Nossa querida Santa manifestou sempre uma predileção particular pelas crianças.
Eis aqui alguns fatos que podem servir de prova da proteção que Santa Filomena manifesta para com as crianças em geral:
1. Vivia em Monteforte Rosa Fortunata, de onze anos de idade, filha única e, por isso mesmo, mui querida de seus pais.
Um dia, em que sua mãe a segurava em uma janela, escapou-lhe das mãos e caiu de grande altura. A violência da queda fez despegar-se um pedaço do estuque (reboco), onde, sem dúvida, batera a criança. A mãe solta um grito de desespero, chamando por Santa Filomena, o que faz também o pai, que chegava nesse momento, e corre a recolher a menina, que estava estendida na rua.
Grande foi sua admiração por encontrá-la sem ferida, nem fratura, nem contusão alguma.
Presenciado por muitos o milagre, foi também grande a admiração de todos.
2. Rosa de Lúcia, irmã mais velha de D. Francisco, tinha um filho de oito anos, o qual, acometido de uma dolorosa enfermidade, e apesar dos mais ternos cuidados, ia caminhando para a morte. O menino veio a falecer, com efeito, e a mãe, louca de dor, toma uma imagem de Santa Filomena, põe-na sobre o cadáver, pedindo à Santa, em clamores, que lhe restitua o filho.
Bondade incomparável de Deus! No mesmo instante, como se despertasse de um sonho, a criança abre os olhos e se acha nos braços de sua mãe. Poucos dias depois estava completamente sã.
3. Santiago Elias, menino de doze anos, filho de um médico de Visciano, foi atropelado por um carro, que o deixou semi-morto. Levado para casa, viram que tinha um pé completamente fraturado. A gangrena declarou-se, apesar de todos os cuidados médicos. Tornou-se necessário praticar uma amputação, mas a debilidade do menino não o permitia e estavam forçados a resignar-se com a vontade dele. Chegou, por acaso, à casa o Pe. Sabino Nappo, muito devoto de Santa Filomena, e aconselhou à família a que recorresse a ela. Ajoelharam-se todos, rezaram as ladainhas de Nossa Senhora e algumas orações em honra da Santa, cuja imagem deram ao doente, que a conservou entre as mãos, acariciando-a e falando-lhe em um tom que revelava não sofrer mal algum. Descobrem a ferida para vê-la: a gangrena tinha desaparecido e o pé estava completamente curado.
4. Também foi admirável a graça obtida por uma menina de cinco anos, chamada Filomena. Seja dito de passagem, que a Santa ama particularmente as crianças que recebem seu nome no Batismo. Passando um dia junto de uma fornalha, prendeu-se-lhe a roupa a um ferro que lhe cortou um dedo do pé, na queda. O mal podia ser muito mais grave se sobreviesse a febre, mas à noite, enquanto todos dormiam, a menina viu diante de si uma formosíssima donzela, que lhe disse: Filomeninha, coragem, que eu te curarei!”
A criança grita então por sua mãe, que corre junto com os demais da casa. A criança conta-lhes a seu modo o que viu, deixando toda a família transportada de júbilo e de reconhecimento. Passaram-se, porém, os dias e, se bem que se notassem melhoras na enferma, todos esperavam que a Santa completasse sua obra, restituindo-lhe o dedo cortado, o que fez, realmente, na véspera de sua festa.
5. Em Castello Velho, Dominga Maceia foi a primeira que fez batizar uma filha com o nome de Filomena.
Nossa querida Santa não tardou em manifestar quanto lhe era grata tal homenagem.
Castello Velho é um lugar muito pantanoso e por isso mesmo muito infestado pelos mosquitos e, para evitar suas mordeduras, a mãe cobria todas as noites o berço de sua filhinha com um véu; porém, todas as manhãs o achava descoberto e o véu dobradinho aos pés do leito e nem no rosto, nem nas mãos da criança notava o menor sinal de picada de mosquito. Como isto se verificava todas as noites, os pais não duvidaram em atribuir a Santa Filomena a proteção dispensada a sua filha e propuseram-se leva-la a Mugnano logo que a sua idade o permitisse. Levaram-na, com efeito, três anos depois, ao Santuário; mas, logo que se aproximou do relicário que encerra o Corpo da Santa, principiou a chorar e a agarrar-se ao pescoço de sua mãe. D. Francisco de Lucia e outras pessoas presentes não puderam explicar a causa desse fenômeno, observado pela primeira vez. Os pais voltaram tristes e no dia seguinte a mesma cena se repetiu. Deviam voltar e era-lhes doloroso ao coração não saber a causa de cena tão estranha.
O Senhor lhes valeu, desatando a língua da criança, que até então não tinha podido explicar a causa de seu choro e medo diante da Santa.
– Chorava – disse a menina – e não queria me separar de meus pais, porque Santa Filomena queria agarrar-me e dizia-me: – “Não te vás; fica comigo”.
De volta à casa, numa noite, aconteceu que, por descuido, ateou-se fogo num monte de roupas que estava sobre uma cadeira, perto da cama da menina, cujos vestidos estavam também em cima da roupa. Pois, no dia seguinte, achou-se em cinzas a roupa, a cadeira meio queimada e os vestidos da menina intactos.
