Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 30 de maio de 2020

COMO NOS DEVEMOS APROVEITAR DAS DOENÇAS, PARA O NOSSO ADIANTAMENTO ESPIRITUAL.



Quando tudo nos sorri no mundo, ligamo-nos a ele com facilidade, o enleio é muito poderoso e o encanto muito forte. Se Deus nos ama, crede que não consentirá que durmamos a nosso gosto neste lugar de exílio. Perturba-nos os nossos divertimentos vãos; interrompe o curso das nossas felicidades imaginárias, com receio de que nos deixemos arrastar pelos rios da Babilônia, isto é, pela torrente dos prazeres que passam. Crede com certeza, ó filhos da Nova Aliança, que quando Deus vos envia aflições, é para quebrar os laços que vos uniram ao mundo e para conduzir-vos à vossa pátria”.1


1. Mas, dir-me-eis vós, não posso meditar nos trabalhos que Nosso Senhor sofreu por nós, quando as dores me atormentam. Pois bem; não é preciso que o façais; mas que eleveis o mais que puderdes o vosso coração a este Salvador e que façais os seguintes atos:

1.º Aceitar essa dor, da Sua mão, como se O vísseis impô-la e insinuá-la em vós;

2.º Oferecendo-vos para ainda sofrer mais;

3.º Pedindo-Lhe, pelo mérito dos Seus tormentos, que aceite esses pequenos incômodos em união com as penas que sofreu na Cruz;

4.º Protestando que querereis não só sofrer, mas amar e estimar os vossos males como enviados por uma tão doce mão;

5.º Invocando os Mártires e tantos Servos e Servas de Deus, que gozam no Céu, por terem sido afligidos neste mundo.

Há muitas pessoas que estando doentes ou aflitas, seja pelo que for, não se queixam, nem se fazem delicadas, porque pensam com razão que isso seria uma fraqueza e covardia! Mas ao mesmo tempo desejam ardentemente que todos as lamentem e tenham delas grande dó e as consideram não só como aflitas, mas como pacientes e corajosas.

Ora, eu confesso-o; isto é paciência: mas uma paciência falsa, que afinal de contas, não passa de uma ambição fina e delicada e de uma vaidade sutil. Elas têm glória, diz o Apóstolo, mas não aos olhos de Deus. O verdadeiro paciente não se lamenta dos seus males, nem deseja que os outros os lamentem; fala com simplicidade, verdadeira e simplesmente, sem se lamentar, sem se irritar, sem se fingir mais doente do que está. Se o lamentam, sofre com paciência que o lamentem, a menos que o não lamentem de algum mal que não tem, porque então declara modestamente que não tem essa modéstia, e fica assim calmo, entre a verdade e a paciência narrando a sua enfermidade sem se queixar.

São Damião de Veuster (Molokai)


2. Nenhum perigo há em desejarmos o remédio; pelo contrário, convém procurá-lo com cuidado; porque Deus, que nos deu o mal, é também o Autor dos remédios.

É permitido dizer com S. Paulo: ‘Desejo estar separado, isto é, morrer, e estar com Jesus Cristo’. Mas não convém procurar a doença nem rejeitar os remédios”.2

Convém pois aplicá-los contudo com tal resignação que, se a Divina Majestade quer que a doença vença os remédios, acedei a isso; se quer que o remédio produza efeito, bendizei-O também.

Quanto aos motivos para conservardes a saúde, além do da obediência para que nos livre de todo o cuidado, deveis considerar o vosso corpo como templo do Espírito Santo, que vos é dado a guardar, e que não sendo vosso, tendes de dar conta dele ao seu Senhor. Fareis o mesmo que se tivésseis a responder por uma capela que caísse em ruínas e tivésseis obrigação de reparar. Além disso, o vosso corpo é membro de Jesus Cristo; cuidai pois dele como se Nosso Senhor se lamentasse do mau trato que de vós recebesse. Tratai-o ainda como de uma terceira pessoa, para quem usásseis de caridade. E lembrai-vos que como filho de Deus Pai sois da sua família, e Ele quer que Ela se conserve e mantenha. A nossa vida pertence-lhe; adquiriu-a pelo Sangue do seu Filho: tem direitos sobre ela e quer que a conservemos para dela usarmos em seu serviço”.3

Quanto sereis felizes se continuardes a estar debaixo do jugo de Deus, humilde, doce e simplesmente! Ah! Eu espero que as vossas dores aproveitem muito ao vosso coração.

