Sofrimentos de Jesus em Jerusalém 3
Invocação ao Divino Espírito Santo1
Vinde, ó Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo de vosso amor.
V. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.
Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, concedei-nos que pelo mesmo Espírito, conheçamos tudo o que é reto e sempre gozemos de Suas consolações. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
Ato de Contrição
Prostrados perante o Sacrário ou diante de uma imagem de Nosso Senhor, persignar-se e rezar:
Senhor meu Jesus Cristo. Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado, e porque Vos amo e estimo sobre todas as coisas, pesa-me, Senhor, de todo o meu coração de Vos ter ofendido, pesa-me também, por ter perdido o Céu e merecido o Inferno, e proponho firmemente ajudado com o auxílio de vossa divina graça, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender, espero alcançar o perdão de minhas culpas, pela vossa infinita misericórdia. Amém.
V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Apressai-Vos, Senhor, em me socorrer.
V. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.2
R. Assim como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.
Vamos a Jerusalém:
aí acharemos o Coração de Jesus aceitando a Cruz.3
Jesus não esperou que a Cruz lhe fosse imposta pelos algozes; estendendo as mãos, Ele a tomou com pressa, e a pôs sobre os ombros cobertos de Chagas. “Vem, diz Ele então, vem querida Cruz, há trinta e três anos que suspiro por ti e te busco; Eu te abraço, Eu te aperto contra Meu Coração, pois tu és o altar no qual resolvi sacrificar Minha vida por Minhas ovelhas”.
Fizeram sair os condenados, e, no meio deles, vê-se também caminhar para a morte o Rei do Céu, o Filho único de Deus, carregado de Sua Cruz. Eis aí o Messias, que, há alguns dias, foi proclamado o Salvador do mundo e recebido com tantos aplausos e bênçãos pelo povo! Clamava-se então na Sua passagem: Hosana ao Filho de Davi! Bendito Aquele que vem em nome do Senhor!4 E agora, ei-Lo que se vai, amarrado, escarnecido e amaldiçoado de todos, com uma Cruz nos ombros, morrer como um criminoso. Ó excesso do amor divino! Um Deus que vai ao último suplício para salvar os homens!… E haveria um homem que não amasse este Deus?…
Imagina, minha alma, que vês Jesus passar pela rua da amargura. Como um cordeiro que se leva ao matadouro, assim teu amável Redentor se deixa conduzir para a morte.5 Já Ele perdeu tanto Sangue e está tão enfraquecido pelos tormentos, que dificilmente pode ficar em pé. Contempla-O coberto todo de Chagas, com coroa de espinhos na cabeça, pesado madeiro sobre os ombros, e precedido por um algoz que O puxa por uma corda. Vê como Ele caminha, o Corpo pendido, as pernas trêmulas, escorrendo Sangue, e andando com tanta dificuldade, que parece expirar a cada passo. – Aonde ides, ó meu Jesus? – Alma querida, Eu vou morrer por ti; não mo impeças; não te peço e recomendo senão uma coisa: quando me vires morto na Cruz por ti, lembra-te do amor que te consagro, e não te esqueças de me dar o teu. – Ó amor, ó doçura, ó paciência do Coração de Jesus.
Jesus, caminhando com Sua Cruz, convida-nos a segui-Lo: Se alguém quer vir após mim, tome a sua cruz e siga-me.6Persuadamo-nos aqui do que diz Santo Agostinho; a saber, que toda a vida de um cristão deve ser uma Cruz contínua. Esta Cruz, são nossas penas de cada dia. Deus no-las envia como remédio e esperança.
