Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 6 de abril de 2021

A QUESTÃO É: SE OS PECADORES OBTÊM DE DEUS, O QUE LHE PEDEM NAS SUAS ORAÇÕES.

 


O décimo sexto artigo discute-se assim. – Parece que os pecadores nada obtêm do que pedem a Deus nas suas orações.


1. – Pois, diz a Escritura1: “Sabemos que Deus não ouve a pecadores”; o que concorda com outro lugar2: “Daquele que desvia os seus ouvidos para não ouvir a lei, a mesma oração será execrável”. Ora, a oração execrável nada alcança de Deus, logo, os pecadores nada obtêm de Deus.


Resposta à primeira objeção: – Como diz Agostinho3, as palavras referidas são de um cego ainda não ungido, isto é, ainda não perfeitamente iluminado. Por isso não foi ratificada. – Embora possa verificar-se, se a entendermos do pecador, como tal. Sendo desse modo que também a oração dele é chamada execrável.



2. Ademais. – Os justos obtêm de Deus o que merecem, como já se estabeleceu.4 Ora, os pecadores nada podem merecer, por carecerem, tanto da graça, como da caridade, que é a virtude da piedade, segundo a Glosa àquilo do Apóstolo5 Tendo por certo uma aparência de piedade, porém, negando a virtude dela. E portanto, não oram piamente, que é condição necessária para a oração ser eficaz,6 como se estabeleceu. Logo, os pecadores nada obtêm do que pedem nas suas orações.


Resposta à segunda objeção: – O pecador não pode orar piamente, no sentido em que sua oração seja informada pelo hábito da virtude. Mas, ela pode piamente por pedir o que pertence à piedade; como também quem não possui o hábito da justiça pode querer coisas justas, conforme do sobredito7 resulta. E embora a sua oração não seja meritória, pode contudo alcançar o que pede, por se fundar o mérito na justiça; ao passo que a obtenção do que pedimos se funda na graça.



3. Ademais. – Crisóstomo diz8: O Pai não ouve de boa vontade a oração que ao Filho não ensinou”. Ora, a Oração que Cristo ensinou diz: “Perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores” – o que os pecadores não fazem. Logo, ou mentem se o dizem, e não são nesse caso dignos de serem ouvidos; ou, se não o dizem, não são ouvidos, por não observarem a forma de orar que Deus instituiu.


Resposta à terceira objeção: – Como já dissemos9, a Oração Dominical é recitada em nome da Igreja universal. Por onde, quem a rezar, não querendo perdoar os pecados do próximo, não mente, embora não seja verdade o que diz, em seu próprio nome; porque o é, em nome da Igreja. Mas como se coloca assim, merecidamente, fora dela, fica também privado do fruto da oração. Mas, às vezes, certos pecadores estão dispostos a perdoar aos seus devedores; e por isso, são ouvidos nas suas orações, conforme ao dito da Escritura10: “Perdoai ao teu próximo o mal que te fez e então, deprecando tu, ser-te-ão perdoados os teus pecados”.



Mas, em contrário, Agostinho11: “Se Deus não ouvisse os pecadores, em vão teria orado o publicano – Senhor, sede propício a mim pecador”. E Crisóstomo12: “Todo aquele que pede recebe, isto é, quer seja justo, quer pecador”.


Solução: Duas coisas devemos considerar no pecador: a natureza, que Deus ama; e a culpa, que Ele odeia. Quando, portanto, o pecador pede alguma coisa, na sua oração, enquanto pecador, isto é, movido pelo desejo do pecado, Deus não o ouve com misericórdia. Mas, às vezes, ouve-o por vingança, deixando-o precipitar-se mais profundamente no seu pecado; pois, como ensina Agostinho13, “certas coisas Deus as nega, quando propício, que concede quando irado”. Mas, Deus ouve a oração do pecador, quando ela procede do bom desejo da natureza. Não na ouve, porém, por justiça, porque tal não merece o pecador; mas, por pura misericórdia, se contudo ele observar as quatro condições preestabelecidas, isto é, pedir por si, pedir o necessário à salvação, pia e perseverantemente.


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Fonte: São Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, 2ª Parte da 2ª Parte, Questão LXXXIII, Artigo XVI, Vol. VI, da 2ª Edição, pp. 2682-2683. EST SULINA UCS, tradução de Alexandre Corrêa, Porto Alegre/RS, 1980.


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1  Jo., IX, 31.

2  Prov., XXVIII, 9.

3  Super Ioan., (Tract., XLIV).

4  (a. 15, ad 2).

5  II ad Tim., III, 5.

6  (a. 15, ad 2).

7  (q. 59, a. 2).

8  Super Matth. (Hom. XIV Op. Imperf.).

9  ( a. 7, ad I).

10  Eccli., XXVIII, 2.

11  Super Ioannem (Tract. XLIV).

12  Super Matth. (Hom. XVIII Op. imperf.).

13  Serm. CCCLIV, cap. VII.


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