1. Jesus. Filho, o Meu Coração, sabendo ser tal a fragilidade dos homens, que não podem viver na terra sem pecar, descobriu um meio salutar, pelo qual alcançam, se dele faze bom uso, não só a remissão do pecado, mas ainda aumento de graça.
Deus, segundo sua palavra, é fiel em perdoar os pecados aos que se confessam, e concede a graça aos que a pedem e procuram viver melhor.1
Que seria da maior parte dos homens, se não houvesse a Confissão? Quão poucos se salvariam! Quantos dos que gozam no Céu ou um dia lá chegarão, estariam condenados!
2. Eis por que dei à Igreja tal poder que àqueles a quem Ela perdoar os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiver, ser-lhes-ão retidos.2
“Por conseguinte, se a inveja, a incredulidade ou qualquer outro pecado penetrarem no coração de alguém, não se envergonhe de confessá-los ao Sacerdote, a fim de ser por ele curado graças à palavra de Deus e ao conselho salutar”.3
“Se te afastaste da Confissão, considera em teu coração o Inferno, que em teu favor ela extinguirá. Ciente, portanto, que, após a primeira graça do Batismo, ainda há na Confissão segundo auxílio contra o Inferno, por que abandonas a tua salvação? Imagina antes a grandeza do castigo, para não hesitares em tomar o remédio”.4
“Há, pela Penitência, remissão dos pecados embora laboriosa, quando o pecador lava com lágrimas o seu leito e não se envergonha de buscar o remédio a seu pecado, confessando-o ao Sacerdote do Senhor”.5
“Para todos é desejável o remédio da Confissão, porque a alma é ameaçada por maior perigo do que o corpo, e aos males ocultos é necessário aplicar pronto medicamento”.6
“Confessa-te, expele na Confissão toda a peçonha, e, em seguida, a cura será fácil. Receias confessar-te, quando, mesmo sem fazê-lo, não podes permanecer oculto? Deus onisciente exige a Confissão para libertar o humilde; condena o que não se confessa, a fim de punir o orgulho”.7
“Confessa-te de modo que não voltes ao pecado. A Confissão é útil, quando o pecador, já confessado, cessa de praticar o mal que antes fizera”.8
“Feita a Confissão, abstenhamo-nos de pecar; porém, a Confissão precede a remissão”.9
“A Igreja, fundada por Cristo, d'Ele recebeu o poder de perdoar os pecados”.10
“Os que não querem confessar os pecados, terão como justiceiro o mesmo Deus, que agora lhes é testemunha”.11
“Não é necessário confessar publicamente os pecados. Basta declarar só ao Sacerdote em Confissão secreta, os delitos da consciência”.12
“Portanto, a razão move e Deus obriga o pecador a confessar-se”.13
“A Confissão é necessária ao pecador e, não obstante, convém ao justo”.14
“De três modos é necessário confessar-se: sem disfarce, sem desculpa, sem demora”.15
“O penitente deve acusar-se, perante o Sacerdote, com vivo sentimento de dor e firme propósito de emenda e cumprir as obras que lhe forem ordenadas”.16
“Existe o Sacramento da Penitência, cuja matéria são por assim dizer os atos do penitente, que se distinguem em três partes: a primeira e a dor do coração, a segunda, a Confissão oral, a terceira, a satisfação”.17
Eis, filho, como desde o princípio, os fiéis de todos os tempos e lugares do mundo, veneraram e praticaram este doce e salutar Sacramento.
3. Que há de melhor do que confessar-se devidamente? Pela Confissão o homem liberta-se das culpas, reconcilia-se Comigo, recebe a paz do coração. Antes sentia-se torturado pelas angústias, depois vê-se tranquilo e feliz.
O Sacramento da Penitência é o remédio da alma. Cura-lhe os vícios, afugenta as tentações, destrói as ciladas do Demônio, infundi nova graça, aumenta a piedade e consolida sempre mais a virtude.
Pela Confissão a alma readquire seus direitos perdidos pelo pecado, e recupera a beleza deformada pela iniquidade.
4. Acontece, porém, que o pecador, ao aproximar-se deste Sacramento da divina misericórdia, movido pela vergonha ou pelo temor, se precipita no abismo do sacrilégio, e agora não só é pecador, porém, um horrendo monstro de pecado.
