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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Santa Gertrudes - Ensinamentos.

 

Santa Gertrudes,  

Apóstola do Sagrado Coração de Jesus.


Lemos na vida de Santa Gertrudes1, que um dia foi arrebatada em altíssima contemplação, na qual lhe apareceu São João Evangelista. E perguntou-lhe a Santa, porque razão sendo ele o Discípulo da Caridade, a quem coube a fortuna de reclinar a cabeça sobre o peito de Jesus na última Ceia, e de sentir os movimentos daquele Coração, não escrevera no seu Evangelho uma palavra, ao menos, desse bendito Coração, para edificação dos fiéis; o Santo Evangelista respondeu-lhe com estas memoráveis palavras:

– Eu devia escrever para a Igreja nascente a Palavra do Verbo Divino Incriado, mas Deus se tinha reservado revelar nos últimos tempos do mundo a suavidade e o amor ardente desse Coração, e assim acender a Caridade quase apagada nos corações dos mortais.

Somos chegados aos tempos, de que fala o Discípulo predileto. O fogo da Caridade está apagado no coração de muitos cristãos. Como se poderá tornar a acender? Por meio desta santa devoção. Experimente vós também; e haveis de confessar esta verdade”.2



Do Segundo Livro das Revelações

de Nosso Senhor Jesus Cristo a Santa Gertrudes3


No Domingo seguinte, da Quinquagésima4, durante a Missa, Vós estimulastes e aumentastes os desejos de minha alma, para que ela quisesse favores mais sublimes que tínheis intenção de lhe conceder. Foi especialmente com estas duas palavras do Responsório: “Bendizendo, eu te bendirei”5, e o versículo do nono Responsório: “Darei esta terra a ti e à tua raça”6Então, com a Vossa venerável mão em Vosso Peito Sagrado, mostrastes onde se encontram essas regiões prometidas por Vossa infinita liberalidade.

Ó terra bem-aventurada, que encheis de felicidade todos os que em Vós habitam! Campo de delícias, da qual a menor partícula pode satisfazer abundantemente a fome de todos os eleitos e dar ao coração humano tudo o que lhe pode ser doce e agradável!

Eu considerava, com atenção talvez insuficiente, mas ao menos tanto quanto podia, esse espetáculo tão digno de atrair meu olhar. Então, apareceu-me a Bondade e a Humanidade de Deus Nosso Salvador, não por causa das obras de justiça pelas quais minha indignidade tivesse podido merecer esse favor, mas devido à Sua inefável misericórdia, que me justificava pela regeneração adotiva7 e me preparava para a união mais íntima convosco, ó meu Deus! União, em verdade, espantosa e temível, digna de admiração, celeste e inestimável!

Ó meu Deus! Em virtude de que méritos de minha parte e por que misterioso juízo, recebi tão grande favor? Certamente, o amor que esquece a dignidade do próprio sangue e se mostra cheio de condescendência, o amor que se precipita sem esperar a reflexão e o julgamento da razão, Vos inebriou até à loucura, se ouso assim falar, ó meu dulcíssimo Senhor, para que chegásseis a unir duas coisas tão diferentes. Ou melhor, para empregar linguagem mais respeitosa para com Vossa Majestade, essa suave bondade que é inata em Vós e faz parte de Vossa essência, foi abalada pelo contato da terna caridade que operou a salvação do gênero humano e em virtude da qual Vós não apenas amais, mas Sois o próprio Amor.

Será, pois, essa caridade, que Vos terá levado a tirar de Sua extrema indignidade uma miserável criatura, desprezível por sua vida e seus maus hábitos, para elevá-la à participação de Vossa real e divina grandeza? Vos quisestes com isto aumentar a confiança de todos os membros da Igreja, e é o que quero e desejo para todo o cristão, esperando que ninguém fará, como eu, tão mau uso dos dons de Deus nem dará tanto escândalo ao próximo.

