O
Sagrado Coração de Jesus
nos
diz, que o Amor não é amado
A famosa imagem infame
de um grupo de comunistas espanhóis a fuzilar
| a imagem do Sagrado Coração de Jesus em agosto de 1936. |
Consolemos
ao Santíssimo Coração de Jesus:
Almas piedosas, sinceras amantes de Jesus, em união com a dileta
Vítima, entrai confiantes neste divino Santuário do Sagrado Coração
de
Jesus, para lhe ouvir os dolorosos queixumes, queixumes longos,
dilacerantes; Jesus se queixa porque depois de nos ter feito tantos
benefícios, seu amor não é correspondido. Jesus não é amado, e
não só não é amado, mas desprezado! E isto pelas almas mesmo a
Ele consagradas. Escutemos, ó almas amantes de Jesus, estas queixas
e depois de as termos bem meditado, tais quais nô-las apresenta, por
meio de uma sua vítima de expiação, nós seremos impulsionados a
reparar-lhe as feridas, dando-lhe amor por amor, sacrifício por
sacrifício.
Sim,
coragem e constância, ó almas piedosas; Jesus, Sumo Bem, ouve todos
os corações,
mas especialmente atende a vós, que lhe avaliais a bondade. E
enquanto fazemos uma resenha dos lamentos de Jesus pensemos que estes
gemidos são dirigidos não somente aos grandes pecadores, aos que
esqueceram e negam a existência de Deus, mas principalmente a nós,
que passamos por almas a Ele consagradas e que, contudo, O ofendemos
tão ingratamente. Sim, Jesus, como fruto desta obrinha, espera de
nós grande conforto, amor, reparação, expiação!...
Oh!
Quão felizes deverão se sentir aquelas almas que conseguirem
reparar e assim fazer com que cessem, de uma vez para sempre, as
queixas de nosso querido Jesus! Oh! Pudera seu Sacratíssimo Coração
voltar-se para nós e deixar brotar de sua caridade uma palavra de
louvor pelo grande amor que havemos de lhe demonstrar!
Sim,
sim, unânimes,
demos nosso amor reconhecido a Jesus. Tudo o que fizermos e
sofrermos, tudo seja por seu amor. Amemo-lO em união com sua eleita
Vítima, por aqueles também que O não amam e, ao menos em parte,
cessarão seus lamentos dolorosos.
As
muitas causas das queixas do Santíssimo Coração de Jesus:
Antes de anunciar as queixas do Ss. Coração de Jesus, como as
patenteou à querida Vítima, para que as tornasse conhecidas a todos
os fiéis, a
fim de
que Jesus tivesse conforto, reparação e mais amor, é bom formar
delas um tríplice quadro: o
primeiro é para os simples fiéis, o segundo toca às almas
religiosas, e aos Sacerdotes se refere o terceiro. De seu diário me
é lícito tirar só o quanto é necessário para secundar a divina
intenção de Jesus, prestando atenção especialmente às vezes em
que disse a sua vítima
de expiação: Escreve,
filha minha, porque gostaria que se tornasse útil também a tantas
almas sedentas das Minhas exortações, tudo o que Te ensino; teu
Padre espiritual propagará tudo pela imprensa... Dentre
os lamentos de
Jesus,
seja no tocante aos simples fiéis, às almas Religiosas ou aos
Sacerdotes, transcrevi as breves, mas, substanciosas instruções que
Ele deu até agora e que poderão ser de grande vantagem às almas de
boa vontade.
Noto
ainda que, dentre as queixas de Jesus, algumas há, principalmente
quando se mostra desgostoso por certas culpas, a que ajunta ameaças
de castigos terríveis se os homens não se repuserem no caminho do
bem... e alguma vez lhes une ainda a data... e
que, se
não se realizam, como já aconteceu mais vezes em outras aparições
e sinais milagrosos, é porque esparsas providencialmente pelo mundo
há dessas almas vítimas
expiatórias, que aplacam a cólera divina... Mas certamente, se o
homem não cair em si, Deus recorrerá à sua divina justiça para o
atingir e assim, se o Amor não consegue corrigi-lo, se converta pelo
medo de seus castigos.
