Os
indiferentistas em matéria religiosa pretendem, que todas as
religiões são boas
e que, por conseguinte, não é necessário examinar se há alguma
revelada por Deus, de cuja observância nos pedirá contas.
Há
aqui também intoleráveis contradições.
I
Todas
as religiões não podem ser verdadeiras, porque se contradizem, e o
sim e o não sobre o mesmo objeto não podem ser verdadeiros ao mesmo
tempo; por outra parte, uma religião falsa não pode ser boa, porque
o erro é sempre um mal; tudo isto é de evidência.
Mas
o indiferente admitiria que a falsidade das religiões não obsta a
que sejam boas. Primeira contradição.
II
Eu
creio, como todos os homens razoáveis, na existência de Deus,
infinito em sabedoria e santidade.
Mas,
neste sistema do indiferentismo, eu creria que Deus tem como
agradáveis quaisquer homenagens, que se lhe prestem sob qualquer
forma que seja – idolatria, absurda, até indecente ou criminosa; e
que se deu uma religião aos homens, não se importa que a observem;
o que equivale a dizer, que Deus tanto aprova o erro como a verdade;
o teísmo ou o politeísmo; as superstições dos idólatras e o
culto racional; os crimes pelos quais as nações obcecadas
pretenderam honrá-Lo, e as virtudes em que os povos mais instruídos
fazem consistir a essência da religião; em uma palavra, que Deus
não é Deus. Segunda contradição ímpia e blasfema.
III
Um
viajante, diz Balmes, encontra na sua frente um rio que deve
transpor; serão praticáveis os vaus? Ignora-o. Outros viajantes,
parados como ele à margem do rio, sondaram a altura das águas e são
unânimes em declarar que uma morte certa espera o imprudente que
tentar a travessia. Questão sem importância para mim,
diz o insensato. E lança-se ao acaso ao rio. Não quero entrar no
número destes insensatos.
Mas
o indiferente em matéria de religião fá-lo-ia assim com referência
ao abismo insondável do outro mundo. Terceira
contradição.
IV
Não
posso admitir, sem violentar a razão e a consciência, que baste
cumprir certos deveres desprezando os outros; que seja suficiente
observar as leis da probidade, não tendo em conta as da amizade, da
gratidão, da temperança, ou da beneficência para com os infelizes.
Mas,
como indiferente, eu admitiria que se Deus deu ao homem, além da lei
natural, uma lei positiva, basta-me observar a primeira sem me
importar da segunda. Quarta
contradição.
V
Na
norma da vida séria eu indesculpavelmente leve e presunçoso, se
naquilo que não conheço julgasse sem me informar e se tratasse de
fútil e sem importância, uma questão que sempre preocupou os homens
mais sábios e esclarecidos, os maiores espíritos e
mais dignos da estima universal. Mas, sendo indiferentista, não
censuraria em mim como deveria essa presunção; julgando sem exame a
questão religiosa, considerando como tempo perdido aquele que
dedicasse ao estudo do que sempre foi a principal preocupação dos
homens mais sábios e virtuosos de todos os tempos, ao qual
consagraram os trabalhos mais sérios e meditações mais assíduas
os gênios mais vastos, elevados e profundos, e geralmente mais
estimados. Quinta
contradição.
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Fonte:
Cônego E. Barthe, “Motivos
da Minha Fé Religiosa”,
1ª Parte, Cap. XI, pp. 161-164. 2ª Edição, J.J. de Mesquita
Pimentel – Editor, Porto, 1882.
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