Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 2 de novembro de 2021

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS.


Introdução1


A festa de Todos os Santos anda inteiramente ligada à lembrança das almas santas detidas ainda no Purgatório para expiar as faltas veniais e se purificarem da pena temporal que mereceram pelos pecados, mas que no entanto estão confirmadas em graça e hão de entrar um dia no Céu. Depois de celebrar com alegria a Igreja triunfante do Céu, a Igreja da terra (militante) estende a sua solicitude maternal ao lugar de tormentos indizíveis, onde vivem as almas em estado de purificação, as quais pertencem igualmente à Igreja e à Comunhão dos Justos. “Hoje, diz o Martirológio romano, comemoração de todos os Féis Defuntos. A nossa comum e piedosa Mãe, a Igreja, depois de celebrar condignamente a memória daqueles seus filhos que já entraram na glória, procura auxiliar pela sua poderosa intercessão junto de Jesus Cristo, seu Esposo e Senhor, todos aqueles que gemem ainda nas penas do Purgatório, para que se lhes abreviem os dias de exílio e se vão reunir à sociedade dos Santos”. Em nenhum outro lugar da Liturgia se afirma, de modo tão realmente belo, o misterioso vínculo que une num só Corpo a Igreja Militante, Padecente e Triunfante. Nunca de certo se cumpriu de modo tão palpável o duplo dever de caridade que deriva para todo o cristão, do fato da sua mesma incorporação no Corpo Místico de Cristo. Em virtude do Dogma tão consolador da Comunhão dos Santos, podem os merecimentos e sufrágios de qualquer um de nós circular nas veias deste Corpo santíssimo e afluir em ondas de vida nova e de consolador auxílio aos membros mais distantes e precisados. De maneira que, sem lesar os direitos imprescritíveis da justiça divina que será aplicada em todo o rigor após esta vida, a Santa Igreja pode conjugar as preces da terra e do Céu e suprir com elas o que falta às Almas do Purgatório, aplicando a estas almas santíssimas os merecimentos de Jesus Cristo por meio do Santo Sacrifício da Missa, das indulgências, da esmola e demais obras de piedade cristã. A liturgia, que tem como centro o Sacrifício do Calvário continuado sobre os nossos altares, foi em todos os tempos o meio principal de que a Santa Igreja se serviu no cumprimento deste dever de caridade para com os que nos precederam. Começamos a encontrar Missas de Defuntos já a partir do século V. A Santo Odilão, IV Abade do célebre mosteiro de Cluny, se deve no entanto a comemoração geral de todos os defuntos que ele instituiu em 978 e mandou celebrar no dia seguinte à festa de Todos os Santos. A influência desta ilustre Congregação francesa estendeu em breve este louvável costume a todo o mundo cristão. Por concessão de Bento XIV, todos os Padres de Portugal, Espanha e Conquistas podem celebrar três Missas no dia 2 de Novembro. Este privilégio foi estendido por Bento XV em 1915 a toda a Igreja. “As Almas do Purgatório, diz o Concílio de Trento, podem ser socorridas com os sufrágios dos fiéis e de modo particularmente eficaz com o Santo Sacrifício do Altar”. E a razão disto reside no fato de que o Sacerdote oferece a Deus oficialmente o resgate das almas, quer dizer, o Sangue de Jesus Cristo, e em que o mesmo Senhor Jesus Cristo se oferece ao Pai debaixo das espécies do pão e do vinho no ato mesmo do Sacrifício Redentor. Todos os dias, mesmo no coração do Cânon, o Sacerdote recorda, em memento especial, a memória dos que adormeceram no Senhor e pede para eles o refrigério da luz e da paz. Não há pois dia, não há Missa em que a Santa Igreja não ore pelos mortos. Hoje porém, lembra-se particularmente de todos, preocupada com não deixar nenhum sem o seu maternal socorro (S. Agostinho – Matinas). Assistamos todos à Missa no dia 2 de Novembro e peçamos a Deus para os nossos mortos, que nada podem por si só, a remissão dos pecados e o repouso eterno. Visitemos também os cemitérios onde repousam, até que se complete para eles a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e ressurjam revestidos de glória imortal para cantar os louvores de Deus para sempre.



