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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 19 de novembro de 2022

MATER DIVINAE PROVIDENTIAE.


Origens da Devoção a Nossa Senhora

Mãe da Divina Providência


1ª Parte


A história do culto prestado à Santíssima Virgem, sob o título tão suave de Mãe da Divina Providência, tem seu início nos primeiros anos em que os Barnabitas se estabeleceram em Roma – 1574.

Estes religiosos, como testemunho público de sua gratidão para com São Carlos Borromeu, o insigne amigo e protetor da sua nascente Congregação, logo após a Canonização do imortal Arcebispo de Milão (1610), empreenderam a construção de uma ampla e magnífica Igreja em honra dele. Em menos de um mês o local escolhido foi adaptado e ornamentado para se poder nele celebrar solenemente, oito dias consecutivos, as primeiras festas do novo Santo (3 de Novembro de 1611). As obras, logo iniciadas, adiantavam-se com rapidez e, oito anos depois, a majestosa cúpula erguia-se nos ares coroada por uma cruz brilhante que o arquiteto Pedro Rosati fizera enriquecer com preciosas relíquias.

As obras, porém, foram interrompidas porque escassearam os meios.

Em 1626, o Superior da Casa, Pe. Braz Palma, religioso de grande piedade e fé profunda, vendo-se privado de todos os socorros humanos e às voltas com dificuldades insuperáveis, resolveu fazer violência ao Céu e dirigir-se à Santíssima Virgem. A doce Providência de Maria, costumava dizer, velara por ele constantemente com uma ternura incomparável. À vista disso, logo após as festas de Páscoa, em companhia de um irmão leigo, fez a célebre peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Loreto, a pé, na íntima persuasão de que sua oração seria mais facilmente ouvida nesse Santuário a que se dirigiam peregrinos do mundo inteiro e onde inúmeras graças eram incessantemente outorgadas aos piedosos fiéis.

Satisfeita a sua devoção, voltava para Roma, com o coração repleto das mais suaves consolações. Ao penetrar, porém, na cidade, pareceu-lhe ouvir uma voz interior que o impelia a ir visitar um Cardeal de que só conhecia o nome e em quem jamais pensara: João Batista Leni, Bispo de Ferrara e Arcipreste da Basílica de Latrão.

Embora intimamente persuadido que essa inspiração vinha da Virgem Santíssima, o Pe. Palma, prudente ao extremo e circunspecto, preferiu valer-se dos bons ofícios e da influência de um amigo, o Príncipe Carlos Barberini, sobrinho do Papa Urbano VIII. Prazerosamente o amigo serviu de intermediário, mas em vão; às primeiras palavras do Príncipe o Cardeal respondeu que lhe era impossível interessar-se pela construção da Igreja de São Carlos, porquanto sua fortuna se achava empenhada em outras boas obras.

O Pe. Palma não desanimou. Redobrou mesmo suas orações, insistindo junto a Maria Santíssima na convicção de que Ela devia ser sua Providência e que estava em jogo a glória d’Ela ouvindo os pedidos do seu servo. Um dia, passando diante do palácio do Cardeal Leni, sentiu mais forte ainda o impulso íntimo que o levava a apresentar-se imediatamente ao Príncipe da Igreja. A acolhida foi cortês; o pobre religioso falou com ingênua simplicidade. A resposta consistiu em algumas boas palavras… Nenhuma promessa, nenhuma esperança para o futuro.

No ano seguinte, 1627, em Outubro, o Cardeal Leni caiu gravemente doente. O Pe. Palma, que de vez em quando lhe fazia uma visitinha, imediatamente correu à casa do Cardeal, sendo recebido com particular benevolência. O doente não escondeu o prazer que lhe causavam essas visitas e declarou mesmo que era seu vivo desejo exalar o último suspiro nas mãos do Pe. Palma e que, vivo ou morto, estaria na igreja dos Barnabitas, na próxima festa de São Carlos, 4 de Novembro.

Com efeito, lá estava o Cardeal Leni, no dia de São Carlos, mas estendido num esquife, pois falecera piedosamente na Véspera da Festa do Santo Arcebispo de Milão. Os funerais solenes foram celebrados na Igreja de São Carlos, na presença de trinta Cardeais e de numerosa assistência. No mesmo dia abriu-se o testamento do extinto: deixava a maior parte de sua fortuna para o acabamento das obras da Igreja de São Carlos-ai-Catinari.