Se nos lembramos de ter ofendido a Deus, devemos nos alegrar de ver que Ele nos faz padecer neste mundo. O pecado é um abscesso na alma: se a tribulação não vem para vazar o pus, a alma está perdida. Desgraçado daquele que, depois de ter pecado, não é punido nesta vida! É certo que Deus não nos envia a Cruz para nos perder, mas para nos salvar; se não sabemos aproveitar-nos dela, nossa é a culpa. O Senhor se queixava a Ezequiel de que os Israelitas se haviam tornado ferro e chumbo na fornalha.7 Deus procurava purificá-los e convertê-los em ouro pelo fogo da tribulação; ai, eles tinham-se tornado chumbo. Tais são os pecadores que se impacientam quando são afligidos. A maior desgraça que pode acontecer a um pecador, é não ser castigado na terra: Deus nunca está mais irritado do que quando o deixa em paz; é o médico que abandona o enfermo, porque perdeu a esperança de curá-lo. Assim, pois, quando o Senhor nos visita pelas enfermidades, reveses ou perseguições, humilhemo-nos, dizendo com o Bom Ladrão: Digna factis recipimus.8 Senhor, eu bem mereço esta cruz, porque Vos ofendi. Julguemo-nos então felizes de sermos castigados nesta vida, para escaparmos às penas da outra.
Além disso, a esperança do Paraíso nos faça amar a Cruz. Para ganhar o Céu, toda a pena é pouca, dizia São José Calazans. Feliz, exclamava São Tiago, aquele que sofre com paciência, porque depois de ter sido provado, receberá a coroa eterna.9 O pensamento do Céu encheu de sobre-humana coragem o jovem Santo Agapito, martirizado na idade de quinze anos; enquanto lhe amontoavam sobre a cabeça carvões em brasas, ele dizia ao juiz: Bem pouca coisa é que minha cabeça seja queimada neste mundo, pois há de ser coroada de glória no Céu. As tribulações que sofrem-se na vida presente, são grande sinal de predestinação; porque todos os predestinados devem ser semelhantes a Jesus Cristo; ora, Jesus Cristo não levou Sua Cruz, e não nos convida a levarmos a nossa, se queremos ser do número de Seus discípulos? Se alguém quer vir após mim, diz Ele, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me!10
Prática
Irei muitas vezes fazer a Via Sacra; o Coração de Jesus me ensinará a maneira de santificar as penas da vida.
Afetos e Súplicas
Ah! Meu divino Redentor, já que, inocente como Sois, quisestes ir adiante com vossa Cruz e me convidais a Vos seguir com a minha, ide, meu Bom Mestre, eu não quero separar-me de Vós. Se até aqui recusei Vos seguir, confesso que fiz mal; dai-me agora a cruz que quiserdes, eu a abraço, e com ela quero Vos acompanhar até a morte: Pois que! Vós amastes tanto os padecimentos e humilhações para o bem da minha salvação; e eu, não os amarei na intenção de Vos agradar? Ah! Se Vós me chamais para Vos seguir, certamente quero Vos seguir para ir conVosco à morte; mas dai-me a força que me é necessária: por vossos merecimentos vo-la peço e espero alcançá-la. Eu Vos amo, ó meu amável Jesus; de toda a minha alma Vos amo, e não quero mais Vos abandonar. Muito tempo andei longe de Vós; prendei-me agora ao vosso Coração. Arrependo-me de ter assim desprezado vosso amor; ao presente eu o aprecio mais que todos os bens. Pai Eterno, pela Cruz que vosso divino Filho levou ao Calvário, dai-me o amor dos padecimentos e viva dor de meus pecados. E Vós, terníssimo e afetuosíssimo Coração de meu Jesus, tende compaixão de mim, detesto profundamente os desgostos que Vos causei, e tomo a resolução de não amar daqui em diante senão a Vós. Amém.
Oração Jaculatória
Ó Soberano Bem, fazei que eu morra completamente a mim mesmo e viva somente para Vós.
