Lê-se no
Evangelho de São Mateus: “Na ocasião da morte de Jesus, o véu do Templo se
rasgou em duas partes de alto a baixo; a terra tremeu, partiram-se as pedras;
muitos corpos de santos, adormecidos no sono da morte, ressuscitaram e, saindo
das sepulturas depois da Ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e
apareceram a muitos”.
Santo Tomás de
Aquino, comentando essa passagem, diz que os corpos daqueles “Santos”,
ressuscitados à morte do Redentor e aparecidos em Jerusalém para conforto dos
bons e consternação dos maus, não morreram mais, mas, no dia da Ascensão,
subiram com Jesus em alma e corpo ao Paraíso. Entre esses Santos ressuscitados,
muitos Doutores, como S. Bernardo, S. Jerônimo, S. Remígio, contam também São
José. Jesus, como filho bem-educado e reconhecido, devia honrar o pai também
depois da morte; e teria Ele, ressuscitando tantos outros, esquecido o seu pai
adotivo São José?
O mesmo Santo
Tomás diz ainda: “Quanto mais um objeto se aproxima de seu princípio, tanto
mais participa dos efeitos de tal princípio: a água é tanto mais pura, quanto
mais próxima da fonte; a luz mais vivida, quanto mais se chega ao sol; o calor
mais ardente, quanto mais se aproxima do foco: assim, a Bem-aventurada Virgem,
a mais próxima de Jesus Cristo, quanto à humanidade, devia de preferência a
todos os outros, alcançar de Jesus Cristo a plenitude da graça. Também São
José, muito próximo de Jesus Cristo depois de Maria, devia alcançar uma
plenitude maior de graça”.
Escreveu São
Francisco de Sales, tão devoto do grande Patriarca, no Tratado sobre as
virtudes de São José: “Se acreditamos que, em virtude do Santíssimo Sacramento
por nós recebido, nossos corpos ressurgirão no dia do Juízo, como poderemos
duvidar de que Jesus tenha feito subir ao Céu com Ele, em alma e corpo, o
glorioso São José, que tivera a honra e graça de levá-Lo tantas vezes nos
braços e de achegá-Lo ao próprio coração? Tenho por certíssimo que São José
está no Paraíso em alma e corpo.
De fato, fala-se
em relíquias e objetos que pertenceram a São José (uma parte de seu manto se
conserva na Igreja de Santa Anastásia em Roma, seu anel nupcial em Perúgia e
seu bastão em um cilindro de ouro na Igreja dos Anjos em Florença), mas
relíquias de seu corpo, não existem em lugar algum, porque já estão no Céu em
alma e corpo. Parece-me, portanto, que ninguém pode duvidar de tal verdade”.
Também o Pe.
Suarez, em seu Tratado da Encarnação, sustenta que o Esposo de Maria se acha no
Céu, também, com o corpo ressuscitado e glorioso.
Escreveu o Pe.
Isidoro Isolano: “A São José foi concedida uma dupla estola, isto é,
aproximou-se de Jesus em Sua Ascensão ao Céu em alma e corpo, e no Céu, acha-se
assentado no primeiro lugar, após Jesus e Maria”.
Mas, ainda
querendo supor que os corpos ressurgidos à morte de Jesus tenham voltado a
morrer, o de São José, sendo ele de grau e condição bem mais sublime em relação
a Jesus e Maria, não devia voltar ao sepulcro; especialmente depois que Jesus,
como diz Isolano, assistindo ao seu feliz trânsito e ao sepultamento de seu
corpo, lhe dera uma bênção particular, a fim de que seu corpo não estivesse
sujeito, em absoluto, à putrefação.
São Bernardino
de Sena, pregando um dia em Pádua, disse a seu numerosíssimo auditório:
“Asseguro-vos, irmãos, que São José está no Céu em alma e corpo, e que goza lá
em cima de uma glória imensa”. E, a confirmar tal asserção, todo o auditório
viu, naquele momento, brilhar sobre a cabeça do santo pregador uma prodigiosa e
luminosa cruz.
E, se a figura
de São José em sua vida humilde, retirada e escondida aparece tão bela, se as
sombras de sua morte, iluminadas pelas luzes de Jesus e de Maria, com que luz
não devia resplandecer no dia de sua ressurreição, acompanhando o Autor da
vida, livre então da sepultura, vencedor da morte à qual trazia acorrentada em
seu carro de triunfo!
Entre todos os
Santos que formavam o cortejo do Triunfador, nenhum possuía, mais que São José,
o direito de aproximar-se de sua Sagrada Pessoa. Os Anjos de certo contemplavam
com admiração o Santo Patriarca, cujo corpo glorioso resplandecia mais do que o
sol.
O douto e
piedoso João Cartagena (in Sacr. Arc. M. I. 1. IV, hom. 8 e 9), após uma longa
dissertação sobre a santidade de São José e a sublimidade de seu Ministério,
assim conclui: “Creio ser mais lógico que temerário, ao dizer que, após a
Santíssima Virgem, São José se acha colocado no Céu em primeira ordem; porque,
tendo possuído a preeminência da santidade na Igreja Militante, deve possuir a
da glória na Igreja Triunfante; tendo sido associado, durante a vida, aos
cuidados maternos, às fadigas, às dores de Maria, não seria justo que d’Ela o
afastassem na glória”.
