Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

SÃO SEBASTIÃO, MÁRTIR DA FÉ.


Sebastião vem de sequens, “seguinte”, beatitudo, “beatitude”, astín, “cidade”, e ana, “acima”, o que significa “aquele que seguiu a beatitude da cidade celeste e da glória eterna”. Segundo Agostinho, ele adquiriu tal beatitude com cinco moedas: com a pobreza obteve o reino; com a dor, a alegria; com o trabalho, o repouso; com a ignomínia, a glória; com a morte, a vida. O nome Sebastião também pode vir de basto, “sela”. Nesse caso, o soldado é Cristo, o cavalo a Igreja, e a sela Sebastião. Foi assim que Sebastião combateu pela Igreja e logrou superar muitos mártires. Ou Sebastião, significaria ainda “rodeado”, pois em vida esteve rodeado de mártires a quem reconfortava, e no martírio foi rodeado de flechas, como um porco-espinho.

1. Sebastião era um perfeito cristão, originário de Narbonne e cidadão de Milão. Foi tão querido pelos co-imperadores Diocleciano e Maximiano, que estes lhe deram o comando da primeira coorte1 e quiseram tê-lo constantemente a seu lado. Ele usava o traje militar com a única intenção de fortalecer o coração dos cristãos, que se debilitavam com as perseguições.

Quando os ilustres cidadãos Marceliano e Marcos, irmãos gêmeos, iam ser decapitados por sua fé em Cristo, seus pais vieram para convencê-los a renegar. A mãe, com a cabeça descoberta, as roupas rasgadas, desnudando os seios exclamou:

Ó queridos e doces filhos, sou presa de uma miséria inaudita e de uma dor intolerável. Ah, que desgraçada sou! Perco meus filhos, que correm por vontade própria para a morte! Se os inimigos os tomassem de mim, eu perseguiria esses raptores no meio de seus batalhões; se uma sentença os condenassem à masmorra, eu iria quebrar a prisão, ainda que morresse por isso. Mas hoje, aparece uma nova maneira de perecer: eles mesmos rogam ao verdugo que vibre seu golpe, desejam a vida apenas para perdê-la, convidam a morte a vir. Novo luto, nova miséria! Filhos ainda jovens entregam-se à morte, e pais infortunados, já velhos, são forçados a tudo presenciar.

Ela ainda falava, quando o pai, mais velho que a mãe, chegou carregado por seus serviçais. Com a cabeça coberta de cinzas, ele exclamava, olhando para o Céu:

Meus filhos entregam-se à morte; vim lhes dar adeus, e tudo que havia preparado para me sepultar, ó desgraçado que sou, empregarei para a sepultura de meus filhos. Ó meus filhos! Bengala da minha velhice, dupla chama do meu coração, por que amar a morte assim? Jovens que veem tudo isso, venham aqui chorar meus filhos. Pais que assistem esta cena, aproximem-se, impeçam-nos, não aceitem semelhante perversidade! Olhos meus, chorem até se apagar, para que eu não veja meus filhos decepados pela espada.

O pai acabava de falar assim, quando chegaram as esposas dos jovens, apresentando aos olhos deles seus filhos e dando gritos entremeados de uivos: “A quem vocês nos deixam entregues? Quais serão os mestres destas crianças? Quem ficará com suas grandes propriedades? Ai, vocês têm corações de ferro para desprezar seus pais, desdenhar seus amigos, rejeitar suas esposas, desconhecer seus filhos e entregar-se espontaneamente aos carrascos!”.

Ante tal espetáculo, os corações daqueles homens começaram a amolecer. São Sebastião estava presente, saiu da multidão e disse: “Fortíssimos soldados de Cristo, não percam uma coroa eterna deixando-se seduzir por miseráveis lamentos”. E dirigindo-se aos pais:

Nada temam, vocês não serão separados; eles vão para o Céu preparar para vocês moradas de deslumbrante beleza. Desde a origem do mundo esta vida não para de enganar os que esperam algo dela. Ela engana os que a buscam, ela ilude os que contam com ela, ela mente a todos. Esta vida ensina ao ladrão suas rapinas, ao colérico suas violências, ao mentiroso suas espertezas. É ela que comanda os crimes, que ordena as perversidades, que aconselha as injustiças. Mas os contratempos são efêmeros, e essa perseguição que agora sofremos, se é violenta hoje, amanhã terá desaparecido: uma hora a trouxe, uma hora vai levá-la. Mas as penas eternas renovam-se sem cessar, a vivacidade de suas chamas nunca diminui, para sempre punir. Estimulemos nosso amor ao martírio. Quando ele ocorre, o Diabo acredita obter uma vitória, mas não: quando captura, ele próprio é capturado; quando prende, ele é atado; quando vence, é vencido; quando tortura, é torturado; quando degola, é morto; quando insulta, é maldito.

