Beato Pio IX
Eu Sou a Imaculada Conceição
Posição e privilégios de Maria nos desígnios de Deus
1.
Deus inefável, "cuja conduta toda é bondade e fidelidade",
cuja vontade é onipotente, e cuja sabedoria "se estende com
poder de um extremo ao outro (do mundo), e tudo governa com bondade",
tendo previsto desde toda a eternidade a triste ruína de todo o
gênero humano que derivaria do pecado de Adão, com desígnio oculto
aos séculos, decretou realizar a obra primitiva da sua bondade com
um mistério ainda mais profundo, mediante a Encarnação do Verbo.
Porque, induzido ao pecado — contra o propósito da divina
misericórdia — pela astúcia e pela malícia do demônio, o homem
não devia mais perecer; antes, a queda da natureza do primeiro Adão
devia ser reparada com melhor fortuna no segundo.
2.
Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e
pré-ordenou para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da
qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de
preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a
ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por
isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos
os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do
tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda
mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude
de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode
conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente
pode chegar a compreender.
3.
E, certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável
brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e,
imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais
belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a ela Deus Pai
dispusera dar seu Filho Unigênito — gerado do seu seio, igual a si
mesmo e amado como a si mesmo — de modo tal que Ele fosse, por
natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o
próprio Filho estabelecera torná-la sua Mãe de modo substancial;
porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dela fosse
concebido e nascesse Aquele de quem Ele mesmo procede.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Tradição da Igreja sobre a Imaculada Conceição
4.
A Igreja Católica, que, instruída pelo Espírito de Deus, é "a
coluna e a base da verdade", sempre considerou como divinamente
revelada e como contida no depósito da celeste revelação esta
doutrina acerca da inocência original da augusta Virgem, doutrina
que está tão perfeitamente em harmonia com a sua maravilhosa
santidade, e com a sua eminente dignidade de Mãe de Deus; e, como
tal, nunca cessou de explicá-la, ensiná-la e favorecê-la cada dia
mais, de muitos modos e com atos solenes.
5.
Porém esta mesma doutrina, admitida desde os tempos antigos,
profundamente radicada na alma dos fiéis e admiravelmente propagada
no mundo católico pelo cuidado e pelo zelo dos bispos, de modo o
mais claro foi professada pela Igreja quando esta não hesitou em
propor a Conceição da Virgem ao culto público e à veneração dos
fiéis. Com este ato significativo ela, de fato, mostrava que a
Conceição de Maria devia ser venerada como singular, maravilhosa,
diferentíssima da de todos os outros homens, e plenamente santa;
visto que a Igreja só celebra as festas dos Santos. Por isto é
costume da Igreja, quer nos ofícios eclesiásticos, quer na santa
Liturgia, usar e aplicar à origem da Virgem as mesmas expressões
com que as divinas Escrituras falam da Sabedoria incriada e
representam as eternas origens desta, havendo Deus, com um só e
mesmo decreto, preestabelecido a origem de Maria e a encarnação da
Divina Sabedoria.
6.
Todas estas doutrinas e todos estes fatos, em toda parte e geralmente
aceitos pelos fiéis, mostram com quanto cuidado a própria Igreja
Romana, mãe e mestra de todas as Igrejas, tem favorecido a doutrina
da Imaculada Conceição da Virgem. Todavia, parece assaz conveniente
recordar em particular os atos mais importantes da Igreja nesta
matéria; porquanto é tal a dignidade e autoridade que à Igreja
absolutamente pertencem, que ela deve ser considerada o centro da
verdade e da unidade católica; é a única que tem guardado
inviolavelmente a religião; e todas as outras igrejas devem receber
a tradição da fé.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Os Papas favoreceram o Culto da Imaculada
7.
Pois bem: esta Igreja Romana nada teve mais a peito do que professar,
sustentar, propagar e defender por todos os modos mais significativos
a Imaculada Conceição da Virgem, o seu culto e a sua doutrina. Tal
solicitude é aberta e claramente atestada por inúmeros atos
insignes dos Pontífices Romanos Nossos Predecessores, aos quais, na
pessoa do Chefe dos Apóstolos, foi pelo próprio Cristo Senhor
confiada a tarefa e a autoridade suprema de apascentar os cordeiros e
as ovelhas, de confirmar os irmãos e de reger e governar a Igreja.
8.
De fato, os Nossos Predecessores consideraram sua glória o haverem,
com a sua autoridade Apostólica, instituído na Igreja Romana a
festa da Conceição, dotando-a e honrando-a com um Ofício e com uma
Missa própria, em que com máxima clareza se afirma a prerrogativa
da imunidade de toda mancha original. Além disto, com todo o cuidado
promoveram e aumentaram o culto já estabelecido, concedendo
Indulgências; concedendo a cidades, províncias e reinos a faculdade
de escolherem por Padroeira a Mãe de Deus sob o título da Imaculada
Conceição; aprovando irmandades, congregações e famílias
religiosas instituídas em honra da Imaculada Conceição; tributando
louvores à piedade daqueles que levantavam mosteiros, hospícios,
altares, templos sob o título da Imaculada Conceição, ou sob
juramento se comprometiam a defender a todo custo a Imaculada
Conceição da Mãe de Deus.