Graças a esse inesperado socorro, os trabalhos recomeçaram com entusiasmo. Novos benfeitores apareceram e, em 1650, ano do Jubileu, a Igreja estava terminada. A consagração, porém, só teve lugar em 1722, 19 de Março, presidida pelo Cardeal Lourenço Cursini, futuro Papa Clemente XII.

Para conservar a memória de um benefício tão extraordinário e, de certo modo, perpetuar o seu reconhecimento para com a Santa Mãe de Deus, o Pe. Palma escreveu minucioso relato de tudo quanto acontecera. Quase a cada página ele proclama Maria como sendo a doce e eficaz Providência de todos os que a ela recorrem com confiança. Convida a todos os que o lerem a solicitarem essa proteção, a fim de aumentar o culto e o amor de Mãe tão boa e compassiva.



2ª Parte


O relatório do Pe. Palma ficou longos anos desconhecido nos arquivos da Comunidade. Mais de um século depois, um religioso da mesma Casa, o Pe. Januário Maffetti, grande devoto da Santíssima Virgem, veio a encontrar por mero acaso ou, melhor diríamos, por determinação providencial, o precioso manuscrito. Leu-o de um só fôlego. E, à medida que seus olhos percorriam aquelas páginas embalsamadas de um amor tão confiante, de uma fé tão viva, de uma gratidão tão cordial para com a Mãe de Deus, sentia crescer dentro de si mesmo um desejo ardente de cooperar, com todas as suas forças, para o incremento do culto de Maria. Soara, com efeito, a hora em que devia ser manifestado ao mundo, sob um título ainda pouco conhecido, a misericordiosa bondade da Rainha do Céu. E foi bem maravilhoso o caminho escolhido pela Divina Providência para essa manifestação.

Tendo necessidade de ampliar a praça Colonna e o Palácio Chigi, o Papa Alexandre VII dera ordens de demolição para a igreja e a Casa dos Padres Barnabitas. (A primeira Igreja que os Padres Barnabitas tiveram em Roma foi a de São Paulo alla colonna).

Antes de abandonar essa Igreja, os Padres haviam feito remover de um dos muros um “afresco” representando a imagem da Mãe de Deus, famosa pela devoção e pelos benefícios que dispensar. Mas, quando se tratou de transportá-la, cinco anos depois, do nicho onde fora depositada para o altar definitivo, a imagem caiu desastradamente e quebrou-se em mil pedaços. Para compensar os Padres de uma perda tão importante, o arquiteto incumbido do transporte adquiriu, por elevado preço, uma bela pintura da Virgem Maria segurando nos braços o Menino Jesus. Era uma das mais belas telas de Scipione Pulzone, conhecido por “Gaetano” (de Gaeta, sua cidade natal) e considerado como o Van Dyck italiano. Essa pintura, medindo 54 cm por 42 cm, foi colocada no altar do Oratório situado no 1º andar da Casa, onde os Religiosos se reúnem habitualmente para a divina salmodia e outros exercícios de piedade.

Seria necessária a pena de um artista e de um santo para dar uma ideia exata da perfeição, da celeste beleza, da graça angelical que encerra essa tela, onde a pureza da Virgem se une tão bem à ternura da Mãe.

A Virgem Santa tem um vestido de púrpura e um manto azul celeste; um véu leve e transparente lhe cobre a cabeça e desce graciosamente sobre os ombros, inclinando-se um pouco à direita. Segura nos braços o Divino Menino, apertando-O amorosamente ao seio virginal, com os olhos docemente abaixados sobre a Face adorável do seu Filho, o mais belo dos filhos dos homens. Como são graciosas aqueles lábios tão puros da Virgem-Mãe, que esboça um sorriso celeste! E o arrebatamento que sentimos ao contemplar o encantador Menino, cujos olhos cintilantes, fixos na fisionomia de Sua terna Mãe, parece querer ler seus pensamentos e seus desejos! A mão do Menino na mão de Sua Mãe está a indicar-nos a fonte sagrada do poder de Maria, a confiança e abandono que deve animar-nos até Ela. Afeição recíproca, doce familiaridade entre Mãe e Filho, eis o que nos revela a atitude de Jesus e de Maria.

