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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 10 de junho de 2020

SANTO ANTÔNIO E O SUBLIME MILAGRE DA PREGAÇÃO AOS PEIXES.



Nas suas viagens apostólicas, Santo Antônio chegou também à cidade de Rimini, foco famoso de perniciosas heresias.

Grandes foram a confusão e a consternação, que se apoderaram dos hereges pertinazes, ao espalhar-se a notícia da chegada do celebrado pregador Antônio, justamente denominado “o Martelo dos Hereges”, e cuja irresistível eloquência se unia a tão eminente santidade.

Amando mais as trevas do erro, do que as luzes da verdade, vítimas infelizes da sua própria malícia, os Riminenses resolveram não comparecer à pregação do enviado de Deus, frustrando deste modo o seu apostolado.

Realmente foi ali, que, pela primeira vez, o insigne pregador se achou sem auditório algum, sendo assim inutilizados os seus trabalhos, esgotados os seus esforços, desvanecidas as suas esperanças e naufragados os seus projetos.

Sentindo, profundamente, não dar ganho de causa à verdade sobre a mentira, o Santo retirou-se da cidade, escondendo-se numa pequena gruta, situada em lugar bem silencioso.

Ali derramou lágrimas copiosas pela desgraça dos pobres pecadores e orou, fervorosamente, em favor de hereges tão pertinazes, pedindo para si mesmo luzes e forças, para que fossem coroados os seus novos esforços de um feliz êxito.

Na oração achou consolação e conforto. Levantou-se, resolvido firmemente a lançar mão de um meio extraordinário, para obter a realização dos seus ardentes desejos.

Percebendo a inspiração de Deus, deixa a gruta e dirige-se às praias do mar, fazendo sobre ele o Sinal triunfante da Santa Cruz. Depois levantando a voz, exclama em tom imperioso: “Peixes, escutai a palavra de Deus, já que os hereges e infiéis se recusam ouvi-la”.

Grande maravilha!

A esta intimativa do Santo aparecem incontinente inúmeros cardumes de peixes de todas as espécies, que se colocam em certa ordem e posição, formando o mais pitoresco aspecto e produzindo uma impressão indescritível. Deste modo dispostos conservam-se, esperando impacientemente ouvir a voz abençoada do servo fiel do Senhor.

Com a rapidez do relâmpago, corre pela cidade a notícia deste espetáculo prodigioso.

Imediatamente as praias ficam alastradas de curiosos, aguçados pelo desejo de se convencerem, por si mesmos, do fato, que lhes parece simplesmente incrível.

Vendo-se rodeado de um lado da aglomeração enorme dos hereges, atraídos pela novidade do ocorrido, considerando do outro lado os peixes, mais obedientes e dóceis, do que os pecadores, o glorioso apóstolo lhes faz ouvir a sua palavra inspirada, nos termos seguintes:

Meus irmãos peixes, segundo o vosso entendimento, muitas graças tendes a render ao vosso Criador, que vos destinou este elemento majestoso como moradia e, com tal munificência, que vos reservou águas doces e salgadas, ao sabor especial de cada um.

Além disto, deu-vos refúgio numerosos, a fim de pôr-vos ao abrigo das tempestades, concedeu-vos elemento transparente e límpido, para verdes perfeitamente a direção, que tendes a seguir e os alimentos a escolher, oferecidos cotidianamente para viverdes.

Na criação do mundo recebestes a bênção de Deus com o preceito de multiplicar-vos.

No dilúvio universal fostes preservados desta desgraça imensa, que extinguiu os outros animais fora da Arca de Noé.

Providos destas barbatanas, que vos adornam e vigorizam, percorreis, como voz apraz, os incomensuráveis espaços do oceano.

Vós tivestes de Deus a honrosa prerrogativa de acolherdes o grande Profeta Jonas e restituí-lo, depois de três dias, são e salvo na praia.

Foi-vos concedida ainda a honra de fornecerdes os meios pecuniários a Jesus Cristo, na sua qualidade de indigente, para satisfazer o imposto geral do censo.