9.
Ademais, com a maior alegria ordenaram que a festa da Conceição
fosse celebrada em toda a Igreja com solenidade igual à da festa da
Natividade; que com oitava fosse celebrada pela Igreja universal e
escrupulosamente observada por todos os fiéis como festa de
preceito; que todo ano, no dia da festa da Imaculada Conceição de
Maria, se promovesse Capela Papal na Nossa patriarcal basílica
Liberiana.
10.
Desejando, pois, confirmar sempre mais no ânimo dos fiéis esta
doutrina da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, e estimular-lhes a
piedade do culto e à veneração da Virgem concebida sem pecado
original, com sumo prazer concederam a faculdade de citar a Imaculada
Conceição da mesma Virgem nas Ladainhas Lauretanas e no próprio
Prefácio da Missa; de modo que a norma da fé fosse valorizada pela
forma da oração. Portanto, Nós, postos nas pegadas de
Predecessores tão ilustres, não somente temos aprovado e aceitado
as suas piedosíssimas e sapientíssimas disposições, senão que,
lembrados daquilo que Sisto IV instituíra, de muito bom grado
confirmamos com a Nossa autoridade o Ofício próprio da Imaculada
Conceição, e concedemos o uso dele a toda a Igreja.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Os Papas precisaram o objeto do Culto da Imaculada
11.
Mas, como tudo o que se refere ao culto está estreitamente ligado
com o seu objeto e não pode ter consistência nem duração se este
objeto estiver mal definido ou incerto, os Romanos Pontífices Nossos
Predecessores, enquanto solicitamente se esforçaram por aumentar o
culto da Conceição, intensissimamente se preocuparam também com
lhe explicar e inculcar o objeto e a doutrina.
12.
Com efeito, eles ensinaram clara e abertamente que, nas festas por
eles estabelecidas, se celebrava a Conceição da Virgem; e
proscreveram, como falsa e contrária ao pensamento da Igreja a
opinião daqueles que entendiam e afirmavam que a Igreja honrava não
propriamente a Conceição de Maria, mas a sua santificação. Nem
julgaram dever ter maiores considerações com os que, para abalarem
a doutrina da Imaculada Conceição, excogitaram uma distinção
entre o primeiro e o segundo instante da Conceição, e pretenderam
que da Conceição se festejasse não o primeiro, mas o segundo
momento. E, na realidade, os mesmos Nossos Predecessores consideraram
seu estrito dever não somente sustentarem com todo empenho a festa
da Conceição da beatíssima Virgem, mas também asseverarem que o
verdadeiro objeto do culto era a Conceição considerada no seu
primeiro instante.
13.
Daqui as palavras absolutamente peremptórias com que Alexandre VII,
Nosso Predecessor, exprimiu o verdadeiro pensamento da Igreja. De
fato Ele declarou que "desde a antiguidade, a piedade dos fiéis
para com a beatíssima Virgem Maria havia crido que a sua alma, desde
o primeiro instante da sua criação e da sua infusão no corpo, por
uma especial graça e privilégio de Deus, em vista dos méritos de
Jesus Cristo, seu Filho e Redentor do gênero humano, foi preservada
imune de toda mancha do pecado original; e, neste sentido, celebrara
ela solenemente a festa da Conceição"1.
14.
Mas, os Nossos Predecessores aplicaram-se sobretudo, com todo
cuidado, zelo e esforço a manter intacta a doutrina da Imaculada
Conceição da Mãe de Deus. De fato, eles não só, absolutamente,
não toleraram que, por quem quer que fosse e de qualquer modo, fosse
essa doutrina criticada ou censurada, porém foram ainda muito mais
longe, proclamando com claras e reiteradas declarações que a
doutrina com que professamos a Imaculada Conceição da Virgem é e
deve ser, com toda razão, considerada em tudo conforme ao culto da
Igreja; é antiga e quase universal; é tal, que a Igreja Romana
começou a favorecê-la e a defendê-la; e é de todo digna de ter um
lugar na própria Liturgia sagrada e nas orações mais solenes.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Os Papas proibiram a doutrina contrária
15.
E, não satisfeitos com isto, a fim de que a doutrina acerca da
Imaculada Conceição de Maria se conservasse íntegra, proibiram
severissimamente sustentar-se, quer em público quer em particular, a
opinião a ela contrária, a qual quiseram como de muitos modos
ferida de morte. E, para que essas repetidas e claríssimas
declarações não redundassem vãs, também lhes aditaram sanções.
16.