É agora que mais do que nunca podereis dizer ao vosso doce Salvador com todo o afeto e devoção: “Viva Jesus! Viva Jesus! E reine sempre entre as nossas dores, visto que nós não podemos reinar nem viver pela Sua morte”.

Esperai pois Nele; e para esperardes Nele, pertencei-Lhe sempre. Imolai muitas vezes o vosso coração ao Seu amor no altar da Cruz, no qual imolou o Seu por amor de vós. A cruz é a porta real para entrar no templo da santidade. Procurando-se por outra porta, não se encontrará.

Se a inveja pudesse reinar no reino do eterno amor, os Anjos invejariam aos homens duas excelências que consistem em dois sofrimentos; uma, é que Nosso Senhor sofreu na Cruz por nós e não por eles, pelo menos tão inteiramente; a outra, é que os homens sofrem por Nosso Senhor; o sofrimento de Deus pelo homem e o sofrimento do homem por Deus.

A perfeição não consiste na consolação, mas na submissão de nossa vontade a Deus, sobretudo nas amarguras. Enfim, lembremo-nos de que a obediência de Jesus Cristo se tornou perfeita quando a sua língua e boca se abrasaram com o fel e vinagre, que lhe aumentou a sede cruel que O devorava e então lembrar-nos-emos de que devemos estimar mais a aridez e desolação de uma alma submissa do que a amorosa languidez e o encanto delicioso da devoção.

E, recordando-me desta cruz exterior que trazeis sobre o coração dir-vos-ei: “Amai a vossa cruz, porque é de ouro se a considerardes com olhos de amor; e embora vejais de uma parte o amor do vosso coração morto e crucificado entre cravos e espinhos, achareis de outra uma multidão de pedras preciosas para compor a coroa da glória que vos espera, se durante a vida levarmos amorosamente a de espinhos com o vosso Rei, que tanto quis sofrer para entrar na Sua felicidade”.

S. João Damasceno ensina que, o Filho de Deus pela sua Encarnação deixou todos os bens da vida e todos os males pela Sua Paixão; e que em certo modo os uniu hipostaticamente à Sua Divindade; de sorte que, assim como, nós veneramos tudo o que tocou no Corpo de Jesus Cristo, devemos venerar todos os males, seja de que natureza forem, por entrarem todos em Seu Coração e nenhum deixar de tocar o Seu Sagrado Corpo, ou deixar de ser abraçado pelos desejos de Sua Santa Alma. É pensando nisto, que Santo Anselmo dizia que “adorava todos os males desta vida como Sacramentos”. Os Sacramentos produzem a graça nos que os recebem e a cruz santifica todos os que a tocam: e como o Filho de Deus está sempre presente na Eucaristia, também podemos dizer que está presente em nossas aflições. Daqui nasceram as palavras cheias de fé e amor de um religioso prostrado aos pés de um enfermo: “Adoro a Jesus Cristo neste corpo enfermo; a minha fé mostra-o de uma maneira menos real, mas mais sensível do que na hóstia consagrada. Vejo-o aí presente, mas com uma presença de ação; não só de um médico com o doente, de um pai com um filho, de um amigo com seu amigo; mas como a alma com o corpo que anima, com a cabeça e com os seus membros”.

Santa Ludovina de Schiedam


3. O nosso querido Jesus crucificado seja sempre um ramalhete para o vosso peito, porque os seus cravos são mais desejáveis do que as flores, e os espinhos do que as rosas, Deus meu! Desejo que sejais santa e embalsamada com os aromas deste Salvador.

