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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tomás responde: O Cisma é um Pecado Especial?


Iluminura do séc. XIV onde Dante vê, horrorizado, os semeadores de escândalo e cismáticos percorrendo a vala onde, a cada volta, são cortados ao meio por um diabo.
Parece que o cisma não é um pecado especial:

1. Com efeito, diz o papa Pelágio, o cismo “soa a ruptura”. Ora, todo pecado causa uma ruptura. Está escrito em Isaías (59,2): “Vossos pecados vos dividiram de vosso Deus”. Logo, o cisma não é um pecado especial.

2. Além disso, são considerados cismáticos aqueles que não obedecem à Igreja. Ora, em todos os seus pecados o homem desobedece aos preceitos da Igreja, pois, segundo Ambrósio, o pecado é “uma desobediência aos mandamentos celestes”. Logo, todo pecado é um cisma.

3. Ademais, a heresia nos separa da unidade da fé. Portanto, se o cisma implica uma divisão, parece não se diferenciar do pecado de infidelidade como um pecado especial.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, Agostinho distingue entre cisma e heresia, quando diz: “O cismático tem as mesmas crenças e os mesmos ritos que os outros; só se compraz na separação da congregação. O herege, porém, tem opiniões que o afastam do que a Igreja Católica crê”. Portanto, o cisma é um pecado especial.


Segundo Isidoro, chamou-se com o nome de cisma “a cisão dos ânimos”. Ora, a cisão opõe-se à unidade. Por isso se diz que o pecado de cisma se opõe diretamente e por si à unidade. Com efeito, assim como na natureza, o que é acidental não constitui a espécie, assim também na moral. O que é intencional é essencial, enquanto o que está fora da intenção existe como acidental. Por isso o pecado de cisma é propriamente um pecado especial, pelo fato de alguém tender a se separar da unidade realizada pela caridade. A caridade une não somente uma pessoa a outra pelo laço do amor espiritual, mas ainda toda a Igreja na unidade do Espírito. Chamam-se, portanto, cismáticos propriamente ditos aqueles que por si mesmos e intencionalmente se separam da unidade da Igreja, que é a unidade principal. A união articular entre os indivíduos é, pois, ordenada à unidade da Igreja, da mesma forma que a organização dos diversos membros no corpo natural é ordenada à unidade do corpo inteiro.

Ora, pode-se considerar a unidade da igreja de duas maneiras: na conexão ou na comunhão recíproca dos membros da Igreja entre si; e, além disso, na ordenação de todos os membros da Igreja a uma única cabeça. Segundo a Carta aos Colossenses (2, 18-19): “Inchado pelo sentido de sua carne e não se mantendo unido à cabeça, da qual todo o corpo, por suas articulações e ligamentos, recebe alimento e coesão para realizar seu crescimento em Deus”. Ora, esta Cabeça é o próprio Cristo, do qual o soberano pontífice faz as vezes na Igreja. Por isso chamam-se de cismáticos aqueles que não querem se submeter ao soberano pontífice e recusam a comunhão com os membros da Igreja a ele submetidos.

Quanto às objeções iniciais, portanto, devemos dizer que:

1. A separação entre o homem e Deus pelo pecado não é procurada pelo pecador, mas acontece fora de sua intenção, em razão de sua conversão desordenada ao bem perecível. Por isso não se trata de um cisma propriamente dito.

2. A desobediência aos preceitos por rebelião constitui a razão de cisma. Digo por rebelião, isto é, quando alguém despreza obstinadamente os preceitos da Igreja e recusa submeter-se a seu julgamento. Nem todo pecador faz isso. Portanto, nem todo pecado é um cisma.

3. A heresia e o cisma se distinguem segundo as coisas às quais ambos se opõem por si e diretamente. A heresia se opõe por si à fé; e o cisma se opõe por si à unidade da caridade eclesial. É por isso que, da mesma forma como a fé e a caridade são virtudes diferentes, embora aquele a quem falta a fé, falte-lhe também a caridade, o cisma e a heresia são também vícios diferentes, embora todo herege seja também cismático, não, porém, o inverso. É o que diz Jerônimo: “Entre o cisma e a heresia penso que há esta diferença: a heresia professa um dogma pervertido, enquanto o cisma separa da Igreja”.

No entanto, assim como a perda da caridade é caminho para a perda da fé, segundo a primeira Carta a Timóteo (1, 6): “Por se terem afastado (da caridade e das coisas deste gênero), alguns se perderam em vãos palavreados”, assim também o cisma é caminho para a heresia. Por isso Jerônimo acrescenta que “o cisma, no início, pode, de certa maneira, ser considerado diferente da heresia; mas não há nenhum cisma que não modele para si mesmo alguma heresia para justificar seu afastamento da Igreja.

Suma Teológica II-II, q. 39, a.1



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