Tudo isto foi expresso pelo Nosso já lembrado Predecessor Alexandre
VII, com as seguintes palavras:
"Nós
temos bem presente que a santa Igreja Romana celebra solenemente a
festa da Conceição da imaculada e sempre Virgem Maria, e aprovou
outrora um ofício especial e próprio para a dita festa, segundo as
disposições que então foram dadas por Sisto IV, Nosso Predecessor.
Desejamos, pois, favorecer esta louvável e piedosa devoção, a
festa e o culto a ela prestado e que permaneceu inalterado na Igreja
Romana desde a instituição da mesma; e, consoante o exemplo dos
Romanos Pontífices Nossos Predecessores, defender este devoto modo
de venerar e honrar a beatíssima Virgem preservada do pecado
original por virtude da graça proveniente do Espírito Santo. Além
disto, é Nossa viva preocupação conservar no rebanho de Cristo a
unidade do espírito no vínculo da paz, suprimindo as ofensas e as
contendas, e removendo os escândalos. Por isto, acolhendo as
instâncias e as súplicas a Nós apresentadas pelos preditos bispos,
pelos Cabidos das suas igrejas, e pelo rei Filipe e pelos seus
reinos, renovamos as Constituições e os Decretos emanados dos
Romanos Pontífices Nossos Predecessores, e especialmente de Sisto
IV, Paulo V e Gregório XV, em defesa da sentença que sustenta que a
alma da bem-aventurada Virgem Maria, na sua criação e infusão no
corpo, teve o dom da graça do Espírito Santo e foi preservada do
pecado original; e em favor da festa e do culto da Conceição da
mesma Virgem Mãe de Deus, entendidos segundo a piedosa sentença
supra exposta; e ordenamos que tais Constituições e Decretos sejam
plenamente observados sob pena de incorrer nas censuras e nas outras
sanções previstas pelas próprias Constituições.
"Outrossim
decretamos que todos aqueles que continuarem a interpretar as
Constituições e os Decretos supra lembrados de modo a tornar vão o
favor atribuído pelas Constituições e pelos Decretos àquela
sentença, à festa e ao culto; todos aqueles que com discussões se
manifestarem contra esta sentença, esta festa e este culto, ou que,
de qualquer modo — direta ou indiretamente, — ou sob qualquer
pretexto — de lhe examinar a definibilidade, de interpretar a
Sagrada Escritura ou os Santos Padres, ou de comentar os Doutores, —
por escrito ou de viva voz, ousarem falar, pregar, tratar, discutir,
precisando, afirmando, aduzindo argumentos — deixados depois
insolvidos, — ou por qualquer outro modo inimaginável, além de
incorrerem nas penas e censuras contidas nas Constituições de Sisto
IV — às quais queremos que estejam sujeitos e às quais, de fato,
com esta Constituição os sujeitamos, — são por Nós privados da
faculdade de pregar, de dar lições públicas, de ensinar, e de
interpretar; são privados da voz ativa e passiva em toda espécie de
eleições; incorrem "ipso facto", sem necessidade de
qualquer declaração, na pena da incapacidade perpétua para pregar,
para dar lições públicas, para ensinar e para interpretar. De tais
penas não poderão ser absolvidos ou dispensados senão por Nós ou
pelos Sumos Pontífices Nossos Sucessores. Além de a estas penas,
sujeitamo-los — e pela presente Constituição declaramo-los
sujeitos — a todas as outras penas que puderem ser infligidas ao
Nosso arbítrio ou ao dos Sumos Pontífices Nossos Sucessores;
confirmando, a respeito, as já lembradas Constituições de Paulo V
e Gregório XV.
"Por
último, proibimos, e decretamos sujeitos às penas e às censuras
contidas no Índice dos Livros proibidos, e ordenamos sejam, "ipso
facto" e sem necessidade de qualquer declaração, considerados
proibidos, os livros, as prédicas, os tratados, as investigações,
publicados ou ainda por publicar, depois do lembrado Decreto de Paulo
V, nos quais a supradita sentença, a festa e o culto sejam postos em
dúvida ou, de qualquer modo, contrariados".
Eu Sou a Imaculada Conceição
Consenso de Doutos, de Bispos e de Famílias Religiosas
17.
Por outra parte, todos sabem com quanto zelo a doutrina da Imaculada
Conceição da Virgem Mãe de Deus foi transmitida, sustentada e
defendida pelas mais ilustres Famílias religiosas, pelas mais
célebres Academias teológicas, e pelos Doutores mais profundos na
ciência das coisas divinas. Igualmente, todos conhecem o quanto os
bispos têm sido solícitos em sustentar abertamente, mesmo nas
assembleias eclesiásticas, que a Santíssima Virgem Maria, Mãe de
Deus, em previsão dos méritos do Redentor Cristo Jesus, nunca este
sujeita ao pecado original, e, por isto, foi remida de maneira mais
sublime.
Eu Sou a Imaculada Conceição
O Concílio de Trento em harmonia com a Tradição
18.
