A Felicidade dos Justos
e a Desgraça dos Ímpios.1
Bem-aventurado o homem que não se deixa levar pelo conselho dos ímpios e não anda pelo caminho dos pecadores, e não se senta na reunião (dos maus); antes põe as suas complacências na Lei do Senhor, e na Sua Lei medita de dia e de noite.
Ele é como a árvore que está plantada junto às correntes das águas, que a seu tempo dá fruto, e cujas folhas não murcham e todas as coisas que faz têm bom êxito.
Não são assim os ímpios, não assim; mas são como a palheira que o vento leva.
Por isso, os ímpios não se sustentarão no (dia do) juízo, nem os pecadores (estarão) na congregação dos justos; porque o Senhor cuida do caminho dos justos, e o caminho dos ímpios perecerá.
Os Dois Caminhos.
1ª Parte2
I - Catequese fundamental para aqueles que desejam viver e se comportar de modo cristão.
Existem dois caminhos: um é o caminho da vida, e o outro, o da morte. A diferença entre os dois é grande.
O Caminho da Vida II
II - O cristão deve fazer uma escolha fundamental, que definirá toda a sua vida e destino. Não é possível andar com os pés em duas canoas. Só há um caminho que produz vida e realização. Os outros caminhos levam inevitavelmente para a morte em diversos sentidos e níveis.
Viver é Amar. O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você.
O ensinamento que deriva dessas palavras é o seguinte: Bendigam aqueles que os amaldiçoam e rezem por seus inimigos, e ainda jejuem por aqueles que os perseguem. Com efeito, se vocês amam aqueles que os amam, que graça vocês merecem? Os pagãos não fazem o mesmo? Quanto a vocês, amem aqueles que os odeiam, e vocês não terão nenhum inimigo. III
III - O ponto de partida da vida cristã é o amor a Deus, a si mesmo e ao próximo. A medida do amor ao próximo é a mesma do amor que se tem para consigo mesmo. E todas as pessoas, até mesmo os inimigos, são indistintamente o próximo. O amor aos inimigos mostra a originalidade, a radicalidade e gratuidade do amor cristão. Isso não significa que os cristãos não têm inimigos, e sim que eles não são inimigos de ninguém.
A violência do Amor. Não se deixe levar pelos impulsos instintivos. Se Alguém lhe dá uma bofetada na face direita, ofereça-lhe também a outra face, e você será perfeito. Se alguém o força a acompanhá-lo pelo espaço de um quilômetro, acompanhe-o por dois; se alguém tira o seu manto, entregue-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que pertence a você, não a peça de volta, pois você não poderá fazer isso. IV
IV - O cristão não age por simples impulso instintivo. Diante da violência, ele não responde com outra semelhante, mas com a violência maior do amor, que é capaz de desarmar o violento. A proibição no final do versículo se refere ao empréstimo ao pobre, que poderia passar necessidade se tivesse de devolver.3
O Amor de partilha. Dê a quem pede a você e não peça para devolver, pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Feliz aquele que dá conforme o Mandamento, porque será considerado inocente. Ai de quem recebe: se recebe por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebe sem ter necessidade, deverá prestar contas do motivo e da finalidade pelos quais recebeu. Será posto na prisão e interrogado sobre o que fez; e daí não sairá até que tenha devolvido o último centavo.
A esse respeito, também foi dito: Que a sua esmola fique suando nas mãos, até que você saiba para quem a está dando. V
V - Deus dá os bens da vida para serem repartidos entre todos. Por isso, o cristão é capaz de partilhar seus bens com aqueles que não têm. Quem recebe deve ter discernimento, pois o espírito de partilha não deve ser usado como pretexto para acumular ou desperdiçar. Toda contribuição social deve reverter em benefício do bem comum e não em privilégio daqueles que manipulam a máquina social.
Não basta ajudar materialmente o necessitado para desencargo de consciência. É preciso entrar em comunhão, participando de toda a situação do pobre, porque nem sempre a ajuda material é o aspecto mais importante. O grande desafio é acabar com a pobreza, e não simplesmente conservar os pobres como ocasião de fazer caridade.