Brevíssima Explicação do Dogma2


A Igreja Católica definiu a existência do Purgatório em dois Concílios Ecumênicos: no de Florença em 1439 e mais tarde no de Trento3, que diz: “A Igreja Católica, instituída pelo Espírito Santo, baseada nas Escrituras Sagradas e nas antigas Tradições dos Padres, declarou nos Santos Concílios e ainda muito recentemente neste Sínodo Ecumênico4. Que existe um Purgatório, e que as almas nele detidas podem ser auxiliadas pelos sufrágios dos fiéis, mas principalmente pelo aceitável Sacrifício do altar”.

O mesmo Concílio declarou5, de conformidade com as Escrituras6, que Deus nem sempre perdoa neste mundo a pena temporal devida aos pecados.

Por outro lado, as mesmas Escrituras Sagradas dizem que nada pode entrar no Céu manchado7, e que os cristãos morrem muitas vezes com pecados veniais.

Portanto, todos os que morrem com faltas veniais, ou com penas temporais não remitidas, têm de as expiar no Purgatório.

A doutrina do Antigo Testamento sobre o Purgatório funda-se no Segundo Livro dos Macabeus8.

Judas Macabeus vencera Górgias numa batalha.

Indo sepultar os seus mortos e encontrado em suas túnicas algumas moedas tomadas das ofertas feitas aos ídolos de Jâmnia, o que era contra a Lei9, fez uma coleta, recolheu 12 mil dracmas de prata e enviou-as a Jerusalém, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados dos mortos.

Não julgou que eles tivessem pecado mortalmente, “pois considerou que, tendo morrido piedosamente, tinham assegurado uma grande paz”.

O Escritor sagrado acrescenta: “É um santo e salutar pensamento orar pelos defuntos, a fim de que, sejam livres dos seus pecados”.

É verdade que os Protestantes consideram apócrifos os Livros do Macabeus, mas eles têm a mesma autoridade que Isaías ou São João: têm por si o divino e infalível testemunho da Igreja Católica.

Mas, prescindindo mesmo de terem sido divinamente inspirados, podemos citá-los como testemunho histórico da crença dos Judeus no “Purgatório” muitos séculos antes de Cristo.

Jesus Cristo fala de perdão de pecados “no outro mundo”10, o que se refere, segundo Santo Agostinho11 e São Gregório Magno12, ao Purgatório.

São Paulo, falando de pecados leves que serão queimados pelo fogo, “mas a alma será salva como que por intervenção do fogo”13, refere-se igualmente ao Purgatório, segundo Orígenes14, São Jerônimo15, Santo Ambrósio16 e Santo Agostinho17.

Todos os Santos Padres, do Oriente como do Ocidente, mencionam o costume de orar pelos defuntos.

Tertuliano (160-240) fala de Missas de aniversário de defuntos em dois passos diferentes: “Consagramos um dia por ano a oblações pelos mortos, como se fosse dia de seu nascimento”18. “A viúva fiel ora pela alma de seu falecido esposo, pedindo primeiro para ele refrigério, e depois a união e companhia com ela após a ressurreição: e com este fim faz oblações no dia do aniversário de sua morte”19.

São Cipriano (200-250) decretou que não se fizesse oblação nem oferecesse sacrifício pelo Sacerdote que tivesse sido “testamenteiro”20.

Santo Ambrósio (340-397) disse na “Oração fúnebre” do Imperador Teodósio: “Dá, Senhor, repouso perfeito ao Teu servo Teodósio, esse repouso que preparaste para os Teus santos…

Eu amei-o, e por isso, quero estar com ele na terra dos vivos; nem descansarei até que minhas lágrimas e orações o levem para onde os seus méritos o chamam, para o monte santo do Senhor”21.

Santo Agostinho (354-430) escreve que sua mãe, Santa Mônica, lhe disse já moribunda: “Enterra este meu corpo onde quiseres, e não te incomodes mais com ele.

Uma coisa te peço: onde quer que estiveres, lembra-te de mim ao altar do Senhor”22.

São Cirilo de Jerusalém (315-386) escreve: “Rogamos pelos santos Sacerdotes e Bispos que nos precederam, bem como por todos os que faleceram em comunhão conosco, pois cremos que suas almas recebem grande auxílio, quando oramos por elas, e principalmente quando por elas oferecemos o Santo Sacrifício”23.