A tudo isto se junta o fato, da maior importância e autoridade, de,
quando o mesmo Concílio de Trento promulgou o decreto dogmático
sobre o pecado original, e, consoante os testemunhos da Sagrada
Escritura, dos santos Padres e dos concílios mais autorizados,
estatuiu e definiu que todos os homens nascem infectados pelo pecado
original, haver todavia solenemente declarado não ser sua intenção
abranger em dito Decreto, e na extensão de uma definição tão
geral, a bem-aventurada e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus. De
fato, com tal declaração os Padres tridentinos assaz claramente
fizeram compreender, por essas circunstâncias, que a beatíssima
Virgem Maria foi isenta da culpa original; e com isso demonstraram
abertamente que nem das divinas Escrituras, nem da autoridade dos
Padres, se pode deduzir qualquer argumento que de qualquer modo
esteja em contradição com esta prerrogativa da Virgem.
19.
E, na verdade, ilustres e venerandos monumentos da antiga Igreja
oriental e ocidental aí estão para atestar que esta doutrina da
Imaculada Conceição da beatíssima Virgem, cada vez mais
esplendidamente explicada, esclarecida e confirmada pelo
autorizadíssimo sentimento, pelo magistério, pelo zelo, pela
ciência e pela sabedoria no seio de todas as nações do mundo
católico, sempre existiu no seio da mesma Igreja, como recebida por
tradição, e revestida do caráter de doutrina revelada.
20.
De feito, a Igreja de Cristo, guardiã e vindicadora das doutrinas a
ela confiadas, jamais as alterou, nem com acréscimos nem com
diminuições; mas trata com todas as deferências e com toda a
sabedoria aquelas que a antiguidade delineou e os Padres semearam; e
procura limiar e afinar aquelas antigas doutrinas da divina
revelação, de modo que recebam clareza, luz e precisão. Assim,
enquanto conservam a sua plenitude, a sua integridade e o seu
caráter, elas se desenvolvem somente segundo a sua própria
natureza, ou seja, no mesmo pensamento, no mesmo sentido.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Pensamento dos Padres e dos Escritores Eclesiásticos
21.
Ora, os Padres e os escritores eclesiásticos, instruídos pelos
divinos ensinamentos, nos livros que escreveram para explicar a
Escritura, para defender os dogmas e para instruir os fiéis, tiveram
sobretudo a peito pregar e exaltar, em múltipla e maravilhosa
porfia, a suma santidade, a dignidade e a imunidade da Virgem, de
toda mancha de pecado, e a sua plena vitória sobre o crudelíssimo
inimigo do gênero humano.
Eu Sou a Imaculada Conceição
O Proto – Evangelho
22.
Por tal motivo, ao explicar as palavras com que, desde as origens do
mundo, Deus anunciou os remédios preparados pela sua misericórdia
para a regeneração dos homens, confundiu a audácia da serpente
enganadora e reergueu admiravelmente as esperanças do gênero
humano, dizendo: "Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a dela", eles ensinaram que, com esta divina
profecia, foi clara e abertamente indicado o misericordiosíssimo
Redentor do gênero humano, isto é, o Filho Unigênito de Deus,
Jesus Cristo; foi designada sua beatíssima Mãe, a Virgem Maria; e,
ao mesmo tempo, foi nitidamente expressa a inimizade de um e de outra
contra o demônio.
23.
Em consequência disto, assim como Cristo, Mediador entre Deus e os
homens, assumindo a natureza humana destruiu o decreto de condenação
que havia contra nós, cravando-o triunfalmente na Cruz, assim também
a Santíssima Virgem, unida com Ele por um liame estreitíssimo e
indissolvível, foi, conjuntamente com Ele e por meio d’Ele, a
eterna inimiga da venenosa serpente, e esmagou-lhe a cabeça com seu
pé virginal.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Figuras bíblicas de Nossa Senhora
24.
Deste nobre e singular triunfo da Virgem, da sua excelentíssima
inocência, pureza e santidade, da sua imunidade do pecado original,
e da inefável abundância e grandeza de todas as suas graças,
virtudes e privilégios, viram os mesmos Padres uma figura na arca de
Noé, que, construída por ordem de Deus, ficou completamente salva e
incólume do naufrágio comum; na escada que Jacó viu, da terra,
chegar até ao céu: escada por cujos degraus os Anjos subiam e
desciam, e em cujo topo estava o próprio Senhor; na sarça que,
embora vista por Moisés arder no lugar santo, por todos os lados, em
chamas crepitantes, contudo não se consumia nem sofria dano algum,
mas continuava a ser bem verde e florida; naquela torre inexpugnável,
posta defronte do inimigo, da qual pendem mil escudos e toda a
armadura dos fortes; naquele jardim fechado, que não devia ser
violado ou danificado por nenhuma fraude ou por nenhuma insídia;
naquela resplandecente cidade de Deus, que tem os seus fundamentos
sobre as montanhas santas; naquele augusto templo de Deus que,
refulgente dos divinos esplendores, está cheio da glória do Senhor;
e, enfim, em todas aquelas outras inúmeras figuras em que os Padres
divisaram (e lhe transmitiram o ensinamento) o claro prenúncio da
excelsa dignidade da Mãe de Deus, da sua ilibada inocência e da sua
santidade, nunca sujeita a qualquer mancha.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Expressões dos Profetas
25.
