O Retrato de um Religioso Relaxado
Missa
(sem comentários)
“
Refleti
bem no que vos digo. Se, vos comprazendo em vós mesmo, deixais o
orgulho, a presunção, a vanglória dominar vossa razão; se vos
atreveis a seguir com ousadia vossos sentidos e desprezar o que
é humilde e simples, não sois, então, um servo de Jesus
Cristo.
Se
não repelis com todas as vossas forças todos os movimentos de
inveja, de ódio, de amargura, de indignação; se não abafais
cuidadosamente os juízos temerários, as queixas pueris, as
murmurações culpadas, não sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
quando uma vez nasceu uma discórdia entre vós e vosso irmão, não
procurais imediatamente reconciliar-vos com ele; se não
esqueceis depressa a injúria que vos feriu, e que, pelo contrário,
conservais em vosso coração um desejo de vingança, um secreto
ressentimento, uma menos sincera afeição para com vosso próximo,
ou que lhe deixais notar algum sinal de aversão; se hesitais mesmo
em assisti-lo nas suas necessidades, quando uma ocasião se
apresenta, não sois um servo de Jesus Cristo, não
sois um cristão, sois desprezível diante de Deus.
Se,
depois de haver caído, envergonhais de vos acusar e de confessar
simplesmente vossa falta; se não recebeis com paciência e humildade
as repreensões, os conselhos, as penitências que vos serão
impostas, não sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
não obedeceis com prontidão e fidelidade em tudo que não é mal, a
vosso pai espiritual; se lhe negais o respeito e amizade que lhe
são devidos, como ao representante de Deus mesmo, não
sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
faltais voluntariamente ao Ofício Divino e aos outros exercícios
que são de obrigação; se não assistis a esse serviço divino com
atenção e reverência, não sois um servo de Jesus
Cristo.
Se,
negligenciando o interior, não vos ocupais senão do exterior; se,
preenchendo com o coração frio e unicamente por hábito, os deveres
da religião, vós vos contentais com arrastar com indolência ao pé
dos altares um corpo cansado dos santos exercícios, não
sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
as leituras piedosas e outros atos espirituais não vos ocupam
totalmente; se vossa alma, agrilhoada pelas coisas que passam, ou
abatida pelo peso delas, não se eleva senão raramente aos bens
eternos, não sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
por uma delicadeza insensata, desejais hábitos luxuosos, leitos
fofos e todas essas frívolas consolações da carne, incompatíveis
com a vida que abraçastes e com os exemplos que ela vos obriga a
dar; se, desejoso do repouso do corpo, recusais suportar por amor de
Deus o trabalho e a pena, não sois um servo de Jesus
Cristo.
Se,
a solidão e o silêncio vos pesam, e lhes prefirais as conversas
ociosas, os risos desordenados, não sois um servo de
Jesus Cristo.
Se,
vos queixais às pessoas do século; se apreciais, aborrecido deste
retiro que vós mesmo escolhestes, a vagar pelas cidades e
vilas, não sois um servo de Jesus Cristo.
Se,
desprezais alguma das observâncias de nossa santa religião, embora
sejam de pouca importância, e que as transgredis
voluntariamente, não sois um servo de Jesus Cristo.
Numa
palavra, se procurais no convento outra coisa que não seja Deus, e
não vos inquietais seriamente, com todos os vossos esforços,
em galgar a perfeição, não sois um
servo de Jesus Cristo”(Ven.
Abade Luiz de Blois, O.S.B., “Guia Espiritual ou Espelho das Almas
Religiosas”, Cap. I, Ponto 2, pp. 23-26, Ed. Vozes, Petrópolis,
1925).
Nenhum comentário:
Postar um comentário