São João Crisóstomo (344-407): “Não são vãs as oblações que fazemos pelos defuntos: não são vãs as súplicas; não são vãs as esmolas”24.

Todas as antigas Liturgias, do Oriente como do Ocidente25, contém orações pelos mortos.

Lembra-te, Senhor, dos Teus servos N. E N., que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz.

Nós Te rogamos, Senhor, que lhes concedas um lugar de refrigério, luz e paz, pelo mesmo Jesus Cristo nosso Senhor”.

Esta frase: “refrigério, luz e paz” encontra-se em muitas inscrições das Catacumbas.

A fórmula “In Pace” (Em Paz), como a nossa moderna “Requiescat in Pace” (Descanse em Paz) e outras: “Tenhas luz eterna em Cristo”; “Deus te dê refrigério” estavam gravadas nos túmulos cristãos dos três primeiros séculos26.

É estranho que os Protestantes ponham de lado tantos testemunhos, da Bíblia como da Tradição, a favor dos sufrágios pelos defuntos.

Mas, o Evangelho de Jesus Cristo forma um corpo de doutrina tão consistente, que a negação de um dogma central leva logicamente à negação de muitos outros.



Platão, apesar de filósofo gentio, escreveu:


Depois da morte, os que não são, nem totalmente criminosos, nem absolutamente inocentes, sofrem penas proporcionadas às suas faltas, até que, purificados dos seus pecados, recebem a recompensa das boas ações que fizeram”.27

Quanto aos vis celerados, réus dos maiores crimes; e por isso incuráveis… sofrem para sempre em punição dos seus crimes”.28


E Santo Agostinho ensina: “Há tantos que partem desta vida nem tão maus, que não mereçam ser olhados com misericórdia; nem tão bons, que mereçam ser considerados imediatamente como Bem-aventurados.29

Esta doutrina tradicional da Igreja “é tão conforme à razão, que muitos acatólicos honestos a admitem”.

Mallock escreve: “É decoroso reconhecer que a doutrina das penas e recompensas da vida futura nada tem que seja contrário às nossas noções do que é justo e racional.

Longe de ser uma superstição supérflua, é uma exigência da razão e da moralidade”.30


Considerações sobre esta Festa31



Motivos de socorrer as Almas do Purgatório


I Ponto.

Da parte de Deus.


Estas almas são queridíssimas de Deus… Estão mais unidas com Ele pela graça santificante do que os maiores Santos deste mundo, porque estes podem perder essa graça e aquelas já não o podem. A posse do Céu está-lhes absolutamente garantida. Deus quereria fazê-las entrar no gozo do Céu imediatamente, perdoando-lhes, sem mais, as dívidas por elas contraídas e ainda não saldadas. Mas há um decreto, estabelecido por Ele mesmo desde toda a eternidade, que o proíbe. Em virtude desse decreto, Deus não lhes abrevia os sofrimentos senão quando a prece dos vivos vai solicitá-Lo na sua Misericórdia. Por isso, convida-nos a dirigir-lhe preces com este fim, em nome do amor que tem a essas almas exiladas. Deixaremos nós de o fazer?

Aplicações: Do que acabamos de considerar, segue-se que Deus pôs, em certo modo, a sorte das Almas na nossa mão e que permanecermos indiferentes a essa sorte seria sermos indiferentes para com o próprio Deus. Para não sermos um dia acusados, no tribunal de Deus, desta falta, aproveitemo-nos da solenidade deste dia para renovarmos e aumentarmos a nossa compaixão pelas Almas do Purgatório. Temos tantos meios de as aliviar!… Em primeiro lugar há as indulgências parciais e plenárias tão numerosas e fáceis de ganhar. Apliquemo-las pelas Almas do Purgatório.

Afetos: Admiremos a infinita justiça de Deus que odeia e castiga as menores manchas do pecado até nos seus filhos prediletos! Despertemos no nosso coração uma vontade forte de evitar tudo o que seja pecado e de socorrer eficazmente as Almas do Purgatório.

