Por Andrea Bartelloni
“Em 1859, Darwin abriu as portas para um novo tipo de organização ideológica do pensamento e da fé: uma organização baseada na evolução (…)
No pensamento evolucionista, não há necessidade nem espaço para o
sobrenatural. A terra não foi criada, evoluiu. Assim também os animais,
as plantas e mesmo nós, os homens, mente e alma, cérebro e corpo. E
assim, a religião”. Com estas palavras, Julian Huxley descreveu com grande honestidade intelectual o trabalho do célebre cientista britânico.
Esta citação vem à mente quando se leem as histórias de Ray Bradbury em Crônicas Marcianas.
O autor norte-americano, recentemente falecido, coloca na boca de um
dos vários protagonistas uma frase que diz muito sobre o seu passado
cultural. É uma reflexão sobre a causa do declínio da raça humana: a
perda da fé.
Perda de fé ligada ao
aparecimento de Darwin e das suas teorias, juntamente com Huxley e
Sigmund Freud, o pai da psicanálise (nos anos em que Bradbury escreve, a
psicanálise freudiana causava furor nos EUA).
São teorias abraçadas com
alegria, mas que percebemos que elas entravam em confronto com a
religião. “Não querendo removê-las, removemos as religiões”, conclui o
protagonista da história.
A interessante reflexão de Bradbury, feita nos final dos anos 40 do século passado, continua: “E
fizemos um grande negócio: perdemos a fé e ficamos dando voltas, nos
perguntando qual é a finalidade, qual é o sentido da vida.
Se a arte não era nada além de um tremor de desejo frustrado, se a
religião não era mais do que uma auto-ilusão, o que é que havia de belo
na vida? A fé nos tinha sempre dado as respostas, mas, com Freud e com
Darwin, tudo foi parar no lixo. Fomos e somos uma raça perdida”, dizem as Crônicas Marcianas.
E a causa reside na perda das
relações entre a ciência e a religião, que, em vez de enriquecerem uma a
outra, entraram em conflito.
O cardeal Ratzinger, em seu famoso discurso na Sorbonne, em Paris, no dia 27 de novembro de 1999, enfatizou que “a
teoria da evolução veio se delineando cada vez mais como o caminho para
fazer sumir a metafísica e para fazer parecer supérflua a ‘hipótese de
Deus’ (Laplace), além de formular uma explicação estritamente
‘científica’ do mundo”.
É este, justamente, o problema:
ciência e fé, ciência e religião, parecem ser alternativas. O que está
em jogo é muito, e Bradbury percebeu os riscos, assim como os
pontificados recentes. Foi esquecido o que dizia Leo Moulin, em Tecnologia e Cristianismo: “O
cristianismo, ao apresentar ao homem uma imagem do mundo que não se
identifica com Deus, cujo mistério é a ele acessível, e ao dar ao homem,
feito à imagem e semelhança de Deus, o dever de dominar a terra (…),
abriu as estradas para o conhecimento científico do mundo e para as
aplicações da técnica”.
Não há contraposição. Na
verdade, foi o cristianismo que permitiu o nascimento e o
desenvolvimento da ciência como a conhecemos hoje.
2 comentários:
Bom dia+
Não achei email para contato então vou perguntar aqui.
Quem escreveu Reminiscêncas sobre a modéstia? Não consegui achar o nome do autor no pdf.
Obrigada
In JMJ,
Fernanda
O autor sou eu, Ir. Francisco Palau da Sagrada Família, O.T.C.
Email para contato: vieiradesouzaalexandre@hotmail.com
Facebook: Alexandre Vieira de Souza
Unamo-nos em oração.
Salve Maria!
Postar um comentário