MÃE DO BOM CONSELHO1
Oração para Antes da Meditação.2
Ó Maria Imaculada, Soberana Rainha das virgens, eis que me ponho sob a vossa maternal proteção e me consagro neste dia totalmente a Vós.
Consagro-Vos o meu corpo com todos os seus sentidos, o meu coração com todos os seus afetos, a minha alma com todas as suas potências, a minha vida inteira, para que todos os meus movimentos sejam um contínuo ato de amor.
Coloco também, ó minha Mãe, sob a vossa salvaguarda as minhas penas e consolações, as minhas misérias passadas, presentes e futuras, sobretudo, os meus últimos momentos, suplicando-Vos que, assim como entrastes no mundo isenta de pecado, me obtenhais de Jesus, vosso Divino Filho, a graça de sair deste exílio sem pecado.
Finalmente, Mãe Santíssima, ensinai-me a amar a Jesus, para que comece já aqui na terra a viver, a vida que viverei por toda a eternidade, entoando o cântico de amor na vossa companhia e na de todos os Anjos e Santos por todos os séculos dos séculos. Assim seja.
Meditando aos Pés de Maria
I – O Conselho, é um Dom do Espírito Santo, que em circunstâncias obscuras ou complicadas, nos ilumina e mostra como devemos agir, de que processos nos devemos valer, para não nos afastarmos da Vontade Divina.
Antes de executarmos, ensina-nos a refletir, a ponderar os prós e os contras, a consultar, a julgar e por fim, a decidir. Desse modo, o Dom do Conselho, é um auxiliar da virtude da Prudência e o seu complemento sobrenatural.
O Dom do Conselho não exclui o recurso a conselheiros humanos, que nos podem emprestar alguma coisa das suas luzes e experiências. Pelo contrário, a sábia economia da Providência Divina, ensina-nos a não recorrer a meios extraordinários quando temos à mão os ordinários.
Mas consultados os companheiros e as luzes alheias, o Dom do Conselho ensina-nos a ponderar, a tomar o peso aos conselhos recebidos, a avaliar sugestões adventícias, a fim de não darmos um passo em falso. Ensina-nos também, por uma sábia previdência a prevenir as faltas dos nossos subordinados, para não termos de as remediar por meios mais dolorosos. Ensina-nos, enfim, os caminhos da retidão de consciência; e, em circunstâncias excepcionalmente delicadas, ensina-nos a não confiarmos demasiado em nós mesmos, nas nossas luzes e perspicácia, numa palavra, a não nos julgarmos infalíveis.
Quem possui o Dom do Conselho, é oportuno nas medidas que toma, não é precipitado nas suas resoluções, não sacrifica o bom certo ao ótimo incerto, não joga levianamente com a sua autoridade, expondo-a a enxovalhos ou a descréditos, não se aventura a empreendimentos, de que depois haja de se arrepender.
II. Não há dúvida que os encômios tributados pela Sagrada Escritura à Sabedoria, visam diretamente o Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Augustíssima Trindade, que é a Sabedoria Eterna. Mas depois que essa Sabedoria encarnou, Maria ficou sendo o Seu Santuário Augusto, o Seu Templo vivo, e por conseguinte, o trono da Sabedoria Divina, Sedes Sapientiae, que é um dos títulos com que a Igreja desde séculos A invoca.
Ora, se a Sabedoria habita n’Ela como no Seu Santuário de predileção, não é estranho que Ela ficasse sendo guarda e depositária dos Seus tesouros, que deles seja feita participante na plena medida da Sua capacidade, e que, portanto, a Igreja Lhe aplique complacente os encomiásticos predicados que os Livros Santos tributam à Sabedoria Incriada, a começar pelo de Mãe do Bom Conselho, uma vez que ao Filho é dado o nome de Conselheiro, “Consiliarius”.
Efetivamente, qual a criatura humana que jamais recebeu tão rica efusão dessa ciência dos Santos, que ilumina o espírito e o habilita a iluminar os outros com o fulgor e prestígio do seu conselho esclarecido?
O recolhimento de Maria, menina ainda, no recinto do Templo, a Sua comunicação contínua com o Pai das Luzes, as Suas palavras ao Anjo no Mistério da Anunciação, a Sua vida em Nazaré escondida em Deus, revelam-nos bem eloquentemente, quanto a Sua Alma privilegiada se encontrava adornada desses dons preciosos que bastavam para fazer d’Ela a Mãe do Bom Conselho.
