Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 2 de fevereiro de 2020

GLORIOSO SÃO BRÁS, BISPO E MÁRTIR, PROTETOR DOS MALES DA GARGANTA.



Brás, vem de blandus, “suave”, ou de belasíus, formado de bela, “costume”, e syor, “pequeno”. De fato, Brás foi suave em seus sermões, virtuoso em seus costumes e humilde em sua conduta.

Brás era de grande doçura e santidade, o que fez os cristãos o elegerem Bispo da cidade de Sebasta, na Capadócia. Por causa da perseguição de Diocleciano, após receber o Episcopado retirou-se para uma caverna onde passou a levar vida eremítica. Os passarinhos levavam-lhe de comer e juntavam-se em torno dele, só o deixando depois de ter sido abençoado por ele. Se algum deles estava doente, ia vê-lo e retornava perfeitamente curado.

O governador da região tinha mandado alguns guerreiros caçar, mas o esforço deles estava sendo em vão, até que por acaso passaram pela gruta de São Brás, onde encontraram grande quantidade de animais, que contudo não puderam pegar. Admirados, relataram o fato a seu senhor, que imediatamente mandou vários guerreiros com ordem de aprisionar São Brás e todos os cristãos que encontrassem. Mas naquela mesma noite Cristo apareceu ao santo três vezes, dizendo-lhe: “Levanta-te e ofereça-Me o sacrifício”. Quando os soldados chegaram e disseram: “Saia, o governador o chama”, São Brás respondeu: “Sejam bem-vindos, meus filhos, vejo que Deus não me esqueceu”. Durante o trajeto não cessou de pregar e, na presença deles, de realizar vários milagres.

Uma mulher levou até ele seu filho, que estava morrendo por causa de uma espinha entalada na garganta, e pediu-lhe em lágrimas a cura do menino. São Brás colocou as mãos sobre a cabeça dele e fez uma prece para que aquela criança, assim como todos os que pedissem o que quer que fosse em seu nome, tivesse saúde, e no mesmo instante o menino ficou curado.

Outra mulher, pobre, tinha apenas um porco, que foi roubado por um lobo, o que a levou a pedir a São Brás a restituição do animal. Sorrindo, o santo disse: “Mulher, não fique assim desconsolada, pois seu porco será devolvido”. Logo em seguida o lobo apareceu e devolveu o animal à viúva.

Chegando à cidade, Brás foi mandado para a prisão por ordem do príncipe. No dia seguinte, o governador mandou trazê-lo à sua presença. Ao vê-lo, cumprimentou-o, dirigindo-lhe palavras lisonjeiras: “Brás, amigo dos deuses, seja bem-vindo”. Brás respondeu: “Honra e alegria para você, ilustre governador, mas não chame de deuses os Demônios, porque eles serão entregues ao fogo eterno junto com aqueles que os honram”. Irritado, o governador mandou fustigá-lo e depois o enviou para a prisão. Brás disse: “Insensato, você espera com suplícios tirar do meu coração o amor ao meu Deus, que me fortalece?”.

Ora, a viúva à qual fora devolvido o porco ouviu isso, matou o animal e levou a São Brás uma vela, um pão, a cabeça e os pés do animal. Ele agradeceu, comeu e disse-lhe: “Todos os anos vá a uma igreja e ofereça uma vela em meu nome, e tudo correrá bem para você e aqueles que a imitarem”. Ela assim fez e conseguiu grande prosperidade. Depois disso o governador tirou Brás da prisão, mas como não conseguia fazê-lo honrar os deuses, mandou pendurá-lo numa árvore, rasgar sua carne com pentes de ferro e, em seguida, levá-lo de volta à prisão. Ao longo desse trajeto ele foi seguido por sete mulheres, que recolhiam gotas do seu sangue. Também elas foram presas e forçadas a sacrificar aos deuses. Então disseram: “Se vocês querem que adoremos seus deuses, mande levá-los com reverência ao lago, para que depois de lavados estejam mais limpos quando os adorarmos”. O governador ficou contente e mandou fazer o mais depressa possível o que elas pediam. Mas elas jogaram os deuses no meio do lago, dizendo: “Logo veremos se são deuses”. Ao ouvir isso, o governador ficou furioso e batendo no próprio peito disse a seus guardas: “Por que não seguraram nossos deuses para que não fossem jogados no fundo do lago?”. Eles: “Você foi enganado por estas mulheres que planejaram jogar as imagens no lago”. Elas explicaram: “O verdadeiro Deus não admite mentiras, e se aqueles realmente fossem deuses teriam previsto o que queríamos fazer com eles”.