Fostes vós, que tivestes a dita de servir de principal alimento ao Rei eterno, antes e depois da sua gloriosa Ressurreição.

Daqui vede quanto tendes a louvar e a bendizer a Deus, que vos preferiu aos outros animais, por meio de privilégios inúmeros!”

A estas exortações do inspirado pregador, os peixes testemunharam-lhe o seu contentamento e prazer em ouvi-lo, fazendo certos movimentos e sinais com a cabeça, rendendo deste modo, respeitosas homenagens ao Altíssimo, que se ostentava tão admirável e glorioso no seu querido e fiel servo Antônio.

Arrebatado, em santo entusiasmo, por este espetáculo maravilhoso, quase extasiado perante essa cena sublimemente bela e grandiosa, Santo Antônio exclamou:

Bendito seja Deus! Pois, mais honram o Senhor os peixes do mar, do que os homens hereges; escutam-no melhor os ouvintes privados das luzes da razão, do que os homens destituídos do clarão da fé!”

A multidão, que presenciou essa cena tocante e sumamente comovente, ficou estupefacta e convencida da santidade singular do eminente pregador e da verdade da doutrina de Jesus Cristo.

Sempre todo ternura e suavidade, para com os que erraram e pecaram, Santo Antônio então se dirigiu aos hereges, exortando-os, com todo o fervor apostólico, a renderem o justo tributo de reconhecimento e adoração ao Altíssimo, segundo o exemplo dos irracionais, a renunciarem as suas heresias e abraçarem a crença verdadeira e salvadora de Jesus Cristo.

O resultado foi surpreendente.

A cidade quase inteira converteu-se, graças às orações e pregações do insigne Ministro de Deus.

Este prodígio memorável é perpetuado por uma bela e elegante Capela, erguida no lugar pela crença e gratidão dos habitantes da cidade de Rimini.

Os Santos encontraram no decurso da sua vida muitos obstáculos a remover, no desempenho do seu Ministério, grandes dificuldades a vencer e acerbas e prolongadas dores a curtir.

Ninguém creia que lhes tenha corrido sempre tudo conforme a sua própria vontade e desejo.

Bem árduo e melindroso foi por vezes o estado, em que se acharam, como o de Santo Antônio, ao principiar a sua missão apostólica na cidade de Rimini.

Mas, como é sublime a lição, que nos deu, e claro o exemplo, que nos deixou, naquela situação dificultosa!


Não se deixou levar pelo desânimo, nem dominar-se pela indignação; nem abandona a obra já empreendida, nem procura desabafar o coração oprimido, queixando-se, murmurando e lamentando-se com os homens, não!

Abre a sua alma pela oração só ao seu Pai celestial, por cuja honra trabalha, cuja glória zela, por cujo amor sofre, de cujo auxílio espera tudo e a cuja Providência recomenda e entrega tudo com confiança filial e ilimitada.

Daí a sua paciência inabalável no meio dos sofrimentos, a sua resignação imperturbável nas dificuldades quase insuperáveis, o sucesso verdadeiramente admirável, que assinala todos os seus trabalhos.

Sigamos, portanto, os seus vestígios abençoados, no caminho do dever, da virtude e da perfeição, caminho áspero e árduo sim, mas seguro e esplêndido! Imitemos o seu exemplo fascinante!

Encontrando obstáculos, nos nossos trabalhos, na situação, em que a divina Providência nos colocou; nas ansiedades e angústias, em que nos acharmos, levantemos os olhos e o coração Àquele a quem nada é impossível. Pois é Ele mesmo, quem nos afirma:

Pedi e recebereis, procurai e achareis, batei à porta e abrir-se-vos-á”.



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Fonte: Rev. Pe. Frei Luiz, O.F.M., “A Vida e o Culto de Santo Antônio”, 1ª Parte, Cap. 17º, pp. 181-189. 3ª Edição. Butzon e Bercker – Editores Pontifícios, Petrópolis/RJ, 1907.



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