Propósitos: Quando, de manhã, oferecermos a Deus todas as nossas ações e resoluções, juntemos-lhes a intenção de lucrar, em favor das almas, todas as indulgências do dia.



II Ponto.

Motivos por parte das Almas.


1º) Os sofrimentos das Almas do Purgatório são superiores a tudo o que se pode imaginar e exprimir. A menor das penas do Purgatório ultrapassa, diz São Tomás, tudo o que sofreram os Mártires, e estes sofrimentos podem prolongar-se por muito tempo. A Igreja permite que se estabeleçam aniversários por um tempo indeterminado; 2º) As almas nada podem fazer para seu alívio, porque estão privadas de liberdade; 3º) Elas imploram o nosso socorro com gemidos, que nos desgarrariam o coração se nos fosse dado ouvi-los; 4º) Imploram esse auxílio a título de caridade e em nome de Jesus, que sofre de algum modo nelas: “Eu estive na prisão, e vós viestes visitar-Me” dirá Ele32; 5º) Muitas delas imploram-no a título de justiça… de gratidão… de parentesco próximo…

Aplicações: Consideremos atentamente, uma a uma, estas verdades hauridas no ensino dos Doutores da Igreja e não poremos mais limites à nossa caridade. Seremos tentados a imitar a generosidade de alguns fiéis, que por meio de voto às Almas do Purgatório fazem cedência e doação em favor delas da parte satisfatória de todas as suas boas obras que fizeram neste mundo e dos sufrágios que receberam por ocasião da sua morte. O Papa Bento XIII aprovou este ato, a que chamam heroico, e animou os fiéis a praticarem-no, concedendo-lhes três favores singulares: 1º) Os Sacerdotes que o fizerem gozarão de altar privilegiado onde quer que celebrem; 2º) Os simples fiéis podem lucrar indulgência plenária por cada vez que comunguem e por cada segunda-feira em que ouçam Missa; 3º) Para eles todas as indulgências são aplicáveis às Almas do Purgatório.

Afetos: “Concedei, Senhor, o descanso eterno a todos os fiéis defuntos: ouvi-nos, Senhor, nós vo-lo pedimos” (Ladainha).

Propósitos: Renovemos o nosso ardor em aliviar as Almas do Purgatório; incentivemo-lo nos outros quanto possamos.



III Ponto.

Motivos por parte de nós mesmos.


Dedicando-nos a aliviar as Almas do Purgatório: 1º) Refletimos na rigorosa justiça de Deus, tornamo-nos firmes no ódio ao pecado e no propósito de expiar as nossas faltas e pecados por meio de obras satisfatórias; 2º) Adquirimos amigos e advogados junto de Deus; 3º) Adquirimos uma garantia segura de que nos serão aliviadas as nossas próprias penas: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.33

Aplicações: Comecemos por oferecer hoje a Sagrada Comunhão e a respectiva indulgência plenária pelo alívio das Almas do Purgatório. Depois, determinemos pormenorizadamente o que queremos fazer por elas no futuro.

Colóquio: Com os Santos do Céu, peçamos-lhes que apoiem as nossas piedosas súplicas em favor das benditas Almas do Purgatório.


APÊNDICE



Soror Josefa Menéndez,

e os Ensinamentos do Purgatório.34


Josefa nunca desceu ao Purgatório, mas viu e ouviu numerosas almas vindo pedir-lhe orações e algumas dizendo que, graças aos seus sofrimentos, haviam escapado ao Inferno. Essas almas, em geral, acusavam-se humildemente das causas de sua estada no Purgatório.35


Acrescentamos aqui alguns pormenores:


Eu tinha vocação e perdi-a com uma leitura má. Tinha também desprezado e arrancado meu escapulário”.36

Estava eu mergulhada em grande vaidade e prestes a me casar. Nosso Senhor se serviu de um meio muito duro para me fechar as portas do Inferno”.37

Minha vida religiosa careceu de fervor!…

Minha vida religiosa foi longa, mas passei os meus últimos anos a cuidar de mim e a me satisfazer, mais do que a amar a Nosso Senhor. Graças aos méritos de um sacrifício que tu fizeste, pude morrer com fervor e é ainda por causa de ti que não estou no Purgatório por longos anos como o merecia. O importante não é a entrada na religião, mas, a entrada na eternidade”.38