É
verdade, contudo, que por causa dos maus sofrerão os bons, mas seu
padecer será uma preciosa e aceitável expiação a Deus, por Ele
piedosa e grandemente recompensada com uma glória muito grande no
Céu.
Causa
dos Lamentos de Jesus:
Voltando, portanto, o pensamento aos fiéis em geral, se compreende
que a causa primordial dos lamentos do Sagrado Coração de Jesus, é
a guerra sacrílega e infernal movida a Deus por diversas nações
alucinadas por vícios odiosos e por um orgulho diabólico. Derribam
igrejas, destroem santas imagens, profanam os sacrossantos
Tabernáculos, aprisionam Sacerdotes, Bispos e maltratam e expulsam
dos Institutos de Educação aos Religiosos e Religiosas, para
substituí-los por indivíduos ímpios, irreligiosos, imorais,
blasfemadores, e vendo que este amor pela religião e pela piedade
não se pode desarraigar dos povos cristãos, criaram uma Seita nova,
cujo Chefe não pode ser senão um demônio em carne humana, a Seita
dos “Sem Deus”; e assim, penetram nas famílias para despedaçar
os crucifixos, prender e torturar os fiéis que ocultamente procuram
honrar a Deus por ocasião das Solenidades religiosas, especialmente
da S. Páscoa e do S. Natal. Seita vergonhosa e perturbadora de toda
a paz, de todo o bem, e que já,
se ouve dizer, procura infiltrar-se ocultamente também em algumas
cidades da Itália, introduzindo, a despeito da grande vigilância
das autoridades civis e das graves penas infligidas pela lei, a
obstinação nas blasfêmias e desacreditando com falsas afirmações
a Religião e as autoridades da Pátria, infiltram a desconfiança na
gente simples e ignorante, para melhor abrir o caminho a seus
pérfidos intentos... Sequaz da Rússia, é o México, em que cada um
pode ver até que excesso chegaram as ímpias facções, ao martírio
de tantas pessoas pias e inocentes. E o mesmo se diga de alguma outra
nação... Que terrível luta é esta contra Deus!... A quão grande
nova Paixão é condenado o Sagrado Coração de Jesus!
Mas
não duvidem estes, que não se zomba de Deus, – a seu tempo, se
não se converterem, os fulminará o raio da cólera divina e
compreenderão o poder invencível contra o qual querem lutar.
Miseráveis
rastejantes vermes, contra o Onipotente!... E é por essas culpas
obstinadamente cometidas, que Jesus confia a sua Vítima querida, a
Sua queixa, o transbordar de Sua cólera, como veremos em lugar
oportuno.
E
aqui devemos acrescentar, que também nossas culpas, em que
obstinadamente caímos, impedem as graças divinas e sobre atraem as
vinganças do Céu... Jesus Sacramentado, por exemplo, quanto é
desconhecido, profanado! Tantos se aproximam da Santa Comunhão com
uma irreverência que penaliza... lábios sujos de um vermelho
pegajoso, cara luzente, besuntada como um selvagem... Vestes
decotadas, pernas e braços nus... Outros se lhe aproximam como a uma
coisa qualquer e, muitas vezes, recebida apenas a Santa Hóstia, saem
da igreja sem uma prece ao menos e levam Jesus às praças de suas
distrações, de seus pecados. Outras almas, em vez de se aproximarem
da Mesa Sagrada com fé viva, amor ardente e esperança de alcançar
as graças necessárias, o fazem com fins profanos, para se darem
ares de pessoas devotas, ao mesmo tempo que durante o dia,
transgridem qualquer um dos Preceitos de Deus e da Igreja: comparecem
a visitas e convites com maneiras e vestidos imodestos, organizam
recepções e banquetes com iguarias proibidas em dias de
abstinência, e não querem ouvir sermões, porque receiam ouvir
alguma sentença divina que perturbe e entristeça com remorsos o seu
coração. Mais: quando estas pessoas estão em veraneio, nas praias,
nos banhos, porque a moda quer assim, (como se a moda fosse um
preceito de maior autoridade que os Mandamentos divinos) seguem
costumes indecentes, tomam parte nas conversas indecorosas e depois,
de manhã, ei-las ajoelhadas à Mesa Eucarística, escandalizando
deste modo aos bons fiéis!... Oh, quão grande erro nessa conduta,
querendo agradar a Deus e seguir as máximas do mundo!... A estas
profanações devemos acrescentar o grande número de sacrilégios
que se cometem, secretamente embora, nas mesmas Comunidades
Religiosas, por tantas comunhões feitas com Pecado Mortal na
consciência, por causa, somente, do terror e pânico de serem
observadas, notadas e mal julgadas!... (Não duvidando, em tal
suposição, faltar à caridade com o pensar tão mal do próximo; o
qual conscientemente não poderia fazer tal juízo temerário e
culpável!...)...