Irado, o governador mandou preparar chumbo derretido, pentes de ferro e, de um lado, sete couraças incandescentes e, de outro, sete camisas de linho. Disse a elas que escolhessem o que preferiam. Uma delas, que tinha dois filhos pequenos, aproximou-se com audácia, pegou as camisas e jogou-as na fogueira. Os filhos disseram: “Mãe querida, não nos deixe viver sem você, e da mesma maneira que nos saciou com a doçura do seu leite, sacia-nos agora com a doçura do reino do Céu”. O governador mandou então pendurá-las e com os pentes de ferro rasgar sua carne em tiras. Carne que tinha a brancura ofuscante da neve, e em vez de sangue dela escorria leite.

Como os suplícios eram muito duros, um Anjo do Senhor foi até elas e animou-as dizendo: “Não temam, pois um operário que começa bem seu trabalho e completa sua obra, merece a bênção do amo e o salário, ficando feliz por ter cumprido seu dever”. O governador mandou então parar as torturas e jogá-las na fogueira, mas por intervenção divina o fogo apagou e elas nada sofreram. O governador ordenou-lhes: “Parem de empregar magia e adorem os deuses”. Elas replicaram: “Acabe o que começou, porque já somos chamadas ao reino celeste”. Ele sentenciou-as a ter a cabeça cortada. No momento em que iam ser decapitadas puseram-se de joelhos e adoraram a Deus, dizendo: “Ó Deus que nos tirou das trevas e nos trouxe a esta dulcíssima luz, que nos escolheu para sermos sacrificadas em sua honra, receba nossas almas e faça-nos alcançar a vida eterna”. Elas tiveram então as cabeças cortadas e passaram ao Senhor.

Depois disso o governador mandou trazer Brás à sua presença, dizendo: “Adore já nossos deuses, ou não os adorará jamais”. Brás respondeu: “Ímpio, não temo suas ameaças; faça o que quiser que entrego todo o meu corpo a você”. O governador mandou jogá-lo no lago, mas Brás fez o Sinal da Cruz sobre a água, que se solidificou imediatamente como se fosse terra seca, e disse: “Se os seus são deuses verdadeiros, mostre o poder deles e entre aqui”. Os 65 homens que se adiantaram foram imediatamente tragados pelo lago. Um Anjo do Senhor desceu e disse: “Saia, Brás, e receba a coroa que Deus preparou para você”. Quando ele saiu o governador perguntou: “Então você está determinado a não adorar os deuses?”. Brás: “Fique sabendo, miserável, que sou escravo de Cristo e não adoro os Demônios”.

No mesmo instante foi dada a ordem de decapitação. Brás pediu então ao Senhor que se alguém invocasse seu patrocínio contra dor de garganta ou qualquer outra enfermidade, fosse atendido. E uma voz do Céu respondeu-lhe, dizendo que assim seria. A seguir ele e os dois meninos foram decapitados por volta do ano do Senhor de 283.


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Fonte: Beato Jacopo de Varazze, O.P., Arcebispo de Gênova, Legenda sanctorum, vulgo historia lombardica dicta” - Legenda Áurea: Vidas de Santos, Cap. 38 – São Brás, pp. 253-255. Tradução do latim, apresentação, notas e seleção iconográfica por Hilário Franco Júnior, Companhia das Letras, Editora Schwarcz Ltda., São Paulo/SP, 2003.