O Pater que vós preferis pelas vossas dores não é proibido; mas, oh! Meus Deus! Não me atreverei a pedir a Nosso Senhor pelas dores que sofreu em Sua sacrossanta Cabeça que me passem as minhas. Ah! Ele sofreu para que nós não sofrêssemos! Santa Catarina de Sena, vendo que o seu Salvador lhe apresentava duas coroas, uma de ouro, e outra de espinhos: “Oh!, disse ela, quero a coroa de dor para este mundo e a de ouro para o Céu”. Quereria empregar a coroação de Nosso Senhor para obter uma coroa de paciência em volta da minha cabeça.

Vivei entre os espinhos da coroa do Salvador e dizei sempre: “Viva Jesus!” Esta carne é admirável em não querer nada de picante, mas a repugnância que sentis não prova falta de amor, porque como julgo, se crêssemos que dilacerando-nos Ele nos amaria mais, dilacerar-nos-íamos, não sem repugnância, mas apesar de repugnância.

Não digais que quereis recobrar a saúde para amar e servir a Deus melhor, porque é pelo contrário, para servir o vosso gosto, que estimais mais do que o gosto de Deus.

A vontade de Deus está quase sempre melhor na doença do que na saúde. Se amamos mais a saúde, não digamos que é para amarmos e servirmos a Deus melhor: porque quem não vê que é a saúde que nós buscamos na vontade de Deus, e não na vontade de Deus a saúde?

Pobres e miseráveis criaturas, nenhum bem podemos fazer neste mundo senão sofrer alguma adversidade. Raras vezes servimos a Deus por uma parte, que não O desgostemos por outra. Se por uma ação procuramos unirmos a Ele, muitas vezes dEle nos separamos pelas más circunstâncias de que essa ação está revestida. É por isso, que convém deixá-lO nas Suas doçuras, e servi-lO humildemente nas Suas dores.

Tereza Neuman


4. Convém obrar com Nosso Senhor, servindo-O humildemente, quando temos saúde, e sofremos com Nosso Senhor, suportando com paciência as dores e as aflições quando Ele no-las envia.

Isto posto Teótimo, julgai se deveis chorar o tempo em que estivestes ralado pelo sofrimento, pois que em um só destes momentos podeis adquirir uma coroa de glória imortal. Quantas coroas em uma hora! Quantas em um dia! Quantas em um mês! Quantas em um ano! Estimaria mais um só destes dias, dizia um religioso, do que todos os trabalhos dos conquistadores”. Quando se pensa na grande eternidade, na qual nada sofreremos, onde nada poderemos dar a Deus, e onde Deus nos encherá de dons, todas as misérias desta vida parecerão muito amáveis e não há um momento que não seja momento de humilhação e cruz. Como é pois precioso o tempo desta vida e como é santa a obra, que se une à pena e amargura!

O verdadeiro tempo de expiar os nossos pecados e de experimentar a graça do perdão, é o da doença, enquanto este espinho nos atormenta e trespassa, quando a mão de Deus pesa sobre nós e que Ele próprio nos impõe a penitência segundo a Sua infinita misericórdia.

Santa Catarina de Sena


5. O coração que se une ao coração de Deus, não pode deixar de amar e aceitar suavemente os golpes que a mão de Deus descarrega sobre ele. Santa Blandina não encontrava alívio melhor para as feridas do seu Martírio do que a cogitação suave que exprimia, suspirando estas três palavras: “Eu sou cristã”. Bem-aventurado o coração que sabe empregar bem este suspiro!

O único remédio para a maior parte das nossas doenças espirituais e corporais, é a paciência e conformidade com a vontade de Deus, resignando-nos ao Seu gosto, sem exceção nem reserva, na saúde, na doença, no desprezo, na honra, na consolação, na desolação, no tempo e na eternidade, aceitando de bom grado de Sua amabilíssima mão, todos os trabalhos do corpo e do espírito, como se a víssemos presente, oferecendo-nos para ainda sofrermos mais se lhe agradar. Não podemos dizer quanto uma tal resignação e aceitação da vontade de Deus torna os nossos sofrimentos puros e meritórios, quando recebemos com doçura, paciência e amor o mel que nos faz sofrer, considerando que Deus o quis desde toda a eternidade para Lhe comprazermos e obedecer à Sua Providência. Logo que apareça o agrado de Deus, devemos logo sujeitar-nos a ele.

