Uma devoção mais atual e necessária do que nunca para a efetiva
obtenção do que há mais de 2000 anos todos os verdadeiros cristãos vêm
pedindo, quando rezam: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa Vontade,
assim na Terra como no Céu”.
“Eis aqui o Coração que tanto amou os homens,
que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se,
para testemunhar-lhes seu amor; e, por reconhecimento,
não recebe da maior parte deles senão ingratidões”
Se hoje Nosso Senhor Jesus Cristo voltasse à Terra, poderia ser
novamente crucificado! Por quê? Por que tanta maldade contra Aquele a Quem
devemos nossa salvação? Contra Aquele que se ofereceu como vítima para redimir
os pecados dos homens? Contra Alguém que só deseja o nosso bem?
Para responder tudo numa só frase: a espantosa ingratidão dos homens.
Ingratidão que, devido aos nossos pecados, à dureza de nossos
corações, impede-nos de corresponder ao amor do Divino Redentor, que ofereceu
sua vida por nós. Que nos impede sermos gratos, amando sobre todas as
coisas Aquele que tanta dileção teve pelos homens e por eles foi tão
pouco amado.
Devido a essa incorrespondência da humanidade a seu Criador, ela se
encontra atualmente submersa numa corrupção moral generalizada e sem
precedentes.
Mas abandonaria a Providência Divina os homens, deixando-os entregues
a si mesmos, afundados em sua impiedade e depravações?
Não. Apesar de todas as ofensas contra Aquele que morreu por nós, a
inesgotável misericórdia de Deus jamais abandona os homens, mesmo quando envia
seus justos e imprescindíveis castigos. Ela nunca deixa de dispensar abundantes
graças, incitando os homens ao arrependimento. Mas é necessário reparar o
pecado cometido, retornar à observância dos Mandamentos, e, mediante a
conversão, alcançar o perdão e as graças tão necessárias para uma vida virtuosa
e a salvação eterna.
Para isso, sem dúvida, uma das maiores graças é a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus. Desse adorável Coração, transpassado pela lança de Longinus,
jorrou sangue e água no alto do Calvário, para nos salvar (cfr. Jo 19,34).
Desse adorável Coração, ainda em nossos dias, e apesar de nossas ingratidões,
tibiezas e desprezos, as graças jorram abundantes para todos aqueles que
sinceramente as desejem. Basta que as peçamos com toda confiança.
“Onde abundou o pecado, superabundou a
graça” (Rom 5,20)
Ainda atualmente ecoam as sublimes palavras de 328 anos atrás.
Palavras que soam num timbre divino, como vindas da eternidade, pronunciadas
entretanto no recolhimento de um humilde convento, mas que atravessam os
séculos. Foram dirigidas a uma privilegiadíssima freira do convento da
Visitação de Santa Maria, em Paray-le-Monial (Borgonha, França). Trata-se de
Santa Margarida Maria Alacoque (1647 – 1690). [Veja quadro à pág. 4]
Estava ela rezando diante do Santíssimo Sacramento, a 16 de junho de
1675, quando Nosso Senhor lhe aparece. Depois de um breve diálogo, Ele aponta
para seu próprio Coração e diz:
“Eis
aqui o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e
consumir-se, para testemunhar-lhes seu amor; e, por reconhecimento, não recebe
da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências, sacrilégios e
pelas indiferenças e desprezos que têm por Mim no Sacramento do amor. Mas o que
Me é ainda mais penoso é que corações que Me são consagrados agem assim.
“Por isso, Eu te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do
Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa especial para honrar meu
Coração, comungando-se neste dia e fazendo-Lhe um ato de reparação, em satisfação
das ofensas recebidas durante o tempo que estive exposto nos altares. Eu te
prometo também que meu Coração se dilatará para distribuir com abundância as
influências de seu divino amor sobre aqueles que Lhe prestem culto e que
procurem que Lhe seja prestado”1.