Acaso poderás, homem execrando, esconder-te de Mim? Conseguirás impedir que Eu te lance no profundo abismo por ti mesmo cavado?
Tu sacrilegamente ocultas pecados ao Confessor, a quem as mais severas leis divinas e humanas obrigam a eterno e absoluto silêncio! Eu, porém, os manifestarei em tua presença, não a um só homem, nem a uma só nação, porém, ao Céu e à terra e a quantos seres existem. Então, no cúmulo da vergonha, chamarás os montes a cobrir-te e subtrair-te à confusão. Quiseras mesmo esconder-te no Inferno, mas não o poderás e terás de sofrer abertamente toda a merecida confusão e ignomínia.
Homem insensato! Não tiveste pejo de pecar para tua perdição e ignomínia, por que o terás de confessar-te para tua salvação e glória?
Ora, reflete: Por que hás de hesitar em manifestar tua consciência àquele que foi estabelecido por Mim como Meu representante junto de ti?
Quando te apresentas como penitente, deves considerar o Confessor como a Mim mesmo, porque então ele representa Minha Pessoa e possui o Meu poder.
Demais, ele é homem e tem suas misérias que deve igualmente confessar como tu, sendo-lhe esta acusação tanto mais difícil por estar obrigado a maior perfeição, em razão de seu sublime estado.
Por isso, Deus, em sua sabedoria e santidade, decretou que todos, tanto os Sacerdotes como os leigos, fossem obrigados à Confissão, se quisessem livrar-se de pecados graves. É mesmo conveniente que os Sacerdotes, cujas sagradas funções exigem absoluta santidade, se purifiquem das mais leves culpas pela Confissão frequente.
Por esse motivo, também os leigos se confessam com a maior liberdade e confiança aos Sacerdotes, e estes aprendem por experiência a compadecer-se das misérias alheias, a sentir a debilidade dos fracos e a chorar com os que choram.
5. Há pessoas que se confessam com simplicidade, porém, não se corrigem realmente, porque não se esforçam com sinceridade por emendar-se.
Uns aproximam-se do Sacramento da Penitência por necessidade, outros, levados por respeito humano ou por certo hábito. Não é, pois, de admirar que pouco ou nenhum fruto colham.
Tu, Meu filho, tendo em vista tua salvação e Meu beneplácito, faze cada Confissão como se fosse a última da tua vida, e hás de experimentar os seus maravilhosos e suaves efeitos.
6. Todavia, conhecendo-te a ti mesmo, é necessário saberes que muitas vezes serás impelido a cometer os pecados de que te arrependeste com o propósito de evitá-los.
Não desanimes, porém, filho, nem te entristeças em demasia. São efeitos, não da malícia, mas da fragilidade, e constituirão faltas antes indeliberadas do que voluntárias. Nisso, entretanto, aprende a conhecer a benignidade do Meu Coração, sempre pronto a perdoar, e a miséria do teu, sempre propenso a arrastar-te com frequência ao mal. Contudo, não descures a Confissão, por causa destas fraquezas. Quanto mais fraco te sentires, tanto mais a ela deves recorrer.
7. Alguns receiam a Confissão e dela trêmulos se aproximam.
Mas, se tanto os maiores pecadores coo os maiores Santos aí encontram consolação, por que te atormentas com ansiedade? Aí os mortos revivem, e os vivos recebem vida mais abundante. Tu, porém, por que tremes, como se caminhasses para a morte ou ao suplício?
Enganas-te, Meu filho, enganas-te. Não para tormento, mas para consolo, foi instituído este Sacramento salutar.
8. Deixa-te de agitação e ansiedade. Sou o Deus não da perturbação, mas da paz; deleito-Me com a boa vontade e não com a inquietação de espírito.
Faze o que de ti depende, e confessa-te, como podes, com sinceridade. Em seguida, permanece em paz, e não te perturbes com as sugestões do Inimigo ou da imaginação.
Meu Coração, filho, é o refúgio dos pecadores. Quantas vezes alguém recorrer a Ele com humildade e contrição, não o repelirei com desprezo.