Estou no Purgatório há um ano e três meses. Sem teus pequenos atos, eu ainda lá ficaria durante longos anos. As pessoas do mundo têm menos responsabilidades do que as almas religiosas. Quantas graças recebem estas, e que responsabilidade se não as aproveitarem!… As religiosas mal sabem como as suas faltas são aqui expiadas!… A língua horrivelmente atormentada expia faltas ao silêncio; a garganta ressecada expia faltas contra a caridade; e a sujeição desta prisão, as repugnâncias em obedecer… Na minha Ordem, há pouco gozo e pouca comodidade, mas a gente pode sempre chegar a arranjar alguma suavização… e como é preciso expiar, aqui, a menor falta de mortificação!… Reter os olhos para evitar uma pequena curiosidade, custa às vezes grande esforço… e aqui… os olhos são atormentados com a impossibilidade de ver a Deus!”39

Uma outra alma religiosa se acusa de faltas de caridade e de murmurações por ocasião da eleição de uma de suas Superioras”.40

Estive no Purgatório até agora… porque durante a minha vida religiosa falei muito e com pouca discrição. Comunicava a miúdo minhas impressões e minhas queixas e essas comunicações foram, para várias de minhas Irmãs de hábito, causa de muitas faltas de caridade.

Aproveite-se bem desta lição – acrescentava a Santíssima Virgem, presente à aparição – porque há muitas almas que caem nesse perigo”.

E, Nosso Senhor sublinhava ainda esse grave aviso com as seguintes palavras: “Esta alma está no Purgatório por causa de faltas de silêncio, pois este gênero de faltas arrasta muitas outras: primeiramente, falta-se à Regra; em segundo lugar, há frequentemente, nessas faltas, pecados contra a caridade ou o espírito religioso, procura de satisfação pessoal, desabafos de coração que não convêm às almas religiosas, e isto tudo sem contar que, não somente a própria pessoa é culpada, mas arrasta consigo uma, ou várias outras. Eis porque está essa alma no Purgatório e se consome em desejos de se aproximar de Mim”.41

Estou no Purgatório, porque não tive bastante cuidado com as almas que Deus me havia confiado, não sabia bastante o que valem as almas e que dedicação exige tão precioso depósito”.42

Estive no Purgatório um pouco menos de hora e meia, para expiar algumas faltas de confiança em Deus. É verdade que sempre O amei muito, mas com certo temor. É verdade também que o julgamento de uma alma religiosa é rigoroso, porque não é nosso Esposo, mas nosso Deus que nos julga. Entretanto, é preciso, durante a vida, imensa confiança em sua Misericórdia e crer que Ele é bom para nós… quantas graças perdem as almas religiosas que não têm bastante confiança n’Ele”.43

Estou no Purgatório, porque não soube tratar as almas que Jesus me confiou com o cuidado que merecem… Deixei-me levar por sentimentos humanos e naturais, sem ver Deus nas almas que me eram confiadas, como o devem sempre os Superiores; pois, se é verdade que toda religiosa deve ver, em sua Superiora, Deus Nosso Senhor, a Superiora também, deve vê-lO em suas filhas…”.

Obrigada a vós que contribuístes para me livrar das penas do Purgatório…”.

Ah! Se as religiosas soubessem até onde pode conduzir um movimento desregrado… como trabalhariam para dominar sua natureza e domar suas paixões”.44

Meu Purgatório será longo, pois não aceitei a Vontade de Deus, nem fiz o sacrifício da minha vida com resignação bastante, durante a doença.

A doença é uma grande graça de purificação, é verdade, mas se não nos acautelarmos, pode também ser ocasião de nos afastarmos do espírito religioso… de esquecermos que fizemos Votos de Pobreza, Castidade e Obediência, e que fomos consagradas a Deus como vítimas. Nosso Senhor, é todo Amor, sim, mas também é todo Justiça!”.45



Finalizando


Afastadas de Deus, separadas dos que amam, essas almas, diz São Gregório de Nissa, estão encerradas em uma fornalha onde reparam suas faltas e concluem a purificação que haviam negligenciado na terra.