Solenidade da Apresentação do Senhor no Templo e da Purificação da Sempr...

sábado, 1 de fevereiro de 2020

SOBRE A PURIFICAÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA.



PARA O DIA 2 DE FEVEREIRO


Post quam impleti sunt dies purgationis
Mariae secundum legem Moysi,
tulerunt Jerusalem,
ut sisterent eum Domino.

Depois que se completou o tempo
da Purificação de Maria,
conforme mandava a lei de Moisés,
levaram a Jesus Menino ao Templo
de Jerusalém, para O apresentar ao Senhor.”
(S. Luc. 2, 22).


Que lições as mais importantes nos dá hoje o Evangelho! Que exemplos de humildade, e sujeição às leis Divinas e humanas, nos dá Maria Santíssima na sua purificação, e na apresentação de seu Filho no templo de Jerusalém! Quantas virtudes heroicas e perfeitas nos mostra a festividade deste dia a respeito da Mãe de Deus, apresentando-se com o seu Menino Jesus para cumprir uma lei, a que não era obrigada! Oh! A nossa soberba se envergonha, o nosso amor-próprio se estremece à vista do que hoje se observa em Maria. Ela, diz o Evangelho, depois de passados os dias da sua purificação, levou com o seu amado Esposo, a Jesus ao templo de Jerusalém para O apresentar ao Senhor, seu Eterno Pai – Post quam impleti sunt dies purgationis Mariae, secundum legem Moysi, tulerent Jesum in Jerusalem, ut sisterent eum Domino.

Mas a sua prontidão e fidelidade em cumprir preceitos, que não devia, são para nós exemplos os mais excelentes e necessários para obedecermos prontamente às leis Divinas e humanas. Sim, todos nós estamos sujeitos às leis de Deus e da Santa Igreja; todos, sem alguma exceção, estamos obrigados a observá-las. Mas disto muitas vezes nos esquecemos, e até nos escusamos. A Mãe de Deus, porém, apresentando-se no templo para ser purificada, e sem ter de que, nem lei que a isto a obrigasse, nos ensina o modo como devemos proceder. A lei, a que Maria hoje se sujeita, não era feita para Ela, e contudo, se submete com a maior humildade. A lei, que hoje cumpre, era custosa na sua execução, e contudo, Ela a cumpre com a maior prontidão, e nos dá em tudo isto o exemplo, o mais raro, e que devemos seguir. É o que tenho a mostrar. – Eu principio.

Havia na lei antiga dois Preceitos, que Deus intimou a Moisés para ele os fazer observar ao seu povo, os quais porém hoje não obrigam. Um deles consta no livro do Levítico; e vem a ser, que toda a mulher que gerasse o primeiro filho, estaria depois do seu parto quarenta dias retirada em sua casa, nem iria ao templo sem se concluírem estes dias. Mas apenas estes dias terminassem, ela iria logo ao templo de Jerusalém para ser purificada, devendo levar consigo alguma oferta para a expiação de algum pecado, a qual oferta era um cordeirinho, ou um pombinho, ou rolinha, que entregaria ao Sacerdote, o qual ofereceria isto ao Senhor, e oraria por ela. E se essa mulher fosse muito pobre, daria em lugar do cordeirinho dois pombinhos, ou duas rolinhas.1
Havia também outro Preceito no livro do Êxodo, o qual mandava às mulheres apresentar os seus primeiros filhos ao Senhor no mesmo templo de Jerusalém, consagrando-os a Deus em memória do milagre que lhes tinha feito, livrando o seu povo da escravidão do Egito, matando todos os primogênitos dessa nação.2

Ora, ambos estes Preceitos cumpre exatamente Maria Santíssima. Passados os quarenta dias depois do seu parto, Ela caminha logo com o seu Menino Jesus nos braços ao templo de Jerusalém para ser purificada, e juntamente para oferecer o mesmo Filho a seu Eterno Pai, levando consigo também alguma oferta, conforme mandava a mesma lei. Mas apenas entra no templo, faz a mais humilde e fervorosa oração, e se apresenta ao Sacerdote com o seu Menino para cumprir com os sobreditos Preceitos. Aparece-lhe, porém, logo aí um santo velho, chamado Simeão, o qual por inspiração Divina conhece ser esta a Mãe de Deus, e o Menino, que leva consigo, o mesmo Deus há pouco nascido; e pegando logo nele em seus braços, exulta de prazer, dizendo: “Agora, Senhor, já morrerei alegre, porque os meus olhos viram o Salvador do mundo”.