Jesus,
portanto, se queixa ainda porque os seus Sacramentos são
profanados!... Que diremos do Santo Sacramento do Matrimônio? Em
nossos dias principalmente se diria que é recebido, não já com o
fim sublime para o qual foi instituído, isto é, para dar ao Céu
muitos eleitos e para gozar da doce companhia duma criatura dócil,
modesta, prudente; mas antes, para satisfazer paixões brutais, que
acabam por ser uma profanação do Sacramento e causa de males
gravíssimos no corpo e na alma... Escreveu bem o sábio e religioso
médico Dr. Descureth, quando disse que se tantos, que morreram
prematuramente ou repentinamente, ressuscitassem por um instante e
declarassem a causa de sua morte diriam, na maior parte, ter sido o
abuso do sensualismo...
Ah,
quão grande aviltamento chegou o Gênero Humano! Quão
sacrilegamente se profana este santo Sacramento do Matrimônio, cujo
fim é dar santos ao Céu! Que desprezo das graças divinas! E que
dolorosas, que terríveis contas deverão prestar a Deus na hora de
sua morte aqueles cônjuges que não se corrigiram, respeitando o
justo fim deste santo Sacramento! E daqui aprendam os jovens noivos a
se preparar para tão escabroso passo, instruindo-se convenientemente
e adequadamente comportando-se para não se enlamearem no pecado...
E
se nos voltarmos às Mães Cristãs, delas há, sem dúvida, um bom
número que zelam pela educação religiosa de sua família; estas
mães piedosas, venerandas matronas, tem um santo zelo por este fim
delicado, e rezam e choram, se dentre seus filhos descobrem falta de
prática da religião ou qualquer outro abuso; Deus as abençoa
generosamente, a estas almas tão preocupadas com a salvação de sua
família e com a maior glória de Deus... Mas, há um número muito
maior de mães, que em nada praticam a religião; e de cristãs só o
nome conservam e a este o desonram com o descuido da prática dos
deveres religiosos, dos santos Preceitos, e com educar tão mal sua
prole, pessimamente influenciada por seus maus exemplos. Ah! Quantas
culpas cometem essas, culpas que transpassam o Sagrado Coração de
Jesus e o constrangem a queixas amargurosíssimas! Ah! Causa
repugnância ver estas mães, estes pais, favorecer a imodéstia da
juventude, desde a infância!
De
fato, se observe em que revoltante nudismo estes progenitores
desgraçados criam seus filhos! É uma coisa que repugna, a
indecência com que andam vestidos!... Então, as belas palavras
pureza, modéstia, pudor, verecúndia serão condenadas ao arcaísmo,
proscritas do vocabulário?... Seria este um doloroso, pérfido
indício de total corrupção, que acabará provocando os castigos
divinos.
Reflitam
bem sobre isto aqueles cuja consciência lhes incrimina uma tal
desordem uma tal profanação do Sacramento. O mesmo afirmou em sua
célebre Encíclica o Sumo Pontífice Pio XI, de santa memória.
Jesus está dolorosamente sentido também porque os progenitores,
ligados por este Sacramento, não correspondem a seu fim, educando
seus filhos cristãmente, dando-lhes bom exemplo. Quantos pais de
família não mostram costumes tão degradados que deixam a oração,
esquecem a Santa Missa dominical, não ouvem a Palavra de Deus, de
que tanta necessidade teriam; são intemperados no beber, maltratam a
mulher, batem desumanamente nos filhos, blasfemam impiamente, zombam
da religião e dos que a praticam! Que horror!