Os mesmos Padres, para descreverem esse maravilhoso complexo de dons
divinos e a inocência original da Virgem, Mãe de Jesus, recorreram
também aos escritos dos Profetas, e celebraram a mesma augusta
Virgem como uma pomba pura; como uma Jerusalém santa; como o trono
excelso de Deus; como arca santificada; como a casa que a eterna
sabedoria para si mesma edificou; e como aquela Rainha que, cumulada
de delícias e apoiada ao seu Dileto, saiu da boca do Altíssimo
absolutamente perfeita, bela, caríssima a Deus, e jamais poluída
por mancha de culpa.
Eu Sou a Imaculada Conceição
A "Ave-Maria" e o "Magnificat"
26.
Depois, quando os mesmos Padres e os escritores eclesiásticos
consideravam que, ao dar à beatíssima Virgem o anúncio da
altíssima dignidade de Mãe de Deus, por ordem do próprio Deus, o
Anjo Gabriel lhe chamara cheia de graça, ensinaram que com esta
singular e solene saudação, até então nunca ouvida, se
demonstrava que a Mãe de Deus era a sede de todas as graças de
Deus, era exornada de todos os carismas do Espírito Divino; antes,
era um tesouro quase infinito e um abismo inexaurível dos mesmos
carismas; de modo que, ela não somente nunca esteve sujeita à
maldição, mas foi também, juntamente com seu Filho, participante
de perpétua benção: digna de, por Isabel movida pelo Espírito de
Deus, ser dita: "Bendita és entre as mulheres e bendito o fruto
do teu ventre".
27.
Destas interpretações se infere, clara e concorde, a opinião dos
Padres. A gloriosíssima Virgem, pela qual "grandes coisas fez
Aquele que é poderoso", resplendeu de tal abundância de dons
celestes, de tal plenitude de graça e de tal inocência, que se
tornou como que por milagre de Deus por excelência, ante a
culminância de todos os seus milagres, e digna Mãe de Deus; de modo
que, colocada, tanto quanto é possível a uma criatura, como a mais
próxima de Deus, ela se tornou superior a todos os louvores dos
homens e dos Anjos.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Paralelo com Eva
28.
Por consequência, para demonstrar a inocência e a justiça original
da Mãe de Deus, eles não somente a compararam muitíssimas vezes a
Eva ainda virgem, ainda inocente, ainda incorrupta e ainda não
enganada pelas mortais insídias da serpente mentirosa, como também
a antepuseram a ela com uma maravilhosa variedade de palavras e de
expressões. De fato, Eva escutou infelizmente a serpente, e decaiu
da inocência original, e tornou-se escrava da serpente; ao
contrário, a beatíssima Virgem aumentou continuamente o dom tido na
sua origem, e, bem longe de prestar ouvido à serpente, com o divino
auxílio quebrou-lhe completamente a violência e o poder.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Expressões de louvor
29.
Por isto eles nunca cessaram de aplicar à Mãe de Deus os nomes mais
belos: de lírio entre os espinhos; de terra absolutamente intacta,
virginal, ilibada, imaculada, sempre abençoada e livre de todo
contágio do pecado, da qual foi formado o novo Adão; de jardim
ordenadíssimo, esplêndido, ameníssimo, de inocência e de
imortalidade, delicioso, plantado por Deus mesmo e defendido de todas
as insídias da serpente venenosa; de lenho imarcescível, que o
verme do pecado jamais corroeu; de fonte sempre límpida e assinalada
pelo poder do Espírito Santo; de templo diviníssimo; de escrínio
da imortalidade, de só e única filha, não da morte, mas da vida;
de rebento não de ira, mas de graça, o qual, embora despontasse de
uma raiz corrompida e infecta, por uma divina e providencial exceção
à lei geral foi sempre verdejante e florescente. Mas, como se todos
estes modos de dizer, ainda que esplendidíssimos, não bastassem,
eles além disso afirmaram, com expressões bem claras e precisas,
que, quando se trata de pecados, a Virgem Maria nem sequer deve ser
nomeada; porque a ela foi dada uma graça superior à que se concede
aos outros, a fim de que vencesse totalmente toda espécie de pecado.
Asseveraram também que a gloriosíssima Virgem foi a reparadora de
seus progenitores; a vivificadora dos pósteros; aquela que o
Altíssimo, desde todos os séculos, escolhera e preparara para si;
que foi por Deus prenunciada, quando Ele disse à serpente: "Porei
inimizades entre ti e a mulher"; que sem dúvida esmagou a
cabeça da venenosa da mesma serpente. Por isto eles afirmaram que a
mesma beatíssima Virgem foi, por graça, imune de toda a mancha de
pecado e livre de todo contágio de corpo, de alma e de intelecto;
que, tendo estado unida e junta com Deus por uma eterna aliança, ela
nunca esteve nas trevas, mas sim numa luz perene; e, portanto,
plenamente digna de vir a ser habitação de Cristo, não pelas
disposições do seu corpo, mas pela graça original.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Imaculada
30.
