Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 21 de janeiro de 2023

SANTA INÊS, VIRGEM E MÁRTIR.


Inês [Agnes] vem de agnus, “cordeiro”, porque ela foi doce e humilde como um cordeiro. Ou vem do grego agnos, “piedoso”, pois foi cheia de piedade e de misericórdia. Ou vem de agnoscendo, “conhecendo”, porque conheceu o caminho da verdade. Segundo Agostinho, a verdade opõe-se à vaidade, à falsidade e à irresolução, três vícios que por sua virtude Inês soube evitar.

1. Inês, virgem de elevadíssima prudência, com a idade de treze anos sofreu a morte e ganhou a vida, segundo testemunho de Ambrósio, que escreveu seu martírio. Contando-se apenas seus anos, era uma criança, mas madura de espírito; de corpo era jovem, mas de alma era velha; de rosto era bela, porém, mais bela ainda por sua fé.

Um dia, ao voltar da escola, encontrou o filho do prefeito, que ficou apaixonado por ela. Ele prometeu pedrarias e riquezas imensas se casasse com ele. Inês respondeu-lhe: Afaste-se de mim, lar de pecado, alimento de crime, pasto de morte, pois já estou prometida a outro amado”. E começou a fazer o elogio desse amante, desse esposo, que tinha as cinco qualidades exigidas pelas esposas: nobreza de raça, beleza deslumbrante, abundância de riquezas, coragem e força, amor verdadeiro. E explicou:



Amo alguém que é muito mais nobre e de melhor linhagem que você. A Mãe d’Ele é Virgem, seu Pai gerou-O sem mulher, tem Anjos por servidores, Sua beleza é admirada pelo sol e pela lua, Suas riquezas nunca diminuem, são inesgotáveis. As emanações de Sua Pessoa ressuscitam os mortos, Seu toque fortalece os enfermos. Quando O amo, sou casta, quando me aproximo d’Ele, sou pura, quando O abraço, sou virgem. Diga-me, você conhece alguém de generosidade mais eminente, de força mais forte, de aspecto mais belo, de amor mais suave e mais cheio de graça?



Em seguida, ela descreveu os cinco benefícios que seu Esposo concedia a ela e a Suas outras esposas: Ele se compromete com o anel da fé, veste-as e enfeita-as com uma variedade infinita de virtudes, marca-as com o Sangue da sua Paixão, prende-as pelo laço do amor e enriquece-as com tesouros da glória celeste. E acrescentou: “Aquele que se comprometeu comigo pelo anel que pôs em minha mão direita, rodeou meu pescoço de pedras preciosas, vestiu-me com um manto tecido de ouro, adornou-me com prodigiosa quantidade de joias, imprimiu um sinal em meu rosto para que eu não tome nenhum outro amante que não Ele, embelezou meu rosto com o seu Sangue. Seus castos abraços já me estreitaram, seu Corpo já se uniu ao meu, Ele me mostrou tesouros incomparáveis que prometeu me dar se eu Lhe for fiel para sempre”.

Ao ouvir isso o rapaz ficou fora de si, adoeceu de amor, passou a soltar longos suspiros. Seu pai fez a jovem virgem ficar sabendo disso e ao ouvi-la garantir que não podia violar a aliança jurada a seu primeiro Esposo, o prefeito procurou saber quem era esse Esposo que Inês se gabava de ter. Alguém lhe assegurou que o Esposo de que ela falava era Cristo, e então o prefeito quis dissuadi-la, primeiro por doces palavras, depois pelo temor. Então Inês disse: “O que você quiser fazer, faça, mas não poderá conseguir o que exige”. E ria tanto de suas lisonjas quanto de suas ameaças. O prefeito disse-lhe: “Escolha entre duas coisas, se sua virgindade lhe é cara, sacrifique à deusa Vesta1 e junte-se às suas virgens, ou então assuma o ofício de meretriz”. Ora, como Inês era nobre, ele não podia condená-la assim, por isso, alegou contra ela sua qualidade de cristã. Mas Inês respondeu: “Não sacrificarei aos seus deuses, como tampouco serei maculada pelas ações infames de quem quer que seja, porque tenho como guardião de meu corpo um Anjo do Senhor”.



