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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 28 de setembro de 2021

AS SETE ÚLTIMAS PALAVRAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, NO ALTO DA CRUZ. 3ª PARTE.


TERCEIRA PALAVRA1


Dixit Matri suae: Mulier, ecce filius tuus.

Deinde dixit discipulo: Ecce Mater tua”.2


Disse Jesus à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho.

Depois disse ao Discípulo: Eis aí a tua Mãe”.


Pouco a pouco, a vaga ululante e revolta dos inimigos de Jesus, permitiu que Maria Santíssima e as piedosas mulheres, que a acompanhavam com João, o discípulo amado, se aproximassem da Cruz do Redentor, que ia morrer.

O divino Crucificado fixa em sua Mãe um olhar de infinita ternura e, designando com a vista o discípulo predileto, profere estas palavras:

Mulher, eis aí o teu Filho”.

Em seguida, volvendo os olhos para Maria, disse a João:

Filho, eis aí a tua Mãe”.

Sobre esse momento culminante do sacrifício do Homem-Deus, Bossuet escreveu estas reflexões, tão tocantes e tão cheias de ensinamentos profundos:

A Mãe das Dores estava de pé junto à Cruz; via o Sangue de seu Filho transbordar de suas veias rasgadas e de todas as partes de seu Corpo. Quem poderá descrever a emoção do sangue maternal? Certamente Ela nunca compreendeu tão bem que era mãe! Todos os sofrimentos de seu Filho, dilacerando-A também, faziam-lhe conhecer isso do modo mais nítido.

O Filho de Deus, que tinha resolvido dar-no-La por mãe, a fim de ser nosso irmão sob todos os pontos de vista, escolheu este momento para lhe dizer, do alto da Cruz, e apontando para São João: – “Mulher, eis aí o teu Filho”.

Nenhum heroísmo, nenhuma fortaleza de ânimo, nenhum rasgo de coragem se poderá comparar à atitude sublime de Maria ao pé da Cruz.

A mãe de Moisés, forçada pelo império das circunstâncias, a abandonar seu filho à discrição das águas, não teve coragem para assistir até o fim e ver o triste destino do fruto de suas entranhas… Agar, no deserto, vendo seu filho torturado pela sede ardente e não podendo dessedentá-lo, afastou-se, porque não tinha coragem para assistir-lhe a morte…

Maria Santíssima, que conhecia claramente as profecias sobre a morte de Jesus, não foge à arena do sacrifício e vai ao encontro da Vítima celeste, sem temores nem vacilações de qualquer espécie.

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As palavras de Jesus Cristo são palavras de um Deus, são palavras augustas, que encerram a verdade eterna.

Meditemos um pouco e tentemos penetrar o sentido e sondar os efeitos da terceira palavra do Senhor, durante a sua agonia.

Três efeitos principais podemos verificar nessa palavra.

Naquele momento o discípulo amado representava a multidão dos filhos de Deus, de quantos, no correr dos tempos, haviam de abraçar a fé e a lei de Jesus Cristo. O Divino Mestre, antes de expirar, quis que seus filhos, na ordem da graça, não ficassem órfãos, por isso, fez de Maria Santíssima a mãe adotiva do gênero humano. E por esse modo, Jesus tornou-se nosso irmão e, mais tarde, depois da Ressurreição, podia chamar de irmãos aos seus discipulos.3

Outro efeito produzido pelas palavras do Senhor, foi Maria Santíssima receber um Coração de Mãe para conosco. É certo e, é de fé, que Deus, quando escolhe uma pessoa para exercer um cargo ou desempenhar um ofício, lhe concede graças e lhe dispensa os auxílios necessários e eficazes para cabal desempenho da missão. Assim é, que Deus concedeu a Moisés as qualidades necessárias para libertar os Israelitas, conduzi-los e guiá-los através do deserto. Mais tarde, os Apóstolos receberam poderes e graças especiais, a fim de mudarem a face do mundo pagão e converterem os homens ao reino de Deus. Igualmente, Maria Santíssima, sendo escolhida para Mãe de todos s cristãos, devia receber um Coração materno para com os novos filhos adotivos.

As obras divinas não são incompletas nem imperfeitas. Ao amor maternal de Maria para com todos os homens, devia corresponder a piedade filial da humanidade para com essa Mãe tão pura e tão boa.

Da terceira palavra da agonia do Divino Mestre, resultou a universalidade do culto da Virgem Maria, em todas as épocas e em todos os séculos da história da Igreja.

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Maria Santíssima é chamada, e com justa razão, Corredentora da humanidade.

Efetivamente. Encontramos clara e patente a participação da Virgem Maria na preparação, na realização e na aplicação da grande obra da Redenção do gênero humano.

Diz São Bernardo, que a Mãe de Deus constituiu a preocupação incessante dos séculos.

Nos livros do Antigo Testamento encontramos tantas coisas, que simbolizam a Virgem Maria, e há tantas personalidades, que A prefiguram, que sentimos justificada a supramencionada afirmação de São Bernardo.

Na realização do plano divino, insigne foi a cooperação dessa Mulher bendita e privilegiada.

