BLOG CATÓLICO PARA OS CATÓLICOS.

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 4 de outubro de 2025

DA NECESSIDADE DE OCULTAR A GRAÇA SOB A GUARDA DA HUMILDADE.


1. Jesus Cristo1. Filho, mais útil e mais seguro para ti é conservar e ocultar a graça da devoção, sem te desvaneceres nem falares nela ou deres muito peso; antes te desprezando a ti mesmo e temendo que haja sido dada a quem dela era indigno.

Não deves te apegar demasiadamente a um sentimento que bem depressa pode se mudar no contrário.

Quando possuis a graça, lembra-te da pobreza e miséria que costumas experimentar, quando ela te falta.

Não consiste o progresso da vida espiritual só em receber as consolações da graça, mas em suportar-lhes a privação com humildade, abnegação e paciência, sem afrouxar no zelo da oração, nem interromper as tuas ocupações habituais. Mas, como melhor puderes e entenderes, faze com gosto o que está em tuas mãos, sem descuidar completamente a tua alma por causa da aridez e das inquietações que sentires.

2. Muitos há, com efeito, que não se lhes correm bem as coisas, se impacientam e desanimam.

Ora, nem sempre está nas mãos do homem o seu caminho2; mas a Deus pertence consolar e dar quando quer, quanto quer e a quem quer, conforme Lhe aprouver e não mais.

Outros, indiscretos, arruinaram-se pelo ardor da devoção, porque quiseram fazer mais do que podiam, sem pesar a própria fraqueza, seguindo mais o ímpeto do coração que os ditames da razão.

E porque na sua presunção quiseram elevar-se mais alto do que Deus queria, bem depressa perderam a graça.

Os que no Céu haviam colocado o seu ninho, caíram na própria baixeza e miséria, a fim de que, humilhados e empobrecidos, aprendessem a refugiar-se sob as minhas asas e não a voar com as próprias.

Os novos e inexperientes nos caminhos do Senhor, se não se deixam guiar pelos conselhos de pessoas prudentes, facilmente se podem enganar e perder.

3. Se quiserem seguir antes o próprio parecer do que acreditar nas pessoas mais experimentadas, correrá risco a sua salvação a menos que renunciem do seu modo de ver.

Os que se têm na conta de sábios, raras vezes se deixam guiar pelos outros com humildade.

Mais vale uma ciência modesta acompanhada de humildade e simplicidade de espírito, do que grande cabedal de saber com vã complacência.

Para ti, melhor é possuir pouco, do que ter grandes riquezas que te ensoberbeçam.

Não procede com prudência quem se entrega todo à alegria, esquecido da sua antiga miséria e do casto temor de Deus, que receia perder a graça recebida.

Nem tampouco dá mostra de sabedoria e virtude, quem no tempo da adversidade e do sofrimento, se deixa invadir de excessivo desânimo e, nos seus pensamentos e afetos, confia menos em Mim do que devia.

4. Quem na paz quer viver, com demasiada segurança, será facilmente um medroso e covarde no tempo da guerra.

Se souberes te conservar interiormente sempre humilde e pequenino e governar e dirigir os movimentos de tua alma, não cairias tão depressa na tentação e no pecado.

Bom conselho é pensar, no tempo do fervor, o que serás quando já não fores iluminado pela luz da graça.

E quando, de fato, te vires privado dela, pensa que de novo poderá voltar esta luz que, para teu proveito e glória minha, retirei por algum tempo.

5. É, muitas vezes, mais útil esta prova do que se tudo te corresse sempre bem, à medida dos teus desejos.

Para julgar do mérito de alguém, não se deve examinar se tem muitas visões e consolações, se é perito nas Escrituras ou se foi colocado em dignidades mais elevadas.

Tem mais merecimento aquele que se acha firmado em verdadeira humildade e cheio de caridade divina, que procura sempre e em tudo unicamente a glória de Deus, que se tem em nenhuma conta e sinceramente se despreza, que prefere ser esquecido e humilhado, a ser honrado pelos outros.



1ª Reflexão3

Que tens tu que não recebestes? Se, porém, recebeste, porque te glorias como se nada recebestes?4. Grande pensamento encerram estas palavras de São Paulo. Na verdade, nada temos de que possamos gloriar-nos, por isso, que os dons da natureza, os benefícios da graça e o nosso próprio ser pertencem a Deus. Somos, porém, tão inclinados a fugir da consideração do nosso nada, cedemos tão facilmente às seduções da soberba, que necessitamos de exercer uma vigilância contínua sobre os movimentos do nosso coração. Podemos afirmá-lo, o orgulho é o mais geral de todas as paixões. Fora algumas almas privilegiadas, submersas no amor divino, não há exceção. O orgulho cega tanto o ignorante como o sábio, tanto o pobre como o rico, tanto o fraco como o forte, tanto o jovem como o velho. Tudo verga sob o peso da sua lei; domina o libertino e perturba o coração do homem austero; domina o grande mundo e penetra nos mais humildes e retirados claustros; resplandece na fisionomia da mulher altiva, que reina nos salões por seu nascimento, beleza e talentos, e se deixa perceber na palavra tímida ou sob o véu da reclusa, que, saída de uma família obscura, se internou numa casa de paz, e aí, ignorada dos homens, só espera as sombras de um túmulo humilde.5 Terrível enfermidade! Para qualquer parte que vamos, afigurasse-nos sempre que a nossa pessoa se desdobra em duas; encontramo-nos sempre com um fantasma sinistro, que nos segreda malevolamente: olha que tu vales alguma coisa, és tido em boa conta… respeitam-te, admiram-te! Quantas pessoas, que pretendem passar por devotas, se apresentam até nos templos – não com a humildade do publicano, mas com a soberba do fariseu – a disputar os primeiros lugares e a tratar com desprezo o seu próximo?