O prefeito ordenou então que a despissem e a levassem nua ao lupanar.2 Mas o Senhor tornou seus cabelos tão espessos que ela ficou mais coberta por eles do que por sua roupa. E quando entrou naquele lugar infame, encontrou um Anjo do Senhor que a esperava e que encheu o quarto de uma claridade extraordinária, ao mesmo tempo que a cobria com uma túnica de resplandecente brancura. O lugar de prostituição tornou-se assim um lugar de oração, e todo homem saía de lá mais puro do que entrava, graças a essa luz imensa que revestia a todos. Ora, o filho do prefeito foi ao lupanar com outros jovens e instou-os a entrar primeiro. Mal lá puseram os pés, saíram cheios de compunção, assustados com o milagre. Ele os chamou de miseráveis e entrou furioso, mas quando quis se aproximar de Inês, a luz precipitou-se sobre ele, e como não tinha prestado homenagem a Deus, foi estrangulado pelo Diabo e expirou.



Diante desta notícia, o prefeito foi em prantos encontrar Inês e colher informações precisas sobre a causa da morte de seu filho. Inês disse: “Aquele cujas vontades ele queria executar apossou-se dele e o matou, enquanto seus companheiros, impressionados pelo milagre que viram, saíram sem sentir mal algum”. Disse o prefeito: “Saberemos que você não usou de artes mágicas se puder ressuscitá-lo”. Inês pôs-se a orar, o rapaz ressuscitou e pregou publicamente a fé em Cristo. Em razão disso, os sacerdotes dos templos excitavam o povo gritando: Levem essa maga, levem essa malfeitora que transforma os espíritos e perde os corações”. O prefeito, tendo visto aquele milagre, quis libertá-la, mas temendo a proscrição confiou-a a seu suplente e retirou-se triste por não poder salvá-la. O suplente, que se chamava Aspásio, mandou jogá-la numa grande fogueira, mas a chama, dividindo-se em duas, queimou o povo que estava em volta, sem atingir Inês. Aspásio mandou então enfiar uma espada na garganta dela. Foi assim que Cristo, seu Esposo fulgurante de brancura e de vermelhidão, sagrou-a Sua esposa e Sua Mártir. Crê-se que ela sofreu no tempo de Constantino, o Grande, que subiu ao trono no ano 309 do Senhor. Enquanto os cristãos e seus pais prestavam-lhe a última homenagem com alegria, os pagãos cobriam-nos de pedradas.



2. Emerenciana, sua irmã de leite, virgem cheia de santidade apesar de ainda catecúmena, estava ao lado do sepulcro de Inês debatendo com energia com os gentios, quando foi lapidada por eles. Imediatamente ocorreu um terremoto, surgiram relâmpagos e raios que mataram muitos pagãos. Os sobreviventes deixaram de incomodar os cristãos que queriam ir até o túmulo da virgem. O corpo de Emerenciana foi inumado ao lado do de Santa Inês. Oito dias depois, quando seus pais velavam junto ao túmulo, viram um coro de virgens em brilhantes trajes dourados, e no meio delas reconheceram a Bem-aventurada Inês, também ricamente vestida, e à sua direita encontrava-se um Cordeiro mais deslumbrante ainda. Ela lhes disse: “Não chorem minha sorte, ao contrário, rejubilem-se comigo e felicitem-me por eu ocupar um trono de luz com todas as que aqui estão”. Em lembrança dessa aparição, é que há uma segunda festa de Santa Inês.

