Dom Fernado Arêas Rifan
Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã",
Campos, no dia 13 de abril de 2011, quarta-feira.
No seu julgamento, Jesus explicara a Pilatos a natureza e o
caráter específico da sua realeza: a verdade. Conforme nos explica Bento
XVI no livro “Jesus de Nazaré II”, esse enfoque é de suma importância.
Na ocasião, Pilatos perguntou a Jesus: “O que é a verdade?”.
“O que é verdade? A pergunta do pragmatista, jogada com um grau de
ceticismo, é uma pergunta muito séria, a ver com o destino da
humanidade. O que, então, é verdade? Somos capazes de reconhecê-la? Ela
pode servir como critério para nosso intelecto e vontade, tanto nas
escolhas individuais como na vida da comunidade?”
“A definição clássica da filosofia Escolástica designa a verdade como
‘adaequatio intellectus et rei’ (conformidade entre o intelecto e a
realidade – S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae I, p. 21, r. 2c). Se o
intelecto do homem reflete uma coisa como ela é em si mesma, então ele
encontrou a verdade: mas apenas um pequeno fragmento da verdade, não a
verdade na sua grandeza e sua integridade”.
“Chegamos mais perto do que Jesus quis dizer com outro dos ensinamentos
de Santo Tomás: ‘a verdade está propriamente e em primeiro lugar no
intelecto de Deus; no intelecto humano está presente propria e
derivadamente’ (De Verit., p. 1, a. 4 c). E para terminar chegamos à
fórmula sucinta: Deus é ‘a própria verdade, a soberana e primeira
verdade’”.
“Esta fórmula nos traz perto do que
Jesus quer dizer quando ele fala da verdade, quando diz que seu objetivo
na vinda ao mundo foi ‘testemunhar a verdade’. Frequentemente no mundo,
verdade e erro, verdade e inverdade, são quase inseparavelmente
misturadas. A verdade em toda a sua grandeza e pureza não aparece. O
mundo é ‘verdadeiro’, na medida em que ele reflete a Deus: a lógica
criativa, a razão eterna que o trouxe para a existência. E ele se torna
mais e mais verdadeiro quanto mais ele se aproxima de Deus. O homem
torna-se verdadeiro, ele se realiza, quando cresce na semelhança de
Deus. Então ele alcança a sua própria natureza. Deus é a realidade que
dá o ser e a inteligibilidade”.
“ ‘Dar testemunho
da verdade’ significa dar prioridade a Deus e à sua vontade sobre e
contra os interesses do mundo e seus poderes. Deus é o critério de ser.
Neste sentido, a verdade é o verdadeiro ‘rei’ que confere luz e
grandeza a todas as coisas. Pode-se dizer também que o dar testemunho da
verdade significa fazer a criação inteligível e sua verdade acessível
do ponto de vista de Deus — a perspectiva da razão criadora — de forma
que ela possa servir como um critério e uma orientação a este nosso
mundo, de modo a que os grandes e os poderosos sejam expostos ao poder
da verdade, à lei comum, à lei da verdade”.
“Digamos claramente: a fracassada situação do mundo consiste
precisamente na falha em compreender o significado da criação, na falha
em reconhecer a verdade; como resultado, a regra do pragmatismo é
imposta, pelo qual o braço forte do poderoso torna-se o ‘Deus’ deste
mundo”.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://www.adapostolica.org/modules/wfsection/article.php?articleid=638
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