Assim cumpriu Maria Santíssima a lei da purificação; lei, porém, a que Ela por modo nenhum era obrigada. E na verdade, que obrigação tinha de ser purificada a mais pura de todas as criaturas? Maria concebida sem a mais leve mancha de Pecado Original, puríssima desde o primeiro momento da sua existência até o fim da vida, sempre santíssima e perfeitíssima, sem cometer a mais leve culpa; Maria, que escolhida para Mãe de Deus, O concebeu no seu ventre só por obra e graça do Espírito Santo, sendo sempre Virgem antes do parto, no parto e depois do parto; que necessidade tinha de se purificar? De que havia de se limpar, se Ela era mais pura do que os mesmos Anjos? E que necessidade tinha também de oferecer ao Senhor o seu Filho, se Ele era o mesmo Senhor? Oh! Mas, contudo isto cumpre, a tudo se sujeita, porque é dotada maior humildade e obediência perfeita para observância de todas as leis, ainda daquelas que não lhe dizem respeito; e porque quer dar-nos o exemplo de sujeição às leis Divinas e humanas.

Longe de Maria todas essas necessidades fingidas, de que frequentemente nos valemos para nos dispensarmos das leis mais claras e urgentes; longe d’Ela todos esses pretextos, que tantas vezes adotamos para interpretar a nosso favor as leis mais claras; longe d’Ela, finalmente, todas as desculpas, de que nós em tantas ocasiões usamos para nos escusarmos da obediência dos Preceitos a que somos obrigados. Maria não atende a razão alguma em seu favor; Ela obedeceu prontamente à lei da purificação, e vai misturar-se com tantas mulheres pecadoras. Que todas essas, que tinham concebido por algum deleite carnal, fossem purificar-se; que todas essas, que de qualquer modo eram mais ou menos culpadas diante de Deus, fossem humilhar-se à face do altar santo, e recorressem ao Senhor por meio dos seus Sacerdotes e por meio de alguma oferta, para serem limpas das suas culpas, não admira, e até era um dever da lei, que as obrigava. Porém, que Maria Santíssima faça o mesmo que as mulheres pecadoras; que Ela, sendo bendita entre todas, mais pura do que todas, queira purificar-se; que sendo Mãe do Legislador Divino, queira sujeitar-se à lei, é isto um prodígio raro e admirável, e só próprio da mais rara humildade e da alma a mais perfeita; prodígio, porém, que deve servir-nos de exemplo e de vergonha por não imitá-La. Além disto, que todas as outras mulheres levassem os seus primeiros filhos ao templo para os consagrar ao Senhor, era também outro Preceito. Mas, que a Mãe de Deus leve o mesmo Deus em pessoa, que Ela vá oferecer e consagrar O que é Santo por essência, Sacerdote Eterno, e a mesma Vítima de expiação, é outro prodígio digno de grande admiração.

Mas para que tanta humilhação, tanta obediência, e tanta sujeição em Maria? Ah! Foi não só próprio da sua grande santidade e perfeição, mas também para exemplo do que devemos seguir na observância das leis Divinas e humanas. Mas porventura, obedecemos nós assim como Ela? Porventura, observamos nós os Preceitos graves e leves com a mesma prontidão que Ela? Quantas desculpas damos, quando não queremos obedecer à lei? Quantas dispensas forjamos na nossa vontade própria, para não cumprirmos com o que devemos? Quantos pretextos falsos tomamos para nos julgarmos livres daquilo a que somos obrigados? Oh! A nossa soberba, o nosso amor-próprio, a nossa pouca ou nenhuma virtude nos desvia dos Preceitos que nos são impostos, e nos faz vê-los de outro modo que são, para nos escusarmos da sua observância. Confundamo-nos, irmãos meus; envergonhemo-nos à vista do que Maria Santíssima observou, e do que nós fazemos.

