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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 28 de junho de 2022

O CORAÇÃO DO PECADOR NÃO PODE PROVAR SENÃO, A AMARGURA DA INFELICIDADE.


1. Jesus. Caríssimo filho, se chegares ao ponto que teu coração nada mais tenha a repreender-te, alegra-te. Ainda mais alegra-te, porque a paz, qual rio de felicidade, te inundará. O bom coração torna a alma ditosa, alegra o Céu, atemoriza o Inferno. Porém, o mau coração enche de infortúnio o pecador, inspira compaixão aos habitantes do Céu, causa aos Demônios iníqua alegria e exultação.

Imagina todas as calamidades possíveis neste mundo, nunca igualarás o número das que os pecadores trazem no coração.

Quão pesada e abjeta é a escravidão do pecador! Quantos laços fortíssimos o prendem sob o poder de vilíssimos senhores: o Demônio e as paixões tirânicas.

Nele a inteligência está ligada por crassa ignorância, que não o deixa conhecer a verdade. Sua vontade acha-se cativa de abominável malícia, que a impede de amar a bondade.

Traz os sentidos presos pelos vínculos da concupiscência, de modo a não seguir a honestidade. Todo oprimido ao peso das cadeias dos maus desejos, não consegue alcançar a suave liberdade da graça.

2. Quem haverá mais insensato que o pecador, sendo ele mesmo a causa da sua extrema miséria?

Se há na terra um inferno antecipado, certamente se encontra no coração perverso que, inflamado no fogo das paixões, padece todos os tormentos da má consciência.

Como pode jamais alegrar-se aquele que sabe que, se o frágil fio da sua existência se quebrar, terá de precipitar-se nas profundezas do Inferno?

Não sei como ousa entregar-se ao repouso noturno o que ignora se não há de despertar como réprobo na eternidade!

3. É impossível ao coração humano não desejar a felicidade. Mas o pecador, arrastado cegamente por inclinações indômitas e desenfreadas, busca a felicidade onde só encontra maior infortúnio.

Alguns parecem julgar que, satisfazendo seus desejos e contemplando-os plenamente, terão a paz, quando os virem realizados. Que grande erro!

Quem apaga um incêndio, lançando novos combustíveis no fogo? Não seria aumentá-lo em vez de extingui-lo?

Embora alguém sacrificasse às suas paixões a salvação da alma e a saúde do corpo, nem por isso estariam estas satisfeitas e clamariam: “Somos tuas, alimenta-nos!”

Oh! Se a todo olhar se patenteasse o coração do pecador, quantas misérias e horrendos objetos aí se veriam! Entretanto, para Mim todas as coisas são abertas e manifestas, e ninguém é capaz de enganar-Me, ainda que possa iludir os homens.

4. A tal ponto chega o coração escravizado aos maus hábitos que nada pensa, nada ama, nada acha delicioso a não ser o que pode contentar-lhe a concupiscência: destarte, sabendo embora que caminha para o abismo da desgraça, pouco lhe importa, e, como estólido animal, corre após seus maus desejos, conculcando não só os bens eternos, mas até a honestidade, a honra e a própria vida. Não carece o pecador de inimigo que o ofenda e atormente, pois ele mesmo é o seu maior inimigo e mais cruel verdugo.

Dos objetos em que busca seus deleites e satisfações, recebe em geral múltiplos tormentos.

5. Como pode gozar de paz, quem fomenta no seu íntimo causa de perturbações? Como pode, uma vez sequer, respirar livremente quem é escravo do Demônio?

Quão infeliz deve ser aquele em cujo coração Satanás tem permissão de dominar e estabelecer o seu trono!

Bem-aventurado quem jamais experimentou a escravidão do Demônio e nunca gemeu sob os grilhões do pecado!

Filho, se ainda não sentiste o infortúnio do estado de pecado, alegra-te com todo o Céu e jamais queiras experimentar o serviço do Diabo.

Se, porém, miseravelmente lhe estás sujeito, compadece-te de tua alma. Com ardor rejeita o ugo do Inimigo, rompe teus laços para gozar a liberdade dos filhos de Deus.

6. Discípulo. Ó Senhor! Quão grande infelicidade é o estado do pecador! Como ele é infeliz neste miserável estado! Qual poderá ser sua paz ou alegria, tendo por inimigo a Vós, o Onipotente, conhecedor de todas as coisas! Não ignora estar banido do Vosso Coração, seu último refúgio, e tem consciência de que a cada momento pode ser lançado no fogo eterno!

Como é infeliz a alma que não pode contemplar o Céu sem lembrar-se de haver perdido o direito de nele entrar! Se lança o olhar em torno de si, parece-lhe ouvir exprobrações e todo acontecimento a enche de terror. Se abaixa os olhos, tacitamente não pode deixar de recordar-se que o Inferno é sua morada.

Como é infeliz, por não poder voltar ao próprio coração, sem aí encontrar Satanás e os tormentos de um inferno antecipado, onde não há algo de alegria ou consolação, porém, só horror e trevas, temores e angústias!

Ó pobre alma! Como estás mudada do estado em que te achavas, quando, adornada com a graça celestial, nobilitada pela adoção divina, eras tão bela, tão sublime que causavas admiração aos Santos e Anjos!

Como o pecado te deformou, tornando-te toda abjeta e vil!

7. Ó Jesus! Quem me dera, mesmo à custa da própria vida, fazer com que tão miserável estado jamais houvesse existido! Oxalá nunca tivesse caído em tal desgraça e antes houvesse perdido a vida do que a tua graça!

Bem-aventurados os que jamais perderam a inocência, nem experimentaram a infelicidade do estado de pecado!

Restituí-me, eu vo-lo rogo, a minha primeira veste. Restaurai-me a inocência, para que Vos sirva em nova vida e a conserve imaculada perante Vós até ao fim dos meus dias.


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Fonte: Rev. Pe. Pedro Arnoudt, S.J., “A Jesus os Corações ou Imitação do Sagrado Coração de Jesus”, 1ª Parte, Cap. IX, pp. 47-51; Editora Vozes Ltda, Petrópolis-RJ, 1941.


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