junho 7, 2012
Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor
do culto eucarístico, em especial da adoração ao Santíssimo Sacramento.
É a experiência que também esta noite nós viveremos depois da Missa,
antes da procissão, durante sua realização e no seu final. Uma
interpretação unilateral do Concílio Vaticano II penalizou esta
dimensão, restringindo na prática a Eucaristia ao momento celebrativo.
[...] Com efeito, como muitas vezes acontece, para
destacar um aspecto se acaba por sacrificar outro. Neste caso, a
acentuação dada à celebração da Eucaristia foi em detrimento da
adoração, como ato de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do altar. Esse
desequilíbrio teve repercussões também na vida espiritual dos fiéis. De
fato, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia somente no
momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar de Sua presença o
restante do tempo e do espaço existenciais.
[...] Agora gostaria de passar brevemente para o segundo aspecto: a sacralidade da Eucaristia. Também
aqui sofremos no passado recente com certa incompreensão da mensagem
autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã quanto ao culto foi
influenciada por uma mentalidade mundana dos anos 60 e 70 do século
passado. É verdade, e permanece sempre válido, que o centro do
culto já não está mais nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no
próprio Cristo, na sua pessoa, na sua vida, no seu mistério pascal.
E, todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado não existe mais, mas que encontrou sua realização em Jesus Cristo,
Amor divino encarnado. A carta aos Hebreus, que ouvimos esta noite na
segunda Leitura, nos fala justamente da novidade do sacerdócio de
Cristo, “sumo sacerdote dos bens vindouros” (Hb 9, 11), mas não diz que o sacerdócio acabou.
Cristo “é mediador de uma nova aliança” (Hb9,15), estabelecida no seu
sangue, que purifica “a nossa consciência das obras mortas” (Hb9,14).
Ele não aboliu o sagrado, mas o levou a cabo, inaugurando um novo culto, que é sim plenamente espiritual, mas que todavia, até que estejamos em caminho no tempo, se serve ainda de sinais e de ritos, que desaparecerão somente no fim, na Jerusalém celeste, onde não haverá mais nenhum templo. Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa, e, como acontece para os mandamentos, também mais exigente!
Não basta observar o rito, mas se requer a purificação do coração e o envolvimento da vida. Apraz-me sublinhar que o sagrado possui uma função educativa,
e seu desaparecimento inevitavelmente empobrecerá a cultura, de modo
particular a formação das novas gerações. Se, por exemplo, em
nome de uma fé secularizada e não mais necessária de sinais sagrados,
fosse abolida esta procissão urbana de Corpus Domini, o perfil
espiritual de Roma resultaria “esvaziado”, e nossa consciência
pessoal e comunitária se tornaria enfraquecida. Também pensamos em uma
mãe e em um pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem seus
filhos de qualquer ritual religioso: na realidade terminariam
por deixar o campo livre a tantos substitutos presentes na sociedade de
consumo, e a outros ritos e a outros sinais, que mais facilmente
poderiam se tornar ídolos.
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