E em que outra criatura brilhou algum dia, como em Maria no Calvário, esse Dom da Fortaleza, que A fez triunfar das mais rudes provas? Onde se viu brilhar, como na Virgem prudentíssima, o Dom do Conselho, que nas circunstâncias mais delicadas nos encaminha e leva a decisões seguras, evitando escolhos traiçoeiros, o Dom da Inteligência que penetra nas regiões mais elevadas da graça? Quem como Ela possuiu em tão alto grau o Dom da Sabedoria, coroa de todos os outros, que consiste em bem conhecer o princípio e o fim de todas as coisas e os caminhos que a esse fim nos conduzem?
Ah, que Ela nos obtenha de Deus o espírito de docilidade filial, para sermos fiéis aos Seus conselhos maternais: “Filii, audite me: Beati qui custodiunt vias meas – Agora, pois, filhos, ouvi-me: Bem-aventurados os que guardam os meus caminhos”.3
III. Virgem prudentíssima, trono da Sabedoria, que mais Lhe falta para saudarmos n’Ela a Mãe do Bom Conselho? Porventura, segundo o princípio acima justificado, não se pode aplicar a Ela o que o Livro Sagrado faz dizer à Sabedoria Incriada: “Eu sou a Sabedoria, eu presido aos pensamentos dos sábios…, meu é o conselho, minha é a prudência?”4
E, se o conselho é atributo e apanágio Seu, Ela é a Mãe do Bom Conselho, e, como tal, Ela cumprirá fielmente as promessas que na Sagrada Escritura nos são formuladas pela própria Sabedoria. Quem madruga para me buscar, encontrar-me-á.5 E quem me encontrar, encontrará a vida e receberá do Senhor a salvação.6
Encontrar a vida, é realizar todas as nossas aspirações. O primeiro preceito da vida, é fugir do mal. Ora, quem encontra Maria, a prudência o guardará para o livrar de maus caminhos e de más companhias.7 Nas nossas dúvidas, hesitações e perplexidades Ela nos inspira as prudentes resoluções que devemos tomar, porque Ela dirige as sábias deliberações.8
Que ilimitada confiança não devemos então depositar na Mãe do Bom Conselho, tão rica em tesouros de prudência e de sabedoria!
“É insensatez, diz São João Clímaco, não tomar o homem conselho senão consigo mesmo, pois, constituir-se o homem mestre de si mesmo é fazer-se discípulo de um louco. Não devemos, pois, ser desses insensatos que cegamente confiam nas próprias luzes, quando o Espírito Santo nos manda em todas as nossas dúvidas tomar conselhos com um homem prudente.9 São Paulo, destinado a ser o grande luzeiro da Igreja, é mandado pelo Salvador aconselhar-se com Ananias, para saber o que devia fazer.10
Os Santos ensinam-nos como devemos implorar as luzes do Céu pela oração. Em suas dúvidas, perante gravíssimas resoluções que deviam tomar, quando as mais opostas sugestões solicitavam a sua adesão, era das próprias inclinações que primeiro se acautelavam, premunindo-se contra caprichos e preconceitos e deixando passar a hora das paixões e exaltações de espírito, para serenamente invocarem as luzes do Céu e deliberarem.
Santo Inácio de Loiola ensina que em hora de trevas e de agitações do espírito não se tome resolução alguma. E, diante de qualquer decisão grave que se haja de tomar, recomenda que se pergunte a si mesmo: “Que resolução tomaria eu se estivesse para morrer? E, na hora da morte, que desejarei eu ter feito nesta hora?”
Fiéis às solicitações maternais da Igreja, que invoca a Mãe da Sabedoria encarnada com o nome de Mãe do Bom Conselho, tomemo-La como nossa Conselheira. Já para os serventes do banquete de Caná, foi Ela a Mãe do Bom Conselho, exortando-os a fazerem tudo o que Seu Filho lhes mandasse. E bem conhecidos são os maravilhosos frutos desse conselho.
Mãe do Bom Conselho será também para nós, em momentos de dúvida e de desorientação, a Virgem de Fátima, e para aqueles, sobretudo, que desempenham cargos públicos de responsabilidade. Que bem aconselhadas se nos manifestam desde o princípio as almas que possuem o genuíno espírito de Fátima! Que acertadas e prudentes as respostas, as declarações, todas as atitudes, enfim, dos videntes de 1917! Que prudência bem superior à da sua idade!