Mas como as coisas invisíveis de Deus podem ser percebidas pela inteligência por meio de imagens sensíveis, pareceu-me que jorravam gotas de suor da parte do Peito Sagrado do Senhor em que Ele havia recebido minha alma, sob a forma de cera amolecida ao fogo, no dia da Purificação. Era como se a substância dessa cera tivesse sido inteiramente liquefeita pelo excesso do calor encerrado no Seio de meu Deus. O Divino Coração absorvia essas gotas com inefável e incompreensível virtude. Parecia que o amor, expansivo por natureza, encerrara sua força vitoriosa nas profundidades do Sagrado Coração.

Ó Solstício Eterno, Moradia segura que contém todas as delícias, Paraíso das alegrias eternas, Fonte de onde jorram indescritíveis deleites. Vós atraís, com abundantes flores de suave primavera; encantais, com as suaves notas de uma harmonia toda espiritual; reanimais, com uma brisa perfumada de vivificantes aromas; inebriais, com a doçura envolvente de sabores místicos; transformais, com as maravilhosas carícias de Vossos santos abraços.

Oh, três vezes feliz, quatro vezes bem-aventurado e, se posso dizer, mil vezes santo aquele que, dirigido pela graça, merece aproximar-se desse lugar abençoado com coração puro, mãos inocentes e lábios sem mancha! Como descrever o que ele vê, ouve, respira, prova e sente? Por que minha língua impotente se esforçaria por balbuciar algo disso? É verdade que, por efeito da Bondade divina, fui admitida a gozar desses favores. Mas, envolvida pelo espesso manto de minhas faltas e negligências, só podia recebê-los muito imperfeitamente, porque toda a ciência reunida dos Anjos e dos homens não poderia produzir uma só palavra que exprimisse, ainda que pouco, a supereminente grandeza de tão sublime união”.



Dos Exercícios Espirituais de Santa Gertrudes8


Exercício Primeiro: … Eu Vos saúdo, ó Santo Anjo de Deus, guarda de minha alma e de meu corpo. Pelo dulcíssimo Coração de Jesus Cristo, Filho de Deus, recebei-me sob a proteção de vossa fiel paternidade por amor Daquele que nos criou, e que no dia de meu Batismo me colocou sob a vossa guarda. Ajudai-me a atravessar sem manchar-me a torrente desta vida, até que seja admitida a contemplar convosco e como vós esta deleitável Face, esta Beleza cheia de delícias da Soberana Divindade, cuja vista excede infinitamente as mais doces felicidades (p. 116)... 

… Conservai no santuário de Vosso Coração, tão cheio de bondade, ó meu dulcíssimo Jesus, a pureza de minha inocência batismal e o juramento de minha fé, a fim de que estejam abrigados sob a Vossa fiel proteção, e que eu possa apresentar-Vo-los, em sua integridade, na hora de minha morte. Imprimi sobre meu coração o selo de Vosso Coração, a fim de que eu viva segundo Vossa Vontade, e que depois deste exílio chegue a Vós, sem obstáculo e cumulada de alegria (p. 127)...

Exercício Segundo: … Ocultai-me na rocha inquebrantável de Vossa paternal proteção. Recolhei-me longe de tudo, na abertura do Vosso Coração Dulcíssimo, oh! O mais querido dos amados (p. 131)!...

Exercício Terceiro: … Qual é a Vossa grandeza, ó Rei dos reis, Senhor dos senhores! Todo o exército dos astros está às Vossas ordens, e é ao homem que prendestes o Vosso Coração (p. 143)... Fonte da Luz Eterna, Trindade Santa, ó Deus! Sustentai-me com Vosso Divino poder; governai-me com Vossa Divina Sabedoria; e por Vossa Divina Bondade tornai-me conforme ao Vosso Coração (p. 145)...

