Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 30 de abril de 2023

SANTA CATARINA DE SENA, VIRGEM.


Célebre pelas grandes graças de que Deus a cumulou, quase desde o berço, Santa Catarina era filha de um tintureiro de Sena, na Toscana, chamado Tiago Benincasa. Nasceu no ano de 1347. Sua mãe Lapa, que não pudera resolver-se a alimentar nenhum dos outros filhos que tinha tido, quis amamentar, levada por um sentimento de predileção, esta menina, a mais nova.

Catarina, a quem a sua alegria natural e bom humor fizeram dar o sobrenome de Eufrosina, manifestou desde os seus primeiros anos tanto pendor para a virtude, que desde a idade de cinco anos era conhecida pelo nome de pequena santa. Pode dizer-se que a sua piedade preveniu a sua razão. Apenas aprendeu a Saudação Angélica, muitas vezes se punha de joelhos para a recitar. Dir-se-ia que tinha nascido com a devoção mais terna pela Mãe de Deus. E Jesus Cristo inspirou-lhe desde a infância um desejo tão ardente de se consagrar logo aos oito anos.

As graças foram desde logo mais abundantes, e viram-na fazer em cada dia novos progressos na virtude. Uma visão, que se crê que tivera de Jesus Cristo, abrasou-a de tal sorte no amor divino, que desde esse dia se transformou em vítima Sua. A sua predileção era pela solidão e pela oração; a abstinência, o jejum e outras mortificações que escondia das vistas de seus pais, tornaram-se-lhe familiares; todo o seu empenho consistia em agradar cada vez mais ao seu Divino Esposo.

Uma ligeira complacência custou-lhe caro. Sua mãe, vendo que de todas as suas filhas, nenhuma possuía qualidades que prometessem mais vantajoso enlace do que Catarina, obrigou-a a vestir com menos negligência, e a cultivar com cuidado as graças naturais que recebera de Deus. Uma de suas irmãs casada não lhe dava descanso; e foi para se eximir a esta vexação doméstica, que consentiu em frisar os cabelos; mas, tendo conhecido na oração quanto esta condescendência tinha desagradado a Deus, tão vivo arrependimento concebeu por isso, que daí em diante nunca deixou de se acusar desse pequeno delito com abundância de lágrimas, como do maior pecado de toda a sua vida.

No entanto, esta grande inclinação que tinha pelo retiro desagradou a seus pais. Pensavam em casá-la; um jovem, encantado com sua virtude e com suas belas qualidades, desejava-a para esposa. Toda a sua família aplaudia este partido; mas, instada importunamente para dar o seu consentimento, a nossa Santa cortou os cabelos, e para fazer saber a todos que não queria outro esposo além de Jesus cristo, pôs um véu sobre a cabeça. Este procedimento melindrou seus pais; resolveram fazer-lhe perder todos os pensamentos de devoção; e para o conseguir sobrecarregaram-na, sozinha, com todo o serviço da casa.

Posto que esta laboriosa humilhação a indenizasse em parte do que perdia em orar a Deus, ainda assim, foi-lhe muito sensível a perda do seu doce retiro. Queixando-se um dia disso ao Salvador, uma voz interior lhe ensinou o segredo de encontrar o recolhimento entre o cansaço do trabalho doméstico.

Desde então, não mais perdeu a Deus de vista. A multiplicidade de suas numerosas ocupações não pode interromper a sua oração; estava tranquila; a sua perseverança desarmou seus pais. Seu pai, vendo a firmeza da sua virtude, não mais duvidou de que fosse deus o Autor de seus desígnios. Sua mãe, encantada com a sua paciência e doçura, resolveu não mais se opor às vistas de Deus; e um e outro lhe deixaram liberdade para seguir os movimentos da graça.

Catarina aproveitou-se desta indulgência para se ensaiar nos prelúdios da vida austera, que se propunha encetar na Congregação das Irmãs da Penitência. Absteve-se absolutamente de vinho e carne, alimentando-se somente de ervas cruas com pão. Duas tábuas sem palha nem colchões, serviam-lhe de leito e de mesa.