E que senso de oportunidade não nos revela a autoridade eclesiástica diocesana, desde a primeira hora, sabendo esperar, consultar as luzes do alto, evitando precipitações e reações menos ponderadas, e só definindo na medida e na hora em que era necessário definir.
Bem se viu que tinham a Nossa Senhora como Conselheira. Não queiramos outra para nós. O seu conselho será o farol bendito que há de iluminar o nosso roteiro e guiar os nossos passos até aos umbrais da eternidade.
Exemplo
Aqui a trago e nunca mais a largarei.
Era em 1926. Em S. Gião, conselho de Oliveira do Hospital, os dois irmãos Agostinho e Alfredo Elvas Ferreira resolveram proceder à abertura de uma mina para exploração de águas na sua propriedade, contratando para essa empresa um minador experimentado.
Quando a mina ia já a certa altura, deu em rocha firme, tornando-se necessário rompê-la a fogo.
Tendo o minador carregado um tiro na rocha com dinamite, depois de pegar fogo ao rastilho, retirou-se imediatamente com o seu ajudante para fora da mina, até que se desse a explosão. Tardando, porém, a descarga mais que de costume, diz o ajudante para o minador: o rastilho com certeza apagou-se e o melhor será ir lá chegar-lhe novamente o fogo. Concordou o minador, persuadido também de que o rastilho se teria apagado. E confiadamente penetra dentro da mina, avança e, estando a um escasso meio metro do tiro, dá-se a tremenda explosão da dinamite.
Ao ouvi-la fora, o ajudante solta desvairado um grito de pavor, julgando o seu companheiro feito em pedaços. Entra imediatamente pela mina dentro, fantasiando já na imaginação o quadro horroroso com que iria topar.
A certa altura, porém, ouve a voz do companheiro a gritar-lhe: “sai lá para fora, que quero tomar. Não há nada!”
E de fato não houve nada, quando era para ficar feito em estilhaços dos pés até a cabeça. Nem sequer a lanterna de vidro que levava na mão sofrera a mais leve fratura. Parecia um sonho! O minador quase não acreditava na própria existência; como explicar tão inesperada preservação? Antes de o minador iniciar os trabalhos de escavação, uma piedosa senhora, irmã dos dois proprietários, colocara-lhe ao peito uma medalha de Nossa Senhora de Fátima, com esta textual recomendação: “Traga sempre esta medalhinha, para Nossa Senhora o livrar dos perigos”.
Era a Mãe do Bom Conselho que pelos lábios dessa piedosa senhora aconselhava o feliz minador, o qual não ocultou a sua satisfação e prometeu nunca esquecer a recomendação. Conhecedor desse interessante pormenor disse-lhe o Sr. Agostinho Elvas Ferreira: “Sabe a quem deve a sua vida? É a Nossa Senhora de Fátima”. Ao que responde o simpático minador, abrindo desembaraçadamente o peito: “Senhor, aqui a trago e nunca mais a largarei”
O bom conselho lhe salvara a vida.
São Luís Orione |
Oração pelos Sacerdotes
Jacinta, a angelical vidente de Fátima, chorou de pena ao saber um dia, que um Sacerdote fora proibido de celebrar. E no seu leito de morte recomendou insistentemente, que se rezasse pelos Sacerdotes.
Rezem pelos Sacerdotes, foi o testamento da inocente menina, ditado sem dúvida, pela Mãe de Deus, que tão bondosamente lhe aparecia durante a doença.
Este rasgo tão comovente da sua vida reparadora, levou-nos a acrescentar… esta curta oração pelos Sacerdotes:11
Ó Jesus, Verbo Eterno do Pai, Fogo abrasador, abrasai as almas dos vossos Sacerdotes no fogo do amor divino, que devora o vosso Coração, para que eles ardam no zelo das almas e as salvem, e, salvando-as, se salvem com elas. Amém.
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1. Rev. Pe. José de Oliveira Dias, S.J., “Florilégio Ilustrado da Fátima – Novo Mês de Maria”, Dia 8 de Maio, pp. 103-109. 3ª Edição, Edição da Sociedade Brasileira de Educação, Braga/Portugal, 1952.
2. Indulgenciada por Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa.
3. Prov. VIII, 32.
4. Prov. VIII, 12.14.
5. Prov. VIII, 17.
6. Prov. VIII, 35.
7. Prov. II, 11-13.
8. Prov. II, 12.
9. Tob. IV, 19.
10. At. IX, 6-7.
11. Indulgenciada pelo Eminentíssimo Cardeal Patriarca de Lisboa.
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