Exercício Quarto: … Nesse túmulo de amor envolvei-me na mortalha da Vossa preciosa Redenção; embalsamai-me com os preciosos perfumes da Vossa morte; colocai-me no Vosso Coração lanceado como num sepulcro de mármore do mais alto valor (p. 197)... Agora pois, ó amor! Ó meu Rei e meu Deus! Agora, ó meu Jesus, recebei-me sob a guarda do Vosso Divino Coração. Ali me unireis a Vós por Vosso amor, afim de que para Vós viva inteiramente (p. 202)...

Exercício Quinto: … Oh! Abri-me, como um asilo de salvação, Vosso Coração tão amante. Quanto ao meu, já não o possuo mais; sois Vós, ó meu caro Tesouro, quem o tomastes e o guardais em Vós (p. 217)... Bem-aventurada a alma que Vos tem cativo pelo seu inseparável amor! Feliz o coração que sente imprimir-se nele o beijo do Vosso Sagrado Coração, penhor de indissolúvel aliança, ó Deus amor! (p. 236)... Ó Deus amor, Vós me adotastes por Vossa filha: nutri-me segundo o Vosso Coração (pp. 237-238)...

Exercício Sexto: … Abri-me o tesouro de Vosso misericordioso Coração; nele é que reside o objeto dos meus desejos (p. 240)... Ó amor! Encarrega-te de responder por mim a Jesus, meu Deus, Verbo de vida. Comove em meu favor este Coração Divino, no qual o Teu Poder se mostra com tanto brilho (p. 242)... Eis que a minha alma se enfraquece e desmaia por causa do tédio desta vida, e desejo ardentemente morrer e estar convosco, para que possa oferecer-Vos os doces holocaustos de alegria, no Céu, entre as multidões bem-aventuradas que jubilam em Vosso louvor. Aí queimarei sobre o altar de ouro do Vosso Coração Divino o incenso que Vos é agradável; isto é, o de minha alma e do meu espírito imolados, com delícias, em troca de tantos favores extraordinários com os quais me consolastes, ó meu Pai e Mestre, em todas as tribulações e angústias (p. 250)... Assentado à direita do Pai na minha própria natureza humana, ó meu Amado, aí demonstrais o poder do Vosso amor. Aí é que me trazeis escrita sobre as Vossas mãos9, sobre os Vossos pés e em Vosso dulcíssimo Coração, para nunca esquecerdes a minha alma que resgatastes por preço tão elevado (p. 253)... Deus do meu coração, objeto querido dos meus votos! Pelo Vosso poder infinito admiti, desde esta hora, nas melodias que emanam de Vosso Divino Coração, uma nova nota para exprimir o meu indigno louvor, a minha impotente ação de graças. Que esta nova nota, encerrada no Vosso harmonioso canto, seja a homenagem que Vos devo em troca dos Vossos benefícios, por me haverdes criado, resgatado, eleito e retirado do mundo (pp. 261-262)... Mas desde já lanço no turíbulo de ouro do Vosso Coração Divino (no qual arderá em Vossa glória o suavíssimo perfume do eterno amor) o meu coração, qual mínimo grão de incenso, ardentemente desejando que, não obstante a sua indignidade, o sopro de Vosso Espírito o acenda com a Sua vida, consumindo-o unicamente em Vossa glória (p. 270)... Alegria e jubilo a Vós, neste Coração amantíssimo e fidelíssimo que para mim foi aberto pela lança, para que o meu coração aí pudesse entrar e nele repousar. Alegria e jubilo a Vós, neste dulcíssimo Coração, meu único refúgio em meu exílio; esse Coração tão cheio de terna solicitude para comigo, tão alterado em Seu amor por mim; que jamais repousará até que nEle me haja recebido para a eternidade (pp. 274-275)... Fazei-me sentir os efeitos desta bondade que se mostrou tão misericordiosa para comigo, quando, quando para o meu resgate, o Vosso dulcíssimo Coração foi partido de amor sobre a Cruz! (p. 293)...