“O Sagrado Coração será a salvação do
mundo”
O Beato Pio IX concedeu aprovação definitiva à devoção do
Detente,dizendo: “Vou benzer este Coração, e quero que todos aqueles que forem
feitos segundo este modelo recebam esta mesma bênção”.
Entretanto, apesar do pungente dessa revelação — bem como das demais
promessas de Paray-le-Monial —, hoje ela caiu no esquecimento. Não podemos
permanecer ingratos e indiferentes diante dessa suprema manifestação de bondade
e amor. Temos uma premente necessidade de desagravar o Sagrado Coração de
Jesus, atender seu pedido e difundir seu culto. Nossa reparação atrairá a
misericórdia de Deus e as abundantes graças indispensáveis para a salvação da
humanidade, tão distanciada dos preceitos divinos.
“A
Igreja e a sociedade não têm outra esperança senão no Sagrado Coração de Jesus;
é Ele que curará todos os nossos males. Pregai e difundi por todas as partes a
devoção ao Sagrado Coração, ela será a salvação para o mundo”2.
Essa impressionante afirmação é do Papa Pio IX (1846-1878) — recentemente
beatificado — ao Padre Julio Chevalier, fundador dos Missionários do Coração
de Jesus, mostrando que nessa devoção depositava toda sua
esperança.
Poderosa proteção que nos vem do Céu
Catolicismo,
já em diversas ocasiões, tem divulgado matérias sobre a devoção ao Sacratíssimo
Coração de Jesus (por exemplo, nas edições de junho/1986, julho/1988,
junho/1992 e junho/1994). No presente mês de junho, que tem todos os seus dias
consagrados ao Sagrado Coração, e cuja festa principal comemoramos no dia 27,
desejamos abordar, entre as várias e magníficas promessas desse adorável
Coração, uma que ainda não apresentamos nestas páginas: a devoção ao Detente, oEscudo do Sagrado Coração
de Jesus.
Essa piedosa prática, outrora muito difundida entre os
católicos, é um modo simples, mas esplêndido, de manifestarmos permanentemente
nossa gratidão e amor ao Sagrado Coração, vítima de nossos pecados. E, ao mesmo
tempo, d´Ele recebermos inúmeros benefícios e uma proteção extraordinária
contra todos os perigos. Esse é o tema que passaremos a expor.
O que é um Detente? Uma armadura espiritual?
Detente: poderosa proteçao contra as armadilhas do demônio
É um poderoso Escudo que a Divina Providência colocou à nossa
disposição, a fim de nos proteger contra os mais diversos perigos que
enfrentamos em nosso dia-a-dia. Para isso, basta levá-lo consigo, não havendo
necessidade de ser bento, pois o bem-aventurado Papa Pio IX estendeu sua bênção
a todos os Escudos
— como veremos adiante.
Detente,
ou Escudo
do Sagrado Coração de Jesus — também conhecido como bentinho, salvaguarda,ou
mesmo como pequeno
escapulário do Sagrado Coração — é um emblema com a imagem do
Sagrado Coração e a divisa: Alto! O Coração de Jesus está comigo.Venha a nós o Vosso Reino!
É comum levarmos no bolso, ou em nossas carteiras, pastas etc.,
fotografias de pessoas a quem muito queremos (pais ou filhos, por exemplo).
Assim, ter consigo o Detente é um meio de expressar nosso amor ao Sagrado
Coração de Jesus; sinal de nossa confiança em sua proteção contra as armadilhas
do demônio e perigos de toda ordem. Levando conosco esse Escudo, estaremos
continuamente como que afirmando: Alto! Detenha-te, demônio; detenha-se toda
maldade; todo perigo; todo desastre; detenham-se todos os assaltos;
todas as balas de bandidos; todas as tentações; detenha-se todo inimigo; toda
enfermidade; detenham-se nossas paixões desordenadas — pois o Sagrado Coração
de Jesus está comigo!