6. Em Vieste, aldeia que se acha ao sopé do Monte Gargano, morava João Troya e sua mulher, Maria Teresa Bonna, lavradores e bons cristãos, porém, paupérrimos. Vendo-se acossado da miséria, o marido foi à cidade ver se achava trabalho. Durante sua ausência, sua mulher teve um filho. Uma caridosa vizinha assistiu-lhe, mas sua pobreza era tal que não tinha nem um pedaço de trapo velho para enfaixar a criança. A pobre mãe chama por Santa Filomena, a quem pede socorro, e logo acode-lhe à lembrança mandar ver numa água furtada que existia em casa e aonde se atiravam os objetos estragados. Coisa admirável! Lá se encontra um enxoval completo e perfumado para uma criança recém-nascida.
Espalhou-se logo a notícia da maravilha e todos porfiavam por ver e sentir o perfume daqueles panos. A criança foi levada em triunfo para o Batismo, recebendo o nome de Filomena.
Não para aí a ternura de nossa Santa. Na noite seguinte desperta a mãe com o choro da criança, procura-a em sua rede e, não a encontrando, olha para um canto da pobre e desmantelada cabana, e vê – prodígio! – uma moça lindíssima, vestida de branco, que retém nos braços e acaricia sua ditosa filha. Cheia de espanto, alegria e agradecimento, a boa mulher apenas consegue murmurar: Oh! Santa Filomena!...
E Santa Filomena, pois, era ela mesma, abraça e beija a criança, deposita-a no berço e desaparece.
7. Em 1830, celebrava-se em Castello Velho a festa de nossa Santa; a pompa era magnífica e o concurso de povo extraordinário. Os sinos, a todo dobrar, faziam o enlevo de alguns meninos, que, na torre, disputavam a honra de tirar o volante que os punha em evolução. Subitamente, um deles se viu precipitado violentamente lá de cima nas pedras da rua. Todos os seus companheiros julgaram-no morto, pois considerável era a altura. Corre o povo e vê, admirado, que o menino se levanta ufano e corre a toda pressa para subir de novo à torre. Quando contou que era devoto de Santa Filomena e que a invocara na queda, todos reconheceram nela a salvadora e a glorificaram.
Perto daí se tinha passado outro fato semelhante, precisamente na véspera desse dia. Uma menina de nove anos, que estava sobre uma pedra inclinada, caiu, diante de seus pais, em uma vala profunda, e quando eles se aproximaram, acharam-na sem sentidos e quase sem vida.
Cheios de dor, suplicam de joelhos sua Santa Protetora:
– Santa Filomena, boa Santa Filomena, vinde em nosso socorro, salvai nossa filha e livrai-nos dessa desgraça!
A estes clamores, a menina, como que despertando de um profundo sono, chama por seus pais, endireita-se, levanta-se e se atira em seus braços. Estava sã e sinal algum trazia de sua queda.
8. Em 1831, em Nápoles, uma mulher dá à luz uma criança morta.
Desesperada, a aflita mãe lamenta-se e, amorosamente, queixa-se a Santa Filomena.
Por especial favor do Céu, ressuscitou a criança, foi batizada, e viveu ainda trinta e cinco dias. Fez grande sensação na cidade este prodígio e muitos eclesiásticos o publicaram em muitos lugares, em honra da nova Taumaturga.
Nesse mesmo tempo uma pobre viúva, sendo sua pobre filhinha Rosa, muda, e ouvindo dizer que Santa Filomena obrava grandes prodígios, cheia de fé e confiança vai à casa do Cônego Nicolau Lanza, que trabalhava com grande empenho para difundir sua devoção, e lhe valha junto à Santa. O humilde Sacerdote recusa-se; mas, são tantas as instâncias da pobre mulher que por fim, tomando uma estampa, põe-na sobre a cabeça da menina, que estava de joelhos a seus pés, e sem mais preâmbulos, diz-lhe:
– Há quanto tempo não podes falar?
– Fazem tantos meses – disse logo a menina; e continuou falando, com surpresa geral, que foi ainda maior quando se soube terem os médicos declarado incurável o mal.
9. Em Monteforte, um menino de sete anos guardava um pedaço de papel em que fora envolvida uma estátua de nossa Santa, o que ele considerava como preciosa relíquia, e por isso o trazia sobre o peito, junto ao coração. Indo por um cercado, caiu num valado e sua morte seria instantânea, se não fosse Santa Filomena. Alguns camponeses viram-no cair e correram a socorrê-lo. Chamam-no e o menino, tendo respondido do fundo do precipício, atiram-lhe uma corda e dizem-lhe que a amarre do melhor modo que puder. Içam-no com cuidado, até que o retiram.