Eu não falo só desses ímpios e libertinos, que já não tem lei, nem consciência, e que seguem livremente a sua vontade e paixão, como se não houvesse Deus, nem religião que lhes reprima os seus excessos, e que não se envergonham de não obedecer. Falo, sim, de imensos cristãos, como vós e outros, que sem chegardes a esta rebelião tão escandalosa, nem por isso deixais de ser muitas vezes violadores da lei de Deus e da Igreja; nem por isso, deixais imensas vezes de quebrar as leis Divinas e humanas; e procurais mil pretextos para encobrirdes a vossa malícia, e escusar-vos de obedecer. Que refinada maldade! Verdes leis tão claras como o sol, e não cumpri-las! Saberdes o que Deus e a sua Igreja mandam, e não observá-lo! Não terdes isenção ou privilégio, e tomá-lo! Não terdes desculpa alguma diante de Deus para não seguirdes a lei, e forjá-la sempre, e admiti-la no vosso modo de entenderdes para não obedecerdes e vos escusar de pecado! É isto na verdade grande cegueira e grande miséria.

Manda Deus no seu Primeiro Mandamento, que O ameis sobre todas as coisas; que não duvideis dos seus dogmas; que acrediteis em seus Mistérios; que não digais heresias nem blasfêmias; porque Ele não engana, nem pode enganar. E vós não O amais, e dizeis que sim; duvidais do que é certo, infalível; dizeis heresias e blasfêmias; e depois desculpai-vos, que não percebeis tantas coisas, e que por isso não acreditais. Manda Deus, que não deis crédito a essas pessoas que dizem que advinham e que benzem o ar, ou qualquer enfermidade; e que não façais semelhantes coisas, nem as consintais: e vós não obedeceis a isto, praticando todas essas ações supersticiosas, e vos desculpais que não é pecado, que é remédio para a saúde, e que até nisso se dizem palavras santas. Manda Deus no Segundo Mandamento, que não jureis em vão, nem praguejeis; nem falteis às vossas promessas, cumprindo-as com brevidade: e vós jurais falso nos tribunais e fora deles, praguejais, faltais às promessas, ou as demorais; não obedeceis a estas leis, e de mil modos interpretais estes Preceitos, e disfarçais a sua transgressão. Manda Deus no Terceiro Mandamento, que santifiqueis os seus dias: e vós não ouvis sempre Missa, ou não estais com a devida atenção; trabalhais, negociais, e diverti-vos com excessos e pecados nos Domingos e dias Santos, e sempre procurando meios de vos escusardes deste pecado.

Manda Deus no Quarto Mandamento, que cumprais exatamente com as obrigações do vosso estado, seja qual for: e vós nunca, ou quase nunca assim fazeis, e sempre vos desculpais das vossas faltas. Manda Deus no Quinto Mandamento, que vos ameis uns aos outros, ainda mesmo aos vossos inimigos, que tenhais paciência em sofrer injúrias ou qualquer adversidade, e que nunca procureis vingança, nem sequer a desejeis: e vós nada sofreis com paciência, ou vos vingais de quem vos faz mal, ou ao menos lh’o desejais; e depois desculpais os vossos ódios e agonias como vos parece. Manda Deus no Sexto Mandamento, que vivais honestamente; que sejais castos nos pensamentos, nas palavras e nas brincadeiras ou obras: mas vós a nada disto olhais; demorai-vos pensando em coisas desonestas, dizeis palavras torpes ou maliciosas, cometeis brincadeiras e obras impuras; fazeis estes excessos por muitos modos, e tudo desculpais com a vossa miséria, e por muitas outras maneiras.