Portar esse Escudo auxilia-nos, além dessas e de tantas outras
proteções, a recordar continuamente as promessas do Sagrado Coração de Jesus; é
símbolo de nossa total confiança na proteção divina; é um sinal de nossa
permanente súplica e fidelidade a Nosso Senhor e um pedido de que Ele faça
nossos corações semelhantes ao d’Ele.
Origem do Escudo do Sagrado Coração de Jesus
Santa Margarida Maria Alacoque — como testemunha sua carta, escrita no
dia 2 de março de 1686, dirigida à sua Superiora, Madre Saumaise — transcreve
um desejo que lhe fora revelado por Nosso Senhor: “Ele deseja que a Senhora
mande fazer uns escudos com a imagem de seu Sagrado Coração, a fim de que todos
aqueles que queiram oferecer-Lhe uma homenagem, os coloquem em suas casas; e
uns menores, para as pessoas levarem consigo”3. Nascia,
assim, o costume de portar esses pequenos Escudos.
Essa santa devota do Detente portava-o sempre consigo
e convidava suas noviças a fazerem o mesmo. Ela confeccionou muitas dessas
imagens e dizia que seu uso era muito agradável ao Sagrado Coração.
A autorização para tal prática, no início, foi concedida somente aos
conventos da Visitação. Depois, foi mais difundida pela Venerável Ana Magdalena
Rémuzat (1696-1730). A essa religiosa, também da mesma Ordem da Visitação,
falecida em alto conceito de santidade, Nosso Senhor fez saber antecipadamente
o dano que causaria uma grave epidemia na cidade francesa de Marselha, em 1720,
bem como o maravilhoso auxílio que os marselheses receberiam com a devoção a
seu Sagrado Coração. A referida visitandina fez, com a ajuda de suas irmãs de
hábito, milhares desses Escudos do Sagrado Coração e os repartiu por toda a
cidade onde grassava a peste.
A história registra que, pouco depois, a epidemia cessou como por
milagre. Não contagiou muitos daqueles que portavam o Escudo, e
as pessoas contagiadas tiveram um extraordinário auxílio com essa devoção. Em
outras localidades ocorreram fatos análogos. A partir de então, o costume se
estendeu por outras cidades e países4.
Escudo distintivo de contra-revolucionários
Os requetés espanhóis tinham o Escudo do Sagrado Coração de Jesus como
seu brasão, durante a Cuerra Civil de 1936.
Em 1789, eclodiu na França, com trágicas conseqüências para o mundo
inteiro, um flagelo muitíssimo mais terrível que qualquer epidemia: a
calamitosa Revolução Francesa.
Nesse período, os verdadeiros católicos encontraram amparo no
Sacratíssimo Coração de Jesus, e o Escudo protetor era levado por
muitos sacerdotes, nobres e populares que resistiram à sanguinária Revolução
anticatólica. Até mesmo senhoras da corte, como a Princesa de Lamballe,
portavam esses Escudos bordados preciosamente em tecidos. E o simples
fato de levá-los consigo transformou-se no sinal distintivo daqueles que eram
contrários à Revolução Francesa.
Entre os pertences da Rainha Maria Antonieta, guilhotinada pelo ódio
revolucionário, encontraram um desenho do Sagrado Coração, com a chaga, a cruz
e a coroa de espinhos, e os dizeres: “Sagrado Coração de Jesus, tende misericórdia de
nós!” 5.
Outra Rainha de França, também devota do Detente, foi
Maria Leszczynska. Em 1748 ela recebeu de presente, do Papa Bento XIV,
vários Escudos
do Sagrado Coração, por ocasião de seu matrimônio com o Rei
Luís XV. De acordo com as memórias desse tempo, entre os presentes enviados
pelo Pontífice havia “muitos Escudos do Sagrado Coração, feitos em tafetá vermelho e
bordados em ouro” 6.