Uma cadeia de ferro armada de pontas, que nunca largou senão por obediência, poucas horas antes de sua morte, fazia as vezes de um rude cilício; também se impôs a proibição do uso de linho na idade de dezoito anos, e desde então a sua vida não foi mais que um jejum contínuo e um prodígio de penitência. Apenas dormia uma hora durante a noite; todo o resto do tempo era empregado na oração.

Confessou ao seu Diretor, que nada lhe tinha custado tanto a combater, como a necessidade de dormir. Tomava três vezes ao dia a disciplina com uma inocente crueldade. Custa a compreender, como uma donzela de dezoito anos, de uma saúde delicada, de uma compleição fraca, pudesse sustentar tão espantosas austeridades. Toda a tarefa do seu Diretor, era moderar o ardor extremou que a impelia a macerar o corpo.

Caiu doente. Sua mãe que tão fortemente a provara, mas que a amava mais do que as suas irmãs, ficou consternada. Catarina declarou-lhe que sua saúde dependia da sua entrada na Ordem Terceira de São Domingos, o que obrigou a mãe, embora contrária a esta resolução, a solicitar das irmãs o hábito para sua filha.

Recebeu-o com efeito, e com esta preciosa libré de Jesus Cristo, recebeu essa abundância extraordinária de Dons Sobrenaturais, que dela fizeram uma das maiores Santas dos últimos séculos. Livre já dos obstáculos, que até então tinham impedido o seu fervor e as suas devoções, prescreveu-se um silêncio de três anos, durante os quais não falava senão ao seu Confessor, e não saía de sua cela senão para ir à igreja. Uma outra lei se impôs bem árdua: a de passar em oração todo o tempo da noite, em que os religiosos não estivessem no coro. O pouco repouso que tomava em seguida sobre as tábuas ou na terra nua, dificilmente impedia a sua oração.

Invisível ao resto das criaturas, esta santa donzela gozava à vontade essas doçuras espirituais, que são uma prelibação das alegrias do Céu, quando o Inferno, cioso e irritado de sua inocência, excitou em sua alma uma horrível tempestade. Esta alma pura foi atacada por mil fantasmas abomináveis e por imundas representações, e no coração por tentações as mais vergonhosas e humilhantes.

Tanto mais se alarmou com isso, quanto a sua pureza era mais delicada e mais perfeita. Pouco importou que redobrasse de austeridade e de súplicas, que fizesse esforços heroicos para extinguir estes fogos com suas lágrimas; Deus quis provar a sua virtude por esta humilhante tribulação, fazer-lhe sentir a força e a necessidade da graça e prepará-la para os favores mais extraordinários, por estas aflitivas humilhações.

Uma aparição da Santíssima Virgem e do Salvador, veio anunciar-lhe a vitória e trouxe a calma. Daí em diante, os êxtases foram contínuos, frequentes as revelações; viram-na dias inteiros em êxtases numa íntima comunicação com Deus. Eram ordinários os colóquios com os Santos; mas nada mais admirável, do que a sua familiaridade com a Santíssima Virgem, a quem chamava sua mãe e com Jesus cristo, seu celestial Esposo.

O Padre Raimundo de Cápua, Geral dos Dominicanos, seu Confessor, que escreveu a vida desta Santa, assegura que, redobrando as suas orações e penitências nos últimos dias de carnaval, se sentiu impelida no fervor da oração a pedir instantemente a jesus Cristo uma fé tão viva, que nunca pudesse enfraquecer, e uma fidelidade a toda a prova para ser uma esposa eternamente agradável a Seus divinos olhos.

O divino Salvador, acrescenta este historiador, apareceu-lhe com a Santíssima Virgem, São João e São Domingos e outros Santos, declarou-lhe que tinha atendido a sua súplica, que lhe concedia o que Lhe pedira, que se dignava considerá-la como esposa; como sinal sensível desta graça traria no resto dos seus dias um anel no dedo. Durante esta visão, Deus derramou graças abundantes em sua alma; pareceu-lhe que Jesus cristo lhe dava um rico anel, e assegurou muitas vezes a seu Confessor, que este anel miraculoso, invisível a qualquer pessoa, ela o tinha continuamente no dedo.

Até aqui, sepultada em seu retiro, esta santa donzela não aparecia senão junto dos altares.