Exemplo
Uma virtuosa senhora estava à morte. Ai! Ela deixava cinco filhos, e todos de menor idade: mas, sendo cristã e piedosa, fez generosamente a Deus o sacrifício de sua vida. Antes de exalar o último suspiro, fez vir à sua presença os filhinhos e lhes disse: “Meus queridos filhos, eu vou morrer; fazei-me uma promessa: em lembrança de vossa mãe, honrai sempre as Cinco Chagas de Jesus Cristo”. Depois, na simplicidade de sua fé, dividiu com eles seu tesouro: deixou aos dois mais velhos as Chagas das Mãos, aos dois seguintes, as Chagas dos Pés, a menor, que se chamava Úrsula, recebeu em herança a Chaga do Coração. Ela é que se tornou mais tarde uma das glórias da vida Religiosa, e foi Canonizada, em 1839, sob o nome de Santa Verônica Juliana. Esta Santa nos ensina que a resignação nos padecimentos é um dos maiores meios de agradar e unir-se ao Coração de Jesus. Depois de haver padecido grandes angústias, ela recebeu a visita do Salvador; Ele estava todo coberto de Chagas, mas ao mesmo tempo, todo resplandecente; porque de cada uma de Suas Chagas, especialmente das dos Pés e das Mãos, saíam raios de luz. Na de Seu Lado Sagrado havia um diamante magnífico, que Ele contemplava com grande complacência, e como ela desejava vivamente saber o que significava este ornamento, Jesus, compreendendo seu desejo, disse-lhe: “Reconheces este precioso diamante?” – Não, Senhor, respondeu ela, mas penso que alguma alma fiel Vos fez presente dele, sofrendo por vosso amor, porque não posso duvidar que esta joia tenha sido tirada do tesouro dos padecimentos. Sabe, tornou então Jesus, que é o fruto do contentamento que me fez experimentar tua resignação durante os dias de provação com que Te visitei; cada ato de aceitação, cada ato de abandono à Minha vontade na hora do padecimento, vinha ornar e polir, sobre Meu Coração, esta joia que considero agora com tanto prazer”. E dizendo isto, inflamou a Santa com tão grande desejo de sofrer, que ela exclamou: “Ó meu Deus, sacrificai-me sobre o altar de vossa Cruz; eu me ofereço a Vós como vítima”. Uma união íntima operou-se desde então entre seu coração e o Coração de Jesus, e ela não quis mais outro tesouro que o dos desprezos e humilhações.
Ladainha da Paixão11
Senhor, tende compaixão de nós.
Jesus Cristo, tende compaixão de nós.
Senhor, tende compaixão de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos Céus, tende compaixão de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende compaixão de nós.
Deus Espírito Santo, tende compaixão de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende compaixão de nós.
Jesus, Rei da Glória, que fizestes a vossa entrada em Jerusalém para consumar a obra da nossa Redenção, tende compaixão de nós.
Jesus, prostrado no jardim das oliveiras, diante de vosso Pai, e carregado com os crimes do mundo inteiro, tende compaixão de nós.
Jesus, acabrunhado de tristeza, reduzido à agonia e abismado num mar de dores, tende compaixão de nós.
Jesus, que de todas as partes do vosso Corpo suastes sangue em abundância, tende compaixão de nós.
Jesus, traído por um Apóstolo pérfido e vendido a vil preço como um escravo, tende compaixão de nós.
Jesus, que abraçastes com amor o traidor Judas, tende compaixão de nós.
Jesus, arrastado por uma corda no pescoço pelas ruas de Jerusalém e coberto de maldições, tende compaixão de nós.
Jesus, injustamente acusado e condenado, tende compaixão de nós.
Jesus, saciado de opróbrios, coberto de escarros e contundido de bofetadas, tende compaixão de nós.
Jesus, vestido com um manto de ignomínias e tratado como insensato na corte de Herodes, tende compaixão de nós.
Jesus, flagelado, rasgado por golpes e alagado no vosso Sangue, tende compaixão de nós.
Jesus, coroado de agudos espinhos, tende compaixão de nós.
Jesus, tratado como um rei de comédia, tende compaixão de nós.
Jesus, que fostes comparado com Barrabás e proposto a ele, tende compaixão de nós.
Jesus, entregue por Pilatos à raiva dos vossos inimigos, tende compaixão de nós.
Jesus, esgotado de sofrimentos e sucumbido sob o peso da vossa Cruz, tende compaixão de nós.