Heroísmo dos devotos do Sagrado Coração de
Jesus
O comunismo sempre perseguiu a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Em
Cuba, monumentos dedicados a esta devoção foram trocados por estátuas de Che
Guevara. Muitos opositores do regime comunista de Fidel Castro morreram no
Paredón com o heróico brado: Viva Cristo Rei! nos lábios.
Na região da Mayenne (oeste da França), os Chouans — heroicos
resistentes católicos, que enfrentaram com bravura e ardor religioso os
revolucionários franceses de 1789 — bordavam em seus trajes e bandeiras o Escudo do Sagrado Coração
de Jesus. Era como se fosse um brasão e, ao mesmo tempo, uma
armadura: “brasão” usado para reafirmar sua Fé católica; “armadura” para
defenderem-se contra as investidas adversárias.
Também como “armadura espiritual”, esse Escudofoi
ostentado por muitos outros líderes e heróis católicos que morreram ou lutaram
em defesa da Santa Igreja, como os bravos camponeses seguidores do aguerrido
tirolês Andreas Hofer (1767-1810), conhecido como “o Chouan do Tirol”.Esses
portavam o Escudo para
se protegerem nas lutas contra as tropas napoleônicas que invadiram o Tirol.
Um fato histórico semelhante ocorreu, na época atual, em Cuba. Os
católicos cubanos que não se deixaram subjugar pelo regime comunista, e o
combateram, tinham especial devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Quando presos
e levados para o “paredón” (onde eram sumariamente fuzilados), enfrentaram os
carrascos fidelcastristas bradando “Viva Cristo Rei! — seguindo o
exemplo de seus irmãos no ideal católico, os Cristeros, no México,
também martirizados por ódio à Fé, no início do século XX.
Na antiga Pérola das Antilhas (atual Ilha Presídio)
antes de ser escravizada pela tirania de Fidel Castro, havia muitas estátuas do
Sagrado Coração de Jesus em suas bem arborizadas praças. Mas, após a dominação
comunista, as belas estátuas do Sagrado Coração de Jesus foram derrubadas e —
pasme o leitor — substituídas por estátuas de Che Guevara… A estátua do
guerrilheiro que tinha suas mãos tintas de sangue inocente, desse
revolucionário que fez correr um rio de sangue por vários países
latino-americanos, colocada em lugar da imagem do Sagrado Coração, que
representava a misericórdia divina e o perdão!
O bem-aventurado Papa Pio IX e o Detente
Em 1870, uma senhora romana, desejando saber a opinião do Sumo
Pontífice Pio IX a respeito do Escudo do Sagrado Coração de Jesus,
apresentou-lhe um. Comovido à vista desse sinal de salvação, o Papa concedeu
aprovação definitiva a tal devoção e disse: “Isto é, senhora, uma
inspiração do Céu. Sim, do Céu”. E, depois de breve
recolhimento, acrescentou:
“Vou
benzer este Coração, e quero que todos aqueles que forem feitos segundo este
modelo recebam esta mesma bênção, sem ser necessário que algum outro
padre a renove. Ademais, quero que Satanás de modo algum possa causar dano
àqueles que levem consigo o Escudo, símbolo do Coração adorável de Jesus” 7.
Para impulsionar o piedoso costume de portar consigo o Escudo, o
Bem-aventurado Pio IX concedeu, em 1872, 100 dias de indulgência para todos os
que, portando essa insígnia, rezassem diariamente um Padre Nosso, uma Ave Maria
e um Glória ao Pai 8.
Depois disso, o Santo Padre compôs esta bela oração:
“Abri-me
o vosso Sagrado Coração, ó Jesus!… mostrai-me os seus encantos, uni-me a
Ele para sempre. Que todos os movimentos e palpitações do meu coração, mesmo
durante o sono, Vos sejam um testemunho do meu amor e Vos digam sem cessar:
Sim, Senhor Jesus, eu Vos adoro… aceitai o pouco bem que pratico… fazei-me a
mercê de reparar o mal cometido… para que Vos louve no tempo e Vos bendiga
durante toda a eternidade. Amém” 9.