Ainda
não é tudo; quantas mães, por seu mau exemplo, não são causa de
escândalo para a família? Estas mulheres desgraçadas, em vez de
acostumar os filhos à prática da religião, à frequência dos
Sacramentos, à fidelidade em ouvir a Palavra divina que consola e
ilumina, ao invés de os levar consigo às funções religiosas, para
habituá-los à observância dos deveres cristãos, os conduzem aos
cinemas, aos teatros, aos bailes; em vez de cuidar da boa ordem da
casa e fazer dela um ninho de agradável descanso e paz, cuidam
unicamente em se enfeitar com ambição, em se arrebicar, em se
perfumar, em se espelhar e tornar a espelhar; e quando o marido
chega, é obrigado a praguejar, porque não há nada de pronto, falta
até o mais necessário!!... Daí discórdias, trocas de palavras
contínuas, com que ficam os filhos escandalizados. Que
responsabilidade diante de Deus!
Mas,
então, que dolorosa degradação é esta do Sacramento do
Matrimônio! Quão justamente o bom Deus deverá se sentir
indignado!... E não se deixem depois estes pais infelizes, se
tiverem algum dia que se sujeitar a dolorosos e humilhantes
sofrimentos.
E,
agora, falemos daquelas senhoras que se prezam do honroso nome de
católicas. Um bom número destas, é verdade, se mostram
verdadeiramente dignas de tal nome e das bênçãos que o bom Deus
prodigaliza àquelas que tão bem trabalham para a glória do Senhor
e salvação das almas. Mas, dentre elas, quantas não há, que em
suas reuniões não sabem apresentar senão nobres propostas e
depois, na prática, não são capazes de as fazer executar nem mesmo
em sua família; e não se esforçam, na medida do possível, para
impedir certos escândalos, o imodesto nudismo, avisando
caridosamente às pessoas que não tem bastante discernimento moral,
religioso, sacrificando o respeito humano, inimigo acérrimo de todo
o bem. O mesmo se poderia dizer também de tantas almas agregadas a
Pias Associações, Ordens Terceiras, Filhas de Maria, etc., pois
muitas nem sempre edificam, com seu porte, suas palavras, e acabam
por cair no vício abominável da hipocrisia. Oh! Que sobejos motivos
de queixa dão essas almas ao Sagrado Coração de Jesus, que é
honrado somente à flor dos lábios, mas seus corações bem longe
estão dEle, como o testemunha seu comportamento repreensível.
Os
Últimos Papas e o Coração de Jesus
Depois
das revelações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, o
primeiro Papa a pronunciar-se sobre esta devoção foi Clemente
XIII, que declara que ao Coração de Jesus trespassado pela
lança do soldado, é tributada adoração, aprovando assim o
respectivo culto.
O
Papa Pio VI na sua Constituição Apostólica “Auctorem
fidei”, de 28 de Agosto de 1794, dá um novo contributo, voltando a
declarar que a esta devoção é algo de essencial e que “ a
doutrina que rejeita o Sacratíssimo Coração de Jesus, é falsa,
temerária, nociva, ofensiva para os ouvidos piedosos e ofensiva para
a Sé Apostólica.
O
Papa Pio IX, grande devoto do Sagrado Coração de Jesus,
estendeu a Festa a toda a Igreja Universal. A este Papa deve-se a
aprovação da prática do mês de Junho em honra do Coração de
Jesus, bem como a divulgação do uso da imagem segundo as revelações
de Santa Margarida Maria.
Leão
XIII, em 11 de Junho de 1899 consagra todo o gênero humano ao
Coração de Jesus, anunciada na Carta Encíclica Annum Sacrum, de 25
de Maio de 1899. A 21 de Junho, o mesmo Papa aprova as ladainhas do
Coração de Jesus, e no mesmo texto da Congregação dos Ritos, com
essa data, aparece a exortação para os fiéis viverem as Primeiras
Sextas-Feiras, prática que Jesus tinha pedido a Santa Margarida
Maria Alacoque.
Mais
tarde, S. Pio X dispôs que a consagração ao Coração de
Jesus se renovasse todos os anos, e Bento XV aprovou o culto
ao Coração de Jesus, com Missa e Ofício próprio, num decreto
datado de 1921. Foi também célebre a Encíclica de Pio XI,
Miserentissimus Redemptor, datada de 8 de Maio de 1928.
