Ansiosos
Desejos de Padecer por Cristo
Ah
meu Deus! Exclama com voz ardente a minha alma. Oh boa Cruz! Oh doce
padecer! Quando serei eu digna de te conseguir, de te abraçar, de
estar em ti pendente? Oh doce amor! Eis aqui como nos olhos de tua
serva
já não é Cruz a mesma Cruz: porque a Cruz para o seu coração é
ramalhete de flores perfumadas. Ah coração meu! Que com abrasados
desejos a procura, a deseja, a suspira, e solicita, e não se vê
satisfeito das doçuras que derrama, por mais que entre seus braços
a aperta. A ti, dulcíssimo Esposo meu, voa a alma transportada nas
ânsias do padecer, e ser Contigo crucificada; porém, não acha o
padecer, porque a Tua seta, que está em meu coração atravessada,
tem privado o padecer do mesmo padecer, e me faz morrer enferma, e
desfalecida dos sobejos de penar; porque martirizando-me com doce e
fogosíssimo amor, me faz enfermar e desfalecer. Oh doce Cruz! A ti
me converto, contigo falo, a ti me queixo. Ai de mim! Dize-me, quando
me oferecerás sacrificada e morta ao Rei da Glória, a quem perdendo
em ti a vida, serviste de trono para entrar na possessão do seu
Reino? Ouvi-me, pois, ó Cruz doce e preciosa: se tão tarde te
conheci, se tão tarde te desejei, agora mais ansiosamente cobiço o
desfalecer em teus braços, ou enfermar abraçando-te nos meus. Só
tu podes confortar a minha vida; porque só tu podes vivificar-me
estando eu morta. Oh doce Cruz? Em meu coração te entranho e
aperto, contigo me regalo; porque enamorada de tua incrível
formosura, desejo permanecer em ti crucificada eternamente. Vês
aqui, como com os cravos de meu amor dulcíssimo, encravo em ti, não
só meus braços, mas o meu coração todo. Mas ai de mim! Que são
tão doces, tão amáveis e tão preciosos para mim os gozos, que em
ti sinto quando te acho; que me privam das doçuras dos teus
tormentos, que são as que ansiosamente solicito. Porque escondendo
meu Senhor tua dureza e aspereza em seu amor ardentíssimo, e havendo
apagado em ti o meu opróbrio, ao rasgar a escritura da escravidão,
a que me condenou meu pecado, não te encontro já, senão deliciosa
cama do meu Esposo, doce suavidade e preciosidade do meu coração,
coroa preciosa de minha cabeça. Com que, imaginando achar em ti um
puro padecer, que é o meu desejo; não te acho senão alimento do
meu amor tão saboroso, como estimável; porque em ti, ó doce Cruz,
o padecer se tem convertido em gozar.
Fonte:
Ven. Pe. Manuel Bernardes, Oratoriano, “Luz
e Calor” –
Obra Espiritual para os que Tratam do Exercício de Virtudes e
Caminho de Perfeição, 2ª Parte, Opúsculo IV, Solilóquio XVII, p.
442. Nova
Edição, Lisboa, 1871.
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