Exigências do amor ao próximo. O segundo Mandamento da instrução é este:
Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique magia, nem feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe, nem depois que ela tenha nascido.
Não cobice os bens do próximo, não jure falso, nem preste falso testemunho. Não seja maledicente (que fala mal dos outros), nem vingativo.
Não seja duplo no pensar e no falar, porque a duplicidade é armadilha mortal.
Que a sua palavra não seja falsa ou vazia, mas se comprove na prática.
Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo.
Não odeie a ninguém, mas corrija uns, reze por outros, e ainda ame aos outros, mais do que a si mesmo. VI
VI - É uma espécie de recapitulação e ampliação das consequências do Decálogo, retomando o Mandamento do amor ao próximo. O relacionamento interpessoal é enfocado a partir da integridade e veracidade em relação aos outros. As diversas normas podem ser resumidas em três grandes linhas: o respeito à vida, aos bens e à fama do próximo. Tais normas não devem ser compreendidas apenas em si mesmas; elas pressupõem o clima fundamental da vida cristã, que exige fraternidade e partilha. O que se requer em primeiro lugar não é a bondade, mas a justiça.
As raízes do mal e do bem. Meu filho, procure evitar tudo o que é mau e tudo o que se pareça com o mal.
Não seja colérico, porque a ira conduz para a morte. Também não seja ciumento, nem briguento ou violento, porque os homicídios nascem de todas essas coisas.
Meu filho, não seja cobiçoso de mulheres, porque a cobiça leva à fornicação. Evite falar obscenidades e olhar com malícia, pois os adultérios surgem de todas essas coisas.
Meu filho, não seja dado à adivinhação, pois a adivinhação leva à idolatria. Também não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre essas coisas, pois de todas essas coisas provém a idolatria.
Meu filho, não seja mentiroso, porque a mentira leva ao roubo. Não seja sedento de dinheiro, nem cobice a fama, porque os roubos nascem de todas essas coisas.
Meu filho, não seja murmurador, porque a murmuração (ato de se queixar) leva à blasfêmia. Não seja insolente (arrogante), nem tenha mente perversa, pois as blasfêmias nascem de todas essas coisas.
Seja manso, porque os mansos receberão a terra como herança.
Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranquilo e bom, respeitando sempre as palavras que você tiver ouvido.
Não se engrandeça a si mesmo, nem se entregue à insolência. Não se junte com os “grandes”, mas converse com os justos e pobres.
Aceite como boas as coisas que lhe acontecem, sabendo que nada acontece sem o consentimento de Deus. VII
VII – Princípio geral: evitar o mal que, a seguir, é apresentado como consequência do egoísmo, da falta de autocontrole e da ambição.
Homicídio e adultério têm suas respectivas raízes na falta de autocontrole e na cobiça. Cobiçar não é simplesmente desejar, mas fazer planos e armadilhas para se apropriar daquilo que se deseja.
Idolatria é a manipulação do sagrado ou de alguma coisa que é apresentada como sagrada, em vista dos próprios interesses. Essa é a magia que as pessoas usam para conseguir poder e dominação sobre os outros. A pessoa que tem poder acaba acreditando e fazendo os outros acreditarem que ela é absoluta e divina. Essa é a raiz de todo o processo de dominação e opressão religiosa ou política.
A mentira oculta uma verdade, à qual o próximo tem direito. Essa ocultação visa os interesses de alguém: dinheiro, prestígio, fama. Ao lado do poder, a riqueza é o outro grande ídolo. Se o poder-dominação é roubo da liberdade, a riqueza é roubo dos bens a que todos têm direito.
Blasfêmia é dizer que o projeto de Deus é mau. A murmuração, a insolência e a mente perversa levam à dúvida, à reclamação e, por fim, à blasfêmia.4
Desde o início de sua existência, a comunidade cristã é convidada a optar pelos pobres, pois são eles que buscam e podem realizar a justiça que Deus quer. Todas as qualidades aqui apresentadas pertencem aos pobres e justos que acreditam no anúncio do Evangelho e lutam pelo reino da justiça. Sua força não vem das armas, mas da violência do amor que persevera, certos da promessa de que os mansos receberão a terra como herança.