O Escudo em ocasiões de grande perigo
Em nossos tempos em que, devido à violência avassaladora e
generalizada, os perigos nos ameaçam de todos os lados, é de primordial
importância o uso do Escudo do Sagrado Coração de Jesus. Levando-o conosco —
pode-se também colocá-lo em nossa casa, junto ao material escolar dos filhos,
no automóvel, local de trabalho, sob o travesseiro de um enfermo etc. —
estaremos, no interior de nossas almas, como que repetindo o que disse o
Apóstolo São Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rom
8,31). Pois não há perigo de que Ele não possa nos livrar. E mesmo em meio às
dificuldades que a Providência envie para nos provar, estaremos confiantes na
proteção divina, que nunca abandona aqueles que recorrem pedindo amparo e
proteção.
Evidentemente, se nosso pedido de auxílio for feito por meio da
Santíssima Mãe de nosso Divino Redentor, Ele nos ouvirá com muito mais agrado e
mais rapidamente nos atenderá. Pois Ele a constituiu Medianeira de todas as graças,
dando-nos assim uma prova ainda maior de amor, ao nos dar por Mãe sua própria
Mãe.
O Sagrado Coração de Jesus e Maria
São João Eudes (1601-1680) — fundador da Congregação de Jesus e Maria
— de tal modo considerava uma só as devoções ao Sagrado Coração de Jesus e ao
Imaculado Coração de Maria, que dizia: “o Sagrado Coração de Jesus e Maria”. Note
bem o leitor, a frase está no singular, como se fosse um só coração, para assim
acentuar a íntima união de ambas as devoções. Dois Corações inseparáveis, tão
unidos que não se pode querer considerá-los separadamente.
Não ama verdadeiramente o Sagrado Coração de Jesus, quem não ama o
Imaculado Coração de Maria. Por essa razão é que na Medalha Milagrosa,
universalmente conhecida, estão cunhados, em seu reverso, os dois corações: o
de Jesus e o de Maria. O primeiro cercado de espinhos e o segundo transpassado
por uma espada.
Por ocasião da celebração em Paray-le-Monial do centenário da
Consagração do gênero humano ao Sagrado Coração de Jesus, realizada por Leão
XIII em 11 de junho de 1899, João Paulo II enviou uma mensagem na qual acentua
a união da devoção ao Coração de Jesus e ao Coração de Maria Santíssima: “Depois de São João
Eudes, que nos ensinou a contemplar Jesus — o coração dos corações — no coração
de Maria, e a fazer com que amássemos estes dois corações, o culto prestado ao
Sagrado Coração expandiu-se”.
O reinado social do Coração de Jesus e
Maria
Imaculado Coração de Maria
“Nada
nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo, do
que a convicção de que em todas as nossas misérias, em todas as nossas quedas,
não temos apenas, a nos olhar com o rigor de Juiz, a infinita Santidade de
Deus, mas também o coração cheio de ternura, de compaixão, de misericórdia, de
nossa Mãe Celeste”— escrevera Plinio Corrêa de Oliveira nas páginas
do “Legionário”.
O inolvidável fundador da TFP prossegue: “Onipotência suplicante,
Ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande
tarefa de nosso reerguimento moral. Com este coração, todos os terrores se
dissipam, todos os desânimos se esvaem, todas as incertezas se desanuviam. O
Coração Imaculado de Maria é a Porta do Céu, aberta de par em par aos homens de
nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta, ninguém a poderá fechar —
nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.
Fazer
apostolado é, essencialmente, salvar almas. Aos que se interessam pelo
apostolado, nada deve importar mais do que o conhecimento das devoções
providenciais com que o Espírito Santo enriquece a Santa Igreja em cada época,
para a utilidade das almas. O Sumo Pontífice atualmente reinante [Pio
XII] aponta
duas devoções: a do Sagrado Coração de Jesus, a do Coração Imaculado de Maria.