Viveu estreitamente ligada às supremas humilhações, aos penosos trabalhos e aos cruéis sofrimentos do Salvador do mundo.

Tomou parte na penúria e no abandono do estábulo de Belém; suportou o exílio e a pobreza do Egito; viveu na humildade e no silêncio de Nazaré; palmilhou os caminhos poeirentos da Palestina, durante as viagens e excursões evangélicas; e, no Calvário, qual estátua viva de dor, assistiu a Paixão e Morte de seu Filho.

E, depois de tudo isso, ainda hoje, Maria Santíssima coopera na aplicação dos frutos da Redenção, intercedendo em nosso favor, junto ao trono de Deus.

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Ante as Dores de Maria, ante o sofrimento da Mãe inconsolável, ocorre à nossa mente interrogar a razão desse horrível martírio.

Deus, tão bom e tão misericordioso, permitiu que sofresse Maria, a Imaculada e Santa!

Procuremos penetrar um pouco nos misteriosos intuitos da Providência e descobriremos razões suficientes dos sofrimentos e das Dores de Maria.

Três motivos, três razões podemos encontrar como explicação dos sofrimentos da Virgem Santíssima: a glória de Deus; a glória de Maria; a felicidade dos pecadores.

A Mãe de Deus, ao pé da Cruz, representava o mundo inteiro em adoração.

Quando a humanidade sacrificava o Filho de Deus, quando se perpetrava na terra o maior crime: o deicídio – era necessário que alguém intercedesse pelos homens; era necessário que alguma criatura se interpusesse entre os crimes dos homens e a misericórdia divina.

Ao tempo em que Jesus oferecia ao Eterno Pai o seu tremendo Sacrifício, do Coração transpassado de Maria brotavam chamas de amor, de caridade e de deprecações, que subiam até o trono do Altíssimo, repetindo a súplica de Jesus: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. Foi desse modo que Maria Santíssima deu glória a Deus no Calvário, testemunhando a morte de Jesus.

A Virgem Maria sofreu tantos tormentos para aumento de sua própria glória.

Participando dos padecimentos de Jesus e associando-se à Paixão e Morte de seu Filho, Maria adquiriu méritos quase infinitos, a ponto de merecer, com justeza, ser chamada Rainha dos Anjos, dos Santos e dos homens, porque a todos juntos excedeu em méritos e virtudes.

Por último, os padecimentos de Maria Santíssima eram necessários para o nosso bem. Aquela que devia ser chamada à missão de Consoladora dos Aflitos e Refúgio dos Pecadores, devia conhecer as angústias dessa vida, provar o cálice das amarguras e experimentar, em seu Coração, as dores mais cruciantes do mundo. Ela conheceu e experimentou em Si mesma tudo quanto pode desolar e martirizar o coração humano; por isso mesmo, é tão terna e tão sensível aos nossos rogos e às nossas deprecações.

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Naquela hora angustiosa e extrema, Jesus quis chamar Mulher à Maria Santíssima, não lhe concedendo o doce nome de Mãe.

Essa circunstância merece especial reparo e aqui reproduzimos as diversas explicações, que os comentadores do Evangelho apresentam.

Em primeiro lugar, observaremos que chamar a própria mãe de mulher, nada encerrava de desprestígio; muito ao contrário, mulher, entre os povos do Oriente, é um título solene e respeitoso.

Jesus mesmo já havia empregado esse tratamento, por ocasião do milagre operado nas bodas de Caná, na Galileia.4

Jesus Cristo, dizem piedosos autores, evitou dar a Maria o doce nome de mãe, para não lhe dilacerar mais ainda o delicado Coração, proferindo palavra tão suave e tão terna.

Ainda outro motivo podemos descobrir no procedimento de Jesus Cristo, para com a sua Mãe Santíssima, naquela hora suprema.

Os judeus exprobavam a Jesus, o ter tomado o título de Filho de Deus e por essa razão O condenaram à morte.5

Não convinha, pois, naquela hora, Jesus recordar sua geração temporal, quer porque este Mistério adorável não seria compreendido, quer para não expor sua augusta Mãe aos insultos da plebe ignara e dos soldados embrutecidos.

Finalmente, Jesus deu à Virgem Santíssima o nome de Mulher, para significar que era Ela a verdadeira Mulher Forte, de que falam as Sagradas Escrituras e cujo elogio foi escrito sob a inspiração do Espírito Santo.6

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Por força do terceiro artigo do testamento do Filho de Deus, em virtude da terceira palavra pronunciada por Jesus, durante sua agonia, todos aqueles que são tocados pela graça da Redenção, compreendem que para pertencer inteira e verdadeiramente ao Crucificado, devem também ser filhos da Mãe Dolorosa.

Eis a razão pela qual os católicos, tão confiadamente, recitam esta prece:

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós,

pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.


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1.  “Espírito e Vida” – As Sete Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. J. Cabral, III Palavra, pp. 47-54, da Coleção Cristo Redentor. Empresa Editora A.B.C. Ltda, Rio de Janeiro, 1938.

2.  Joan. XIX, 26-27.

3.  Mat. XXVIII, 10.

4.  Joan. II, 4.

5.  Idem. XIX, 7.

6.  Prov. XXXI, 10.


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