Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 18 de julho de 2023

ÚLTIMOS ANOS E MORTE DE SÃO JOSÉ.


Falando a respeito de São José, diz o Padre Huguet: A casa de Nazaré era um verdadeiro paraíso. Ali reinava a paz, a concórdia, a mais sublime caridade; tudo se fazia na mais perfeita ordem; aquela Família era um admirável Modelo das Famílias Cristãs e das Comunidades Religiosas. Ali, era habitual o recolhimento, religiosamente observado o silêncio, o dia distribuído entre o trabalho e os exercícios de piedade.

As pessoas de fora, admitidas à oficina de São José, eram excluídas dos dois santuários, ou seja, dos dois quartinhos reservados a Jesus e Maria. Ali reinava a pobreza religiosa, resplandeciam a castidade, a obediência; ali habitava o Criador com as Suas criaturas; ali, a Fé, a Esperança haviam estabelecido sua moradia em comum com a Caridade, que une estreitamente os corações. A Bem-aventurada Casa de Nazaré serviu de Modelo às Comunidades Religiosas. Diz-se que os primeiros cristãos eram um só coração e uma só alma; possuíam o mesmo espírito, os mesmos desejos, os mesmos afetos, mas com maior razão se pode dizê-lo da Sagrada Família.

E como vivia São José com tão augustas Pessoas? Na familiaridade mais terna e mais íntima que se possa imaginar. Jesus o chamava Pai, falava-lhe com grande respeito, participava de suas fadigas, sentava-Se à sua mesa, servia-o com solicitude e jamais negligenciava quanto pudesse contribuir para torná-lo feliz. Maria chamava-o Esposo, servia-o como a seu senhor, preparava-lhe as modestas refeições, fazia e arrumava suas roupas, e muitas vezes sabia torná-lo feliz. Maria chamava-o Esposo, servia-o com dulcíssima conversação.

São José, penetrando cada vez mais no Coração de Jesus pelos afetuosos cuidados que d’Ele recebia, permanecia suavemente arrebatado. Quando Jesus parava junto ao coração de São José, oh, com que santos ardores o inflamava!

Quando Jesus descobria a São José algum novo traço das próprias perfeições infinitas, ou demonstrava comprazer-Se nas carícias recebidas, ou lhe agradecia as fadigas sustentadas por Seu amor, tais gestos e expressões eram como óleo lançado ao fogo daquele amor, que ardia no coração do Santo, para inflamá-lo ainda mais.

E que responderia o Santo, se Jesus lhe fizesse a pergunta, depois dirigida a São Pedro: José, tu Me amas? Oh, como teria repetido então, estreitando-O contra o peito: “Sim, eu Te amo, meu Deus, meu Redentor, infinitamente amável, Te amo mais que às pupilas de meus olhos, mais que a mim mesmo”.

Tanta felicidade concedida ao Santo, passageira, deveria causar-nos admiração. Ora, que admiração não nos deve causar, sabendo que tão feliz convivência durou cerca de trinta anos? A união de Jesus Cristo, de Maria Santíssima e de São José, era uma viva imagem da união das Três Pessoas da Santíssima Trindade.

Jesus em Nazaré orava pelos pecadores e, além disso, com Seus desejos suspirava pela hora santa de subir ao Calvário para derramar o Sangue que devia apagar a sentença de eterna maldição. No entanto, trabalha com grande amor, até o suor, sujeitando-Se ao castigo temporal já imposto a Adão e Eva.

Maria e José, refletindo nisso, experimentavam grande aflição; todavia, o pensamento de que mais tarde participavam dos frutos do Sacrifício cuja aprendizagem Jesus fazia, suavizava-lhes bastante a amargura. Sentados juntos a uma mesa frugal, comunicavam entre Si misteriosas confidências. E foi então que as grandes verdades, por Jesus trazidas do Céu, começaram a sair de Seus divinos lábios, pois diz São Lucas, que Suas palavras, Maria as conservava no próprio Coração. E quando Jesus falava a Maria Santíssima, muitas vezes na presença de São José, este recolhia e saboreava os preciosíssimos oráculos, os ensinamentos cheios de luz e de celestes consolações.

As inumeráveis fadigas, sustentadas por São José em todo o decurso de sua vida, pouco a pouco produziram uma notável diminuição de suas forças. A tranquila felicidade da vida em Nazaré foi por algum tempo interrompida, com o trânsito do Santo, desta vida para a eternidade.

Dados seguros a respeito do tempo e circunstâncias desse trânsito não possuímos. Mas certo é que, ao tempo de Jesus deixar Nazaré, aproximadamente aos trinta anos, para dedicar-Se à vida pública, São José não era mais deste mundo.