Enfim, manda Deus nos demais Mandamentos, que não roubeis, que não prejudiqueis alguém, que não levanteis falsos testemunhos, que não murmureis, que não julgueis mal sem fundamento, e que não cometais nem estes, nem outros pecados: porém, vós roubais, prejudicais o próximo em muitas coisas, levantais falsos testemunhos, falais da vida alheia, julgais ou suspeitais mal sem fundamento, praticais isto e muito mais, e sempre disfarçando a vossa maldade; para tudo, a quanto faltais, procurais desculpas, ora de um modo, ora de outro.

Manda, também, a Santa Igreja, nossa Mãe, que vos confesseis ao menos uma vez cada ano; que comungueis pela Quaresma ou Páscoa da Ressurreição; que jejueis nos dias que Ela marca, nem comais carne sem licença d’Ela ou do médico; e que pagueis os direitos que Ela determina: mas, muitos de vós nem uma vez no ano vos confessareis e comungareis bem; comeis carne nos dias de abstinência, ou temperais com ela; não jejuais; não pagais o que deveis à Igreja; enfim, não cumpris com os seus Mandamentos, e sempre buscais meios de disfarçardes as vossas faltas. Em poucas palavras; para vós não há Mandamentos de Deus e de nossa cara Mãe, a Santa Igreja. Atendendo à sua explicação, que vos tenho feito nas práticas passadas, vós os quebrais imensas vezes, já por um modo, já por outro; pouco ou nada obedeceis a estes Preceitos; afastai-vos em tudo, ou quase tudo, do exemplo que nos deixou Maria Santíssima neste dia.

Ela obedecendo, e cumprindo até os Preceitos a que não era obrigada; e vós nem sequer aqueles, que vos obrigam debaixo de pecado mortal. Ela não alegando escusa alguma, o que justamente podia fazer; e vós procurando sempre mil pretextos para vos desviar das leis as mais essenciais. Para vós não há leis, nem Divinas, nem Eclesiásticas, nem civis, que vos obriguem a sua observância. Não temeis a Deus, nem as suas autoridades; as mesmas leis do Estado, que são formadas para bem da sociedade, e que Deus também manda cumprir, são para vós de nenhum valor; interpretai-as como melhor vos agrada, ou segundo a vossa paixão: dizeis muitas vezes que elas são meramente penais, que não há pecado na sua transgressão, o que nem sempre assim é; enfim, tudo em vós são desculpas para vos escusardes ao peso de todas as leis Divinas e humanas. Oh! Que espantosa relaxação! Que falta de obediência e sujeição! Que multidão de pecados mortais e veniais, e sem muitas vezes o pensardes!

Quer Deus ainda mais, e manda no seu Evangelho, que sejamos humildes, caritativos, ou esmoleres para com os pobres, mansos do coração, moderados na comida e bebida, contentes com o bem do próximo, e fervorosos ou diligentes no serviço de Deus e nas nossas obrigações: mas, vós resistis a tudo isto, fazendo muitas vezes o contrário; deixai-vos dominar da soberba, da avareza, da ira, da inveja e da preguiça; e tudo isto vos parece pouco, ou nada. Quer Deus, e manda por São Paulo, que não nos conformemos com o século estragado e corrompido; que não nos guiemos por suas máximas ou maus costumes; que fujamos dos seus divertimentos profanos: mas, vós fazeis o contrário; seguis as modas do mundo, o vaidoso luxo, os teatros, as assembleias, os bailes, o jogo, estes e outros divertimentos pecaminosos, e dizeis ainda para desculpar-vos, que é moda, que é uso ou costume, e que vos fica mal não fazer como as demais pessoas.

