Muito se tem discutido sobre a modéstia
feminina, frisando, sobretudo, que tipo de traje seria adequado ou não
para uma mulher católica. A resposta tem se tornado cada vez mais clara,
pois surgem traduções importantes de declarações papais, textos
relevantes de grandes santos e teólogos, que vão dando precisão aos
argumentos em favor da moralização das vestes femininas.
Vê-se, com grande entusiasmo e esperança
cristã, reerguer-se a dignidade da mulher católica. É nesse momento de
robustecimento da fé católica, com essa bela reação contra as roupas
imorais para as mulheres, que nos aparece nova questão: e para os homens, existe a virtude da modéstia no vestir? E quais seriam as regras a se seguir?
Para responder a estas perguntas é preciso ter claro o fato
da diferença psicológica de homens e mulheres, e ter isto em mente
significa perceber que existem maneiras específicas de olhar o mundo e o
que nele existe que são muito próprias para cada sexo.
Disso decorre que a modéstia deve ser
observada por ambos de maneira condizente à sua própria natureza. O
homem, assim como a mulher, deve seguir as regras do pudor, da castidade
e da higiene, e, além disso, deve ter sempre presente qual é o seu
papel e missão na Criação.
O homem é uma das “duas expressões diversas da natureza humana”1;
e se existem essas duas expressões, elas não podem ser iguais, pois se
fosse assim não seriam duas, portanto devem diferenciar-se em pelo menos alguns aspectos,
tendo características inerentes que as tornem únicas, mas ao mesmo
tempo complementares – já que formam uma mesma natureza humana.
Para a mulher, podemos, olhando para o
exemplo da mulher por excelência, a Virgem Santíssima, recolher traços
particulares do seu modo de ser, que seria: humildade, meditação,
silêncio, submissão, delicadeza; é, acima de tudo, a força espiritual –
como retratou a historiadora Gertud Von Le Fort: a mulher representa a
força invisível que move o mundo.
Já para o homem podemos tomar como
exemplo o chefe da Sagrada Família, São José, que na ladainha composta
em sua homenagem é saudado como casto guarda da Virgem, sustentador do Filho de Deus, zeloso defensor de Jesus Cristo, fortíssimo, modelo dos operários, sustentáculo das famílias e protetor da Santa Igreja.
Notem que não se trata de dizer que
essas virtudes são somente masculinas ou femininas, pois se poderia
objetar que determinadas mulheres se sobressaíram na história exatamente
pela firmeza, como foi o caso de Santa Joana D’arc, ou que alguns
homens se santificaram exatamente pela submissão e certa docilidade.
Quanto a isto não haja dúvida: não se trata de dizer que existem
vias exclusivas de santificação para homens e mulheres, mas de fazer
nota da existência de atitudes peculiares, enquanto homens e mulheres em
geral.
Antes que sejamos capazes de refletir
mais sobre as roupas mais adequadas para o homem vestir, temos que
definir como se encontra a moda masculina como um todo. Quanto à moda
feminina não temos dúvida do seu estado atual, Já para a moda masculina
prevalece uma atual presença da cultura relativista na forma como os
homens, em geral, se vestem.
Talvez não seja tão claro para um homem
ter noção disto – se ele não prestar atenção no que foi sendo
incorporado ao seu guarda-roupa: camisetas, regatas (comumente de número
abaixo ao que ele deveria estar usando), cores femininas, estampas
(anjos, dragões, mulheres, “tribais”, números aleatórios, frases sem
sentido…), florais, colares, pulseiras, cintos estilizados (prateados,
rebites, etc.), anéis, calças justas ou de estampas duvidosas, e por aí
adiante..
Dentre os vários pontos relevantes, destacamos:
1 – De acordo com certa ideologia
corrente nos nossos dias, “ninguém nasce homem ou mulher”, mas sua
identidade é construída na vida em sociedade, e essa identidade seria
supostamente arbitrária. Estas pessoas pretendem dizer que não existe diferença ontológica alguma entre homens e mulheres, mas que tudo é construção;
2 – Esta mesma ideologia, por ser
desconstrucionista – e por isso mesmo destrutiva de toda ordem natural
-, postula que estas mesmas identidades não podem ser classificadas
apenas como identidades de mulher ou de homem: há uma multiplicidade de
identidades de “gênero” – as quais definem como: gay, lésbica,
transexual, travesti, etc.; completam dizendo que nenhuma destas
identidades são fixas, mas que as pessoas transitam, durante a vida, por
várias delas;
3 – É este tipo de ideologia que está sendo utilizado para eliminar as diferenças sexuais estabelecidas e queridas por Deus- todos
os aspectos da psicologia humana e todos os âmbitos da sociedade são
atingidos quando este tipo de pensamento se alastra. Quando isto
acontece, tudo aquilo que é produzido nesta sociedade está contaminado
por tal concepção, de modo que desde a propaganda de eletrodomésticos,
passando pela moda, e principalmente pela forma que as pessoas se
relacionam entre si, apresentam resultados do esforço ideológico
destrutivo.