O cristão sabe que a vida e a história obedecem em primeiro lugar ao projeto de Deus, que quer a vida para todos. Por isso, ele é sempre levado a buscar o significado profundo dos acontecimentos, para além de seus caprichos e interesses imediatos.
A pessoa inserida na comunidade. Meu filho, lembre-se dia e noite daquele que anuncia a Palavra de Deus para você e honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois o Senhor está presente onde é anunciada a soberania do Senhor. VIII
VIII – Centralizada no amor a Deus e ao próximo, a vida cristã é essencialmente uma realização comunitária, onde tudo é partilhado fraternalmente.
As comunidades ainda não conhecem os Evangelhos escritos. O Evangelho é uma Palavra Viva, Preservada e Anunciada por pregadores itinerantes, que servem as comunidades e, ao mesmo tempo, dependem delas.
Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis, para encontrar apoio nas palavras deles.
Não provoque divisão. Pelo contrário, reconcilie aqueles que brigam entre si. Julgue de modo justo, corrigindo as culpas sem fazer diferença entre as pessoas.
Não fique hesitando sobre o que vai ou não acontecer.
Não seja como os que estendem a mão na hora de receber e a retiram na hora de dar.
Se você ganha alguma coisa com o trabalho de suas mãos, odereça-o como reparação por seus pecados.
Não hesite em dar, nem dê reclamando, pois você sabe quem é o verdadeiro remunerador da sua recompensa.
Não rejeite o necessitado. Divida tudo com o seu irmão, e não diga que são coisas suas. Se vocês estão unidos nas coisas que não morrem, tanto mais nas coisas perecíveis. IX
IX – Viver em comunidade supões educação para isso. E o ponto fundamental é a instrução no temor de Deus. Não se trata de ter medo de Deus, mas de reconhecer que Deus é o Senhor e Doador da vida, e Seu projeto é que todos repartam a vida entre todos. A educação cristã começa por aqui, mostrando para as pessoas que elas não são auto-suficientes e independentes, mas inter-dependentes, complementando-se mutuamente na partilha do que cada um é e tem.
Não dê ordens com rudeza ao seu servo ou à sua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que você, para que não percam o temor de Deus, que está acima de uns e outros. Com efeito, Ele não virá chamar a pessoa pela aparência, mas aqueles que o Espírito preparou.
Quanto a vocês, servos, sejam submissos aos seus senhores, com respeito e reverência, como à imagem de Deus. X
X – O projeto de Deus é a fraternidade, que desfaz toda e qualquer desigualdade entre as pessoas, para formar a grande família humana. Isso não quer dizer que as pessoas se tornem idênticas; cada um é original e tem sua função própria dentro da sociedade, em proveito do bem comum. Função diferente não quer dizer que uma pessoa seja mais que a outra ou que tenha mais direitos e privilégios, em vista do que é, do que faz ou produz. Todos são necessários e todos têm direito ao necessário para viver dignamente. O versículo (“Quanto a vocês”) acima, mostra que as comunidades nascentes ainda não tinham consciência de que o Evangelho exige transformações estruturais para acabar com a desigualdade e a exploração. Todos devem ser respeitados, porque todos são imagem de Deus.
Deteste toda hipocrisia e tudo o que não seja agradável ao Senhor.
Não viole os Mandamentos do Senhor. Guarde o que você recebeu, sem nada acrescentar ou tirar. XI
XI – Defender uma doutrina sem se preocupar com a prática é hipocrisia, um dos grandes males que ameaçam a comunidade. Por outro lado, guardar os Mandamentos não é simplesmente repeti-los de cor, mas fazer o que eles ordenam. Trata-se certamente do Mandamento de amar a Deus e ao próximo.
Confesse as suas faltas na reunião dos fiéis, e não comece a sua oração com má consciência. XII
XII – A Confissão aqui não aparece como Sacramento juridicamente estruturado. Provavelmente, os cristãos declaravam seus pecados em comunidade, e esta era responsável pelo perdão. Para que a comunidade esteja viva são necessários a confissão e o perdão, que abrem sempre a possibilidade de se converter ao projeto de Deus. A oração autêntica é feita dentro do projeto de Deus e em vista da sua realização.5
Este é o caminho da vida.