Diz mais o mesmo Deus no Evangelho, que ninguém pode servir a dois senhores, isto é, ao Senhor dos Céus e da terra, e ao mundo. Mas, vós quereis combinar estas duas coisas contrárias: quereis servir a Deus e ao mundo, fazer a vontade a Deus e ao mundo, o que de modo algum pode ser; e para isto procurais mil pretextos. Que qualidade de cristãos sois vós? Se vós não cumpris os Mandamentos de Deus, nem da Igreja, nem seguis o Evangelho de Jesus Cristo, mas sim as vossas vontades e o maldito mundo, que sois? Dizei-me. Oh! Envergonhai-vos; porque não sois cristãos senão no nome; sois, e sereis eternamente desgraçados. São felizes e bem-aventurados aqueles que vivem na lei do Senhor, diz o Santo Rei Davi – Reati, immaculati in via, qui ambulant in lege Domini.3 Maria Santíssima por isso é bem-aventurada. Não é bendita entre as mulheres, senão porque cumpriu exatamente todas as leis ainda as mais leves, e até aquelas a que não era obrigada, como a da purificação; e porque chegou assim a ser Mãe de Deus. São feliz muitas almas, porque cumpriram exatamente com todos os Mandamentos, e obedecem com prontidão às leis Divinas e humanas. Pelo contrário, são infelizes, e amaldiçoados de Deus e do Santo Profeta Davi, todos aqueles que se afastam dos Mandamentos do Senhor – Maledicti, qui declinant a mandatis tuis.4 Infelizes e amaldiçoados no outro mundo, e ainda neste, se acaso não se emendarem.

Os Preceitos Divinos, que tantas vezes desprezam, lhes servirão de vergonha e confusão algum dia, quando mais não seja, no dia da conta. Refere o grande Salviano, que faziam guerra os vândalos a uns povos cristãos da África, os quais não eram cristãos senão de nome, esquecendo-se totalmente da lei de Deus pelos seus perversos costumes. E sabendo disto os mesmos vândalos, fizeram entre si este discurso: “Estes povos dizem que são cristãos, mas não guardam as leis do Cristianismo, e por isso, o seu mesmo Deus nos há de ajudar a vencê-los para os castigar, levando contra eles os seus Mandamentos por estandartes”; e assim o fizeram. Escreveram em todas as suas bandeiras os Mandamentos da lei de Deus, e indo para a guerra, e desenrolando as bandeiras diante dos cristãos, estes vendo nelas escritas as leis que não cumpriam, dominados repentinamente da vergonha e de um terrível susto, perderam o ânimo, e foram destroçados e vencidos por esses bárbaros. Triunfaram as bandeiras dos Dez Mandamentos nas mãos dos inimigos do Cristianismo, porque esses maus cristãos não os guardavam como deviam.

Triunfam também ainda hoje, as bandeiras dos inimigos da Religião, porque a maior parte dos cristãos não guardam os Mandamentos de Deus e da Igreja. Para vergonha, terror e castigo, Deus permite serem vencidos e destroçados em formidáveis batalhas. Já não há leis Divinas e humanas, que se observem; por isso, não há paz, não há sossego, e os perseguidores da Religião de Jesus Cristo tem triunfado e triunfarão. Envergonhai-vos, pois, maus cristãos, porque sois a causa de tudo; enchei-vos de susto e temor. Por vossa culpa sois desgraçados, e ainda mais o sereis eternamente. Para vós não há lei senão a da vossa vontade ou das vossas paixões. Os Mandamentos de Deus e da Santa Igreja são por vós desprezados, e até os quereis acomodar às vossas perversas inclinações, ou interpretar conforme os vossos maus costumes, e com mil desculpas enganosas vos quereis muitas vezes escusar da sua observância. Mas, por isso sois perseguidos, vencidos e desgraçados nesta vida, e ainda muito mais o sereis na outra.

No tremendo dia da conta, os Demônios, vossos inimigos, triunfarão também de vós; apresentarão nas suas bandeiras os mesmos Mandamentos, que vós desprezais, para segundo eles serdes julgados: eles vos farão ver vergonhosamente, que tantas e tantas vezes os tendes desprezados; que não houve algum, o qual não quebrásseis, e que por isso deveis ser condenados. Eles mesmos vos acusarão a Deus por tantas faltas que neles tivestes. Eles dirão: “Senhor, aqui está a vossa lei e da vossa Igreja; mas estes cristãos em pouco ou nada a observaram; por isso, não merecem prêmio, merecem castigo; o Inferno deve ser o seu destino”. Sim, cristãos, com toda a verdade vos digo, que pelos Mandamentos haveis de ser de Deus julgados; e não os cumprindo, sereis condenados, e obrigados a viver eternamente nas cadeias infernais.

