1º Ponto.
O Bom Pastor1
Dizei-me, amorosíssimo JESUS, que Vós sois o Bom Pastor. Dizei-me também: quais são as ovelhas, qual o aprisco delas; onde pastam e bebem; qual é o vosso cajado, e o som com que as chamais; e quais os lobos, de que as defendeis. O aprisco (diz o Senhor) é minha Igreja; as ovelhas sois vós outros os fiéis dela; o cajado com que Vos dirijo é a minha Cruz; o silvo, com que Vos chamo, minha inspiração; o pasto que Vos dou, meu Corpo sacramentado; as fontes onde bebeis, minhas Chagas preciosas; os lobos de que Vos guardo, são os Demônios; e Vos guardo com tanto amor e vigilância, que dei a vida para Vos tirar da boca deles. Ó meu dulcíssimo JESUS, quem, senão Vós, é Pastor bom? Graças vos sejam dadas, porque com tanto cuidado e trabalho, fazeis este ofício. Peço-Vos que, já que o Pastor é bom, eu a ovelha seja também boa; boa suportando o cajado da Cruz e obedecendo ao som da inspiração; boa, não me afastando do aprisco da Igreja e chegando-me ao pasto e bebida de vosso Corpo e Sangue; e boa fugindo de todas as obras más, que dão entrada aos lobos infernais.
2º Ponto.
Porta das Ovelhas2
Eu (disse o nosso JESUS amantíssimo) Sou a porta das ovelhas; se alguém entrar por mim, salvar-se-á; e entrando e saindo achará pastos.
Pondera o primeiro. Porque razão se chama o Senhor, Porta. É porque a Fé explícita (ou clara, e expressa) em Cristo, é necessária precisamente para o princípio e fim de nossa salvação, que é a Graça e Glória; e pelos merecimentos deste Senhor se salvam todos os que se salvam; e Ele é causa de nossas boas obras, pelas quais entramos no Reino dos Céus. Adverte aqui, quanto deves pôr em Cristo toda tua Fé, Esperança e Amor.
Pondera o segundo. Como este Senhor disse que era porta só para as ovelhas: Ego sum ostium ovium. Quais são as ovelhas, senão as almas que O seguem, as que Lhe obedecem, as que são mansas e humildes, e sofridas. Todas as demais ficam de fora; fechar-se-á a porta, e lhes dirão: Nescio vos. Não Vos conheço. Adverte aqui, quanto te importa ser ovelha na mansidão e humildade, e no seguimento e obediência de Cristo.
Pondera o terceiro. Quão venturosos são os que entram por esta porta! Que abundantes pastos acham à entrada e saída; à entrada, na vida contemplativa; à saída, na ativa; à entrada, na Divindade de Cristo; à saída, em sua Santíssima Humanidade! Ó Porta viva e racional! Porta mais que de ouro e margaridas! Porta que nos franqueias os Reinos da vista de Deus, de sua posse e amor eterno! Bendita seja a mão do Altíssimo, que nos abriu para entrarmos, os filhos de desterrado Adão. Admite, Senhor, a todos por esta porta, pois por ela cabem todos, e para todos a franqueou tua infinita misericórdia.
3º Ponto.
Caminho, Verdade e Vida.3
Como se entende, Senhor, o que dissestes por S. João, que Vós éreis o Caminho, a Verdade, e a Vida? Atende, Filho meu: sou caminho, na doutrina; sou verdade, na fidelidade do que te prometo; e sou vida, no prêmio com que te remunero. Com meus exemplos te mostro o caminho, com minhas palavras te descubro a verdade, e com minha graça te comunico a vida. Enquanto Caminho, me deves seguir; em quanto Verdade, me deves crer e esperar; e em quanto Vida, me deves amar mais que todas as coisas. Deixa por meu amor o mundo; que tudo nele são descaminhos; deixa as sugestões do Demônio, que tudo é falsidades; e deixa-te a ti mesmo, que de teu, não tens mais que a morte. Assim o proponho com vossa graça, ó suavíssimo JESU, caminho seguro, verdade infalível e vida eterna. Suscipe nos quasi via, confirma quasi veritas, et vivifica quasi vita.4
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Fonte: Ven. Pe. Manoel Bernardez, Oratoriano, “Luz e Calor”, 2ª Parte, Opúsculo III, Meditação XXII, Pontos I-II-III, n. 350, pp. 375-376. Nova Edição, Lisboa, 1871.
1 Joan., 10, 11.
2 Joan., 10, 7.
3 Joan., 14, 6.
4 D. Amb. de bono mottis c. 12.
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