O caminho da Morte. O caminho da morte é este: Em primeiro lugar, é mau e cheio de maldições: homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, duplicidade de coração, fraude, orgulho, maldade, arrogância, avareza, conversa obscena, ciúme, insolência, altivez, ostentação e ausência de temor de Deus.
Por esse caminho andam os perseguidores dos bons, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os que ignoram a recompensa da justiça, os que não desejam o bem nem o julgamento justo, os que não ficam atentos para o bem, mas para o mal. Deles está longe a calma e a paciência; são amantes das coisas vãs, ávidos de recompensas, não se compadecem do pobre, não se importam com os atribulados, não reconhecem o seu Criador. São ainda assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam o necessitado, oprimem o aflito, defendem os ricos, são juízes injustos com os pobres e, por fim, são pecadores consumados. XIII
XIII – Se o caminho da vida é temer a Deus e amar a Deus e ao próximo; o caminho da morte é o contrário: começa com a ausência do temor de Deus. Sem esse temor, o homem se coloca no lugar de Deus e passa a se julgar como centro e senhor da vida, dispondo de tudo e de todos sem a menor consideração pela vida e liberdade de seus semelhantes. Quando o homem usurpa o lugar de Deus, cria automaticamente o projeto da escravidão e da morte. A lista de vícios e pecados testemunha a monstruosidade da auto-suficiência.
Perfeição é servir ao Senhor. Fique atento para que ninguém o afaste deste caminho da instrução, pois aquele ensinaria a você coisas que não pertencem a Deus.
Se puder carregar todo o jugo do Senhor, você será perfeito. Se isso não for possível, faça o que puder.
Quanto à comida, observe o que você puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos, porque esse é um culto a deuses mortos. XIV
XIV – É a conclusão da primeira parte, exortando ao discernimento para não desfigurar o caminho da vida cristã. O jugo do Senhor é, provavelmente, o Evangelho vivo, que está representado nesta primeira parte. Não se trata, porém, de imposição, mas de proposta e convite a serem aceitos na medida da possibilidade de cada um. A perfeição deve ser entendida aqui como integridade. O versículo (“Quanto à comida”) acima, se refere às disposições tomadas no Concílio de Jerusalém.6
Os Dois Caminhos.
2ª Parte
Existem7 dois caminhos de ensinamentos e autoridade: o da luz e o das trevas. A diferença entre os dois é grande. De fato, sobre um estão postados os Anjos de Deus, portadores da luz; e sobre o outro, os anjos de Satanás. Um é Senhor de eternidade em eternidade, o outro é príncipe do presente tempo da iniquidade.
O caminho da luz. Este é o caminho da luz: se alguém quer andar no caminho e chegar ao lugar determinado, que se esforce em suas obras. Eis, portanto, o conhecimento que nos foi dado para andar nesse caminho.
Ama Aquele que te criou.
Teme Aquele que te formou.
Glorifica Aquele que te resgatou da morte.
Sê simples de coração e rico de espírito.
Não te ligues àqueles que andam no caminho da morte.
Odeia tudo o que não é agradável a Deus.
Odeia toda hipocrisia.
Não abandones os Mandamentos do Senhor.
Não te engrandeças a ti mesmo, mas sê humilde em todas as circunstâncias.
Não te arrogues glória.
Não panejes o mal contra o teu próximo.
Não te entregues à insolência.
Não pratiques a prostituição, nem o adultério, nem a pederastia.
Não divulgues a Palavra de Deus entre pessoas impuras.
Não faças diferença entre as pessoas, ao corrigir alguém por sua falta.
Sê manso, tranquilo, respeitando as palavras que ouviste.
Não sejas vingativo para com teu irmão.
Não fiques hesitando sobre o que vai ou não acontecer.
Não tomes em vão o Nome do Senhor.
Ama o teu próximo mais do que a ti mesmo.
Não mates a criança no seio da mãe, nem logo que ela tiver nascido.
Não te descuides de teu filho ou de tua filha. Pelo contrário, dá-lhes instrução desde a infância no temor do Senhor.
Não cobices os bens do teu próximo.
Não sejas avarento, não te juntes de coração com os grandes, mas conversa com os justos e os pobres.