Depois deste insigne favor, Deus fez-lhe conhecer que os exercícios de caridade reclamavam que ela se mostrasse um pouco mais no mundo. Começou por servir duas pobres mulheres enfermas. Uma delas chamada Teca, estava por tal forma tocada de lepra, que ninguém ousava aproximar-se dela, e já se tratava de a por fora da cidade. A Santa, vendo-a abandonada de todos, quis tomar cuidado dela por si própria. Ia visitá-la todos os dias duas vezes, para lhe fazer todo o serviço. Esta mulher em vez de lhe ser grata, não a recebia senão com desgosto, não lhe dizia senão injúrias; parecia que a Santa era sua escrava. Uma conduta tão selvagem, aumentou-lhe a caridade; serviu-a até à morte com um zelo e uma assiduidade espantosa. Tratou de outra mulher, chamada Andria, que sofria de um cancro no peito, não podendo ninguém suportar-lhe o mau cheiro.

Nos primeiros dias parecia tocada, e mesmo confundida de ver a caridade da Santa; mas, acostumando-se insensivelmente ao seu trato, chegou ao ponto de denegrir a reputação da sua benfeitora com atrozes calúnias, publicando que tinha seus amores, e que empregava neles todo o tempo que fingia em segredo dar à oração.

Uma outra caluniadora, chamada Palmerina, se lhe agregou, e soube dar tais cores aos seus embustes, que os fez acreditar não só dos libertinos, mas de muitas pessoas de bem. Por muito sensível que fosse a Santa a uma calúnia tão infamante, nunca disse uma palavra para se justificar; redobrou as suas visitas à doente e a sua caridade. Sentindo um dia repugnância em servi-la, colou a boca em sua chaga horrível, para se vencer, e só repelia tão atrozes calúnias por novos benefícios. Estas infelizes reconheceram a sua falta, publicaram a inocência e a santidade de Catarina, que tinha sofrido menos com suas calúnias, do que sofria agora com suas retratações.

A sua caridade para com os pobres teria esgotado todo o patrimônio que encontrara em sua família, se Deus não tivesse suprido por milagres. O próprio Jesus cristo, disfarçado em trajes de pobre, pareceu querer impelir ao extremo a sua paciência e as suas liberalidades.

Depois de lhe ter dado tudo o que tinha podido mendigar, rogou-lhe que aceitasse ainda o que era para seu sustento. Na noite seguinte o Salvador apareceu-lhe e fez-lhe conhecer de uma maneira bem consoladora, que fora a Ele próprio que ela tinha dado a esmola no dia anterior.

A sua caridade era imensa, e o seu zelo pela salvação das almas excessivo, poucos infelizes havia, a quem não assistisse e não convertesse. A vida desta grande Santa não é mais do que uma cadeia de maravilhas, toda ela é um prodígio. Perdeu o gosto e o uso dos alimentos; só vivia da Eucaristia; este Pão dos Anjos foi o seu único alimento; não podia suportar os outros; passou desde o princípio da Quaresma até ao dia da Ascensão sem tomar coisa alguma.

A Comunhão diária alimentava-a. Disse um dia ao seu Confessor, que o seu divino Esposo lhe tinha tirado o seu coração para pôr o d’Ele no lugar do dela, e que por um favor singular, o Senhor lhe tinha imprimido os Estigmas de Suas Chagas, cuja dor sentia continuamente, mas que obtivera de Jesus Cristo que nada aparecesse aos olhos do mundo.

A todas estas graças extraordinárias, deus acrescentara o Dom da Inteligência e da Sabedoria, que a fez considerar como o Oráculo do seu século. Diversas obras que possuímos com o seu nome, e singularmente muitas cartas que escreveu ao Papa, aos Cardeais e aos Príncipes, são excelentes provas da sublimidade do seu engenho.

Tendo-a obrigado o bem público da Igreja a sair do seu retiro, mostrou bem que a santidade não é ociosa e que os Santos sabem deixar as doçuras tranquilas da solidão, quando a Deus apraz servir-se deles.

Tendo-se levantado os florentinos contra a Igreja Romana, e tendo sido excomungados pelo Papa Gregório XI, reconheceram que ninguém seria mais próprio para negociar a sua reconciliação do que Catarina.

