O Diabo, que já havia caído no pecado, vendo que o homem constituído naquele estado chegaria assim à felicidade perpétua, mas que, não obstante, poderia pecar, procurou tirá-lo daquela retidão de justiça. Com esse intento, aproximou-se do homem e o atacou pelo lado mais fraco, tentando a mulher, cujo dom ou luz de sabedoria era menor. Para mais facilmente levá-la à transgressão do Preceito, por meio de mentiras, tirou-lhe o medo da morte e prometeu-lhe, conforme se lê no Livro do Gênesis (3, 5), tudo aquilo que a criatura humana naturalmente deseja, isto é, que a ignorância seria afastada, dizendo-lhe: "Abrir-se-ão os vossos olhos", que a sua dignidade seria elevada, dizendo-lhe: "Sereis como deuses", que sua ciência seria aperfeiçoada, dizendo-lhe: "Conhecereis do bem e do mal". O homem, pela sua inteligência, naturalmente foge da ignorância e deseja a ciência. Pela sua vontade, que é livre por natureza, deseja a própria elevação e perfeição, de modo a ficar a nada submetido, ou, na medida do possível, só a um mínimo de coisas superiores a si.
A mulher desejou, então, a própria elevação e a perfeição da ciência, juntando-se a isso a beleza e a doçura do fruto que a tentava para ser comido; desprezando, além disso, o medo da morte, ela transgrediu o Preceito de Deus, o de não comer do fruto proibido, havendo, assim, no seu pecado, uma multiplicidade de pecados.
Primeiro, o da Soberba, pela qual ela desejou, de modo desordenado, a própria elevação.
Segundo, o da curiosidade, pela qual quis ter ciência, além dos limites prefixados.
Terceiro, o de gula, pela qual, tentada pela sua vaidade, foi levada a comer do fruto.
Quarto, o de infidelidade, pela falsa consideração de Deus, enquanto acreditou nas palavras do Diabo, contrárias às de Deus.
Quinto, o de desobediência, transgredindo o Preceito de Deus.
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Fonte: São Tomás de Aquino, "Compêndio de Teologia", 2° Tratado, Caps. 189-190, p. 184. Segunda Edição, EDIPUCRS, Porto Alegre/RS, 1996.
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