Por
sua vez, Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas de 15 de Maio
de 1956, toda dedicada ao Coração de Jesus, afirmou o seguinte:
-
“O Coração de Cristo é o Coração da Pessoa divina, isto é, do
Verbo incarnado, e portanto representa e quase põe diante dos nossos
olhos todo o amor que Ele teve e tem ainda por nós. Precisamente por
esta razão, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus deve merecer
tanto a nossa estima, que o consideremos a profissão mais completa
de toda a religião cristã… Por conseguinte, é fácil concluir
que, afinal, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus é o culto
do amor com o qual Deus nos amou, por meio de cristo, e é também a
prática do nosso amor a Deus e aos outros”.
O
Papa Paulo VI, na carta apostólica, Investigabiles Divitias
Christi, de 6 de Fevereiro de 1965, escreveu:
-
“É absolutamente necessário que os fiéis prestem homenagem do
culto, com práticas de piedade privadas e manifestações públicas,
ao Coração de cuja plenitude todos nós recebemos, e d’Ele
aprendam a maneira perfeita de ordenar a sua vida, para que esta
corresponda plenamente às exigências dos nossos tempos…”.
Estes
e muitos outros textos colocam diante de nós o pensamento da Igreja.
É urgente intensificar e renovar a devoção ao Coração de Jesus.
Precisamos de falar dela, de exortar a vivê-la, de a dar a conhecer.
É esta uma das grandes missões do Apostolado da Oração, e também
de todos os pastores e de todos os fiéis. Urge cumpri-la. Daqui virá
a “civilização do amor”.
O
Papa João Paulo II ao longo do seu pontificado falou e
escreveu muito sobre o Coração de Jesus. Parecia ser uma das suas
devoções, uma das suas “paixões”. Na grande encíclica “Dives
in misericórdia”, (Deus rico em misericórdia) escreveu que “a
Igreja parece professar de modo particular a misericórdia de Deus e
venerá-la, voltando-se para o Coração de Cristo. De fato, a
aproximação de Cristo, no mistério do seu Coração, permite-nos
deter-nos neste ponto da revelação do amor misericordioso do Pai,
que constitui, em certo sentido, o núcleo central – e, ao mesmo
tempo, o mais acessível no plano humano – da missão messiânica
do Filho do Homem”.
Mais
tarde, a 19 de Outubro de 1985, o Papa afirmou que “do Coração
trespassado de Cristo crucificado, brota a civilização do amor: No
santuário daquele Coração, Deus inclinou-Se sobre o homem e
fez-lhe o dom da sua misericórdia, capacitando-o a abrir-se, por sua
vez, em misericórdia e em perdão para com os outros”.
Posteriormente,
em 11 de Junho de 1999, no centenário da Consagração do gênero
humano ao Coração de Jesus, João Paulo II, voltou a
manifestar-se a propósito deste tema: “Por ocasião da solenidade
do Sagrado Coração e do mês de Junho, exortei muitas vezes os
fiéis a perseverarem na prática deste culto, que contem uma
mensagem especial que é, no nossos dias, de extraordinária
atualidade”, porque do Coração do Filho de Deus morto na cruz
surgiu a fonte perene de vida que dá esperança a cada homem. Do
Coração de Cristo crucificado nasce a humanidade, redimida do
pecado. Diante da tarefa da nova evangelização, o cristão olhando
para o Coração de Cristo, Senhor do tempo e da história, a Ele se
consagra e, ao mesmo tempo, consagra os próprios irmãos,
redescobre-se portador da sua luz”. Como afirmou João Paulo II,
a nova civilização e a nova evangelização nascem do Coração de
Cristo trespassado.
O
Papa Bento XVI, que no cinquentenário da encíclica de Pio
XII, “Haurietis Aquas”, escreveu ao P. Geral da Companhia de
Jesus, responsável pela devoção ao Coração de Jesus, retoma o
tema desta devoção e impulsiona a que não se afrouxe no desejo de
dar a conhecer o Coração de Cristo. Apóstolos destemidos deste
Divino Coração pois n’Ele estão todos os tesouros da sabedoria e
da ciência. E na sua primeira encíclica afirma:
-
“O olhar fixo no lado trespassado de Cristo”, de que fala S. João
(cf. 19,17), compreende o que serviu de ponto de partida a esta carta
Encíclica: “Deus é Amor. É lá que esta verdade pode ser
contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que
consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o
caminho do seu viver e amar (nº 12)”.
