DITADA À IRMÃ JOSEFA MENÉNDEZ1
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Mistério de Amor Desprezado
7 de Março de 1923.
“Escreve o que o meu Coração sofreu naquela hora em que, não podendo conter o fogo que Me consome, inventei esta maravilha de Amor que é a Eucaristia. Ao contemplar então todas as almas que se alimentariam deste Pão divino, vi ao mesmo tempo as ingratidões de tantas almas consagradas… de tantos Padres… E que sofrimento para o meu Coração!… Vi estas almas esfriarem… abandonarem-se à rotina… e mais do que à rotina… ao relaxamento, ao tédio e, pouco a pouco, à tibieza!…
Entretanto, Eu estou toda a noite no tabernáculo e espero esta alma… Desejo com ardor que ela Me venha receber… Me fale com a confiança de uma esposa… Me exponha as suas penas, as suas tentações, os seus sofrimentos… que Me peça conselho e implore as graças de que precisa para si e para os outros… Talvez que tenha a seu cuidado ou na família almas que estão em perigo e longe de Mim… ‘– Vem – lhe digo Eu – fala-Me de tudo com toda a confiança… Interessa-te pelos pecadores… Oferece-te para reparar… Dize-Me que hoje não Me deixarás só… Depois, pergunta a meu Coração se não deseja mais alguma coisa para O consolar…’.
Eis o que Eu esperava desta alma, como de muitas outras… Mas quando ela Me recebe, mal me diz uma palavra… Está distraída, enfadada, contrariada… suas ocupações a absorvem… sua família a inquieta… as pessoas de suas relações a consomem… a sua saúde a preocupa… Não sabe que Me dizer… está fria, aborrece-se… acha que já se demorou demais…
Sim, Eu esperava-a para nela repousar e aliviar as suas inquietações… Havia-lhe preparado novas graças: ela nem sequer as deseja… nada Me pede, nem conselho, nem força… apenas se queixa, e sem mesmo as dirigir a Mim… Parece que veio apenas para cumprir uma formalidade ou seguir um costume, e porque nenhuma falta grave a impedia. Mas não é o amor que a move, nem o verdadeiro desejo de se unir a Mim. Não, esta alma não tem as delicadezas que o meu Coração esperava do seu.
E este Padre?… Ah! Como exprimir o que Eu espero de cada um dos meus Padres… Revesti-os do meu Poder para que perdoassem às almas… Pus-Me à sua disposição: à sua palavra desço do Céu à terra… Abandono-Me entre as suas mãos para ser fechado no tabernáculo ou dado na Comunhão… Eles são, por assim dizer, os meus despenseiros… Entrego-lhes, enfim, as almas, para que com a sua pregação, direção e sobretudo o seu exemplo, as guiem e conduzam pela senda da virtude.
Respondem eles todos a este chamamento?… Cumprem todos esta missão de Amor?… Hoje, ao altar, saberá o meu Padre confiar-Me as almas de que o encarreguei? Reparar as ofensas que recebo e de que ele é confidente?… Pedir-Me a força para se desempenhar santamente do seu Ministério?… o zelo para trabalhar na salvação das almas?… Saberá ele hoje renunciar-se mais do que ontem?… Dar-Me-á ele o amor que Eu espero?… e poderei repousar nele como no meu Discípulo predileto?…
Ah! Que dor aguda para o meu Coração, ver-Me forçado a dizer: ‘As almas do mundo ferem as minhas Mãos e os meus Pés e mancham o meu Rosto… mas minhas Almas escolhidas, minhas Esposas, os meus Padres, despedaçam e dilaceram o meu Coração…’ Quantos Padres, depois de terem dado a graça a muitas almas, não estão eles próprios em pecado mortal!. Quantos celebram assim, Me recebem assim… vivem e morrem assim!…
Esta foi a dor que Me trespassou no momento da Ceia, quando vi entre os Doze o primeiro Apóstolo infiel… e, depois dele, tantos e tantos outros seguirem-no pelo decurso dos séculos!…
A Eucaristia é a invenção do Amor. Ela é a vida e a força das almas, o Remédio para todas as fraquezas, o Viático para a passagem do tempo à eternidade. Os pecadores encontram nela a vida de suas almas… os tíbios, o verdadeiro calor… os fervorosos, o repouso e a dilatação dos seus desejos… os perfeitos, as asas para subirem à perfeição… as almas puras, o mel dulcíssimo de que fazem o seu alimento mais delicado.
É na Eucaristia que as almas consagradas fixam a sua morada, o seu amor e a sua vida…”.
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1. A causa da sua Beatificação foi introduzida em Novembro de 1948.
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