alturas, Amado de minha alma, e em júbilos de amor desfaleça nos vossos louvores.

Ame-Vos mais que a mim; e a mim não ame senão por Vós, e em Vós ame todos os que deveras Vos amam, como ordena a lei do amor que de Vós irradia.

7. O amor é pronto, sincero, piedoso, alegre e afável, forte, sofredor, fiel, prudente, magnânimo, varonil e nunca busca a si mesmo, porque desde que alguém busca a si mesmo cessa logo de amar.

O amor é circunspecto, humilde e reto; sem moleza, sem leviandade nem preocupação de coisas vãs; sóbrio, casto, perseverante, tranquilo e recatado na guarda de todos os sentidos.

O amor é submisso e obediente aos superiores, vil e desprezível aos próprios olhos, dedicado e agradecido a Deus; n’Ele sempre confia e espera ainda quando não lhe saboreia as consolações, porque sem dor não se vive em amor.

8. Quem não está disposto a sofrer tudo e a fazer sempre a vontade do Amado não merece o nome de amante.

Quem ama deve por amor do Amado abraçar com prazer tudo o que há de mais duro e amargo, e dele não se separar por nenhuma contrariedade.2

1ª Reflexão3

Do decurso da vida humana, o amor e o sofrimento são duas coisas inseparáveis: quem ama verdadeiramente a Deus e ao próximo, não põe dúvida em sofrer. As ações que nascem de um amor puro exaltam a quem as pratica e atraem as bênçãos de Deus. O pai e a mãe que amam seus filhos, trabalham cuidadosamente em educá-los, segundo os Preceitos da Lei Divina: sofrem muitas vezes o rigor das estações, sujeitam-se a penosas fadigas, dia e noite; quase se esquecem de si próprios para só pensarem nos entes queridos, que a Providência confiou à sua guarda.

O mestre que se interessa pelo adiantamento do seu discípulo, não se poupa a sacrifícios, para lhe formar o espírito na ciência e o coração na virtude.

Em todos os ramos da atividade humana, quem quer conseguir os fins emprega de boa vontade os meios indispensáveis. Porque é que o lavrador se fadiga a semear e cultivar os seus campos? Porque deseja colher um dia os frutos do seu trabalho. Jesus Cristo veio para nós, sofrendo; nós havemos de ir para Ele, sofrendo com resignação cristã. O amor verdadeiro é fecundo em boas obras.

O meu preceito é que vos ameis uns aos outros, conforme eu vos amei. Ninguém pode mostrar maior amor do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos. Vós sereis os meus amigos se fizerdes o que eu vos mando”.4

Temos uma condição a cumprir, desde que queiramos entrar na amizade de Jesus Cristo: é mostrar em obras o nosso amor; é cumprir os Preceitos, que Ele nos impõe. O amor de Deus é por sua natureza difusivo e operativo; não sabe estar ocioso. Contemplai a vida de um São Vicente de Paulo, de um São João de Deus, de uma Santa Teresa de Jesus e dos outros Santos e Santas, e vereis quão admiráveis são os frutos que o divino amor é capaz de produzir.

O amor suaviza todas as amarguras.

2ª Reflexão5


"Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele”.6

Mas o amor tem seus tempos de prova, como seus momentos de gozo; e esta vida transitória deve ser contínuo exercício de amor, ou a consumação de um grande sacrifício, cujo prêmio será uma vida eterna ou um amor imudável.

Todos os caracteres da caridade, enumerados por São Paulo, nos recordam a ideia de sacrifício; e o mesmo amor infinito não pode manifestar-se plenamente a nós senão por um sacrifício infinito: “Deus amou por tal modo o mundo, que deu por ele seu Filho Único”.7

E nosso amor para com Deus não pode tampouco manifestar-se senão por um sacrifício, não igual, o que seria impossível, mas semelhante pelo dom de todo nosso ser ou uma perfeita obediência de nosso espírito, de nosso coração e de nossos sentidos, à vontade d’Aquele que tão extremosamente nos amou.

Então se verifica aquela união inefável que, na sua última hora, pedia Jesus Cristo a seu eterno Pai operasse entre Ele e a criatura resgatada. Enquanto a natureza viver ainda em nós, alguma coisa nos separa de Deus e de Jesus, e o amor de Jesus nos aperta que acabemos o sacrifício, e pronunciemos aquela última palavra que o mundo não compreende, mas que regozija o Céu: “Tudo está consumado”.8

Quando tu as pronunciarás, alma minha, estas palavras decisivas!

3ª Reflexão9

Dois principais exercícios temos de nosso amor para com Deus: um afetivo, outro efetivo, ou, como diz São Bernardo, ativo. Por aquele, amamos a Deus e o que Ele ama; por este, servimos a Deus e fazemos o que Ele nos manda; aquele, nos une à vontade de Deus; este, nos faz executar sua vontade; um, nos enche de complacência, de benevolência, de anelos, de desejos, de suspiros e de ardores espirituais, fazendo-nos praticar as sagradas infusões e misturas de nosso espírito com o de Deus; o outro, infunde em nós a sólida resolução, a firmeza de coragem e a inviolável obediência requerida para efetuar as ordenações da vontade de Deus e para sofrer, aceitar, aprovar e abraçar tudo quanto provém de seu beneplácito: um, nos faz comprazer-nos em Deus; o outro, nos faz agradar a Deus: por um, nós concebemos; pelo outro, nós produzimos: por um, pomos nós a Deus sobre nosso coração, como um estandarte de amor, sob o qual se ordenam todos os nossos afetos; pelo outro, nós O pomos em nosso braço, como uma espada de dileção, pela qual fazemos todos os rasgos de virtude.10

Ó meu caro Teótimo! Como a força deste grande amor de Deus sobre todas as coisas, deve ter uma grande extensão! Deve ele exceder todas as afeições, vencer todas as dificuldades e preferir a honra da benevolência de Deus a todas as coisas: mas eu digo, a todas as coisas absolutamente, sem exceção nem reserva alguma; e digo assim com um tão grande cuidado, porque se acham pessoas que corajosamente deixariam os bens, a honra e a própria vida por Nosso Senhor, as quais entretanto não deixariam por amor d’Ele alguma outra coisa de muito menor consideração.11

O amor é forte como a morte:12 pela morte a alma separa-se do corpo e de todas as coisas do mundo; pelo amor santo, a alma do cristão separa-se de seu corpo e de todas as coisas do mundo: e não há outra diferença, senão, que a morte faz sempre efetivamente o que o amor faz ordinariamente por seu afeto. Digo ordinariamente, porque às vezes o amor sagrado é tão violento, que efetivamente causa a separação do corpo e da alma, fazendo morrer os Santos possuídos do amor divino; morte muito e muito feliz, que vale mais que cem vidas.


____________________

1.  II Cor. I, 3.

2.  Imitação de Cristo, Livro III, Cap. V, pp. 96-99. Tradução do Pe. Leonel Franca, S.J., 4ª Edição, Livraria José Olympio editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

3.  Imitação de Cristo, Livro III, Cap. V, pp. 142-143. Novíssima Edição, por Mons. Manuel Marinho, Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

4.  Jo. XV, 12-24.

5.  Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro III, Cap. V, pp. 1167-168. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

6.  I Jo. IV, 16.

7.  Jo. III, 16.

8.  Jo. XIX, 30.

9.  Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. V, p. 147-148. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

10.  S. Francisco de Sales, “Trat. do Amor de Deus”, L. VI.

11.  S. Francisco de Sales, “Trat. do Amor de Deus”, L. X, c. XIII.

12.  Cânt. VIII, 6.


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