De muita
importância é ainda o testemunho do Cardeal Lépicer. Diz ele: “Deus, cuja
misericórdia é infinita, não se contentou em recompensar a fidelidade de São
José concedendo-lhe o privilégio da morte mais invejável que se possa imaginar.
Quis que o corpo não permanecesse por longo tempo no sepulcro, mas ressurgisse
para a vida imorredoura. Na manhã de Páscoa, ao ressurgirem com Jesus muitas
pessoas, ressurgiu também o Pai adotivo de Jesus; ressurgiu não mais para
morrer, mas para subir com Jesus glorioso e triunfante ao Céu no dia da
Ascensão.
“Devia-se esta
graça ao Santo Patriarca, em prêmio da singular fidelidade com que em vida
continuamente assistira e protegera Jesus e Maria. Era a justa recompensa do
especial cuidado que sempre tivera em conservar o corpo livre de toda mácula de
impureza. Antes, se ha Santo no Céu a quem convenha a auréola da Virgindade, é
de certo São José. Coroado por Jesus mesmo, deve presidir à Bem-aventurada
multidão daqueles que, desprezando os prazeres sensuais, após uma vida angélica
seguem o Cordeiro para onde quer que Ele vá”.
Do antigo José
se disse que “seus ossos foram visitados e depois da morte profetizaram”
(Eccli. XLIX, 18), isto é, foram, como ele predissera, religiosamente
transferidos do Egito para a Terra de Canaã. De São José, de quem o antigo José
era apenas uma pálida figura, pode crer-se que por virtude de Jesus Cristo foi
restituído à vida, para ser transferido ao Céu, no dia da Ascensão, impassível,
imortal, sutil e glorioso para reinar com Cristo por toda a eternidade.
Os favores e o
gozo com que Deus recompensa na pátria celeste as almas eleitas, são tão
grandes que não é possível imaginá-los nem desejá-los quanto merecem. Eis as
suas belas e consoladoras promessas: Ao vencedor concederei sentar-se Comigo em
Meu trono, como Eu também, Vencedor, sentei-Me com Meu Pai em Seu trono. Aos
Meus Santos, darei absoluto poder sobre as nações, como Eu mesmo o recebi de
Meu Pai. Preparar-Vos-ei o reino como o Pai o preparou para Mim, a fim de
comerdes e beberdes à mesa de Meu reino, e de vos sentardes nos tronos, como
juízes das onze tribos de Israel.
E prometeu mais
ainda: Prenderá Ele mesmo o Seu vestido à cintura, e, após fazê-los sentar à
mesa, Ele, Senhor e Deus, andará a seu redor para servi-los.
Que honra para o
homem, sentar-se à mesa de Deus, ser servido por Ele e receber de Sua mão
divina e onipotente o celeste alimento da Bem-aventurança! E quem poderá jamais
compreender isto?
Quem poderá
jamais compreender o amor e a glória concedidos por Deus aos habitantes do Céu?
Eis as palavras de São Tomás em seu Opúsculo 63: “Deus onipotente coloca-se à
disposição dos Anjos e dos Santos com tanta solicitude, que verdadeiramente se
julgaria fosse Ele o servo de cada um deles e reconhecesse em cada um dos
Bem-aventurados o seu Deus”.
Feliz daquele
que, a exemplo de São José, se torna digno da ressurreição gloriosa! Feliz
daquele que sabe provar a suavidade e doçura do Senhor! Feliz daquele que
caminha inocentemente em seus caminhos, que passa os dias e as noites a
contemplar a beleza de suas santas Leis! É como a árvore plantada à beira das
correntes de água, a qual, em seu tempo, não deixará de dar fruto.
Todos
ressurgiremos. Nosso corpo, depois da morte, tornar-se-á pó, mas no fim do
mundo ressurgirá. O corpo de São José ressuscitou antes do tempo por privilégio
do Senhor; nós ressurgiremos no fim do mundo por efeito da Onipotência de Deus.
A Santa Igreja,
no dia da Festa de São José, canta a sua morte como o mais belo de todos os
triunfos, e festeja a sua feliz entrada no Céu com o belíssimo hino:
Ó José que celebramos
Com acentos de alegria.
E que sobre os Céus alçamos
Pelas glórias que irradia,
Hoje alcança a honra eterna
Onde a vida é sempiterna.
Oh! Feliz e plenamente,
Plenamente venturoso,
Quem ao lado tem presente,
Ao chegar o seu repouso,
A afeição zelosa e pia
De Jesus e de Maria!
Já vencido o negro Inferno,
Já da carne o véu desfeito,
De seu sono o Deus eterno
O recebe contra o peito,
E na fronte lhe encastoa
Formosíssima coroa.
Ah! Roguemos que da glória,
Onde está no Paraíso,
O perdão por nós implore,
E no seu feliz sorriso
A celeste paz dispense
Que os sentidos sempre vence.
Ó Deus Trino e poderoso,
Que Te honrem sem medida!
Pois ao servo piedoso
Dás a graça merecida,
Ao fazê-lo sempre grande,
Nas auréolas que expande.
Amém.
__________________
Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, “São José – Na Vida de Jesus Cristo, Na Vida
da Igreja, No Antigo Testamento, No Ensino dos Papas, Na Devoção dos Fiéis, Nas
Manifestações Milagrosas”, 1ª Parte, Cap. “São José assunto ao Céu”, pp.
103-108; Edições Paulinas, Recife/PE, 1954.
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