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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O TRIUNFO DA CRUZ DE CRISTO SOBRE O MUNDO, O DEMÔNIO E A CARNE.



Cântico1

O Triunfo da Cruz2


E a vós, que estáveis mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão (ou desordem) da vossa carne, vos deu vida, juntamente, com Ele, perdoando-vos todos os pecados; cancelando o quirógrafo do decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente, encravando-o na Cruz; e, despojando os Principados e Potestades (infernais), levou-os (cativos) gloriosamente, triunfando em público deles em Si mesmo (pela Cruz)” (Col. 2, 13-15).

I

É a Cruz, sobre a terra, mistério profundíssimo, que não se conhece sem muitas luzes. Para compreendê-lo é necessário um espírito elevado. Entretanto, é preciso entendê-la para que nos possamos salvar.

II

A natureza a abomina, a razão a combate; o sábio a ignora e o Demônio a aniquila. Muitas vezes o próprio devoto não a tem no coração e, embora diga que a ama, no fundo é um mentiroso.

III

A cruz é necessária. É preciso sofrer sempre: ou subir o Calvário ou perecer eternamente. E Santo Agostinho exclama que somos réprobos se Deus não nos castiga e nos prova.

IV

Vai-se para a Pátria pelo caminho das cruzes, que é o caminho da vida e o caminho dos reis; toda pedra é talhada proporcionalmente, para ser colocada na Santa Sião.

V

De que servirá a vitória ao maior conquistador, se não tiver a glória de vencer-se sofrendo, se não tiver por modelo Jesus morto na Cruz, se, como um infiel, o lenho repelir?

VI

Jesus Cristo por ela acorrentou o Inferno, aniquilou o rebelde e conquistou o Universo; e Ele a dá como arma aos seus bons servidores; ela encanta ou desarma as mãos e os corações.

VII

Por este sinal vencerás, disse Ele a Constantino. Toda vitória insigne se encontra nela. Lede, na história, seus efeitos maravilhosos, suas vitórias estupendas na terra e nos Céus.

VIII

Embora contra os sentidos e a natureza, a política e a razão, a verdade nos assegura que a cruz é um grande dom. É nesta princesa que encontramos, em verdade, graça, sabedoria e divindade.

IX

Deus não pode defender-se contra sua rara beleza. A Cruz o fez baixar à nossa humanidade. Ao vir ao mundo Ele disse: “Sim, quero-a, Senhor. Boa Cruz, coloco-vos bem dentro do coração”.

X

Pareceu-lhe tão bela que nela pôs a sua honra, tornando-a a sua eterna companheira e a esposa de seu Coração. Desde a mais tenra infância Seu Coração suspirava unicamente pela presença da cruz que amava.

XI

Desde a juventude, ansioso a procurou. De ternura e de amor, em seus braços morreu. “Desejo um batismo”, exclamou Ele um dia: “a Cruz querida que amo, o objeto de meu amor!”

XII

Chamou a São Pedro Satanás escandaloso, quando ele tentou desviar Seus olhos da Cruz aqui na terra. Sua Cruz é adorável, Sua Mãe não o é. Ó grandeza inefável, que a terra desconhece!

XIII

Esta cruz, dispensa por tantos lugares da terra, será ressuscitada e transportada para os Céus. A cruz, sobre uma nuvem, cheia de brilho rutilante, julgará, por sua visão, os vivos e os mortos.

XIV

Clamará vingança contra seus inimigos, alegria e indulgência para todos os seus amigos. Dará glória a todos os Bem-aventurados e cantará vitória na terra e nos Céus.

XV

Durante sua vida os Santos só procuraram a cruz, seu grande desejo e sua escolha única. E, não contentes de ter as cruzes que lhes dava o Céu, a outras, inteiramente novas, cada um se condenava.

XVI

Para São Pedro, as cadeias constituíam honra maior do que ser o Vigário de Cristo na terra. “Ó boa Cruz”, exclamava, cheio de fé, Santo André: “Que eu morra em ti, para que me dês a vida!”

XVII

E vede, São Paulo esquecia seu grande êxtase para se glorificar tão somente na cruz. Sentia-se mais honrado em seus cárceres horrendos que no êxtase admirável que o arrebatou aos Céus.

XVIII

Sem a Cruz a alma se torna lenta, mole, covarde e sem coração. A cruz a torna fervorosa e cheia de vigor. Permanecemos na ignorância quando nada sofremos. Temos inteligência quando sofremos bem.

XIX

Uma alma sem provações não tem grande valor. É alma nova ainda, que nada aprendeu. Ah! Que doçura suprema goza o aflito que se rejubila com sua pena e dela não é aliviado!

XX

É pela Cruz que se dá a bênção, é por ela que Deus nos perdoa e concede remissão. Ele quer que todas as coisas tragam este selo, sem o qual nada lhe parece belo.

XXI

Colocada a cruz em algum lugar, torna-se sagrado o profano e desaparecem as manchas, porque Deus delas se apodera. Ele quer a Cruz em nossa fronte e em nosso coração, antes de todos os atos, para que sejamos vencedores.

XXII

Ela é nossa proteção, segurança, perfeição e única esperança. É tão preciosa que uma alma que já está no Céu voltaria alegremente à terra para sofrer.

XXIII

Tem este sinal tantos encantos, que no altar o Sacerdote não se vale de outras armas para atrair Deus lá do Céu. Faz sobre a hóstia vários sinais da Cruz e, por esses sinais de vida, dita-lhe suas leis.

XXIV

Por este sinal adorável prepara-lhe um perfume cujo odor agradável nada tem de comum; é o incenso que lhe dá uma vez consagrado, e é com esta coroa que desejaria ser ornado.

XXV

A Eterna Sabedoria procura, ainda hoje, um coração bem fiel, digno deste presente. Quer um verdadeiro sábio, que goste apenas de sofrer e com coragem, leve a sua cruz até morrer.

XXVI

Devo calar-me, ó Cruz, rebaixo-te ao falar. Sou um temerário e um insolente; já que te recebi de coração constrangido e não te conheci, perdoa meu pecado!

XXVII

Ó Cruz querida, já que nesta hora te conheço, faze de mim tua morada e dita-me tuas leis. Cumula-me, ó princesa minha, com teus castos amores, e faze que eu conheça os teus mais secretos encantos!

XXVIII

Ao ver-te tão bela, bem queria possuir-te, mas meu coração infiel me prende ao meu dever; se queres, Senhora minha, animar meu langor e sustentar minha fraqueza, dou-te o meu coração.

XXIX

Tomo-te para minha vida, meu prazer e minha honra, minha única amiga e única ventura. Imprime-te, eu te rogo, em meu coração e no meu braço, na minha fronte e na minha face. Não me envergonharei de ti!

XXX

Tomo, para minha riqueza, tua rica pobreza, e, por ternura, tuas doces austeridades. Que tua prudente loucura e tua santa desonra sejam toda a glória e grandeza de minha vida!

XXXI

Minha vitória estará em ser derrotado por tua virtude e para tua maior glória. Não sou, porém, digno de morrer sob teus golpes, nem de ser contrariado por todos.

 _________________

1.  Extraído das Obras do Bem-aventurado de Montfort, edição Fradet, 1932.

2.  A fim de conservar, o mais fielmente possível, a linguagem do Santo e o sentido teológico deste Cântico, tentamos tão somente uma tradução em prosa. (N.T.)

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