Grande foi a admiração de todos quando o viram sem lesão alguma, afirmando, ainda, que nada sentia; e mais que tudo causou-lhes surpresa o modo por que fora amarrada a corda que, passando pelo peito, dava-lhe volta ao corpo, e torcia-se por debaixo dos braços, apertada por dois nós atrás do pescoço, mas de modo que não lhe oprimia nem causava mal algum. Interrogado, contou que ao cair invocara Santa Filomena, e que esta lhe aparecera, tomando-o pelos braços e lhe atara a corda que lhe tinham lançado. Perguntando-se-lhe ainda como a tinha visto, o menino disse que ela estava vestida de branco e que seu rosto resplandecia.
10. Foi em Julho de 1832 que se deu este acontecimento, que despertou grande atenção.
Quase ao mesmo tempo uma menina chamada Filomena Magnotti, de cinco anos de idade, assegurava ter visto nossa Santa, que lhe apareceu pouco antes dela deitar-se, e que a repreendeu por uma falta. Seus pais, tendo-a ouvido soluçar, aproximaram-se dela e perguntaram-lhe por que chorava:
– É porque Santa Filomena me repreendeu – disse a menina – porque hoje, quando atravessei o pátio, por estar o sol muito quente, cobri a cabeça com o vestido arregaçado (de forma imodesta/descomposta). Disse-me também que, se fizesse isso outra vez, me castigaria.
No mês de Outubro do mesmo ano, desfez-se medonho temporal no Golfo do Adriático, naufragando dois barcos nas costas de Trieste. O grito dos náufragos gelava os corações, e ninguém ousava prestar-lhes socorro. No meio de tal angústia, a multidão agrupada na praia lembra-se de Santa Filomena, e todos imploram juntos sua proteção. Passam-se alguns instantes e os náufragos se veem salvos na praia, confundindo suas ações de graças com as que a multidão dirigia à gloriosa Mártir. Havia ainda, porém, corações alanceados. Paulo Apóstolo, patrão de uma barca, procurava em vão seus dois filhos, o mais velho dos quais contava apenas oito anos de idade. Julgam enxergá-los ao longe, lutando com as ondas. Como salvá-los? Recorrem novamente à Santa:
– Santa Filomena, salvai essas pobres crianças! – era o grito geral.
Um dos meninos, o menor, também a invocava, na sua agonia:
– Santa nova, que viestes aos Capuchinhos, salvai-nos!
Onda gigantesca e marulhosa encrespa-se, rola e traz brandamente em seu espumoso dorso os dois meninos, que são depositados na praia, sem que sofram o menor mal.
A multidão leva-os em triunfo e nos transportes de júbilo atroam o ar com gritos de alegria, mostrando assim seu reconhecimento à sua gloriosa e sem igual Padroeira.
Reflexões
Se as considerações até aqui apresentadas bastam para nos persuadir que nos devemos tornar santos, pensamos que a própria Sabedoria de Deus se fez Carne e que o Filho único do Pai desceu dos Céus à terra para nos ensinar como Mestre e Senhor. E que veio ensinar-nos? Qual o tema de Suas adoráveis instruções? Uma só coisa – a ciência dos Santos, ciência tão ignorada do mundo, e, no entanto, tão necessária; ciência que Deus queria revelar aos humildes e aos pequenos, mas esconder aos sábios e poderosos deste século. Ciência tão sólida quanto sublime, que aperfeiçoa os homens e os conduz à verdadeira felicidade.
E, com efeito, para entrar no reino dos Céus e merecer lá um lugar, ainda que seja o último, é necessário ser-se santo, e para ser santo não é bastante desejá-lo, é preciso ainda aprender a sê-lo. Quantos não vemos todos os dias que, julgando ter achado a ciência dos Santos, só encontram seus erros! Empenhemo-nos, pois, a aprender solidamente esta ciência, pois, talvez o que até hoje nos tem enlevado à santidade é menos a oposição que para ela sentimos, que a falsa ideia que dela formamos. Talvez que conhecendo-a melhor a amemos mais e, amando-a, a pratiquemos!
Consideremos que, por impenetrável que seja o segredo da Predestinação dos Santos, Deus o revelou, e é fácil conhecer os caminhos que traçou aos Santos e que eles seguiram até chegar ao glorioso termo. E a mais importante regra que eles creram dever praticar é que cada um deve procurar santificar-se no estado em que se acha, pois, não há estado algum nem condição onde não haja Santos. É o Apóstolo quem o afirma: Unusquisque in qua vocatione vocatus est, in ea permaneat apud Deum.
É verdade que São Paulo fala aos novos cristãos; mas estes, antes de o serem, tinham tido sua condição, estado e empregos, e não lhes exigia o Apóstolo que os abandonassem, mas que os conformassem com a profissão de cristão, isto é, que, sem mudar de estado ou condição, fossem sempre o que tinham sido, mas que o fossem por Deus e para Deus, como antes o tinham sido pelo mundo e para o mundo.
Donde se conclui que a Lei Cristã, até mesmo nas suas exterioridades, é perfeitamente conforme ao bom senso e à razão.
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Fonte: “Vida de Santa Filomena – Virgem e Mártir”, Cognominada a Taumaturga do Século XIX, por D. Francisco de Paula e Silva, Bispo do Maranhão, Cap. VIII, pp. 90-103. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 1925.
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