A estas, depois, eles juntaram outras nobilíssimas expressões.
Falando da Conceição da Virgem, atestaram que a natureza cedeu ante
a graça: parou trêmula, e não ousou avançar. A Virgem Mãe de Deus
não devia ser concebida por Ana antes que a graça afirmasse o seu
poder: porquanto devia ser concebida aquela primogênita da qual
seria depois concebido o primogênito de toda criatura. Professaram
que a carne da Virgem, se bem derivada de Adão, não lhe contraiu as
manchas; que, por isto, a beatíssima Virgem foi aquele tabernáculo
construído por Deus, formado pelo Espírito Santo, e verdadeiramente
de púrpura, o qual aquele novo Beseleel teceu de ouro e com
variedade de bordados; que ela foi de fato e justamente celebrada,
por ser a obra-prima de Deus, por haver escapado aos dardos
inflamados do maligno, e porque, bela por natureza, e absolutamente
imune de toda mácula, na sua Conceição Imaculada ela apareceu no
mundo como uma aurora de perfeito esplendor. Com efeito, não era
conveniente que aquele vaso de eleição fosse ofuscado pelo defeito
que ofusca os outros, porque ele foi diferentíssimo dos outros, e,
se com eles teve de comum a natureza, não teve de comum a culpa;
antes, convinha que o Unigênito, assim como teve nos céus um Pai
exaltado pelos Serafins como três vezes santo, assim também tivesse
na terra uma Mãe à qual nunca faltasse o esplendor da santidade.
31.
E esta doutrina estava tão arraigada na mente e alma dos antigos,
que, falando da Mãe de Deus, eles costumavam usar termos
verdadeiramente extraordinários e singulares. Chamavam-lhe
frequentissimamente: Imaculada, em tudo e por tudo Imaculada;
inocente, antes espelho de inocência; ilibada, e ilibada em todos os
sentidos; santa e longíssima de toda mancha de pecado; toda pura e
toda intacta, antes o exemplar da pureza e da inocência; mais bela
do que a beleza, mais graciosa do que a graça, mais santa do que a
santidade; a única santa, a puríssima de alma e de corpo, que
ultrapassou toda integridade e toda virgindade; a única que se
tornou sede de todas as graças do Espírito Santo; tão alta que,
inferior só a Deus, foi superior a todos; por natureza, mais bela,
mais graciosa e mais santa que os próprios Querubins e Serafins e do
que todas as falanges dos Anjos; superior a todos os louvores do céu
e da terra. E ninguém ignora que esta linguagem foi como que
espontaneamente introduzida também nas páginas da santa Liturgia e
dos ofícios eclesiásticos, nos quais volta muitíssimas vezes com
tom quase dominante. Nessas páginas, de feito, a Mãe de Deus é
invocada e exaltada como única pomba de incorruptível beleza, e
como a rosa sempre fresca. É invocada e louvada como puríssima,
sempre imaculada e sempre bem-aventurada; antes, como a própria
inocência que nunca foi lesada, e como a segunda Eva, que deu à luz
o Emanuel.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Consenso unânime e Petições para a Definição do Dogma
32.
Nada de admirar, pois, se os Pastores da Igreja e o povo fiel sempre
se comprazeram em professar com tanta piedade, devoção e amor a
doutrina da Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus, que, a
juízo dos Padres, está contida na Sagrada Escritura, foi
transmitida por tantos dos seus importantíssimos testemunhos, é
expressa e celebrada por tantos ilustres monumentos da veneranda
antiguidade, e é proposta e confirmada pelo mais alto e mais
autorizado magistério da Igreja. Nada de admirar, pois, se Pastores
e fiéis sempre demonstraram nada terem de mais doce e de mais caro
do que honrarem, venerarem, invocarem e exaltarem por toda parte com
fervorosíssimo afeto a Virgem Mãe de Deus, concebida sem o pecado
original.
33.
Por isto, desde os tempos mais antigos, bispos, eclesiásticos,
Ordens regulares, e mesmo imperadores e reis apresentaram vivas
instâncias a esta Sé Apostólica a fim de que fosse definida como
dogma de fé católica a Imaculada Conceição da Santíssima Mãe de
Deus. Pedidos que foram reiterados mesmo nos nossos tempos e
apresentados especialmente ao Nosso Predecessor, de feliz memória,
Gregório XVI, e a Nós mesmo, pelos bispos, pelo clero secular, por
Famílias religiosas, como também por soberanos e por povos fiéis.
34.