Durante a quase uma hora em que o beato Sebastião assim falava, foi rodeado por uma grande luz vinda do Céu, e no meio desse esplendor ele parecia estar vestindo uma túnica de ofuscante brancura, ao mesmo tempo que era rodeado por sete Anjos deslumbrantes. Diante dele também apareceu um rapaz que o abençoou e disse: “Você sempre estará comigo”. Enquanto o Bem-aventurado Sebastião pregava, aproximou-se dele Zoé, mulher de Nicostrato, o carcereiro dos Santos. Ela se ajoelhou diante Sebastião e, como era muda, através de gestos pediu perdão pelos maus-tratos infligidos aos prisioneiros. Então Sebastião disse: “Se sou escravo de Cristo e tudo que disse é verdade, se essa mulher acredita em tudo que ouviu dos meus lábios, que Aquele que abriu a boca de seu Profeta Zacarias, abra sua boca”.



A essas palavras, a mulher exclamou: “Bendito seja o discurso de sua boca, e benditos sejam todos os que acreditam no que você disse. Vi um Anjo segurando diante de você um livro no qual estava escrito tudo o que falou”. Ouvindo isso, seu marido lançou-se aos pés de Sebastião pedindo-lhe que o perdoasse. Libertou então os mártires e pediu-lhes que fossem embora, mas eles responderam que não queriam perder a coroa a que tinham direito. Tanta graça e eficácia tinham sido concedidas pelo Senhor às palavras de Sebastião, que elas não apenas fortaleceram em Marceliano e Marcos a resolução de sofrer o martírio, como também converteram à fé o pai deles, Tranquilino, a mãe e muitos outros que o Padre Policarpo batizou.

2.Tranquilino, que estava gravemente enfermo, logo que foi batizado sarou. O prefeito da cidade de Roma, ele próprio muito doente, pediu a Tranquilino que trouxesse aquele que lhe restituíra a saúde. O Padre Policarpo e Sebastião foram à sua casa e ele pediu que também o curassem. Sebastião disse-lhe que antes renunciasse a seus ídolos e concedesse permissão de quebrá-los, que com essas condições ele recobraria a saúde. Quando Cromácio, o prefeito, disse que deixasse esse trabalho a seus escravos em vez de encarregar-se disso, Sebastião discordou: “As pessoas tímidas temem quebrar seus deuses, e se o fizerem e forem feridas pelo Diabo, dirão que é castigo, porque quebravam seus deuses”. Autorizados, Policarpo e Sebastião destruíram mais de duzentos ídolos.

Depois disseram a Cromácio: “Como despedaçamos seus ídolos e você já deveria ter recobrado a saúde, mas ainda sofre, é certo que você ou não renunciou à infidelidade, ou conservou alguns ídolos”. Então Cromácio confessou que tinha um quarto em que estavam guardadas muitas estrelas com as quais se podia prever o futuro, e pelas quais, seu pai, tinha gasto mais de duzentas medidas de ouro. Sebastião então disse: Enquanto conservar todos esses objetos inúteis, você não terá saúde”. Cromácio concordou, mas seu filho Tibúrcio, rapaz muito distinto, falou: “Eu não admitiria que obras tão importantes fossem destruídas, mas para não parecer opor obstáculo à saúde de meu pai, que sejam acesas duas fogueiras, e se depois da destruição das obras meu pai não estiver curado, que esses dois homens sejam queimados”. Sebastião respondeu: “Que assim seja!”. E enquanto ocorria a destruição, um Anjo apareceu ao prefeito dizendo que o Senhor Jesus restituía-lhe a saúde. No mesmo instante ele sarou e correu para o Anjo a fim de beijar seus pés, mas este o impediu porque ele não tinha ainda recebido o Batismo. Então ele, seu filho Tibúrcio e quatrocentas pessoas da sua casa foram batizadas. Quanto a Zoé, foi martirizada pelos infiéis, e ao saber disso Tranquilino exclamou: “As mulheres são coroadas antes de nós. Por que ainda vivemos?”. Alguns dias depois ele foi lapidado.

3. Ordenaram a São Tibúrcio que, ou jogasse incenso num braseiro em honra aos deuses, ou andasse descalço sobre aquelas brasas. Ele fez então o Sinal da Cruz e caminhou de pés nus sobre o fogo dizendo: “Graças a Nosso Senhor Jesus Cristo, parece-me estar pisando em rosas”. O prefeito Fabiano retrucou: “Quem não sabe que Cristo ensinou artes mágicas a você?”. Tibúrcio respondeu: “Cale-se, infeliz, pois você não é digno de pronunciar um Nome tão Santo e tão doce”. Tomado de cólera o prefeito mandou decapitá-lo.