3. Constância, filha de Constantino, estava coberta por uma lepra pavorosa, e quando soube dessa aparição foi ao túmulo de Inês, onde após ter rezado por muito tempo e adormecido, viu a Beata, que lhe disse: “Constância, age com constância, logo que você acreditar em Cristo será curada”. A essas palavras ela acordou, encontrando-se perfeitamente sadia. Recebeu então o Batismo e ergueu uma basílica sobre o corpo de Santa Inês, onde viveu na virgindade e reuniu à sua volta uma multidão de virgens que seguiram seu exemplo.



4. Um homem chamado Paulino, que exercia as funções do Sacerdócio na igreja de Santa Inês, experimentou certa vez violentas tentações da carne. Como não queria ofender a Deus, pediu ao Soberano Pontífice permissão para se casar. Vendo o Papa sua bondade e sua simplicidade, deu-lhe um anel no qual estava engastada uma esmeralda e ordenou-lhe que, em seu nome, pedisse a uma imagem da Bem-aventurada Inês pintada em sua igreja, permissão para desposá-la. Quando o Padre dirigia seu pedido à imagem, esta lhe estendeu o dedo anular e após receber o anel retirou a mão e livrou o Padre de suas tentações. Diz-se que o anel ainda continua no dedo da imagem. Mas em alguns textos há uma versão diferente deste episódio. Segundo ela, a igreja da Bem-aventurada Inês estava em ruínas, e o Papa disse a um Padre que queria lhe confiar uma esposa que ele deveria alimentar e da qual deveria cuidar. Para tanto entregou-lhe seu anel e ordenou-lhe que desposasse a imagem de Santa Inês, que de fato estendeu sua mão para receber o anel, confirmando assim o Casamento entre a imagem e o Padre encarregado de restaurar a igreja na qual se encontrava aquela imagem.

Eis o que diz Ambrósio daquela virgem em seu livro A Virgindade.3



Anciãos, rapazes, crianças, cantem todos loas a ela. Ninguém é mais louvável do que Aquele que pode ser louvado por todos. Tantas são as pessoas, tantos são seus panegiristas. Todos exaltam essa Mártir. Admirem todos como ela foi capaz de prestar testemunho de Deus quando ainda não podia ser senhora de si em razão de sua idade. Ela comportou-se de maneira a receber de Deus o que um homem não lhe teria confiado, porque o que está acima da natureza é obra do Autor da natureza. Com ela começou um novo gênero de martírio, pois ainda não estava preparada para o sofrimento e já estava madura para o triunfo. Ela mal podia combater e já era digna da coroa da vitória. Não estava na idade do juízo mas era mestra em virtude. Nenhuma esposa teria dirigido seus passos para o leito do Esposo da maneira como fez essa virgem, que se apresentou para o suplício feliz.



O mesmo Ambrósio diz: “Ao desprezar as vantagens de um nascimento ilustre, a Bem-aventurada Inês mereceu os esplendores do Céu; ao menosprezar o que é objeto do desejo dos homens, casou-se com o Rei Eterno; ao receber uma morte preciosa por aceitar Cristo, mereceu unir-se a Ele”.


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Fonte: Beato Jacopo de Varazze, Dominicano, Arcebispo de Gênova, “Legenda Áurea – Vidas de Santos”, Cap. 24 (Santa Inês), pp. 183-187. Tradução do latim por Hilário Franco Júnior, Companhia das Letras, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, 2003.

1.  Deusa de culto muito antigo, que parece ter sido introduzido em Roma já na época do fundador da cidade. Rômulo divindade do fogo doméstico, ela era considerada a mais casta das deusas, servida por sacerdotisas obrigatoriamente virgens, as vestais.

2.  Prostíbulo.

3.  Existe uma edição brasileira desta obra A Virgindade, trad. Monjas Beneditinas da Abadia de Santa Maria, Petrópolis, Vozes, 1980 (Os Padres da Igreja, vol. 2). A passagem aqui resumida por Jacopo de Varazze está no capítulo 2, pp. 32-34, dessa edição. Ambrósio com 43 referências nominais é o quinto autor mais citado por Jacopo de Varazze.


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