Para
Bento XVI, até o núcleo central da encíclica nasce do
Coração trespassado. E mais adiante volta ao tema ao afirmar: “Ao
longo das reflexões anteriores, pudemos fixar o nosso olhar no
Trespassado, reconhecendo o desígnio do Pai que, movido pelo amor,
enviou o Filho ao mundo para redimir o mundo” (nº19). Com estas
palavras somos novamente convidados a olhar Aquele que trespassaram.
Aliás, Bento XVI, convidou-nos a passar toda a Quaresma de
2007 a contemplar Aquele que trespassaram, pois só assim nos podemos
converter ao amor, só assim amar o amor de Deus, só assim ter um
coração que vai amando ao jeito de Jesus.
Cinquenta
anos da Encíclica Haurietis aquas, do papa Pio XII. Uma meditação
do cardeal Carlo Maria Martini.
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Em
15 de maio o papa Bento XVI enviou ao superior-geral da Companhia de
Jesus uma carta por ocasião dos cinquenta anos da encíclica
Haurietis aquas. Pio XII, por sua vez, havia escrito essa encíclica
para celebrar e recordar a todos o primeiro centenário da extensão
a toda a Igreja da festa do Sagrado Coração de Jesus. Dessa forma,
aproveitando a concatenação dos aniversários, o Papa quis
religar-se ao fio ininterrupto dessa devoção que há séculos
acompanha e conforta tantos cristãos em seu caminho. Nesta ocasião,
pedimos algumas reflexões ao cardeal Martini, e ele nos enviou o
texto que segue do cardeal Carlo Maria Martini, S.J.
Lembro-me
muito bem do tempo em que saiu a encíclica Haurietis aquas in
gaudio. Eu era então estudante de Sagrada Escritura e membro da
comunidade do Pontifício Instituto Bíblico, onde era professor o
ilustre biblista padre Agostino Bea, depois criado cardeal pelo papa
João XXIII. Padre Bea era um estreito colaborador do papa Pio XII, e
na comunidade se dizia, penso que com boas razões, que ele havia
contribuído para preparar esse documento. Certamente impressionava a
orientação bíblica de todo o texto, a partir do título, que é
uma citação do livro de Isaías (12,3). Por isso, a encíclica (que
trazia a data de 15 de maio de 1956) foi lida com muita atenção
pela comunidade do Instituto Bíblico, que apreciava em particular o
seu embasamento nos textos da Escritura. No passado, essa devoção,
que de per si tem uma longa história na Igreja, se desenvolveu entre
o povo a partir sobretudo das chamadas “revelações” de tipo
particular, como a revelação a Santa Margarida Maria, no século
XVII. A percepção de como nessa devoção tradicional estava
sintetizada concretamente a mensagem bíblica do amor de Deus era
algo que nos reaproximava dela, uma devoção que no passado recente
havia sido muito cara sobretudo à Companhia de Jesus, em particular
em sua luta contra o rigorismo jansenista.
O
fato de o papa Bento ter desejado escrever uma carta para lembrar
justamente essa encíclica ao superior-geral da Companhia de Jesus se
deve certamente também a que os jesuítas se consideravam
particularmente responsáveis pela difusão dessa devoção na
Igreja. Isso também era afirmado por Santa Margarida Maria, segundo
a qual esse encargo fora desejado pelo próprio Senhor, que se
manifestava a ela.
Foi
assim que a devoção ao Sagrado Coração me foi apresentada no
noviciado dos jesuítas, na década de 1940. Isto me levava a
refletir sobre a maneira como era possível viver uma devoção como
essa e, ao mesmo tempo, deixar-se inspirar na vida espiritual pela
riqueza e pela maravilhosa variedade da palavra de Deus contida nas
Escrituras.