Jesus, pregado na Cruz entre dois malfeitores, tende compaixão de nós.
Jesus, homem das dores, tende compaixão de nós.
Jesus, obediente até a morte, e morte horrorosa da Cruz, tende compaixão de nós.
Jesus, cheio de doçura para aqueles que Vos davam a beber fel e vinagre, tende compaixão de nós.
Jesus, que pedistes perdão pelos vossos algozes, tomando a defesa deles ante o vosso Pai, tende compaixão de nós.
Jesus, que pela nossa Redenção sacrificastes honra e vida, tende compaixão de nós.
Jesus, que expirastes na Cruz por amor de nós, tende compaixão de nós.
Sede-nos propício, perdoai-nos, Senhor.
Sede-nos propício, escutai-nos, Senhor.
De todo o mal, livrai-nos, Senhor.
De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.
Da morte em mau estado, livrai-nos, Senhor.
Da condenação eterna, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa agonia e suor de sangue, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa cruel flagelação, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa coroa de espinhos, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa Cruz e sofrimentos, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa sede e suspiros, livrai-nos, Senhor.
Pelas vossas cinco Chagas, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa morte, livrai-nos, Senhor.
Pela vossa Ressurreição, livrai-nos, Senhor.
No dia do Juízo, livrai-nos, Senhor.
Ainda que muito pecadores, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que pela vossa Paixão aprendamos a conhecer a enormidade do pecado por cuja causa sofrestes, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que pela lembrança das vossas dores e sofrimentos, possamos suportar com paciência todas as penas, adversidades e doenças, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que em todas as nossas aflições, tristezas e tribulações, nos voltemos para Vós para obtermos paciência, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que recebamos da vossa mão sem murmurar as humilhações, desprezos, ultrajes, perseguições, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que suportemos a vosso exemplo as falsas acusações e juízos injustos, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que Vos digneis de nos tornar participantes dos frutos da vossa Cruz, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que, pela virtude da vossa Cruz, triunfemos do Demônio, do mundo e da carne, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que possamos ser purificados de todo o pecado no vosso Sangue, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que possamos todos os dias levar a nossa cruz e seguir-Vos, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que pensemos muitas vezes com amor e reconhecimento na vossa Paixão, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que, lembrando-nos de que morrestes pelo nosso amor, Vos amemos de todo o nosso coração, e só para Vós vivamos, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que, na hora da nossa morte, Vos digneis de nos fortalecer pela vossa Cruz e Morte, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Que, pela vossa Cruz, Vos digneis conduzir-nos a glória eterna, nós Vos pedimos, atendei-nos.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, Jesus.
Oremos: Senhor Jesus, que, descido do Céu e do seio de vosso Pai, derramastes o vosso precioso Sangue para remissão dos nossos pecados, humildemente Vos pedimos, que sejamos no dia do juízo colocados a vossa direita e mereçamos ouvir da vossa boca estas palavras: Vinde, benditos de meu Pai. Amém.
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1. Manual das Indulgências – Normas e Concessões, Cap. “Outras Concessões” – Concessão 62, p. 72. Editora Paulus, 2ª Edição, São Paulo, 1990.
2. Indulgência parcial. (Manual das Indulgências, ob. cit., Apêndice).
3. “O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso de Ligório – ou Meditações para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-feira do Mês”, coligidas das Obras do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, C.SS.R., 2ª Parte, 18º Dia, pp. 114-119. Tradução Portuguesa feita da 83ª Edição; 5ª Edição; Tipografia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé; Ratisbona, 1926.
4. Mat. 21, 9.
5. Is. 53, 7.
6. Mat. 18, 24.
7. Ez. 22, 18.
8. Luc. 23, 41.
9. Tiag. 1, 12.
10. Mat. 16, 24.
11. “As Mais Belas Orações de Santo Afonso de Ligório”, pelo Pe. Saint-Omer, C.Ss.R., Parte IV, Art. 2, § 3, pp. 514-516. Imprimé par les Etablissements Casterman, S.A., Tournai/Bélgica, 1921.
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