Aparecendo
em Fátima, Nossa Senhora disse textualmente aos pastorezinhos que uma intensa
devoção ao Coração Imaculado de Maria seria o meio de salvação do mundo
contemporâneo. Milagres sem conta têm atestado a autenticidade da mensagem
celeste. Não nos resta senão conformarmo-nos ao ditame que dela decorre. Se
essa é a salvação do mundo, se queremos salvar o mundo, apregoemos o meio
providencial para sua salvação. No dia em que tivermos
legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o
Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro. Com efeito, essas duas
devoções não se podem separar. A devoção a Maria Santíssima é a atmosfera
própria da devoção a Nosso Senhor. O verão traz as flores e os frutos. A
devoção a Nossa Senhora gera como fruto necessário o amor sem reservas a Nosso
Senhor Jesus Cristo. E, no dia em que o mundo inteiro voltar a Jesus por Maria,
o mundo estará salvo” 10.
Analogia entre Paray-le-Monial e Fátima
Em Paray-le-Monial, Nosso Senhor disse a Santa Margarida Maria
Alacoque: “Não
receeis nada; Eu reinarei apesar de meus inimigos e de todos aqueles
que a isso queiram se opor” 11.
Em Fátima, no dia 13-7-1917 — mais de três séculos após as aparições
de Paray-le-Monial — Nossa Senhora confirma indiretamente a revelação feita à
santa confidente do Sagrado Coração de Jesus, quando afirmou
categoricamente: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
É a confirmação da vitória final, com a efetivação da realeza
sagrada do Coração de Jesus e Maria sobre a Terra inteira; do restabelecimento
do reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre todos os corações, sobre
todos os povos.
Com a realização dessas duas grandes promessas, estará sendo atendida
a súplica que há 2000 anos a Cristandade vem fazendo, ao rezar o Padre Nosso: “Venha a nós
o vosso Reino, seja feita a vossa Vontade, assim na Terra como no Céu” (Mt
6,9-13). O
que — vem a propósito relembrar, no final deste artigo — corresponde à
inscrição que consta na parte inferior do maravilhoso Escudo do Sagrado Coração
de Jesus.
* * *
Santa Margarida Maria Alacoque – Confidente do Sagrado
Coração de Jesus
Essa grande santa
visitandina nasceu em Verosvres (França), em 22-7-1647, e três dias depois
recebeu o batismo.
Ainda muito pequena,
bastava alguém dizer-lhe que tal coisa ofendia a Deus, para que ela
compreendesse imediatamente que não se devia fazer. A menina Margarida Maria
rezou certo dia: “Ó meu Deus, eu Vos consagro minha pureza e Vos faço o voto de
castidade perpétua”. Mais tarde, ela própria disse que não
sabia o que significava“voto de castidade perpétua”, mas sentiu-se inspirada a
fazer essa consagração.
Quando contava oito anos,
devido à morte de seu pai, passou dois anos como aluna no convento das
clarissas, em Charolles, e fez ali sua primeira comunhão. Vendo o bom exemplo
das religiosas, nasceu em sua alma a vocação religiosa.
Como um indício da grande
vocação a que ela era chamada, é oportuno lembrar um fato de sua vida: muito
devota da Santíssima Virgem, rezava todos os dias o terço de joelhos. Mas um
dia rezou-o sentada. Nossa Senhora apareceu-lhe e a repreendeu: “Estranho muito, minha
filha, que me sirvas com tanto desleixo”.
Mais tarde, quando
manifestou a familiares seu desejo de ser religiosa, esses pressionaram-na
para que entrasse no convento das ursulinas. Ela respondia: “Eu quero ir às
visitandinas, em um convento bem longe, onde não tenha nem parentes nem
conhecidas, porque não quero ser religiosa senão por amor de Deus”.