2ª Reflexão6

Reconhecer sua miséria e nunca a perder de vista; entregar-se sem reserva nas mãos de Deus, com fé viva e obediente amor: eis toda a vida espiritual, cujo primeiro fundamento é a humildade. Aquele que diz no fundo de sua alma: Eu não sou senão fraqueza e miséria, não busca apoio em si, e põe em Jesus sua única esperança. Segue com singeleza os movimentos da graça, não se eleva no fervor, nem se abate na secura; sempre satisfeito, contanto que nele se cumpra a vontade divina.

A soberba, que muitas vezes se esconde debaixo da capa de virtude e santidade, não o seduz pelo vão desejo de um estado ou aparência mais perfeito, ao qual não é chamado. Fiel e sossegado em seu caminho diz a Deus: “Dai-me a sabedoria que assiste ao pé de vosso trono, e não me rejeiteis do número de vossos filhos; porque eu sou vosso servo e filho de vossa serva, homem fraco, e para pouco, que não tem a inteligência de vosso juízo e de vossas leis”.7

Em paz descansa aquele cujo coração assim ora, assim deseja: Deus lança-lhe olhos de complacência, e sua bênção sobre ele repousa.

3ª Reflexão8

A Humildade que oculta e encobre as virtudes, para as conservar, todavia, as faz aparecer quando a caridade o manda, para as aumentar, engrandecer e aperfeiçoar. Nisto se assemelha àquela árvore das ilhas de Tylos, a qual de noite encolhe e tem fechadas suas belas flores vermelhas, e não as abre senão quando nasce o sol, de sorte que os habitantes do país dizem que essas flores dormem de noite; assim a humildade esconde todas as nossas virtudes e perfeições humanas, e nunca as deixa aparecer senão para a caridade, que sendo uma virtude não humana, mas celeste, não meramente moral, mas divina, é o verdadeiro sol das virtudes, sobre as quais deve sempre dominar, de maneira que as humildades que prejudicam a caridade são indubitavelmente falsas.

Nem de parvo9 quisera eu fazer, nem de sábio; que, se me veda a humildade fazer de sábio, a simplicidade e franqueza também não me deixam fazer de néscio e se a vaidade é contrária à humildade, o artifício, a afetação e o fingimento é contrário à lisura e à singeleza.

E se alguns grandes servos de Deus fingiram-se de estultos, para se tornarem mais desprezíveis aos olhos do mundo, devemos admirá-los sem os imitarmos; pois eles tiveram motivos para chegarem a tal excesso, os quais lhes foram tão particulares e tão extraordinários, que ninguém deve tirar daí consequência alguma para si.10



Oração

Infinitas graças Vos dou, ó Trindade Santíssima, pela gloriosa Assunção da Imaculada Virgem nossa Mãe, ao Céu. Infinitamente Vos bendigo pela honra e glória que lhe destes, elevando-A sobre todos os Coros dos Anjos, à direita do Unigênito de Deus e seu unigênito, e tendo-A coroado Rainha e Imperatriz do Céu e da terra.

Rogo-Vos por seus méritos, me outorgueis a graça de imitar cuidadosamente suas santíssimas virtudes, em especial, sua profunda humildade e pureza ilibada; para que, imitando-A nesta vida, mereça gozar eternamente de sua presença na outra. Amém.11

Ponde, Senhor, em mim vossos piedosos olhos, dai-me orelhas para ouvir vossa voz, desejo para Vos seguir, amor para Vos buscar, virtude para chegar a Vós, conhecimento de meus males para que os aborreça, e luz com que veja os perigos desta vida, para que fuja para Vós. Ah, bom Jesus, uma coisa me falta, pela qual só me posso restaurar, que é a santa humildade, conservadora de todos os bens. Ela só pode me ensinar a importância deste vivo cuidado, que de Vós devo ter. Sei que ela em mim Vos contenta sumamente. Humilhai-me, humilde Jesus; plantai e regai em mim esta vossa companheira, amiga e tesoureira de vossos bens; para que com ela viva sempre temeroso de mim; fuja sempre para Vós, por vossos bens suspire, viva forte em Vós, livre de mim, e só de Vós possuído. Amém.12

Meu Deus, meu Deus, dissipai as trevas da minha ignorância, para que bem conheça o meu nada. Amém.13


___________________________________

1.  IMITAÇÃO DE CRISTO, Nova tradução portuguesa pelo Pe. Leonel Franca, S.J., Livro III, Cap. VII, pp. 102-104. 4ª Edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro/São Paulo. 1948.

2.  Jer. 10, 23.

3.  Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro III, Cap. VII, pp. 146-150. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

4.  I Cor. 4, 7.

5.  Balmes, Critério.

6.  Imitação de Cristo, Presbítero J.I. Roquette, Livro III, Cap. VII, pp. 177-178. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

7.  Sab. 9, 4-5.

8.  Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. VII, pp. 155-156. Imprenta Desclée Lefebyre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

9.  Tolo, bobo, estúpido, ou pouco inteligente.

10.  S. Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, 3ª Parte, cap. V.

11.  S. Francisco de Sales, Opusc. III.

12.  Imitação de Cristo, Presbítero J.I. Roquette, Livro III, Cap. VII, p. 178. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

13.  Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro III, Cap. VII, pp. 150. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.


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