O Padre Maffetti disse, e com razão, que não fora sem um desígnio providencial, que essa encantadora imagem, venerada há mais de 70 anos por santos e doutos religiosos, havia sido confiada aos Barnabitas. Uma vez conhecida pelos fiéis, não deixaria de produzir uma benéfica impressão de piedade e devoção, fazendo crescer, sem dúvida, a confiança e o amor para com a poderosa Provedora. Mandou logo fazer uma fiel reprodução da Imagem. Mas, onde colocá-la? Não era fácil tarefa. Os altares todos da igreja já tinham seu particular destino. Escolheu, por fim, um pequeno corredor que servia de passagem aos religiosos que do Convento se dirigiam à igreja. O local pobre e sem adornos, mais se parecia com a gruta de Belém… e, no entanto, os desígnios admiráveis da Providência destinavam esta escura passagem para ser um farol escolhido pela Mãe de Deus, para levar ao longe o conhecimento do seu Divino Filho, um braseiro ardente cujas chamas de amor iriam aquecer e abrasar as almas. Alguns enfeites simples e rústicos foram colocados em torno do quadro e, embaixo, o piedoso barnabita escreveu este título que lhe brotou espontâneo do coração:



MATER DIVINAE PROVIDENTIAE”


Era o dia 13 de julho de 1732, assinalam as crônicas domésticas, 6º Domingo depois de Pentecostes, cujo Evangelho conta a multiplicação dos pães e dos peixinhos, com os quais o Salvador alimentou mais de quatro mil homens. Parecia que o Céu indicava aos fiéis que a misericordiosa Providência da Virgem Maria saberia prover, com igual bondade, às necessidades de todos os que viessem invocá-La.

Este título, novo para a população romana, não o era para os filhos de Santo Antônio Maria Zaccaria. As Religiosas Angélicas, fundadas também por Santo Antônio Maria, já veneravam, há longos anos, uma imagem de Maria cujo título era Mãe da Divina Providência.

Todos os anos as Religiosas faziam uma pequena procissão no 7º Domingo depois de Pentecostes, porque o Ofício do dia faz particular menção da Divina Providência.



3ª Parte


Aumentava o número de devotos de Nossa Senhora da Divina Providência. Eram, cada vez mais, numerosas as graças alcançadas aos pés de Maria, em prova do quanto lhe era grato ser honrada sob este título tão significativo.

Para tornar mais estável e, espiritualmente mais vantajosa, uma devoção tão do agrado dos fiéis, os Padres Barnabitas resolveram criar uma sociedade pia ou uma Confraria sob a invocação de Maria Mãe da Divina Providência. Organizaram um Regulamento e submeteram-no à aprovação do Soberano Pontífice.

A Cátedra de São Pedro era, então, ocupada pelo imortal Bento XIV, um dos maiores servidores de Maria. Esse Papa, cujo nome dispensa todos os elogios, conhecia de longa data e muito estimava os Barnabitas. Quando Arcebispo de Bolonha, associara-os a seus doutos trabalhos, e, feito Soberano Pontífice, escolhera um deles como Confessor e diretor de sua consciência. Destarte, recebeu com extrema benevolência um pedido que ia de encontro à sua peculiar devoção para com a Santíssima Mãe de Deus.

Pelo Breve de 25 de Setembro de 1744, ad perpetuam rei memoriam, Bento XIV estabeleceu na Igreja de São Carlos-ai-Catinaria, dirigida pelos Padres Barnabitas, uma piedosa Confraria sob a invocação de Bem-aventurada Virgem Maria Mãe da Divina Providência, concedendo-lhe inúmeras indulgências.

Além disso, o Papa quis mostrar, pessoalmente, o quanto apreciava o culto de Maria sob um título tão consolador, concorrendo com munificência para a ornamentação da Capela de Nossa Senhora.