Todo este pensamento, no entanto, pode ser definido em uma palavra: igualitarismo. Tendência de tudo igualar, de abolir as diferenças – principalmente aquelas queridas por Deus: Quer
abolir as diferenças entre os sexos, as idades, as culturas e
transformar tudo numa massa uniforme, onde ninguém é mais ou menos que
ninguém, todos valem o mesmo.
Na moda masculina, a tendência
igualitária procurou o mesmo caminho descrito acima para alcançar o seu
fim último, que neste caso vem a ser a abolição da diferença entre os
sexos. Desde a sua primeira intervenção na moda, o igualitarismo já
tinha em si o poder de confundir os sexos, de destruir toda a
indumentária que deixasse marcada a diferença existente entre o homem e a
mulher.
Moda unissex não se trata somente de uma
mesma peça que pode ser usada por homens e mulheres (uma camiseta
branca que você compra e pode presentear tanto a João quanto a Maria),
mas o fato de que quase toda espécie de vestimenta hoje é produzida para
ambos os sexos. Exemplos: a camisa pólo masculina e feminina, a calça, a
jaqueta, o colete, a camisa social, o terno, a bermuda, e por aí vai. E
o que diferencia estas peças é algo muito tênue, é certa tendência para
cores ou estampas (fato que tende a diminuir a cada ano), é uma mudança
mínima no corte.
Se por um lado o fato de que as mulheres
incorporaram o uniforme de trabalho (a camisa masculinizada e as
calças) no seu guarda-roupa contribuiu para o igualitarismo, o caminho
oposto – ou seja, o homem incorporar indumentárias femininas -, estava
facilmente definido e fadado a acontecer. Este caminho se encontrava na
maneira como os homossexuais se vestiam, pois eles já usavam roupas e
acessórios efeminados. O caminho mais fácil não era ligar este homem à
moda de sua esposa, mas estender a cultura relativista para todos os
homens. E esta cultura, de fato, fez duras investidas contra as vestes
masculinas.
Este igualitarismo (5) é o primeiro mal
do qual o homem católico deve fugir ao escolher que roupa irá usar. E
para isso, é necessário que ele reconheça sua dignidade como filho de
Deus, cuja missão é, antes que qualquer outra, refletir a paternidade divina.
Numa época cuja nobreza da vocação
paterna e materna é colocada permanentemente em dúvida e
ridicularizada(6), sendo utilizado para isto também a moda, significa
que passou da hora de uma reforma moral. Esta reforma começa com o nosso
“fiat” a Deus e tem uma repercussão direta no momento em que formos à
nossa próxima compra de roupa.
1-Dietrich Von Hildebrand. O Amor Entre o Homem e a Mulher.
2 Cf. CIC 369-371
3- Cf. Carta aos bispos sobre a moda imodesta (1954) e discurso de Pio XII, às
garotas da Ação Católica, 22 maio 1941: “Enquanto certos modos
provocantes de vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de
reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se
ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como
ornamentos de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais
de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas
quedas”.
4-Tal como a autora feminista Shulamith Firestone escreveu na “Diáletica do Sexo” (The Dialectic of Sex):
“Assim como a meta da revolução socialista era… a eliminação da…
distinção da classe econômica como tal, assim a meta da revolução
feminista deve ser a eliminação da… distinção do sexo como tal [de forma
que] a diferença genital entre seres humanos não teriam mais nenhuma
importância culturalmente. Citado em:http://christopherwest.com/page.asp?ContentID=120
5- “Devemos acentuar a diferença, ao
menos como tática de argumentação, porque um dos vícios de nosso tempo
consiste precisamente em procurar a simplificação da uniformidade. A
desordem de nosso tempo consiste em tender para o amálgama, para o
informe, para a massa, para a sociedade sem classe, para um mundo sem
limites, para uma vida sem regras, para uma humanidade sem
discriminações. Ao contrário disto, a sociedade que desejamos construir é
uma sociedade ricamente diferenciada, e nitidamente hierarquizada.(…)
E, quanto mais infantil for a criança, e quanto mais mulheril a mulher, e
quanto mais varonil o homem, tanto melhor realizaremos em cada situação
concreta a ordem, cambiante mas verdadeira, que é o fundamento da
felicidade dos povos. O bem, a perfeição da sociedade, está na
infantilidade da infância, na feminilidade da mulher, na masculinidade
do homem”. (Gustavo Corção, Vocação da Mulher)
Vladimir Lachance
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