Afinal, aos 24 anos, seu
desejo se cumpriu, depois de 10 anos de provações. Entrou no convento das
visitandinas de Paray-le-Monial da Ordem da Visitação de Santa Maria —
instituição religiosa fundada por São
Francisco de Sales (1567-1622) e Santa
Joana de Chantal (1572-1641). Esse convento francês fora escolhido por
Nosso Senhor para, a partir daí, mais intensamente expandir pelo mundo
inteiro a devoção a seu Sacratíssimo Coração.
Como religiosa nesse
convento, por três ocasiões sucessivas o Divino Redentor apareceu-lhe com o
Sagrado Coração à mostra, fez-lhe ver o desejo ardente que tinha de salvar os
pecadores e pediu a instituição de uma festa litúrgica para honrá-Lo, bem
como a comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras do mês.
Tal missão não se
realizaria senão com muitas lutas e sofrimentos. Ela era criticada dentro e
fora do convento. Internamente, criticava-se tal devoção como sendo uma “novidade
extravagante”; externamente, era criticada pelos
jansenistas* — os progressistas da época. Esses atacavam
virulentamente o culto ao Sagrado Coração e à Eucaristia.
Entretanto, o Divino
Redentor quis servir-se da santa religiosa visitandina para difundir
universalmente a devoção. Após sua morte, em 1690, a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus estendeu-me muito, não apenas na França, mas por outros
países. Ela foi canonizada em 1920, pelo papa Bento XV**.
____________
* Jansenismo: heresia
que constituiu uma corrente semi-protestante no interior da Igreja. Era de um
rigorismo hirto e despropositado. Foi instituída pelo holandês Cornélio
Jansênio, bispo de Ypres (1636). Este negava a infinita misericórdia de Deus
e defendia a predestinação. Tal heresia foi condenada por diversos Papas,
entre os quais Inocêncio X, pela bula papal Cum occasione (1653).
** Cfr. Vie et Révélations de
Sainte Marguerite-Marie Alacoque écrites par elle-même, Imprimerie
St-Paul, Bar-le-Duc, França, 1947; e
http://www.corazones.org/santos/margarita_maria_alacoque_escritos.htm.
Alguns apóstolos da devoção ao Sagrado Coração de Jesus
O Papa Pio XII, pela
Encíclica Haurietis Aquas (1956), recorda alguns santos que mais se
distinguiram na difusão dessa devoção.
São Cláudio
de la Colombière
“Querendo agora indicar
as etapas gloriosas percorridas por este culto na história da piedade cristã,
mister é recordar, antes de tudo, os nomes de alguns daqueles que bem podem
ser considerados os porta-estandartes desta devoção, a qual, em forma privada
e de modo gradual, foi-se difundindo cada vez mais nos institutos religiosos.
Assim, por exemplo,
distinguiram-se por haver estabelecido e promovido cada vez mais este culto
ao Coração Sacratíssimo de Jesus: São Boaventura, Santo Alberto Magno, Santa
Gertrudes, Santa
Catarina de Siena, o Beato Henrique Suso, São Pedro Canísio e São
Francisco de Sales. A São João Eudes deve-se o primeiro ofício litúrgico em
honra ao Sagrado Coração de Jesus, cuja festa se celebrou, pela primeira vez,
com o beneplácito de muitos Bispos de França, a 20 de outubro de 1672.
Mas, entre todos os
promotores desta excelsa devoção, merece lugar especial Santa Margarida Maria
Alacoque, que, com a ajuda do seu diretor espiritual, o Beato Cláudio de la
Colombière, e com o seu zelo ardente, conseguiu, não sem admiração dos fiéis,
que este culto adquirisse um grande desenvolvimento e, revestido das
características do amor e da reparação, se distinguisse das demais formas da
piedade cristã”*.