Não diz o Evangelho que, ele estivesse entre os convidados às Bodas de Caná; significa que não estava com Jesus e Maria. Não se achava tão pouco no Calvário, entre os amigos de Jesus moribundo, pois de outra forma Jesus não teria confiado Sua Mãe, a São João. Podemos pois afirmar que, chegado o Salvador à idade de poder cuidar de Sua Mãe, o Santo, havendo cumprido sua própria missão, deixou este vale de lágrimas.

Assim como Moisés saudou do cimo do Monte Nebo, a longínqua terra prometida. São José viu de longe os dias gloriosos da pregação de seu Filho divino; depois, depois, como o inocente Batista, desapareceu, cedendo lugar ao Salvador que criara, mantivera e guardara com suas fadigas e assíduos cuidados. E como poderia ter suportado a pérfida e maligna resistência, suscitada pelo ódio e perseguições dos judeus contra as obras esplendorosas do Messias, até colocá-Lo barbaramente na Cruz?

Quanto ao lugar de sua morte, julga-se que tenha sucedido em Nazaré, onde passara a maior parte de sua vida, exercendo o ofício de carpinteiro. A causa de sua morte, diz São Francisco de Sales, que São José constituiu exceção à regra geral e morreu de morte semelhante à de sua Esposa Maria, isto é, de puro amor de Deus.

São José era a palmeira que crescia na corte real, o cipreste de Sião, sempre à vista do Santuário, a árvore do Paraíso, que, refrescada pelas águas-vivas, hauria seu vigor das divinas fontes da vida. Mas, se Deus foi grato e prodigalizou com grande abundância Suas graças aos Pastores, aos Magos, ao Precursor e a tantos outros, que tiveram a felicidade de apresentar-Lhe uma só vez e por breve tempo, o coração aberto à graça, que não terá feito em favor de seu Pai adotivo, que com Ele conviveu contínua e intimamente por tantos anos?

Se Jesus prometeu lembrar-Se até de um copo d’água dado ao próximo por seu amor, qual não terá sido a Sua generosidade para com São José, que O estreitou, conduziu nos braços, teve em casa, alimentou, vestiu e salvou da morte, afrontando toda espécie de privações? Deus quis ser devedor, e, por isso, lhe recompensou o afeto cumulando-o das mais belas graças. Cada dia, São José aumentava no santo amor de Deus, a cuja veemência não mais podia resistir por longo tempo.

Jesus achava-Se perto dos trintas anos, Maria dos quarenta e cinco e José contava sessenta e três. Gozavam todos ótima saúde, mas José sentia uma voz interior a dizer-lhe: “Chegaste ao término de tua vida”.

Nesse ponto, exclama Santo Afonso: “Quem poderá jamais explicar ou compreender as doçuras, as consolações, as esperanças, os atos de resignação, as chamas de caridade, que inspiravam ao coração de São José as palavras de vida eterna que, ora Jesus, ora Maria, lhe diziam na hora extra de seu viver?”

Ó, quão preciosa se lhe apresentou naquele momento a memória das fadigas e penas suportadas por amor de Jesus e Maria! Como terá abençoado as viagens, as privações e o exílio!

Diz São Francisco de Sales, no Tratado do Amor de Deus: “Tendo São José terminado a obra para a qual Deus o escolhera, que lhe restava, senão dizer ao Pai Eterno: ‘Realizei a obra que me deste a fazer’; e ao Filho: ‘Assim como teu Pai celeste confiou às minhas mãos o Teu Corpo no dia de Tua vinda a este mundo, eu, no dia de minha partida do mundo, às Tuas confio o meu espírito’.”

Diz a Ven. Maria de Ágreda, que Maria Santíssima lhe pediu perdão, caso houvesse cometido alguma falta ao servi-lo e desejou a sua bênção. Por humildade, o Santo quereria abster-se de tal, mas por obediência A abençoou. Recebida a bênção, Maria encarregou-o de saudar os parentes e todos os Santos recolhidos no Seio de Abraão.

Depois, queria São José ajoelhar-se para receber a bênção do Divino Redentor, mas Jesus não lho permitiu, antes aproximou-Se e o estreitou docemente nos braços. E o Santo, a tanto amor de Jesus para com ele, sentiu-se ainda mais enternecido; e, cheio de humildade, disse-Lhe:

Meu Senhor, meu Deus, meu Criador e Redentor, oh, quanto me amas!… Mas, perdoa-me as ofensas que cometi!… De minha parte, eu Te glorifico e de todo o coração Te dou infinitas graças por me teres escolhido, com inefável benignidade, para Esposo e Custódio de Tua divina Mãe, e também para Custódio de Ti mesmo.

