Tem havido ultimamente insultos à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que me atingem também, pois dela
faço parte por ser Bispo católico, pela graça de Deus, em plena comunhão com a
Santa Igreja. A CNBB é o conjunto dos Bispos do Brasil que, exercem
conjuntamente certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território
(CIC cân. 447). Conforme explicou São
João Paulo II na Carta Apostólica Apostolos suos, é “muito
conveniente que, em todo o mundo, os Bispos da mesma nação ou região se reúnam
periodicamente em assembleia, para que, da comunicação de pareceres e
experiências, e da troca de opiniões, resulte uma santa colaboração de esforços
para bem comum das Igrejas”. “O Espírito Santo vos constituiu Bispos para
pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,
28).
Quero deixar bem claro
que, por ser Bispo da Santa Igreja Católica, dou minha adesão a tudo o que
ensina o seu Magistério, nas suas diferentes formas e na proporção da exigência
de suas expressões doutrinárias, sem restrições mentais ou subterfúgios.
Em matéria de política ou questões sociais,
minha posição é a da Doutrina Social da Igreja. Por isso, defendo a
subordinação da ordem social à ordem moral estabelecida por Deus, a dignidade
da pessoa humana, a busca do bem comum, a atenção especial aos pobres, a
rejeição do socialismo e do marxismo, nas suas diferentes formas, o direito de
propriedade, o princípio da subsidiariedade e os legítimos direitos humanos,
principalmente a defesa da vida desde a concepção até o seu término natural.
Ademais, ainda na questão agrária, compartilho
com a posição de São João Paulo II quando ensinou: “É necessário
recordar a doutrina tradicional de que a posse da terra ‘é ilegítima quando não
é valorizada ou quando serve para impedir o trabalho dos outros, visando
somente obter um ganho que não provém da expansão global do trabalho humano e
da riqueza social, mas antes de sua repressão, da exploração ilícita, da
especulação e da ruptura da solidariedade no mundo do trabalho’ (Centesimus
Annus 43). Mas
recordo, igualmente, as palavras do meu predecessor Leão XIII quando ensina que
‘nem a justiça, nem o bem comum consentem danificar alguém ou invadir a sua propriedade
sob nenhum pretexto’ (Rerum Novarum, 30). A Igreja não pode
estimular, inspirar ou apoiar as iniciativas ou movimentos de ocupação de
terras, quer por invasões pelo uso da força, quer pela penetração sorrateira
das propriedades agrícolas” (Discurso aos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, na sua
visita ad limina, 21março de 1995).
Assim, quem quer que
defenda partidos ou grupos que pregam a revolução social, a luta de classes, o
igualitarismo total, a negação do direito de propriedade e a ideologia de
gênero, não me representa nem pode falar em meu nome nem em nome da Igreja.
Ademais, conforme ensina a Igreja, como
Bispo, quero ter sempre uma “prudente solicitude pelo bem comum” (Laborem exercens, 20), “não estou
ligado a qualquer sistema político determinado” (Gaudium et Spes, 76), não
me intrometo no trabalho político, “por este não ser competência imediata da
Igreja”, “nem me identifico com os interesses de partido algum”, ensinando,
porém, os
grandes critérios e os valores irrevogáveis, orientando as consciências e
oferecendo uma opção de vida que vai além do âmbito político” (Bento XVI,
Aparecida, 13-5-2007, Disc. Inaug. do CELAM).
Defendo a mesma
posição do Catecismo da Igreja Católica quando diz: “Não cabe aos pastores da
Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida
social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por própria
iniciativa com seus concidadãos” (n. 2442).
Compartilho
também com a posição do Papa Bento XVI, hoje emérito, quando ensinou que “a
Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não pretende de modo algum
imiscuir-se na política dos Estados, mas tem uma missão ao serviço da verdade
para cumprir, em todo o tempo...” (Caritas in Veritate, 9).
É claro que, na
crise atual, há quem não siga nessa matéria o critério do Magistério da Igreja.
Mas são vozes fora do caminho, mesmo que muitas. Não se pode apoiá-las.
Se há pessoas na
Igreja que não seguem seus ensinamentos, temos a obrigação de não segui-las e,
se tivermos ciência e competência para tal, de respeitosamente manifestar isso aos
Pastores da Igreja (CIC cânon 212, §3), ressalvando a reverência que lhes é
devida.
É nesse último ponto
que pecam gravemente alguns que se intitulam católicos. Na ânsia de defender coisas
corretas, perdem o respeito devido às autoridades da Igreja e as desprestigiam,
para alegria dos inimigos dela.
Junto com o combate ao erro, até querendo
fazer o bem, acabam destruindo a autoridade, com ofensas, exageros, meias
verdades e até mentiras, caindo assim em outro erro. A meia verdade pode ser
pior do que a mentira deslavada.
Não
quero dizer que não existam os erros que combatem. O que é preciso é evitar as
generalizações, ampliações e atribuições indevidas e injustas, onde acontecem
faltas ou excessos. A justiça e a caridade, mesmo no combate, são
imprescindíveis. Qualquer pessoa não católica que lesse certos sites e postagens de
alguns católicos críticos, injuriando os Bispos e autoridades da Igreja,
certamente iria raciocinar: “é impossível que tais pessoas sejam católicas,
pois não se fala assim da própria família!”.
Como diz o provérbio: “Não se pode jogar fora
o bebê, junto com a água suja do banho!”.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração
Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
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