“Como a vide, lancei flores dum agradável cheiro;
e as minhas flores dão frutos de honra e de honestidade.
EU SOU A MÃE DO AMOR FORMOSO,
E DO TEMOR, E DA CIÊNCIA E DA SANTA ESPERANÇA.
Em mim há toda a graça do caminho e da verdade,
em mim toda a esperança da vida e da virtude.
Vinde a mim todos os que me desejais,
e enchei-vos dos meus frutos;
porque o meu espírito é mais doce do que o mel,
e a minha herança mais suave que o favo de mel.
A minha memória durará por toda a série dos séculos.
Aqueles que me comem terão mais fome;
e os que me bebem terão mais sede.
Aquele que me ouve não será confundido;
e os que se guiam por mim não pecarão.
Aqueles que me tornam conhecida
terão a vida eterna”.1
São Bernardino de Sena, em um de seus deliciosos sermões marianos, dizia:
“Vem-me à memória um dito de Santo Agostinho. Dizia ele, que tinha três desejos: um, de ver a Jesus Cristo corporalmente; outro, de ouvir São Paulo pregar; o terceiro, de ver Roma triunfar. E eu acrescento um quarto: ver a Virgem Maria com seu doce Filho no colo, com toda inocência e pureza”.2
Ver Maria com seu doce Filho no colo!
O primeiro alicerce sobre que se levanta o edifício da grandeza mariana, é constituído pelo fato, ou melhor, pela missão da Maternidade Divina. Este é um fato que excede de tal modo a força cognoscitiva do homem, que deve ser enumerado entre os Mistérios maiores de nossa fé, Mistérios que, para serem conhecidos por nós, devem ser revelados por Deus. Que uma humilde mulher deste nosso pobre planeta, que uma de nossas irmãs, semelhante a nós, descendente de Adão como nós, se torne Mãe de Deus, é um Mistério tão sublime de elevação do homem e de condescendência divina, que deixa atônita qualquer inteligência, angélica ou humana, no século e na eternidade.
Da Boca de Santa Isabel,
sai a Condenação dos Negadores
da Maternidade Divina.
Respondendo à saudação que Maria lhe dirigira, Santa Isabel, inspirada pelo Espírito Santo, como acentua São Lucas, disse, cheia de admiração: “E como me é dado, que a Mãe de meu Senhor venha a mim?”.3
A expressão “meu Senhor” é, evidentemente, sinônimo de Deus, pois que, logo depois, Isabel acrescenta: “Cumprir-se-ão em ti todas as coisas que te foram ditas da parte do Senhor”, ou seja, da parte de “Deus”. Isabel, portanto, inspirada pelo Espírito Santo, proclamou explicitamente, que Maria é verdadeira Mãe de Deus. Era a condenação antecipada dos Eutiquianos e dos Nestorianos.4
Toda a Tradição,
Confirma este DOGMA.
Toda a Tradição cristã, a partir dos tempos apostólicos, é uma proclamação contínua desta verdade mariológica fundamental. Nos dois primeiros séculos, os Padres ensinaram que Maria concebeu e deu à luz a Deus. No terceiro século, começa o uso do termo que se tornou clássico: Theotokos, ou seja, Mãe de Deus. O primeiro a usar esse título parece ter sido Orígenes5, chefe da célebre escola de Alexandria. Também na célebre prece “Sub Tuum praesidium”, muito difundida entre os cristãos do século III, a Virgem Santíssima é invocada como Mãe de Deus6.
No século IV, mesmo antes do Concílio de Éfeso, a expressão “Mãe de Deus” se tornara tão comum entre os cristãos, que dava nos nervos do Imperador Juliano, o Apóstata, o qual se lamentava de os cristãos não se cansarem nunca de chamar a Maria de “Mãe de Deus”. João de Antioquia, aconselhava a seu amigo Nestório, para não insistir demasiado em negar este título, a fim de evitar tumulto do povo. O próprio Alexandre de Hierápolis, cognominado de “outro Nestório”, reconhecia que a expressão “Mãe de Deus” estava em uso entre os fiéis desde muito tempo. – A exultação mesma que os fiéis demonstraram, quando a Maternidade Divina foi definida solenemente como dogma de fé, comprova até à evidência quão profundamente estava radicada essa verdade fundamental na alma daqueles antigos cristãos. Com efeito, sabe-se que, logo que teve conhecimento da notícia, a população de Éfeso aclamou entusiasticamente os Padres do Concílio e os acompanhou as suas residências com archotes acesos.
Conclusão
A Virgem é, portanto, verdadeira e própria Mãe de Deus! Prostrados humildemente a seus pés, possamos nós saudá-La e repetir-lhe com a maior certeza: Ave, ó Mãe de Deus! Pode-se, porventura, imaginar uma saudação mais solene do que esta?
Mas, afastando um momento o olhar do fulgor de tanta grandeza e pousando-o por alguns instantes em nossa baixeza, unamos à saudação ainda a invocação de seu valioso patrocínio, dizendo-lhe: “Ó Mãe de Deus, tão grande e tão santa, recordai-vos de mim, tão pequeno e tão pecador!”
Oremos: Ó Deus, que pela Anunciação do Anjo quisestes que o Vosso Filho encarnasse no seio da Virgem Maria, fazei que, confessando-A verdadeiramente por Mãe de Deus, mereçamos junto de Vós o auxílio da sua intercessão. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.
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Fonte: Pe. Gabriel Roschini, O.S.M., “Instruções Marianas”, Instrução IV, Cap. III, Art. I, pp. 41-48. Edições Paulinas, São Paulo/SP, 1960.
1. Eclesiástico 24, 23-31.
2. Pred. Volgari, I, 21.
3. Luc. 1, 43.
4. N.C.: E dos Protestantes e seus similares.
5. Socrates, Hist. Ecle. VII, 32, PG. 68, 812.
6. Marianum, T. III (1941) 97-101.
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