*
* *
Nesse documento, Pio XII
destaca o Beato Cláudio de la Colombière (1641-1682), canonizado em 1992 por
João Paulo II. Este santo jesuíta desempenhou papel fundamental na propagação
das revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria. Foi ele o
primeiro a crer na veracidade dessas revelações e quem apoiou a santa em seus
momentos mais difíceis, devido à oposição e às perseguições que ela sofreu
por parte daqueles que não acreditavam nas revelações. Providencialmente, São
Cláudio tornou-se o diretor espiritual da santa visitandina**.
_________
* Pio XII,
Encíclica Haurietis
Aquas, nn. 60-61. Apud Péricles Capanema Ferreira e Melo, O estandarte da vitória
– A devoção ao Sagrado Coração de Jesus e as necessidades de nossa
época, Artpress, São Paulo, 1998, p. 28.
* * *
Algumas importantes
datas
1765: Decreto
da Congregação dos Ritos, de 25 de janeiro, concedendo aos Bispos da Polônia
e à Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração a faculdade de celebrar a festa
litúrgica do Sagrado Coração de Jesus. No dia 6 de fevereiro, o Papa Clemente
XIII aprova o decreto. Em 10 de julho, a autorização é concedida também às
freiras visitandinas.
1856:
O Santo Padre Pio IX, por decreto da Congregação dos Ritos, em 23 de
agosto, “atendendo
às súplicas dos Bispos da França e de quase todo o mundo católico, estendeu a
toda a Igreja a festa do Sagrado Coração”.
1899:
O Papa Leão XIII promulga, em 25 de maio, a Encíclica Annum Sacrum sobre
a consagração do gênero humano ao Sagrado Coração. E realiza essa solene
consagração em 11 de junho. Ato considerado por Leão XIII como o mais
importante de seu pontificado.
1925: Encíclica Quas Primas, de
Pio XI, instituindo a festa de Cristo Rei.
1956:
Encíclica Haurietis
Aquas, de Pio XII, sobre o culto ao Sagrado Coração. Publicada
na comemoração do centenário da extensão para a Igreja Universal da
festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus. É o documento por excelência
sobre o tema, com os fundamentos teológicos dessa devoção. Refuta cabalmente
as principais objeções levantadas contra ela.
2002:
Documento da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
(Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia) publica os princípios e as
orientações sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus.“Não há dúvida de que a
devoção ao Sagrado Coração do Salvador foi, e continua sendo, uma das
expressões mais difundidas e amadas pela piedade eclesial [...]. Como têm
recordado freqüentemente os Romanos Pontífices, a devoção ao Coração de
Cristo tem um sólido fundamento nas Sagradas Escrituras [...], constitui uma
grande expressão histórica da piedade da Igreja para com Jesus Cristo, seu
esposo e senhor; requer uma atitude de fundo, constituída pela conversão e
reparação, pelo amor e a gratidão, pelo empenho apostólico e a consagração a
Cristo e à sua obra de salvação. Por isto a Sé Apostólica e os Bispos a
recomendam, e promovem sua renovação”.
|
Notas:
1– Sainte
Marguerite Marie, Sa vie écrite par elle-même, Edições Saint Paul,
Paris, 1947, pp. 70-71. Imprimatur de M. P. Georgius Petit, Bispo de Verdun.
2– Pe. Jules Chevalier, Le Sacré-Coeur de Jésus, Retaux-Bray,
Paris, 1886, p. 382.
3– http://www.corazones.org/ (Vida
y Obras, vol. II, p. 306).
4– Cfr. Padre Auguste Hamon, S.J., Histoire de la Dévotion au Sacré-Coeur de
Jésus, vol. III, p. 425 a 431.
5– Cfr. De Franciosi, S.J., La dévotion au Sacré-Coeur de Jésus, pp.
289 – 290.
6– Op. cit. p. 289.
http://www.devocoes.hpg.ig.com.br/coracaodejesus/
8– Op. cit.
9– Op. cit.
10– Plinio Corrêa de Oliveira, “Legionário”, 30-7-44.
11– Sainte
Marguerite Marie, Sa vie écrite par elle-même, Edições Saint Paul,
Paris, 1947, p. 192.
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