Marceliano e Marcos, por sua vez, foram presos a uma estaca e, amarrados, cantaram estas palavras dos Salmos: “Veja como é bom e agradável irmãos ficarem juntos, etc.”. O prefeito disse: “Infelizes, renunciem a essas loucuras e serão libertados”. E eles: “Nunca fomos mais bem tratados. Nosso desejo seria que você nos deixasse amarrados enquanto estamos revestidos de nossos corpos”. Então o prefeito mandou que enfiassem lanças em seus flancos, e eles assim consumaram seu martírio.

Depois disso o prefeito denunciou Sebastião a Diocleciano, que disse: “Sempre quis que você ocupasse postos elevados no meu palácio, mas você agiu em segredo contra meus interesses e insulta os deuses”. Sebastião: “Foi para sua salvação que honrei Cristo, e é pela conservação do Império Romano que sempre adorei o Deus que está no Céu”. Diocleciano mandou levá-lo para o campo, amarrá-lo a uma árvore e ser crivado de flechas pelos arqueiros. Quando o julgaram morto, retiraram-se, pois ele estava tão coberto por flechas que parecia um porco-espinho. Mas alguns dias depois, ele apareceu na escadaria do palácio, criticando os imperadores pelos males que infligiam aos cristãos. Ao avistá-lo, os imperadores disseram: “Aquele não é Sebastião, que recentemente mandamos matar a flechadas?”. Sebastião esclareceu: “O Senhor restituiu-me a vida para que eu pudesse vir jogar no rosto de vocês os males com que cumulam os cristãos”. Então o imperador mandou fustigá-lo até que rendesse o espírito e ordenou que jogassem seu corpo na cloaca, para que não fosse honrado pelos cristãos como Mártir.

Mas São Sebastião, apareceu na noite seguinte a Santa Lúcia, revelou-lhe o lugar em que estava seu corpo e mandou que o sepultasse perto dos restos dos Apóstolos, o que foi cumprido. Ele foi martirizado sob os imperadores Diocleciano e Maximiano, que começaram a reinar por volta do ano do Senhor de 187.

4. Relata Gregório, no primeiro livro de seus Diálogos, que uma mulher da Toscana, recém-casada, foi convidada a assistir à consagração de uma igreja a São Sebastião, e na noite que precedeu a festa, premida pela volúpia da carne, não pode se abster do marido. De manhã partiu, sentindo um pouco de vergonha diante dos homens de Deus. Mal entrou no oratório onde estavam as relíquias de São Sebastião, o Diabo apossou-se dela e atormentou-a diante da multidão. Então um Padre dessa igreja pegou um véu do altar para cobrir a mulher, mas o Diabo logo se apossou também do Padre. A mulher foi levada por alguns amigos até uns encantadores, cujos sortilégios deveriam libertá-la. Mas no instante em que a encantavam, e com a permissão de Deus, uma legião composta de 6666 Demônios entrou nela e atormentou-a com violência ainda maior. Por fim, um personagem de grande santidade, chamado Fortunato, curou-a com suas preces.

5. Lê-se na História dos Lombardos, que na época do rei Gomberto, a Itália inteira foi assolada por uma peste tão violenta, que os vivos mal bastavam para sepultar os mortos. Ela fez grandes estragos, sobretudo, em Roma e em Pavia. Então uma multidão de pessoas viu aparecer um Anjo bom empunhando um chuço2 e perseguindo o Anjo mau, que golpeava e exterminava, e que sempre que atingia uma casa fazia muitos mortos. Soube-se então, por revelação divina, que a peste cessaria inteiramente suas devastações caso fosse erguido em Pavia um altar a São Sebastião. Ele foi construído na igreja de São Pedro ad Vincula, e de fato, logo depois o flagelo cessou. Posteriormente, levaram-se de Roma para lá as relíquias de São Sebastião.

Ambrósio escreveu: “Senhor adorável, o sangue do seu Bem-aventurado Mártir Sebastião, foi derramado pela confissão de seu Nome e para permitir a manifestação de seus milagres, de forma que através da prece a ele, Vós ampare os enfermos, transforme nossa fraqueza em força, aumente nossas virtudes”.


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Fonte: Beato Jacopo de Varazze, Dominicano, Arcebispo de Gênova, Legenda Áurea – Vidas de Santos”, Cap. 23 (São Sebastião), pp. 177-182. Tradução do latim por Hilário Franco Júnior, Companhia das Letras, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, 2003.

1.  No exército romano, a legião de infantaria, composta de 6 mil homens, estava dividida em dez coortes que no campo de batalha ficavam distribuídas em três linhas, de quatro, três e três coortes respectivamente. A primeira coorte era a que ficava mais à direita na primeira linha.

2.  Lança.


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