Aceita como boas as coisas que te acontecem, sabendo que nada acontece sem o consentimento de Deus.
Não sejas dúplice no pensar e no falar, porque a duplicidade é armadilha mortal.
Sê submisso a teus senhores, com respeito e reverência, como à imagem de Deus.
Não dês ordens com rudeza ao teu servo ou à tua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que tu, para que não percam o temor de Deus, que está acima de uns e de outros; com efeito, ele não vem chamar a pessoa pela aparência, mas aqueles que o Espírito preparou.
Compartilha tudo com o teu próximo, e não digas que são coisas tuas. Se estais unidos nas coisas incorruptíveis, tanto mais nas coisas corruptíveis.
Não sejas loquaz, porque a boca é armadilha mortal.
O quanto podes, sê puro com a tua alma.
Não sejas como os que estendem a mão na hora de receber, e a retiram na hora de dar.
Ama, como a pupila do teu olho, todo aquele que te anuncia a palavra de Deus.
Lembra-te, noite e dia, do dia do julgamento. A cada dia, procura a companhia dos Santos. Empenha-te com a pregação, exortando e preocupando-te em salvar uma alma pela palavra, ou então em trabalhar com tuas mãos, para resgatar teus pecados.
Não hesites em dar, nem dês reclamando, pois sabes quem é o verdadeiro remunerador da tua recompensa.
Guarda o que recebeste, sem nada acrescentar ou tirar.
Odeia totalmente o mal.
Julga de modo justo.
Não provoques divisão. Pelo contrário, reconcilia aqueles que brigam entre si.
Confessa os teus pecados.
Não te apresentes em má consciência para a oração.
O caminho das trevas. O caminho das trevas é tortuoso e cheio de maldições. De fato, em sua totalidade, ele é o caminho da morte eterna nos tormentos. Nele se encontras as coisas que arruínam a alma dos homens: idolatria, insolência, altivez do poder, hipocrisia, duplicidade de coração, adultério, homicídio, rapina, orgulho, transgressão, fraude, maldade, arrogância, feitiçaria, magia, avareza e ausência do temor de Deus.
(São) os que perseguem os bons,
odeiam a verdade,
amam a mentira,
ignoram a recompensa da justiçam,
não se ligam ao bem
nem ao julgamento justo,
não cuidam da viúva e do órfão,
não vigiam para o temor de Deus, mas para o mal,
afastam-se da mansidão e da paciência,
amam as vaidades,
correm atrás da recompensa,
não têm misericórdia para com o pobre,
recusam ajudar o oprimido,
difamam facilmente,
ignoram o seu Criador,
matam crianças,
corrompem a imagem de Deus,
não se compadecem do necessitado,
não se importam com os atribulados,
defendem os ricos,
são juízes injustos com os pobres,
e, por fim, são pecadores consumados.
Os Dois Caminhos.
3ª Parte8
Adoremos a Jesus Cristo apontando-nos o caminho a seguir a fim de não nos iludirem os falsos bens da terra e conseguirmos o Céu: “Entrai pela porta estreita: pois larga e franca é a estrada que leva à perdição…”.9
I Ponto
Considerai qual é a estrada larga, qual a estreita. Estreita, é a dos justos, porque a liberdade humana ao menos, aparentemente, fica limitada pelos Mandamentos; porque nessa estrada há obstáculos, lutas contra o Demônio, as paixões e o mundo.
A estrada larga, ao invés, é a em que as paixões não têm freio, a Lei de Deus é posta de lado e assim, aparentemente, se caminha mais livremente.
A primeira parece eriçada de espinhos, a segunda tapetada de rosas. Por isso, diz Jesus, muitos seguem o caminho largo, poucos o estreito. Dissemos aparentemente, porque na verdade os que vão pela estrada do mal são escravos das paixões e os que vão pela estreita gozam da liberdade dos filhos de Deus.
Perdoai-me, Senhor, que palmilhei a estrada larga, esquecido da vossa advertência; agora quero emendar-me e acompanhar vossos servidores, que pelo caminho estreito alcançaram o Céu.
II Ponto
Considerai a meta de cada uma das duas estradas. A larga termina no abismo da perdição e a estreita na Bem-aventurança.