Extrema seria nossa comoção, se nos fosse possível perceber, no meio desses inenarráveis tormentos, as almas dos entes amados e conhecidos. E esse espetáculo nos levaria também a fazer um exame retrospectivo íntimo e, nesta vida, ainda, ultimar o trabalho da penitência e da santificação. Imploremos com Santo Agostinho: “Meu Deus, fazei-me expiar aqui as minhas faltas, a fim de evitar as chamas do Purgatório!”46


Oremos47: Ó Deus, Criador e Redentor de todos os fiéis, concedei às almas dos Vossos servos e servas a remissão de todos os pecados, a fim de que, por meio destas piedosas súplicas alcancem de Vós a misericórdia que sempre desejaram. Vós que viveis e reinais… Amém.


_______________________

1.  Missal Quotidiano e Vesperal, por Dom Gaspar Lefebvre, O.S.B., 2 de Novembro – Todos os Fiéis Defuntos, pp. 1702-1704; Abbaye de S. André, A.S.B.L. Bruges, Desclée de Brouwer & Cie, Bruges – Bélgica, 1951.

2.  Rev. Pe. Bertrand L. Conway, C.S.P., “The Question Box – Caixa de Perguntas” ou Objeções vulgares contra a Religião, cap. LXIII, pp. 792-797. Traduzido pelo Rev. Pe. José Rolim, O.F.M., 2ª Edição, União Gráfica, Lisboa, 1955.

3.  Sess. 25.

4.  Sess. 6, cân. 30; Sess. 25, cc. 2 e 3.

5.  Sess. 14, cân. 12.

6.  Núm. 20, 12; 2 Reis 12, 13-14.

7.  Sab. 7, 25; Is. 25, 8; Hab. 1, 13; Apoc. 21, 7.

8.  2 Mac. 12, 43-46.

9.  Deut. 7, 25.

10.  Mat. 12, 32.

11.  De Civ. Dei, 21, 24.

12.  Dial. 4, 39.

13.  I Cor. 3, 11-15.

14.  Hom. 6 Êxod.

15.  In Amos, 4.

16.  Serm. 20; In Ps. 117.

17.  In Ps. 27.

18.  De Cor. Mil., 3.

19.  De Monag., 10.

20.  Epist. 66.

21.  De Obitu Theod., 36-37.

22.  Conf., 9, 27.

23.  Cath. Myst. 5, 9.

24.  Act. Apost. 21, 4.

25.  Duchesne: Christian Worship; Cabrol: Le Livre de la Prière Antique, c. 33.

26.  Wilpert: Die Malereien der Katakomben Roms; Barnes: The Early Church in the Light of the Monuments, 149-157.

27.  Phed., 29, ed. Leips.

28.  Gorg. 81, ed. Leips.

29.  De Civ. Dei, 21, 24.

30.  Is. Life Worth Living?, 11, 290.

31.  Pe. Bruno Vercruysse, S.J., “Meditações Práticas – para todos os dias do ano”, Tomo II, 2 de Novembro, pp. 335- 337. Traduzido pelo Pe. Luís Moreira de Sá e Costa, S.J., 3ª Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1950.

32.  Mat. XXV, 36.

33.  Mat. 5, 7.

34.  “Apelo ao Amor – Mensagem do Coração de Jesus ao Mundo”, Soror Josefa Menendez, Apêndice, pp. 527-528. 2ª Edição, Editora Santa Maria, Rio de Janeiro/RJ, 1952.

35.  Ver biografia, Cap. V – “Entrada nas trevas de Além-Túmulo”.

36.  27 de julho de 1921.

37.  10 de abril de 1921.

38.  7 de abril de 1922.

39.  10 de abril de 1922.

40.  12 de abril de 1922.

41.  22 de fevereiro de 1922.

42.  9 de agosto de 1922.

43.  Setembro de 1922.

44.  Abril de 1923.

45.  Novembro de 1923.

46.  Pe. Teodoro Ratisbonne, “Migalhas Evangélicas”, 2 de Novembro, p. 429. Editora Vozes Ltda, Petrópolis/RJ, 1941.

47.  Dom Gaspar Lefebvre, O.S.B., ob. cit., 2 de Novembro – Todos os Fiéis Defuntos, pp. 1703-1704.


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