São José, diz neste ponto São Bernardino de Sena, não tendo mais forças para falar, despedia espaçados suspiros.

No entanto, Jesus, após tomar-lhe a mão para beijá-la, disse:

Pai amado, dou-te a Minha bênção. Deixa agora este Vale de Misérias e, acompanhado pelos Anjos, desce ao Limbo, entre os teus Pais e leva-lhes a alegre notícia de que, dentro de pouco tempo, descerei a eles, para consolá-los e conduzi-los Comigo ao Paraíso.

Chegou a última hora.

Morre o dia e o “homem justo” está para morrer. Na estreita morada, a obscuridade se torna cada vez mais densa; acende-se a lâmpada de óleo e uma luz pálida e trêmula se difunde ao derredor.

Jesus, com um olhar expressivo a Maria, parece dizer: Mamãe, aqui estamos!…

Maria, ao lado esquerdo do leito, inclina-se sobre o coração do moribundo e com um paninho enxuga-lhe delicadamente o suor e as lágrimas.

São José ampara a fronte no ombro direito de Jesus que, com a mão livre, lhe mostra o Céu.

Todos oram.

A respiração do moribundo torna-se lenta, intermitente… No quartinho parece esvoaçar algo de misterioso, de grande, de sublime… É a morte!

Jesus! Maria! – invoca, num fio de voz o moribundo.

Pai meu! Meu Esposo! – respondem ambos.

Até a vista…

Lá em cima!

Um beijo de amor e de reconhecimento filial foi o juízo que o Homem-Deus, com toda a efusão de Seu Coração, pronunciou sobre aquela alma Santa, que de seus lábios passou à eternidade.

Todas as coisas, como bem se compreende, são fruto de imaginação e conjecturas, muito verossímeis porém, e podemos considerá-las verdadeiras, concluído que a morte de São José não foi precedida de enfermidade ou qualquer doença; foi precedida unicamente pela voz do Senhor, que lhe anunciou e por um grande transporte de amor de Deus.

Vivera como justo e como justo morreu. Por isso, canta a Igreja: “Ó felicíssimo, ó beatíssimo José, a cuja última hora assistiram juntos, com sereno semblante, Jesus e Maria!”

E se Jesus Cristo chorou a morte de Seu amigo Lázaro, muito mais terá chorado a de Seu caríssimo Pai adotivo.

Diz Gérson, que Jesus mesmo lavou o corpo virginal de José e o abençoou para preservá-lo da corrupção. O corpo do Santo, que permaneceu belo e fragrante, foi envolto, com os braços cruzados sobre o peito, em um lençol branco e sepultado, como dizem São Jerônimo e o Ven. São Beda, em um lugar entre a montanha de Sião e o Jardim das Oliveiras, no mesmo túmulo em que se depositou, mais tarde, o Corpo de Maria Santíssima.

No cortejo fúnebre, foi certamente acompanhado por Jesus e Maria, pelos parentes e amigos. Jesus diante do sepulcro, diz Emmerich, abençoou novamente aquele sagrado corpo com uma bênção especial; Maria lhe deu o último adeus e depois, tristes e lacrimosos, regressaram à casa. No túmulo, o corpo de São José conservou-se incorrupto por cerca de três anos, isto é, até a morte de Jesus na Cruz.

A sua bendita alma, no entanto, apenas saída do corpo, acompanhado por grupos de Anjos, desceu ao Limbo, onde a esperavam as Almas dos Patriarcas, dos Profetas e dos justos mortos antes do Messias. E eis que, ao chegar ali a sua bem-aventurada alma, ilumina-se aquele Cárcere de expectativa com extraordinária luz, transforma-se em um antecipado Paraíso.

Já quase trinta anos antes, os Santos do Antigo Testamento, ao chegarem ali as almas dos Santos Inocentes, tinham visto os primeiros frutos da Redenção, mas agora, chegava a alma do Pai adotivo do próprio Redentor.

Que júbilo para todas aquelas almas justas; para Adão e Eva, para Moisés, para Jacó e para todos aqueles que o haviam figurado no Antigo Testamento: ver entre eles São José, dele ouvir que o Messias já se achava na terra, que com seus próprios olhos O tinha visto, conduzira-O em seus próprios braços, assistira-O desde o Nascimento até a idade em que agora se achava, isto é, quase trinta anos!

Os nossos infelizes Progenitores enxugara então as lágrimas, cessaram os suspiros dos Patriarcas, exultaram os Profetas. A alma de São José, toda radiante de alegria, de esperança e de amor no Messias já vindo, antecipou a todos os Justos do Antigo Testamento, a alegria da iminente libertação.


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Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas Manifestações Milagrosas; 1ª Parte, pp. 95-103. Edições Paulinas, Recife, 1954.


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