Exercício Sétimo: … O seio de Vossa misericórdia, ó amável Jesus, tornar-se-á minha doce prisão; sentir-me-ei presa em Vosso Coração Divino (p. 302)... E tu, ó amor, tu te atacas até ao próprio Coração do meu Jesus, e com tanto vigor que, em sua dedicação por nós, sucumbe transpassado, e não é mais do que um coração aniquilado (p. 321)... Essa dedicação, digna de um Deus, ó amor, me abriu a entrada do terno Coração do meu Jesus. Ó Coração cheio de doçura! Ó Coração transbordando de compaixão! Ó Coração superabundante de Caridade! Ó Coração de onde destilam como o orvalho a suavidade e a misericórdia! Ó Coração, objeto da minha ternura, dignai-Vos absorver meu próprio coração em Vós mesmo. Vós que sois mais caro ao meu coração do que a Peroba mais preciosa, convidai-me ao festim da vida (p. 324)... Ó amor, tomai este Divino Coração, este turibulo onde arde tão suave incenso, esta hóstia tão nobre: oferecei-O por mim sobre o altar de ouro onde está selada a reconciliação do homem; oferecei-O para suprir o que dia a dia me faltou em todo o curso da minha vida, durante a qual fui tão estéril para Vós. Ó amor! Mergulhai minha alma nas ondas que rebentam deste Coração tão cheio de bondade; sepultai toda a multidão de minhas iniquidades e negligências nas profundezas de Sua Divina Misericórdia... Ó Coração mais amado do que todas as coisas, o clamor do meu próprio coração chega até Vós. Lembrai-Vos de mim; que a doçura de Vossa caridade dê coragem a este culpado coração (pp. 325-326)... Na hora da minha morte abri-me sem demora a porta do Vosso Coração tão cheio de bondade, e dignai-Vos fazer com que nada retarde a minha entrada no santuário secreto de Vosso Coração, de Vosso Amor, onde gozarei de Vós, onde Vos possuirei, ó Vós que Sois a alegria verdadeira do meu coração! Amém (p. 338)... Levai-me prontamente a unir-me a Vós, ó encanto eterno de minha alma, único amor de meu coração! Vós cujas feições são tão amáveis e cujo Coração tão terno, longe de Vós minha alma está exilada. Deus de meu coração, meu espírito entregou-se à dissipação: dignai recolhê-lo em Vós. Meu Bem-amado, pela pureza de intenção que reinou sempre em Vossos Santos pensamentos, pelo ardente amor de Vosso Coração transpassado pelo ferro, purificai todos os perversos pensamentos do meu coração culpado. Que Vossa amargurada Paixão seja para mim um amparo no momento da minha morte; que o Vosso coração despedaçado pelo amor torne-se a minha eterna morada; pois Sois amado por mim acima de toda a criatura (pp. 340-341)...


_________________________

1.  Vita, I, 4, c. 3.

2.  Francisco Vannutelli, S.J., “O Mês de Junho Consagrado ao Santíssimo Coração de Jesus”, 3º Dia, pp. 28-29. 6ª Edição, Casa Duprat, São Paulo, 1934.

3.  “Segredos do Coração de Jesus – Revelações de Santa Gertrudes”, Livro II, Cap. VIII, pp. 33-36. Tradução de Celso da Costa Carvalho Vidigal, Artpres Indústria Gráfica e Editora Ltda, São Paulo, 2004.

4.  Esto mihi…, etc.

5.  Benedicens benedicam… Versículo do Responsório Locutus est, do mesmo Domingo.

6.  Tibi enim et semini tuo dabo has regions, do Responsório Movens, que não é citado textualmente.

7.  Tit. III, 4.

8.  Manual Gertrudiano ou Exercícios Espirituais de Santa Gertrudes Magna, Virgem da Ordem de São Bento. Edição Portuguesa. Typografia de B. Herder, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1914.

9.  Isaías 49, 16.


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