Portanto Nós, bem conhecendo e atentamente considerando todas estas
coisas com singular alegria do Nosso coração, logo que, por
imperscrutável disposição da Divina Providencia, fomos elevados a
esta sublime Cátedra de Pedro, e, embora imerecedor, tomamos em mão
o governo de toda a Igreja, certamente nada tivemos mais a peito —
dada a terníssima veneração, piedade e afeto que desde os
primeiros anos nutrimos para com a Santíssima Virgem Maria Mãe de
Deus — do que levar a cumprimento tudo aquilo que ainda podia estar
nos votos da Igreja, para que fosse aumentada a honra da beatíssima
Virgem e resplendessem de nova luz as suas prerrogativas.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Trabalho de preparação
35.
Mas, querendo proceder com toda prudência, constituímos uma
Comissão especial de Veneráveis Irmãos Nossos, Cardeais da santa
Igreja Romana, ilustres por piedade, por ponderação de juízo e por
ciência das coisas divinas, e escolhemos entre o clero secular e o
regular homens particularmente versados nas disciplinas teológicas,
com o encargo de examinarem com a maior diligência tudo o que diz
respeito à Imaculada Conceição da Virgem, e nos darem depois o seu
parecer.
36.
E, conquanto as instâncias a Nós dirigidas a fim de implorar a
definição da Imaculada Conceição já nos houvessem demonstrado
bastante qual fosse o pensamento de muitíssimos bispos, todavia, a 2
de fevereiro de 1849, enviamos, de Gaeta, uma Encíclica a todos os
Veneráveis Irmãos bispos do mundo católico, a fim de que, depois
de orarem a Deus, nos fizessem saber, mesmo por escrito, qual era a
piedade e devoção dos seus fiéis para com a Imaculada Conceição
da Mãe de Deus; o que era que pensavam, especialmente eles — os
bispos — da definição em projeto; e, por último, que desejos
tinham a exprimir, para que o Nosso supremo juízo pudesse ser
manifestado com a maior solenidade possível.
37.
E, na verdade, foi bastante grande a consolação que experimentamos,
quando nos chegaram as respostas dos mesmos Veneráveis Irmãos. De
fato, com cartas das quais transparece um incrível, um jubiloso
entusiasmo, eles não somente nos confirmaram novamente a sua opinião
e devoção pessoal e a do seu clero e dos seus fiéis, mas também,
com voto que se pode dizer unânime, pediram-nos que, com o Nosso
supremo juízo e autoridade, definamos a Imaculada Conceição da
mesma Virgem.
38.
E menor não foi a Nossa alegria quando os Nossos Veneráveis Irmãos
Cardeais da santa Igreja Romana, membros da mencionada Comissão, e
os preditos teólogos consultores, por Nós escolhidos, após
diligente exame da questão também nos pediram, com igual solicitude
e fervor, a definição da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.
39.
Depois de tudo isto, seguindo os claros exemplos dos Nossos
Predecessores, e desejando proceder segundo as normas tradicionais,
convocamos e levamos a efeito um Consistório, no qual dirigimos uma
alocução aos Nossos Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja
Romana, e com suma consolação da Nossa alma os ouvimos rogar-nos
quiséssemos pronunciar a definição dogmática da Imaculada
Conceição da Virgem Mãe de Deus.
40.
Destarte, firmemente nos persuadimos, no Senhor, ser chegado o tempo
oportuno para definir a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus,
a qual a Sagrada Escritura, a veneranda tradição, o constante
sentimento da Igreja, o singular consenso dos bispos católicos e dos
fiéis, e os atos memoráveis e as constituições dos Nossos
Predecessores, admiravelmente ilustram e explicam. Portanto, após
havermos diligentissimamente considerado todas as coisas e termos
elevado assíduas e fervorosas preces a Deus, julgamos não haver
tardar mais a sancionar e definir com o Nosso supremo juízo a
Imaculada Conceição da mesma Virgem, e assim satisfazer os
piedosíssimos desejos do mundo católico e a Nossa devoção para
com a mesma S.S. Virgem, e ao mesmo tempo honrar sempre mais nela seu
Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo; pois todos estão
convencidos de que toda a honra e glória que se rende à Mãe recai
sobre seu Filho.
Eu Sou a Imaculada Conceição
A Definição do Dogma
41.
Por isto, depois de na humildade e no jejum, dirigirmos sem
interrupção as Nossas preces particulares, e as públicas da
Igreja, a Deus Pai, por meio de seu Filho, a fim de que se dignasse
de dirigir e sustentar a Nossa mente com a virtude do Espírito
Santo; depois de implorarmos com gemidos o Espírito consolador; por
sua inspiração, em honra da santa e indivisível Trindade, para
decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé
católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade
de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e
Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos:
Doctrinam,
quæ tenet, beatissimam Virginem Mariam in primo instanti suæ
conceptionis fuisse singulari omnipotentis Dei gratia et privilegio,
intuitu meritorum Christi Jesu Salvatoris humani generis, ab omni
originalis culpæ labe præservatam immunem, esse a Deo revelatam
atque idcirco ab omnibus fidelibus firmiter constanterque credendam.