Entre as datas mais célebres da história da devoção a Nossa Senhora da Divina Providência é necessário destacar a de 2 de Fevereiro de 1815. O pequeno Santuário de Maria, inteiramente renovado e ricamente ornamentado, presenciou inigualável solenidade. Durante nove dias os Padres Cardolini e Ungarelli pregaram um Retiro Paroquial, que produziu extraordinários frutos de salvação. Muito antes do amanhecer era grande o número de homens estacionados à porta da igreja, ansiosos por se confessarem. Dez Padres Barnabitas confessavam ininterruptamente, desde a manhã até o meio-dia; na Missa de Comunhão geral, celebrada pelo Superior Geral Pe. Fontana, mais de sete cibórios foram necessários para atender aos comungantes. Depois da Missa cantada, a Imagem da Virgem, carregada por quatro Barnabitas revestidos de ricas dalmáticas, percorreu as ruas engalanadas da Paróquia, em meio a um entusiasmo popular indescritível.

Tudo, no entanto, era apenas o prelúdio de outra manifestação ainda mais grandiosa. Uma hora antes do toque da “Ave Maria”, a Guarda Palatina (do Papa), enfileirada na Igreja, apresentava armas ao Sumo Pontífice, precedido de doze Cardeais. PIO VII, tendo-se revestido dos paramentos pontificais, entoou o hino de Ação de Graças: TE DEUM LAUDAMUS. Sete anos antes, o Papa fora indignamente expulso do seu trono, nesse mesmo dia, 2 de Fevereiro, e atribuía a sua libertação e volta à Cidade Santa, à PROVIDÊNCIA maternal de Maria Santíssima, e por isso, viera trazer o seu agradecimento no Santuário privilegiado de Maria.

Após a Bênção do Santíssimo, o Papa, deixando o Altar-mor, foi ajoelhar-se diante da imagem de Maria, orando longamente. Em seguida, como lembrança de sua visita e prova de sua gratidão, declarou o Altar de Nossa Senhora da Providência Privilegiado in perpetuum.

Em vista da maravilhosa difusão do culto de Maria, os Barnabitas pensaram em ampliar os benefícios espirituais concedidos aos fiéis romanos, através da Confraria de Nossa Senhora da Providência, estendendo-os fora de Roma. Mas era somente o Papa quem dava essa autorização. E isso foi feito por Gregório XVI, instituindo a Arquiconfraria de Nossa Senhora da Providência, Auxiliadora dos Cristãos. Autorizou, também, para sempre, o Superior Geral dos Barnabitas a agregar à Arquiconfraria de Roma, em todas as partes do Mundo, as Associações ou Confrarias que viessem a erigir-se sob o mesmo título. (Breve de Gregório XVI, de 16 de Julho de 1839).

Em 1849, o Papa Pio IX teve que se refugiar em Gaeta, por causa dos gravíssimos acontecimentos de Roma, onde fora traído pela própria Guarda. Forças francesas sitiaram a Cidade, que caíra sob o domínio de Mazzini.

A Paróquia de São Carlos achava-se na parte da cidade mais exposta aos projéteis dos sitiantes. O povo, em massa, pusera-se sob a proteção de Nossa Senhora da Providência. Essa confiança foi recompensada, porque em toda a Paroquial não houve a lamentar mortos nem feridos, apesar da proximidade do perigo.

Meses mais tarde, quando Pio IX voltava triunfante à sua boa Cidade, foi celebrado um Tríduo Solene para agradecer a Nossa Senhora, que fora realmente, a Providência do Pontífice.

A Santa Sé, reconhecendo que certos Santuários, são grandes centros de devoção e de culto, que tanto engrandecem o Nome de Maria, costuma dar a sua adesão e oficialmente consagra esse culto e devoção. Assim, é costume o Papa coroar, por Si ou por outrem, a imagem milagrosa, objeto de especial devoção arraigada no coração do povo cristão.

Em 1888, o Cabido Vaticano, atendendo favoravelmente o pedido formulado pelo Superior da Paróquia de São Carlos, Padre Inácio Picá, decretou a coroação solene de Nossa Senhora da Providência. E foi no Domingo, 1º de Novembro de 1888, que se verificou a coroação de Nossa Senhora da Providência.


(Pe. Alberto Dubois, Barnabita)


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Fonte: Manual da Arquiconfraria de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência – Estatutos e Orações,1 pp. 1-12. Esc. Tip. Pio X (obra D. Orione), 1957.

1.  Ereta na Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência, dos Padres Barnabitas, na Rua do Catete, 113, Rio de Janeiro.


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