Foi ter com o Papa, que estava então em Avinhão. Foi recebida pelo Santo Padre e pelos Cardeais com todo o respeito que merecia a sua virtude. Não teve dificuldade em abrandar o espírito do Papa, que teve tanta deferência para com ela, que quis que fosse o árbitro da paz, que devia conceder aos florentinos. Ela, porém, não tinha menos a peito um outro negócio ainda mais importante: era o da volta dos Papas para Roma, donde estavam ausentes havia setenta anos. O Papa Gregório, repreendendo um dia um Bispo, porque não residia na sua Diocese, ouviu esta resposta: “É a exemplo dos Papas, que há setenta anos estão ausentes de Roma”.

Posto que esta resposta fosse menos respeitosa, não deixou de surtir efeito; o Soberano Pontífice fez voto imediatamente de restabelecer a Santa Sé em Roma. Tendo pedido o parecer à nossa Santa: Ah, Santo padre, respondeu, para que consultar sobre o que Vossa Santidade já prometeu a Deus?” O Papa, surpreendido com este conhecimento que só Deus lhe podia ter dado, não hesitou um momento. Partiu de Avinhão a 13 de Setembro de 1375, e fez a sua entrada em Roma a 17 de Janeiro do ano seguinte.

Não tardou em chamar para ali a Santa; aproveitou-se dos seus conselhos, e muito confiou na eficácia das suas orações.

À morte do Papa, que sucedeu dois anos depois, seguiu-se um funesto cisma. Urbano VI, sucessor de Gregório, não honrou menos Santa Catarina de que seu predecessor. A Santa, convencida de que era este o legítimo Pastor da Igreja, trabalhou com todas as forças para que todos o reconhecessem por tal.

O Papa estava resolvido a enviá-la à Rainha de Nápoles e da Sicília; Catarina por sua fé, caridade, zelo e valor, prestava-se a desempenhar essa missão para maior glória de Deus, quando se sentiu acometida de grande enfermidade. Durante quatro meses padeceu dores tão vivas e tão extraordinárias, que ninguém duvidou de que semelhante enfermidade não fosse sobrenatural. Mostrou no meio dos seus padecimentos uma virtude heroica.

Foi a sua preciosa morte em tudo conforme com sua santa vida; suspiros, êxtases, incêndios do divino amor, foram toda a sua agonia. Gasta pelo rigor de suas incompreensíveis penitências, consumida de trabalhos, cumulada de graças e merecimentos, expirou em Roma no dia 20 de Abril de 1380, aos 33 anos de idade, deixando não só às suas irmãs, de quem fora Superiora, mas a todos os fiéis, admiráveis exemplos de todas as virtudes.

Esteve por alguns dias exposto o sagrado corpo à veneração pública, e depois foi enterrado solenemente na igreja de Minerva, onde não tardou que o Senhor confirmasse com novos milagres a opinião de santidade, que em vida alcançara. No ano de 1461, foi canonizada pelo Papa Pio II com toda a solenidade e pompa, que mostrava a singular veneração e confiança que sempre têm colocado os povos e nações nesta insigne Santa.

Venera-se em Sena o seu crânio e no Convento dos Dominicanos de São Sisto de Roma uma das mãos inteira, como também um pé inteiro em Veneza, no Convento das Monjas Dominicanas.

É certo que muito tempo antes de Santa Catarina de Sena, florescia já em todo o Orbe Cristão a Terceira Ordem da Penitência do Patriarca São Domingos, pela vida exemplar de inumeráveis pessoas piedosas que, sem deixarem o mundo, nem se encerrarem em clausura, mostravam evidentemente que se podia viver no século, e viver praticando os primores da perfeição cristã pela observância da regra que deixou o Santo Patriarca.

Mas não sofre dúvida, que a eminente reputação de Santa Catarina acrescentou um grande e brilhante esplendor a esta Congregação, a qual continua a edificar o mundo com as grandes virtudes que praticam os que têm a dita de se alistarem nela. Por decreto de 13 de Abril de 1866, Pio IX declarou Santa Catarina de Sena, a segunda Padroeira de Roma.


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Fonte: Pe. Croiset, S.J., Ano Cristão”, Vol. IV, pp. 414-421, 30 de Abril, Festa de Santa Catarina de Sena, Virgem; Tradução do Francês pelo Pe. Matos Soares, Porto, 1923.


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