Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A EUCARISTIA – BOSSUET. 25


A Eucaristia, viático dos moribundos.

Ela deposita no nosso corpo um gérmen

de vida e de imortalidade. Doce confiança

e invencíveis esperanças que ela faz nascer

nessa hora suprema. Antes de comungar,

pôr-se em estado de morte.


Consideremos aqui o Corpo do Salvador como o doce Viático dos moribundos.

Eu morro; meus sentidos se extinguem, minha vida se esvai: que tenho a desejar nesse estado senão alguma coisa que me tire o temor da morte, e me tire da escravidão em que essa apreensão me manteve durante todo o tempo de minha vida? Meu Salvador! Trazem-me o vosso Corpo, esse Corpo imortal, esse Corpo espiritualizado: recebe-O no meu: “Não morrerei, viverei. Quem comer a minha carne, dizeis vós, terá a vida eterna, e ressuscitá-lo-ei no último dia”. Restará nesse corpo morto um gérmen de vida que a podridão não poderá alterar; ficará nele uma impressão de vida que nada pode apagar. Todos os dias de minha vida quero comungar nesta esperança; quero considerar-me como moribundo, e o sou; quero receber-Vos em viático. Não temerei a morte: libertar-me-eis da servidão que esse temor me impunha. Porque temer o mal, se lhe tenho sempre o antídoto? Sem Vós, a morte é um jugo insuportável: conVosco, é um remédio, e uma passagem para a vida. Como sou feliz! Trazem-me o vosso precioso Corpo: vindes à minha casa, Hóspede celeste! E a este propósito que posso dizer: Senhor, não sou digno de que entreis em minha casa. A ela vindes não obstante; entrais nela, e não é o bastante para o vosso amor: a casa em que quereis entrar é o meu corpo.

É aqui o tempo de nos lembrarmos da vossa Morte; dessa Morte pela qual a morte foi vencida; dessa Morte que nos faz dizer com confiança: “Ó morte, onde está teu aguilhão? Ó morte, onde está a tua vitória?” Dessa Morte pela qual é cumprida esta palavra: “Romperei o vosso pacto com a morte; e a vossa aliança com o túmulo não subsistirá mais”. E ainda: “A morte será precipitada para sempre no abismo. Fazei isto em memória de mim: lembrai-vos da minha morte: anunciai-a”.

Ó Senhor! Anunciaram-me a minha; anunciem-me, porém a vossa, e nada mais temerei. Sim, agora poderei cantar com o salmista: “Se eu andar no meio da sombra da morte, não temerei nada, porque estais comigo”. Ah! Doce lembrança a da vossa Morte, que apagou os meus pecados, que me assegurou o vosso reino! Meu Salvador uno-me à vossa agonia; digo conVosco: In manus: “Meu Deus, nas vossas mãos entrego o meu espírito”. Como Vós mesmo o vindes buscar para apresentá-lo a vosso Pai! Acabou-se; tudo está consumado. Quero morrer como Vós, dizendo esta palavra: Tudo está consumado; não tenho mais nada na terra, e o vosso reino vai ser o meu quinhão. Tudo está consumado; vejo o vosso reino celeste, esse Santuário eterno, abrir-se para me receber por graça, por misericórdia, em vosso Nome, ó Jesus! Então será cumprida esta palavra: Quem me come fica em mim, e eu nele. Não Vos deixarei mais. Maldita seja a minha desgraçada e criminosa inconstância, que me fez deixar tantas vezes tão bom Senhor! E agora, meu Salvador, estarei sempre conVosco; ides marcar-me com o vosso cunho. Ah! Senhor, guardai-me até ao último suspiro, e exale-o eu nos vossos braços!

E este corpo, que será dele? Ei-lo unido ao vosso. Pelo vosso Corpo ressuscitado, ressuscitarei novinho; só deixarei na terra a mortalidade. Vivo nesta esperança; porém nela morro. Morro todos os dias, visto que não cesso de avançar para o último momento. Meus dias dissipam-se como uma fumaça, vão se como uma água rápida, cujo curso não se pode deter. Dentro de um momento, passarão onde eu estava, e não me acharão mais. Eis aí o quarto dele, ali está o seu leito, dirão; e de tudo isso, não resta mais senão o meu túmulo, onde dirão que estou; e não estou nele; haverá nele apenas um resto de mim mesmo; e esse resto, tal qual, diminuirá a cada momento, e se perderá afinal.

Como isso é triste! Sim, se eu não tivesse vosso Corpo para me tornar a dar a vida. Esta esperança me sustenta. Quero sempre considerar-me em estado de morte, confessar-me qual um moribundo, dispor-me a cada vez como se fosse morrer. Morro: fechai-me os olhos; não veja eu mais as vaidades; envolvei-me com esse pano; não preciso mais de outra coisa, restitui-me a minha nobreza natural, metei-me na terra. É dela que venho segundo o corpo, é a ela que devo tornar; foi essa a minha mãe que me gerou para morrer; ela me dará à luz um dia para não morrer mais. Não falemos, pois, de morte; não passa de um nome, de morte só há o pecado.


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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XXV, pp. 111-114. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.


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