E
essa pergunta se impunha com ainda maior insistência, na medida em
que o meu caminho cristão pessoal também se deparou de certa forma
desde a infância com essa devoção. Ela me havia sido infundida por
minha mãe, com a prática das primeiras sextas-feiras do mês. Nesse
dia, minha mãe nos fazia levantar cedo para ir à missa na igreja
paroquial e tomar a comunhão. A promessa era que quem se confessasse
e tomasse a comunhão seguidamente nas nove primeiras sextas-feiras
do mês (não era permitido pular nenhuma!) podia estar certo de
obter a graça da perseverança final. Essa promessa era muito
importante para minha mãe. Lembro-me de que, para nós, jovens,
havia também um outro motivo para ir tão cedo à missa. De fato, na
época tomávamos o café da manhã num bar com um bom brioche.
Depois
de tomar a comunhão em nove primeiras sextas-feiras seguidas, era
oportuno repetir a série, para ter a certeza de obter a graça
desejada. Disso veio depois também o hábito de dedicar esse dia ao
Sagrado Coração de Jesus, hábito que depois, de mensal, se tornou
semanal: toda sexta-feira do ano era dedicada de certa forma ao
Coração de Cristo.
Assim
era na minha lembrança a devoção daquela época. Ela estava
concentrada sobretudo no louvor e na entrega ao Coração de Jesus,
visto um pouco em si mesmo, quase separado do resto do corpo do
Senhor. Algumas imagens reproduziam de fato apenas o Coração do
Senhor, coroado de espinhos e atravessado pela lança.
Um
dos méritos da encíclica Haurietis aquas era justamente ajudar a
pôr todos esses elementos em seu contexto bíblico e sobretudo pôr
em relevo o significado profundo dessa devoção, ou seja, o amor de
Deus, que desde a eternidade ama o mundo e deu por ele o seu Filho
(Jo 3, 16; cf. Rm 8,32, etc.).
Assim,
o culto do Coração de Jesus cresceu em mim com o passar do tempo.
Talvez se tenha atenuado um pouco, no que diz respeito a seu símbolo
específico, ou seja, o coração de Jesus. E se tornou, para mim e
para muitos outros na Igreja, uma devoção pelo íntimo da pessoa de
Jesus, por sua consciência profunda, sua escolha de dedicação
total a nós e ao Pai. Nesse sentido, o coração é considerado
biblicamente como o centro da pessoa e o lugar das suas decisões. E
é assim que vejo como essa devoção nos ajuda ainda hoje a
contemplar o que é essencial na vida cristã, ou seja, a caridade.
Compreendo também melhor como ela está em estreita relação com a
Companhia de Jesus, a qual é gerada espiritualmente pelos Exercícios
de Santo Inácio de Loyola. De fato, os Exercícios são o convite a
contemplar longamente Jesus nos mistérios da sua vida, morte e
ressurreição, para poder conhecê-lo, amá-lo e segui-lo.
Um
grande mérito desse devoção foi, portanto, ter chamado a atenção
para a centralidade do amor de Deus como chave da história da
salvação. Mas, para perceber isso, era necessário aprender a ler
as Escrituras, a interpretá-las de maneira unitária, como uma
revelação do amor de Deus pela humanidade. A encíclica Haurietis
aquas marcou um momento decisivo desse caminho.
Como
foi que ocorreu e como ocorrerá ainda no futuro um desenvolvimento
positivo das sementes lançadas pela encíclica no terreno da Igreja?
Creio que um momento fundamental foi o Concílio Vaticano II, em sua
constituição Dei Verbum. Ela exortou todo o povo de Deus a uma
familiaridade orante com as Escrituras. Daí também as diversas
“devoções” recebem aprofundamento e alimento sólido.
Poderíamos
ver o ponto de chegada atual na encíclica do papa Bento XVI Deus
caritas est. Ele escreve: “Na história de amor que a Bíblia nos
narra, Deus vem ao nosso encontro, procura conquistar-nos - até a
Última Ceia, até o Coração trespassado na cruz, até as aparições
do Ressuscitado...”; e conclui dizendo: “Cresce então o abandono
em Deus, e Deus torna-se a nossa alegria (cf. Sl 73[72],23-28)”. A
questão, portanto, é ler com inteligência espiritual cada vez
maior as Sagradas Escrituras, tendo desperta a atenção para o que
está na raiz de toda a história da salvação, ou seja, o amor de
Deus pela humanidade e o mandamento do amor ao próximo, síntese de
toda a Lei e dos Profetas (cf. Mt 7,12).