Sabeis que o fogo que Moisés viu sobre a montanha representava este Santo amor, e que, como as suas chamas se alimentavam entre espinhos, assim o exercício do amor sagrado, alimenta-se muito melhor entre as tribulações, do que entre as alegrias.

Que tem a esperar um soldado a quem o seu capitão não quer experimentar, mas, pelo contrário, quando o exercita nas empresas laboriosas, dá-lhe assunto para esperar. Oh! Piedade delicada que nunca experimentou aflições, piedade nutrida à sombra e no repouso! Ouço-te discorrer a respeito da eternidade, pretendes a coroa da mortalidade, mas não deves inverter a ordem do Apóstolo: “A paciência produz a prova, e a prova produz a esperança”. Se pois esperas a glória de Deus, submete-se às provas que Deus propôs aos servos. Eis uma tempestade que se levanta, eis uma perda de bens, um insulto, uma contrariedade, uma doença; que, pois, tu murmuras, pobre piedade desconcertada! Não te podes sustentar, piedade sem fundamento? Tu nunca merecestes o nome de piedade cristã; eras só um simulacro vão; eras um ouropel que brilha ao sol, mas que não resiste ao fogo e que se desvanece no cadinho; és própria para enganar os homens por uma aparência vã; mas não és digna de Deus, nem da pureza do século futuro.4

Tendes pois ocasião de conhecer que Nosso Senhor deseja que aproveiteis em Seu amor, por vos dar uma saúde vacilante e muitos outros exercícios. Oh! Meu Deus! Como é doce ver a Nosso Senhor coroado de espinhos na Cruz, e de glória no Céu! Porque isto anima-nos a recebermos amorosamente as contradições, sabendo que pela coroa de espinhos chegaremos à coroa de felicidade. Uni-vos sempre estreitamente a Nosso Senhor, e todos os males se reverterão em bens.

Santa Maria Madalena de Pazzi


6. Contemplai muitas vezes com os olhos interiores da alma a Jesus Cristo crucificado, blasfemado, caluniado, abandonado, cheio de tristeza, esfalfado de trabalhos; e lembrai-vos de que todos os vossos sofrimentos nada são comparados aos Seus, nem em qualidade, nem em quantidade, e que nunca sofrereis nada por Ele em comparação com o que por vós sofreu.

Considerai as penas que os Mártires outrora sofreram e as que tantas pessoas ainda hoje sofrem, maiores sem comparação do que as que vos afligem, e dizei: “Ah! Os meus trabalhos são consoladores, e as minhas penas rosas, se me comparo com os que sem socorro, assistência, nem alívio algum, vivem em uma morte contínua, ralados de aflições mil vezes maiores do que as minhas!”

Não pensamos na morte quando temos saúde, e vós estais obrigado a não pensar na vida. Evita-se a Cruz de Jesus Cristo, e é Ele mesmo que ali Vos coloca; não queremos sofrer; queremos ser justos sem paciência e nem virtude, e Nosso Senhor, que Vos ama mais do que vós mesmos, se ocupa até o fim em purificar-vos, ao passo que abandona os outros.

Oh! Como sois felizes em terdes que sofrer alguma coisa por Nosso Senhor, que tendo fundado a Igreja militante e triunfante na Cruz, favorece sempre os que a levam! Visto não terdes que ficar neste mundo; bom é que o tempo que nele estiverdes consagreis ao sofrimento.

Se eu tivesse alguma coisa a desejar, seria que a minha morte fosse precedida de uma doença prolongada; porque por este meio esfriaria o afeto dos meus amigos e não teriam tanto cuidado em me visitarem. O cuidado dos meus criados cansar-se-ia também a pouco, e receberiam alívio com a minha morte.




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Fonte: “Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales”, extraídos dos seus escritos e coordenados segundo notas dos Mestres da Vida Espirituais, pelo Pe. P. Huguet, S. M., Liv. III, Cap. II, pp. 230-239. Versão Portuguesa, Livraria Salesiana Editora, São Paulo/SP, 1946.

1.  Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, na França.

2.  Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, na França.

3.  J. J. Olier.

4.  Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, na França.

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