Cheio de confiança, mergulha-te com frequência nesta divina fonte em que o Meu Coração lavará tua alma em seu Sangue, até torná-la inteiramente limpa e pura.
Seja-nos permitido citar como exemplo, o fato admirável e consolador, que se lê na vida de Santa Maria Madalena de Pazzi. Certo dia, esta Santa virgem achava-se na igreja do seu mosteiro, à hora das confissões, e expandia o coração perante Jesus presente no Tabernáculo, absorta nas divinas comunicações. Subitamente, notou que o mundo espiritual de algum modo se lhe patenteava. Via o estado de cada alma, ao confessar-se. No momento da absolvição sacramental, porém, contemplava o Sangue divino de Jesus correndo misticamente sobre a alma e lavando-a de tal modo que se tornava extraordinariamente pura e bela. Se tal é o efeito de uma só Confissão, qual não será o da Confissão frequente! Se a alma se torna tão pura e bela, lavando-se uma só vez no Sangue do Coração de Jesus, que lhe é aplicado no Sacramento da Penitência, quais não serão sua pureza e formosura, se com frequência se purificar. Se os tecidos de linho cru e ainda encardidos se tornam, com repetidas lavagens, não só limpos, mas até mesmo, alvos como a neve, acaso a alma purificada constantemente no Sangue divino de Jesus não ficará, por fim, toda pura e inefavelmente bela? Certamente este piedoso pensamento pode aumentar-te o amor pelo Sacramento da Penitência e, ocupando-te suavemente o espírito, consolar-te imensamente ao recebê-lo.
9. Discípulo. Ó Bom Jesus, que invenção salutar e consoladora de Vosso Coração! Que estupenda condescendência e admirável suavidade, fazerdes do Sangue emanante do Vosso Coração, o divino lavacro que nos purifica dos pecados!
Não houvesse Vosso Coração descoberto este segredo, repleto de toda consolação, quem jamais o teria imaginado? Que seria de nós, que seria de mim, se não o houvesses manifestado?
Graças Vos rendam comigo, ó dulcíssimo Jesus, todos os Anjos e Bem-aventurados, a universalidade dos povos e línguas, pela Instituição deste Sacramento de força vital e santificante, que salva os habitantes da terra e enche o Céu de numerosos Santos!
A fim de não abusar de tão grande benefício e dele colher todo fruto desejável, confessar-me-ei não só constantemente, mas com diligência. Como se me preparasse para a morte, farei sempre, antes da Confissão, atos de verdadeira dor e bom propósito, em paz, porém, e ao mesmo tempo com sinceridade. Falarei ao Confessor com a mesma candura com que Vos falaria, se estivésseis visível a meus olhos. Atenta e devotamente cumprirei quanto antes a penitência imposta. Finalmente, esforçar-me-ei por ser grato e viver para Vós com novo fervor e coração mais puro.
Ó Jesus! Quão grande é a consolação e a doçura que experimento quando, neste Sacramento da Vossa misericórdia, minha alma se lava e purifica no Santíssimo e ilibado Sangue do Vosso Coração! Lavai-Me muitas vezes, eu vo-lo rogo, e ficarei completamente limpo. Lavai-Me ainda mais e tornar-me-ei mais alvo que a neve. Assim seja.
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Fonte: Rev. Pe. Pedro Arnoudt, S.J., “A Jesus os Corações ou Imitação do Sagrado Coração de Jesus”, 1ª Parte, Cap. XII, pp. 59-67; Editora Vozes Ltda, Petrópolis-RJ, 1941.
1. I Jo. 1, 9; 5, 14.
2. Jo. 20, 23.
3. São Clemente, no I século.
4. Tertuliano, no II século.
5. Orígenes, no III século.
6. São Lactâncio, no IV século.
7. Santo Agostinho, no V século.
8. São Fulgêncio, no VI século.
9. Santo Isidoro, no VII século.
10. São Beda, o Venerãvel, no VIII século.
11. Halmo, no IX século.
12. Luitprando, no X século.
13. São Pedro Damião, no XI século.
14. São Bernardo, no XII século.
15. São Boaventura, no XIII século.
16. Tauler, no XIV século.
17. Concílio de Florença, no XV século.
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