Dessa
forma serão caladas também hoje as objeções que ao longo dos
séculos foram feitas ao culto do Sagrado Coração, que era acusado
de intimismo ou de fomentar uma postura passiva, em prejuízo ao
serviço ao próximo. Pio XII lembrava e desmentia essas
dificuldades, que não desapareceram nem nos nossos tempos, se Bento
XVI pode escrever em sua encíclica: “Chegou o momento de reafirmar
a importância da oração diante do ativismo e do secularismo que
ameaça muitos cristãos empenhados no trabalho caritativo” (nº
37).
Um
outro mérito da encíclica Haurietis aquas consistia em sublinhar a
importância da humanidade de Jesus. Nisso retomava as reflexões dos
Padres da Igreja sobre o mistério da Encarnação, insistindo no
fato de que o Coração de Jesus “devia sem dúvida pulsar de amor
e de qualquer outro afeto sensível” (cf. nos 21-28). Por isso a
encíclica ajuda a nos defendermos de um falso misticismo que
tenderia a deixar de lado a humanidade de Cristo para aproximar-se de
maneira de certa forma direta do mistério inefável de Deus. Como
afirmaram não apenas os Padres da Igreja, mas também grandes santos
como Santa Teresa d’Ávila e Santo Inácio de Loyola, a humanidade
de Jesus continua a ser uma passagem ineliminável para compreender o
mistério de Deus. Não se trata portanto de venerar apenas o Coração
de Jesus como símbolo concreto do amor de Deus por nós, mas de
contemplar a plenitude cósmica da figura de Cristo: “Ele é antes
de tudo e tudo nele subsiste [...], pois nele aprouve a Deus fazer
habitar toda a plenitude” (Cl 1,17.19).
A
devoção ao Sagrado Coração nos lembra também como Jesus doou a
si mesmo “de todo o coração”, ou seja, de bom grado e com
entusiasmo. Assim, nos é dito que o bem deve ser feito com alegria,
pois “há mais felicidade em dar que em receber” (At 20,35) e
“Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7). Isso todavia não
deriva de um simples propósito humano, mas é uma graça que o
próprio Cristo nos obtém, é um dom do Espírito Santo que torna
fáceis todas as coisas e nos sustenta no caminho cotidiano mesmo nas
provações e nas dificuldades.
Enfim,
eu gostaria de mencionar aquilo que é chamado apostolado da oração,
que nasceu no século XIX, por obra de padres jesuítas, em estreita
conexão com a devoção ao Sagrado Coração. Considero que ele
ponha à disposição de todos os fiéis, com a oferta cotidiana do
dia em união com a oferta eucarística que Jesus faz de si, um
instrumento muito simples para pôr em prática o que diz São Paulo
no início da segunda parte da Carta aos Romanos, dando uma síntese
prática da vida cristã: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela
misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia
viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual”
(Rm 12,1).
Muitas
pessoas simples podem encontrar no apostolado da oração uma ajuda
para viver o cristianismo de maneira autêntica. Ele nos lembra
também a importância da vida interior e da oração. Em Jerusalém
se sente de maneira particular como a oração, e em particular a
intercessão, constitui uma prioridade. Não naturalmente apenas a
pobre oração de cada indivíduo, mas uma oração unida à
intercessão de toda a Igreja, a qual, por sua vez, nada mais é que
um reflexo da intercessão de Jesus por toda a humanidade.
Essa
intercessão se eleva sem interrupção por parte de Jesus ao Pai,
pela paz entre os homens e pela vitória do amor sobre o ódio e a
violência. Precisamos muito disso em nossos dias, sobretudo nesta
“cidade da oração” e “cidade do sofrimento” que é
Jerusalém.
P.S.: Até aqui, as Postagens em honra do Sagrado Coração de Jesus.
"A Ele (seja dada) glória
por todos os séculos. Amém"
(Rom. 11, 36).
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