A doutrina que sustenta
que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua
Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em
vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi
preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi
revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente
por todos os fiéis.
42.
Portanto, se alguém (que Deus não permita!) deliberadamente entende
de pensar diversamente de quanto por Nós foi definido, conheça e
saiba que está condenado pelo seu próprio juízo, que naufragou na
fé, que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso,
incorreu por si, "ipso
facto",
nas penas estabelecidas pelas leis contra aquele que ousa manifestar
oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros
que pensa no seu coração.
Eu Sou a Imaculada Conceição
Sentimentos de esperança e exortação final
43.
A nossa boca está cheia de alegria e os Nossos lábios de exultação,
e damos e daremos sempre as mais humildes e as mais vivas ações de
graças a Nosso Senhor Jesus Cristo, por nos haver concedido a graça
singular de podermos, embora imerecedor, oferecer e decretar esta
honra, esta glória e este louvor à sua Santíssima Mãe. E depois
reafirmamos a Nossa mais confiante esperança na beatíssima Virgem,
que, toda bela e imaculada, esmagou a cabeça venenosa da
crudelíssima serpente, e trouxe a salvação ao mundo; naquela que é
glória dos Profetas e dos Apóstolos, honra dos Mártires, alegria e
coroa de todos os Santos; seguríssimo refúgio e fidelíssimo
auxilio de todos os que estão em perigo; poderosíssima mediadora e
reconciliadora de todo o mundo junto a seu Filho Unigênito;
fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja, e sua solidíssima
defesa. Reafirmamos a Nossa esperança naquela que sempre destruiu
todas as heresias, salvou os povos fiéis de gravíssimos males de
todo gênero, e a Nós mesmos tem livrado de tantos perigos que nos
ameaçam. Confiamos que ela queira, com a sua eficacíssima proteção,
fazer com que a nossa Santa Madre Igreja Católica, superando todas
as dificuldades e desbaratando todos os erros, prospere e floresça
cada dia mais no meio de todos os povos e em todos os lugares, "do
mar ao mar, e do rio até aos confins da terra", e tenha paz,
tranquilidade e liberdade completa; que os culpados alcancem o
perdão, os doentes a saúde, os tímidos a força, os aflitos a
consolação, os periclitantes o auxílio; que todos os errantes,
dissipada a névoa da sua mente, voltem ao caminho da verdade e da
justiça, e haja um só aprisco sob um só Pastor.
44.
Escutem as Nossas palavras todos os caríssimos filhos Nossos e da
Igreja Católica, e com sempre mais ardente fervor de devoção, de
piedade e de amor continuem a venerar, a invocar, a suplicar a
beatíssima Virgem Maria Mãe de Deus, concebida sem o pecado
original, e com toda confiança recorram a esta dulcíssima Mãe de
misericórdia e de graça, em todos os perigos, em todas as
angústias, em todas as necessidades, em todas as dúvidas e em todas
as apreensões. De feito, não pode haver lugar para temor ou para
desespero quando ela é a nossa condutora e a nossa protetora, quando
ela nos é propícia e nos protege; pois que ela tem para conosco um
coração materno, e, enquanto trata os negócios que dizem respeito
à salvação de cada um de nós, é solícita de todo o gênero
humano. Constituída por Deus Rainha do céu e da terra, e exaltada
acima de todos os coros dos Anjos e de todas as ordens dos Santos,
ela está à direita de seu Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus
Cristo, e com as suas poderosíssimas preces de Mãe suplica; acha o
que procura, e não pode ficar frustrada.
45.
Enfim, para que esta Nossa definição da Imaculada Conceição da
beatíssima Virgem Maria possa ser levada ao conhecimento da Igreja
universal, estabelecemos que, como perpétua lembrança dessa
definição, fique esta Nossa Carta Apostólica, e ordenamos que às
suas transcrições ou cópias, mesmo impressas, contanto que
subscritas por mão de algum tabelião público e munidas do selo de
algum dignitário eclesiástico, se preste absolutamente a mesma fé
que prestaria à presente, se fosse exibida ou mostrada. Ninguém,
portanto, se permita infringir este texto da Nossa declaração,
proclamação e definição, nem contrariá-lo e contravir-lhe. E, se
alguém tivesse a ousadia de tentá-lo, saiba que incorre na
indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados Pedro e Paulo,
seus apóstolos.
Dado
em Roma, junto a S. Pedro, no ano mil e oitocentos e cinquenta e
quatro da Encarnação do Senhor, a 8 de dezembro de 1854, nono ano
do Nosso Pontificado.
Para
citar este texto:
Pio IX
- "Bula
"Ineffabilis Deus" - Dogma da Imaculada Conceição"
MONTFORT
Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=documentos&subsecao=decretos&artigo=20060220&lang=bra
Online,
07/12/2011 às 21:21h
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