«Quereis
viver mais intimamente unidos a Cristo e configurar-vos com Ele,
renunciando a vós mesmos e permanecendo fiéis aos compromissos que, por
amor de Cristo e da sua Igreja, aceitastes alegremente no dia da vossa
Ordenação Sacerdotal?» Tal é a pergunta que, depois desta homilia, será
dirigida singularmente a cada um de vós e a mim mesmo. Nela, são pedidas
sobretudo duas coisas: uma união íntima, mais ainda, uma configuração a
Cristo e, condição necessária para isso mesmo, uma superação de nós
mesmos,
uma renúncia àquilo que é exclusivamente nosso, à tão falada auto-realização.
É-nos pedido que não reivindique a minha vida para mim mesmo, mas a
coloque à disposição de outrem: de Cristo. Que não pergunte: Que ganho
eu com isso? Mas sim: Que posso eu doar a Ele e, por Ele, aos outros? Ou
mais concretamente ainda: Como se deve realizar esta configuração a
Cristo, que não domina mas serve, não toma mas dá.
Como se deve realizar na situação tantas vezes dramática da Igreja de hoje? Recentemente, num país europeu, um grupo de sacerdotes publicou um apelo à desobediência, referindo ao mesmo tempo também exemplos concretos de como exprimir esta desobediência,
que deveria ignorar até mesmo decisões definitivas do Magistério, como, por exemplo,
na questão relativa à Ordenação das mulheres, a propósito da qual o beato Papa João Paulo II declarou de maneira
irrevogável que a Igreja não recebeu, da parte do Senhor, qualquer autorização para o fazer.
Será
a desobediência um caminho para renovar a Igreja? Queremos dar crédito
aos autores deste apelo quando dizem que é a solicitude pela Igreja que
os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a
lentidão das Instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos, para colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje.
Mas será verdadeiramente um caminho a desobediência?
Nela pode-se intuir algo daquela configuração a Cristo que é o
pressuposto para toda a verdadeira renovação, ou, pelo contrário,
não
é apenas um impulso desesperado de fazer qualquer coisa, de transformar
a Igreja segundo os nossos desejos e as nossas ideias?
[...]
Deixemo-nos interpelar por mais uma
questão: Não será que, com tais considerações, o que na realidade se
defende é o imobilismo, a rigidez da tradição? Não! Quem observa a história do período pós-conciliar pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que tornam quase palpável a vivacidade inexaurível da santa Igreja, a presença e a acção eficaz do Espírito Santo.
E se olharmos para as pessoas de quem dimanaram, e dimanam, estes rios
pujantes de vida, vemos também que, para uma nova fecundidade, se requer
o transbordar da alegria da fé, a radicalidade da obediência, a
dinâmica da esperança e a força do amor.
[...]
A última palavra-chave, a que ainda queria aludir, designa-se zelo das almas (animarum zelus). É uma expressão fora de moda, que hoje já quase não se usa.
Nalguns ambientes, o termo «alma» é até considerado como palavra
proibida, porque – diz-se – exprimiria um dualismo entre corpo e alma,
cometendo o erro de dividir o homem. [...] As pessoas não devem
jamais ter a sensação de que o nosso horário de trabalho cumprimo-lo
conscienciosamente, mas antes e depois pertencemo-nos apenas a nós
mesmos. Um sacerdote nunca se pertence a si mesmo.
As pessoas devem notar o nosso zelo, através do qual testemunhamos de
modo credível o Evangelho de Jesus Cristo. Peçamos ao Senhor que nos
encha com a alegria da sua mensagem, a fim de podermos servir, com
jubiloso zelo, a sua verdade e o seu amor. Amen.
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