Dom
Fernando Arêas Rifan*
Hoje, quarta-feira de Cinzas, começa o tempo
litúrgico da Quaresma, como nos lembra o Papa Francisco em sua mensagem para
este ano, “para mais uma vez encontrar-nos com a Páscoa do Senhor! Todos os
anos, com a finalidade de nos preparar para ela, Deus na sua Providência
oferece-nos a Quaresma, sinal sacramental da nossa conversão, que anuncia e
torna possível voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida”.
“Desejo, este ano também, ajudar toda a
Igreja a viver, neste tempo de graça, com alegria e verdade; faço-o deixando-me
inspirar pela seguinte afirmação de Jesus, que aparece no evangelho de Mateus:
‘Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos’ (24, 12).
Esta frase situa-se no discurso que trata do fim dos tempos, quando Jesus
anuncia uma grande tribulação e descreve a situação em que poderia encontrar-se
a comunidade dos crentes: à vista de fenômenos espaventosos, alguns falsos
profetas enganarão a muitos, a ponto de ameaçar apagar-se, nos corações, o amor
que é o centro de todo o Evangelho”.
“Como agem esses falsos profetas? Uns
assemelham-se a ‘encantadores de serpentes’, ou seja, aproveitam-se das emoções
humanas para escravizar as pessoas e levá-las para onde eles querem. Quantos
filhos de Deus acabam encandeados pelas adulações dum prazer de poucos
instantes que se confunde com a felicidade! Quantos homens e mulheres vivem
fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna
escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Quantos vivem pensando que se
bastam a si mesmos e caem vítimas da solidão!”
“Outros falsos profetas são aqueles
‘charlatães’ que oferecem soluções simples e imediatas para todas as aflições,
mas são remédios que se mostram completamente ineficazes: a quantos jovens se
oferece o falso remédio da droga, de relações passageiras, de lucros fáceis,
mas desonestos! Quantos acabam enredados numa vida completamente virtual, onde
as relações parecem mais simples e ágeis, mas depois revelam-se dramaticamente
sem sentido! Estes impostores, ao mesmo tempo que oferecem coisas sem valor,
tiram aquilo que é mais precioso como a dignidade, a liberdade e a capacidade
de amar... Desde sempre o demônio, que é ‘mentiroso e pai da mentira’ (Jo 8,
44), apresenta o mal como bem e o falso como verdadeiro, para confundir o
coração do homem... É preciso aprender a não se deter no nível imediato,
superficial, mas reconhecer o que deixa dentro de nós um rasto bom e mais
duradouro, porque vem de Deus e visa verdadeiramente o nosso bem”.
“A par do remédio por vezes amargo da
verdade, a Igreja, nossa mãe e mestra, nos oferece, neste tempo de Quaresma, o
remédio doce da oração, da esmola e do jejum. Dedicando mais tempo à oração,
possibilitamos ao nosso coração descobrir as mentiras secretas, com que nos enganamos
a nós mesmos, para procurar finalmente a consolação em Deus. Ele é nosso Pai e
quer para nós a vida”.
*Bispo
da Administração Apostólica São João Maria Vianney
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