Portanto, após as breves provações desta vida, os que servem a Deus podem esperar a suprema felicidade; ao contrário, os que se dão aos prazeres passageiros, se prazeres se podem chamar, sofrerão os eternos tormentos.
Senhor, venham sobre mim todas as tribulações, contanto que eu não perca a eterna glória. Quero desprezar os bens caducos da terra e amar a Cruz que salva.
III Ponto
Considera que Jesus cristo recomenda que façamos esforços para entrar pela porta estreita.10 Devemos, pois, violentar-nos para conseguir uma vida de acordo com a Lei de Cristo. Com efeito, “o reino dos céus padece violência e os que se violentam é que o conquistam”.11 Combatamos, pois, o mundo, o Demônio e as paixões e não nos aflijamos com as suas investidas, pois com a graça de Deus nos é fácil vencê-las.
Esforça-te por trilhar esse caminho que Jesus Cristo seguiu. Confia nele, que te dará forças e não te arreceies.
Exemplo
Pelágia vivia entre as riquezas, vaidades e vícios do mundo. Corria a bom correr pela estrada da perdição. Valeu-se Nosso Senhor de um Santo Bispo, chamado Nono, para levá-la ao arrependimento e conversão total. Fugiu disfarçada para junto de Jerusalém, para o Monte das Oliveiras, onde em uma pequena cela se deu às mais austeras penitências. Viveu, disfarçada como monge, em contínua oração e penitência, e os contemporâneos a conheciam e veneravam por frei Pelágio. Desde que se converteu e recebeu o Batismo, pois era pagã, abandonou por completo a estrada do mal e subiu rapidamente às alturas da perfeição cristã. O Martirológio Romano registra a morte de Santa Pelágia a 8 de Outubro pelo ano de 440. É um dos mais belos exemplos de conversão. A dor dos pecados fez de uma pecadora uma grande Santa.
Resolução – Nas minhas confissões me arrependerei de toda a alma e me corrigirei dos meus pecados.
Ramalhete Espiritual – Compadecei-Vos de mim, Senhor, de acordo com a vossa grande misericórdia, e inspirai-me grande horror ao pecado.
Conclusão
Que afinidade pode haver entre a justiça e a impiedade? Que comunhão pode haver entre a luz e as trevas? Que aliança pode haver entre Jesus Cristo e Satanás? O que pode haver de comum entre o Templo de Deus e o dos ídolos?12 Que relação pode haver entre a Doutrina Católica e as Heresias e os Erros do Paganismo? Com toda a convicção afirmo: Nenhuma e nunca haverá!
O justo continuará a justificar-se mais ainda;13 a luz continuará a brilhar mais intensamente; Cristo continuará a reinar gloriosa e eternamente; o fiel se tornará mais fiel; e os escolhidos de Deus se santificarão ainda mais.
Ao passo que o ímpio se tornará mais cruel, salvo as exceções do mistério da graça; as trevas encherão a terra; Satanás, já condenado, iludirá a muitas almas incautas que se rebelam contra a vontade de Deus, principalmente, contra os Dogmas da Eucaristia, contra os Dogmas Marianos, enfim, contra os Dogmas da Fé Católica, fazendo mais vítimas do que a peste, a fome e as guerras.
____________________
1. Salmo I, 1-6.
2. DIDAQUÉ – O Catecismo dos primeiros cristãos para as Comunidades de Hoje, pp. 7-18. 7ª Edição, Editora Paulus, São Paulo/SP, 1989.
3. Deut. 24, 10-13.
4. Êxod. 16, 1-3.
5. 1 João 5, 14.
6. At. 15, 29.
7. Coleção “Patrística”, Padres Apostólicos – Carta de Barnabé, Cap. “Os Dois Caminhos”, pp. 313-316. Editora Paulus, São Paulo/SP, 1995.
8. D. Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo do Pará, “Meu Livro Inseparável”, 26ª Meditação, pp. 79-82. Rio de Janeiro/RJ, 1940.
9. Mat. VII, 13-14.
10. Luc. XIII, 24.
11. Mat. XI, 12.
12. II Cor. 6, 14-16.
13. Apoc. 22, 11.
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