Mas não seja assim, irmãos meus. Imitai a Maria Santíssima, a qual neste dia nos deu exemplo de obediência e plena sujeição às leis. Não, não vos escuseis da sua observância sem grave causa, e sem consultardes um bom Confessor. Temei as contas que vos hão de ser tiradas: e arrependidos do passado, chegai-vos a Deus e a Maria, dizendo: Ó meu Deus, eu tenho vivido sempre conforme a minha vontade, e não conforma a vossa lei; as minhas paixões tem sido a regra por onde me tenho governado; e por isso, tantas vezes tenho errado e pecado: perdoai-me, porém, meu Deus; porque muito me pesa de vos ter ofendido. Eu proponho nunca mais me afastar da vossa lei, nem da vossa Igreja, minha Mãe. Mas, ajudai-me com a vossa graça, pois, sem esta nada posso. Ajudai-me, também, Maria Santíssima; confortai-me com o vosso exemplo e proteção diante do vosso Filho; porque assim eu tudo poderei e farei. Amém.




Fonte: Pe. Fr. Manoel da Madre de Deus, O.C.D., Práticas Mandamentais ou Reflexões Morais Sobre os Mandamentos da Lei de Deus e os Abusos que lhes são Opostos, Outras Práticas e Missões – Prática 3ª, pp. 500-509. 3ª Edição, Em Casa de Cruz Coutinho – Editor, Porto, 1871.



Novena da Purificação
da Santíssima e Sempre Virgem Maria5

(Começa no dia 24 de Janeiro)


1. Ó Maria Santíssima, puríssimo espelho de todas as virtudes, Vós que, sendo a mais pura de todas as virgens, quisestes, apenas terminados os quarenta dias depois do vosso parto, apresentar-Vos, segundo a lei, no templo para ser purificada; fazei, Senhora, que à vossa imitação também nós conservemos nosso coração puro de toda a culpa, e mereçamos assim ser apresentados no templo da glória. Ave Maria…

2. Ó Virgem obedientíssima, que, apresentando-Vos no templo, quisestes oferecer o costumado sacrifício, segundo o uso de todas as outras mulheres: fazei, Senhora, que também nós, a vosso exemplo, saibamos oferecer a Deus, o sacrifício de nós mesmos, pela contínua prática das virtudes. Ave Maria…

3. Ó resignadíssima Virgem, que, prevendo a dolorosa Paixão de vosso Filho, sentistes vossa alma transpassada de dor, e conhecendo a aflição de vosso Esposo, São José, por vossas angústias, com santas palavras o consolastes: transpassai a nossa alma, com uma verdadeira dor de tantos pecados, pela qual possamos ter a consolação de participar da vossa glória no Paraíso. Ave Maria…

V. Revelou o Espírito Santo a Simeão.
R. Que não veria a morte, sem ter visto o Cristo do Senhor.

Oremos: Onipotente e eterno Deus, imploramos da vossa Majestade, que assim como o vosso Unigênito Filho foi apresentado no templo, depois de ter tomado a substância da nossa carne, do mesmo modo façais, que sejamos levados à vossa Presença com as almas puras de todo o pecado. Pelo mesmo Cristo Senhor Nosso.

R. Amém.


_____________________

1.  Lev. 12.

2.  Êx. 13.

3.  Psal. 18.

4.  Psal. 18.

5.  Manual dos Congregados Marianos, 4ª Parte, Cap. “Orações e Novenas”, pp. 218-219. Edição Oficial organizada pela Confederação Nacional das Congregações Marianas do Brasil, Agregada à Prima Primária do Colégio Romano; Editora “Vozes”, Petrópolis/RJ, 1938.

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